Imaginei um
mundo às avessas. Neste mundo, tudo seria diferente do usual. Já pensaram como seria um filho chamar seus pais para uma conversa e dizer-lhes que tem uma revelação a fazer: “Pai, mãe, eu sou hétero!”? Diante de tal revelação, seus pais ficariam em silêncio e logo sua mãe, estarrecida, se levantaria, coçaria o púbis como se tivesse um “saco escrotal” e diria com voz grossa: “Fora de casa!”. Aí seu pai se levantaria e diria, todo afeminado: “Eu te amo mesmo assim!”.
Num mundo às avessas os pais recomendariam quando seus filhos saíssem de casa para voltar bem tarde, beber muito e dirigir feito loucos, sem nenhum cuidado.
Num mundo às avessas, os pais adorariam saber que suas filhas, menores de idade, estariam grávidas sem saber quem é o pai.
Num mudo às avessas, os casais levariam seus avós a festinhas em casas de festas, aos moldes das atuais casas para festas infantis. Lá estaria tocando, bem baixinho para que todos pudessem conversar à vontade, músicas de Carmem Miranda, Sílvio Caldas e Ataulfo Alves. Os velhinhos disputariam corridas com o andador, provas de escarro à distância e excitantes partidas do dominó e jogo de damas. E lógico, disputariam também quem teve mais AVCs. Seriam festas de arromba!
Num mundo às avessas, as concessionárias venderiam carros semi-velhos, os eletrodomésticos durariam muito e ninguém de telemarketing telefonaria de manhã cedo nos oferecendo assinaturas de jornais.
Num mundo às avessas o América Futebol Clube teria uma grande torcida, o Vasco seria um excelente time de futebol e ninguém seria flamenguista ou corintiano.
A Beija-flor seria uma escola de samba pobre e os cariocas adorariam passar o carnaval em São Paulo!
Num mundo às avessas os gordos seriam bonitos, desejados e conseguiriam comprar roupas com facilidade. Os homens admitiram publicamente que estão broxas e as mulheres jamais teriam dor de cabeça na hora de deitar. Inclusive, todos os homens só iriam querer as mulheres feias, que seriam disputadas e elegantemente cortejadas, até porque elas seriam vistas como bonitas. Aliás, até as sogras seriam agradáveis e os cunhados jamais pediriam dinheiro emprestado ou então pagariam quando algum lhes fosse, de livre e espontânea vontade, oferecido.
Num mundo às avessas ninguém seria chato, mal educado, ignorante ou desonesto. Todos seriam respeitados e amados. Não haveria traíções ou brigas de família ou entre vizinhos. Todos tratariam bem os animais e não desmataríamos nossas florestas. Ninguém faria xixi em árvores ou em praças públicas. Não seriam vendidos cigarros e não haveria drogas.
Seria um mundo de harmonia.
Num mundo às avessas todo o mundo espionaria o Obama, que seria loiro de olhos azuis. Já a presidente Dilma seria bonita e inauguraria as obras públicas, que seriam feitas no prazo e por menos dinheiro que o orçado. Uma grande vantagem de um mundo às avessas é que os políticos não roubariam, haveria boa escola e hospitais públicos, e o Lula seria abstêmio e teria os dez dedos, ou teria apenas um?
Num mundo às avessas, fast-food seria comida saudável e não aumentaria o colesterol e refrigerante, sorvete e chocolate não engordariam. As empadinhas não iriam esfarelar, nem dar azia a ninguém! Ninguém seria diabético e nem teria nenhum tipo de dor. Os enterros seriam alegres e ninguém mais precisaria usar terno no verão e só trabalharíamos nos finais de semana ou nos feriados, e não haveria engarrafamentos, porque o trânsito seria organizado.
Não seria perfeito?
Num mundo às avessas não existiriam segredos, porque ninguém jamais se meteria na vida dos outros. Todos seríamos sinceros e verdadeiros. Então, já seguindo a ideia de um mundo às avessas, devo confessar que esta doida concepção de mundo surgiu de uma hostil conversa que tive recentemente com um grande diretor de cinema e televisão. Devo até imaginar que neste mundo às avessas, este camarada seria gordo e a pessoa mais simpática e agradável que poderíamos encontrar. Até porque, só mesmo assim que ele receberá tais adjetivos…
Fica a idéia e uma pergunta: como seria seu mundo às avessas?
* Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
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