A POLÊMICA MARIA MADALENA (Um olhar sobre a mulher e o mito)

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“Primeiro que tudo é preciso esclarecer que a Verdade sobre Maria Madalena é que não há verdade alguma” Helena Barbas
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Pecadora, prostituta, a face feminina de Deus, como foi Ísis e Eurídice, a representação da Sofia grega, que Pitágoras e Parmênides encaravam como a uma deusa. Não basta tentar classificá-la, é necessário reconhecer o papel arquetípico da sua figura, polêmica e cercada de mistérios. Assim é Maria Madalena, a mulher desdenhada pela Igreja que conheceu e conviveu com Jesus Cristo, seguindo-o onde quer que ele fosse. Seu papel na saga terrena do Messias ainda é um mistério: enquanto a Igreja Católica a trata como pecadora, meretriz, tentando minimizar sua importância, documentos recém-descobertos, históricos ou não, trazem uma nova interpretação de quem teria sido essa misteriosa mulher.

Maria Madalena é uma das personagens bíblicas mais conhecidas. É a mulher mais citada no Novo Testamento (doze vezes); mas o que a faz famosa é a crença de que ela teria sido uma prostituta que foi transformada pela palavra de Cristo: a famosa Madalena Arrependida, exemplo de arrependimento e transformação para os pecadores. Maria Madalena é assim chamada por ser de Magdala, aldeia de pescadores que ficava na costa oeste do mar da Galileia, próxima a cidade de Tiberíades. O Novo Testamento nos relata que Cristo expulsou dela sete demônios (Marcos 16.9; Lucas 8.2) e depois ela se tornou uma das mulheres que acompanharam e seguiram a Jesus (Lucas 8.2-3). Junto com outras mulheres, permaneceu aos pés da cruz (Marcos 15.40; Mateus 27.56; Lucas 23.49; João 19.25) e assistiu ao sepultamento do Mestre (Mateus 27.59-69; Marcos 15.46-47; Lucas 23.55,56). Deixando passar o sábado, que era dia de descanso, Maria vai, na madrugada de domingo, aplicar especiarias no corpo de Jesus, conforme o costume, e se torna a primeira testemunha da ressurreição de Cristo (Mateus 28.1-8; Marcos 15.1-19; Lucas 24.1-10; João 20.1-18).

Segundo o Evangelho de Maria Madalena, ela teria sido uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado aos outros discípulos, sendo, por isso, questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de Jesus, alguém, portanto, mais próximo de Jesus do que os demais. O evangelho somente foi publicado em 1955, após o aparecimento da Biblioteca de Nag Hammadi. Nesta cópia única conhecida do texto, faltam as páginas 1 a 6 e 11 a 14. Tem sido sugerido por especialistas tratar-se de um evangelho de Maria de Magdala e, assim, passou a ser conhecido por esse nome, pelo fato de seu último nome ser mencionado no texto. A favor dessa interpretação teríamos o fato de, nos Evangelhos Sinóticos, ela constar como a discípula que mais de perto seguiu a Jesus e aquela a quem Jesus teria aparecido primeiro após sua ressurreição.

No texto fragmentado, os discípulos fazem perguntas sobre o Salvador, após a sua morte e ressurreição, e recebem respostas. Mas, apesar disso, eles não ficam convencidos de que devem seguir adiante com sua missão, temerosos de que pudessem acabar mortos, pois, se nem o filho de deus fora poupado, que garantias eles teriam? Entretanto, nesse momento são incentivados por Maria Madalena, que revela ter tido uma visão, onde Jesus a teria feito revelações importantes. Novamente ela recebe a oposição de Pedro e de André que duvidam de suas palavras, não acreditando que o Salvador pudesse tê-la escolhido para fazer tais revelações.

Este texto pode ter se originado de uma corrente que tinha Maria Madalena como sua fundadora e a quem se tivesse entregado a autoridade da Igreja após a partida de Jesus. Parte desse favorecimento da única discípula conhecida pode ter sido devido à sua habilidade como mulher de representar a importante figura de companhia feminina de Cristo, também em conformidade com o chamado Evangelho Gnóstico.

Em outra passagem do Evangelho de Maria Magdala temos mais um momento de contenda entre os apóstolos Pedro e Levi: “Pedro disse: “O Salvador realmente falou com uma mulher sem nosso conhecimento? Devemos nos voltar e escutar essa mulher? Ele a preferiu a nós?”. E Levi respondeu: “Pedro, você sempre foi precipitado. Agora te vejo lutando contra a mulher como a um adversário. Se o Salvador a tornou digna, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso a amou mais que ama a nós”.”

De apóstola dos apóstolos a pecadora e adúltera

A primitiva comunidade cristã tinha grande estima por Maria Madalena, mais pelo seu papel na ressurreição do que pela redenção de sua vida pregressa. Por ter sido comissionada por Cristo a anunciar Sua ressurreição aos demais discípulos, Madalena passou a ser estimada como modelo evangelização, a apóstola dos apóstolos.

A confusão, parece, se originou no século II, o teólogo Tertuliano de Cartago (150-222), em seu tratado De Pudicitia, confunde e identifica Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora que aparece em Lucas 7 como uma mesma pessoa. Hipólito de Roma (170-235 d.C.), ressalta o amor espiritual de Madalena por Cristo. Ele a intitula de “Apóstola dos Apóstolos”. Apesar dessa exaltação de Madalena, a tradição da prostituta redimida oriunda da confusão das três mulheres ia crescendo e ganhando vulto. Tanto que o Papa Gregório I (540-604 d.C.) em uma pregação ao povo de Roma, que passava por enormes dificuldades (fome, guerra e peste), utilizou o exemplo de Maria Madalena como a prostituta que se arrependeu, e só por isso foi curada, passando o resto da vida em penitência. Este ato de Gregório I, planejado ou não, oficializou por o antigo erro de identificar Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora de Lucas como uma mesma mulher. O engraçado é que na Igreja Oriental se pensava bem diferente: de acordo com o patriarca de Jerusalém, Modestus, em 630, Madalena havia morrido virgem e mártir, e que fora líder das discípulas.·.

O fato de Maria Madalena ser vista como uma prostituta é imbuído de muita má fé, senão de uma tentativa de se usar a a moral bíblica para um determinado fim de difamação e destruição de uma imagem. Nada a respeito da suposta vida de meretrício se encontra na Bíblia, nem na História. Porém, quando algo é firmemente endossado por muitos séculos, é difícil e polêmico de ser contestado e revisto. Se o Catolicismo mais erudito não acreditava que Madalena fosse prostituta e adúltera, o popular ficou impregnado com esta visão.
Dessa forma, nos evangelhos canônicos constata-se que a personagem foi relegada quase que forçadamente à categoria de pecadora. Segundo argumentos da pesquisadora Helena Borbas ,autora de Madalena – História e Mito (Lisboa, 2008) “o mal bíblico aparece como impureza de natureza orgânica :doenças como a lepra, tinha, enxatema (Lev 17, 18); ou associada ao sexo – os fluxos(de sangue na mulher, seminal no homem); a falta de circuncisão, as relações antinaturais..” também, “por outro lado, qualquer desobendiência, qualquer forma de transgressão aos preceitos de Iahvé é referida como adultério”. Seguindo esse raciocínio, não é de se espantar que em várias passagens dos evangelhos canônicos encontremos formas de se ver a personagem relacionadas ao mal, também citadas por Barbas:

a) Uma das curadas de espíritos malignos-doenças

É referida como uma das mulheres curadas de espíritos malignos ou doenças: Lucas (8,1-3)

Os doze o acompanhavam, assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças; Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios, Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Susana e várias outras, que o serviam com os seus bens.

b) Uma das mulheres no Calvário

Pertence ao grupo das Santas mulheres que, no Calvário, assistem à Paixão: Mateus (27,55-56)

Madalena aparece sistematicamente no grupo das mulheres na história de Jesus. A sua particularidade reside em ter sido curada da possessão demoníaca. Mas, mesmo em termos evangélicos, isto não representará necessariamente uma situação de «pecado», pois há outros possessos que não são considerados pecadores. (Mateus 8. 31; Marcos 5,4-5;), entretanto, depois da diferença em João, Madalena é de incluída em vários conjuntos. O das milagradas, as mulheres curadas de doenças, o que lhe vai permitir venha a ser associada com todas as outras figuras femininas dos Evangelhos nas mesmas condições – recorde-se a questão do fluxo. O das mulheres que serviam a Cristo com os seus «bens», justificando a tradição da sua provável riqueza e abastança. - Essa possivelmente, a maior insinuação à vida de prostituta. – Sempre em grupo, continua a pertencer às mulheres que assistem à Paixão. À distância, observa o sepultamento de Cristo e fixa o local onde o corpo é depositado. No dia seguinte, dirige-se ao túmulo sem intenções explicitadas, ou como objetivo de ungir o corpo de Jesus – é uma das «mirróforas». Confirma a ausência de cadáver e testemunha a Ressurreição, sendo uma das primeiras transmissoras da «boa nova» em que os apóstolos não crêem.

Assim, possessão e doença, enquanto duas formas de «mal», alastram também o seu sentido, englobando outras formulações com características paralelas, como a ideia de «pecado», evidenciado na figura da adúltera e já pertença da protagonista do «Jantar em Betânia». Esta ideia é agravada pela ligação ao «perfume» e ao seu mau uso. Mas, em termos bíblicos e evangélicos, «possesso do demónio», tal como a palavra «samaritano», são também usados como sinónimo de pagão –como se pode ver (João 8,48) quando Jesus é insultado pelos judeus: «Não dizemos com razão que és samaritano, e que estás possesso de um demónio?». Este ponto pode ainda permitir as associações posteriores da própria Maria Madalena com a «estrangeira» do episódio da Samaritana (João 4, 5-29) (Barbas, Lisboa, 2008)

Na segunda parte deste texto trataremos das polêmicas envolvendo um suposto relacionamento amoroso entre Maria Madalena e Jesus e também de um possível destino que ela teria seguido após os eventos da crucifição.

Prof: Luiz Cláudio Ferreira de Souza
By Ciências Paralelas - Oficial

 
 
Sobre o Autor:
LORD KRONUS
LORD KRONUS

Admirador do Oculto e cinéfilo.
azerate666@hotmail.com
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