QUEIXINHO E PÉS-PODRES por natanael gomes de alencar
Queixinho- de- moça sempre fora um rapaz dedicado, esforçado, e jamais dera motivo para alguém achá-lo mal educado ou desdenhoso.
Pés-Podres era tão puro, que às vezes nem pensava. Partidário das ações generosas.
Mas era também trabalhador, tanto ou mais que queixinho-de-moça.
Ambos passaram a se conhecer no bar fronteiro à praça. Queixinho-de-moça, razoável economista, teve de puxar o saco do candidato mais simpático da região, não obstante corrupto.
Tivera então uma sorte de deixar corado seu delicado queixinho.
Seu candidato chegou lá e ele foi alçado a Diretor de Ventos - estava assim no seu carimbo onde faltava um E de Eventos.
Era um cargo criado de jeito pra ele. Sempre fora pontual e responsável. Religioso, dizia-se evangélico do apocalipse, porém, faltava-lhe no entanto o amor ao próximo.
Gostava de zombar, dar apelidos, pois, se achava protegido, e o era, pelo alcaide, pelo pilantra que chegou lá, conseguindo ludibriar o povo com suas promessas.
Queixinho-de-moça vira Pés-Podres pela primeira vez e se sentiu ofendido pela existência do mesmo. Com tórax à mostra, suado, escarrando a torto e a direito pés-podres nem lhe notava.
A universal coincidência dos fatos lhes punha em contato quase sempre.
Uma vez Queixinho-de-moça, ou boquinha-de-orifício, novo apelido que ganhara em seu departamento, contratara uns três brutamontes pra dar uma surra em Pés-Podres. O coitado quase morrera.
Boquinha-de-orifício se compadeceu de súbito, se arrependendo do que fizera. Pensou em sua igreja, em sua esposa. Sua esposa era linda e mais humana que Boquinha, que era um anãozinho sarrista e topetudo.
Queixinho-de-Orifício, digo, Boquinha-de-Moça, transportou nas costas Pés-Podres e levou-o até o Pronto-Socorro.
Daí por diante, as costas de Queixinho passaram a ter saudades. Mas, por mais que ele tentasse se aproximar de Pés-Podres, este se enchia de ódio. Não podia nem vê-lo.
Queixinho até ofereceu- lhe a mulher. Com ele junto, claro. Porém, Pés-Podres era íntegro, embora não fosse a igrejas, nem entendesse de humanidade teórica.
Respeitava mulheres, crianças, amava garotas impossíveis e fazia poesias com a podridão dos pés sobre a podridão dos fatos.
Ganharia a maldição do amante incompreendido, mergulhado no mar da paixão ateniense.
Postado por: Natanael Gomes de Alencar
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