Alexandra David-Néel

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Alexandra David-Néel, pseudônimo de Louise Eugénie Alexandrine Marie David (Paris, França, 24 de outubro de 1868 — Digne-les-Bains, 8 de setembro de 1969) foi uma famosa escritora espiritualista, budista, anarquista, reformadora religiosa e exploradora francesa.

David-Néel viajou durante quatorze anos por todo o Tibete e foi reconhecida como a primeira mulher europeia a ser consagrada lama. Tornou-se praticante de tumo, uma técnica essencialmente tibetana de aquecimento corporal por meio da meditação, e da criação de tulpas, criaturas imaginárias que, segundo os monges budistas, chegariam quase a se materializar no mundo real.

No decorrer de suas viagens e estudos escreveu mais de quarenta livros sobre o budismo.

1868-1904: infância e juventude

Nascida em Paris, mudou-se com a família aos seis anos para Ixelles. O pai de Alexandra foi professor (e militante republicano aquando da revolução de 1848, amigo do geógrafo anarquista Élisée Reclus), e a sua mãe era uma mulher católica que quis dar-lhe uma educação religiosa. Alexandra frequentou durante toda a sua infância e adolescência a casa do anarquista Élisée Reclus. Este levou-a a interessar-se pelas ideias anarquistas da época (de
Max Stirner, Mikhail Bakunin...) e pelas ideias feministas que a inspiraram a publicar Pour la vie. Por outro lado, converteu-se em colaboradora livre de La fronde, uma publicação feminista administrada de forma cooperativa por mulheres, criada por Marguerite Durand, e participou em várias reuniões do «conselho nacional de mulheres francesas» ou italianas embora tenha recusado algumas das posições adotadas nestas reuniões (por exemplo, o direito ao
voto), preferindo a luta pela emancipação a nível econômico, que era, segundo ela, a causa essencial da desgraça das mulheres que não podiam desfrutar de independência financeira. Por outro lado, Alexandra foi-se afastando destas « amáveis aves, de preciosa plumagem », referindo-se às feministas procedentes da alta sociedade, que esqueciam a luta econômica que a maior parte das mulheres enfrentava.

1904-1911: como mulher casada

Em 4 de agosto de 1904 Alexandra casou em Tunes com Philippe Néel, conhecido no casino de Tunes, engenheiro-chefe dos caminhos-de-ferro tunisinos, de quem era amante desde 15 de setembro de 1900.

Embora a sua vida em comum fosse por vezes tempestuosa, esteve sempre impregnada de respeito mútuo. A relação terminou definitivamente em 9 de agosto de 1911 com a sua partida para a segunda viagem à Índia (1911-1925). Não obstante, depois desta separação, ambos os esposos encetaram uma abundante correspondência que não acabaria senão com a morte de Philippe Néel em fevereiro de 1941.

Infelizmente, desta correspondência só se conservam atualmente as cópias das cartas escritas por Alexandra; parece que as escritas pelo seu marido se perderam devido às tribulações de Alexandra na guerra civil chinesa, em meados da década de 1940.

Viagens e vida mística

Alexandra em 1924
Os seus interesses ideológicos atraíram-na desde cedo, por meio das famosas viagens. Com as largas estadias no Tibete foi adquirindo grande conhecimento dos lamas budistas. Alexandra chegou a passar longos anos de ensino e, muito curiosa, estava motivada a querer sempre ampliar o seu conhecimento.

Em especial, uma prática, um jogo perigoso, algo que não deveria nunca ter conhecido, foi o início do seu particular inferno. Alexandra mostrou-se muito interessada por uma prática budista denominada criação de um tulpa. Os lamas budistas advertiram-na que era uma aprendizagem nada recomendável, pois consiste na criação de um fantasma gerado através da nossa mente. Alexandra foi advertida de que estas criações poderiam tornar-se perigosas ou incontroláveis. Demasiado tarde, pois Alexandra estava fascinada com tal ideia e ignorou a advertência dos seus educadores.

Sob a criação do mundo segundo os lamas, o universo onde vivemos é uma projeção criada por nós mesmos, não havendo fenômeno que exista se não for concebido pelo espírito humano. Os tulpas são entidades criadas pela mente dos lamas e são geralmente utilizados como escravos. São figuras visíveis, tangíveis, criadas pela imaginação dos iniciados.

Alexandra afastou-se do resto dos seus companheiros e, uma vez isolada de tudo, começou a concentrar-se em tal prática. Viu no seu interior o que queria criar, imaginando um monge de baixa estatura e gordo. Queria que fosse alegre e de inocente atitude. Após uma dura sessão, aquela entidade apareceu frente a si.

A entidade era algo parecido com um robô: só realizava e respondia aos comandos da sua criadora.

Com um sorriso fixo no seu rosto, o monge acedia sem recusa ao que ela lhe ordenava.

Lamentavelmente, nem sempre foi assim e aquele tulpa começou a realizar atividades que não lhe tinham sido encomendadas. Tal era a independência daquele fantasma de aparência corpórea que os demais monges o confundiam com um mais. A sua criadora começou a sentir medo, pois aquela entidade começava a ser um ser com vontade própria.

À medida que ia sendo mais independente, os riscos físicos que aquele bonacheirão monge fantasma apresentava foram mudando. O seu afável sorriso foi dando lugar a uma face mais carrancuda, o seu olhar passou a ser malévolo e nada afável para todos os que conviviam com aquele estranho ser. A própria Alexandra sentia cada vez mais medo.

No seu livro "Mystiques et Magiciens du Tibet", de 1929, Alexandra David-Néel narra os seis duros meses que durou a inversão daquele processo, conseguindo que a sua criação se desvanecesse. Aquele monge tinha-se tornado insuportável e Alexandra tardou antes de conseguir inverter o processo. “Não há nada estranho na circunstância que possa ter criado a minha própria alucinação. O interessante é que nestes casos de materialização, outras pessoas vêem as formas de pensamentos criadas.”- declarou a antropóloga quando posteriormente lhe foi atribuída uma medalha de ouro pela Sociedade Geográfica de Paris e nomeada Cavaleiro da Legião de Honra.

Trabalhos

1898 Pour la vie

1911 Le modernisme bouddhiste et le bouddhisme du Bouddha

1927 Voyage d'une Parisienne à Lhassa

1929 Mystiques et Magiciens du Tibet

1930 Initiations Lamaïques

1931 La vie Surhumaine de Guésar de Ling le Héros Thibétain

1933 Grand Tibet; Au pays des brigands-
gentilshommes

1935 Le lama au cinq sagesses

1938 Magie d'amour et magic noire; Scènes du Tibet inconnu

1939 Buddhism: Its Doctrines and Its Methods

1940 Sous des nuées d'orage; Recit de voyage

1949 Au coeur des Himalayas; Le Nepal

1951 Ashtavakra Gita; Discours sur le Vedanta Advaita

1951 Les Enseignements Secrets des Bouddhistes Tibétains (Ensinamentos secretos dos budistas
tibetanos)

1951 L'Inde hier, aujourd'hui, demain

1952 Textes tibétains inédits

1953 Le vieux Tibet face à la Chine nouvelle

1954 La puissance de néant, by Lama Yongden (O poder do nada)

Grammaire de la langue tibetaine parlée

1958 Avadhuta Gita

1958 La connaissance transcendante

1961 Immortalite et reincarnation: Doctrines et pratiques en Chine, au Tibet, dans l'Inde

L'Inde où j'ai vecu; Avant et après l'independence

1964 Quarante siècles d'expansion chinoise

1970 En Chine: L'amour universe! et l'individualisme integral: les maitres Mo Tse et Yang Tchou

1972 Le sortilège du mystère; Faits étranges et gens bizarre rencontrés au long de mes routes d'orient et d'occident

1975 Vivre au Tibet; Cuisine, traditions et images

1975 Journal de voyage; Lettres à son Mari, 11 août 1904 - 27 decembre 1917. Vol. 1. Ed. Marie-Madeleine Peyronnet

1976 Journal de voyage; Lettres à son Mari, 14 janvier 1918 - 31 decembre 1940. Vol. 2. Ed. Marie-Madeleine Peyronnet

1979 Le Tibet d'Alexandra David-Neel

1986 La lampe de sagesse

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