DENTRO DO SUBTERRÂNEO por natanael gomes de alencar

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DESVIEI UM GESTO

Estava ali dentro da caixa de papelão, esperando o frio passar.

Há décadas não encontrava uma caixa como aquela parecendo bule cheio de chá alegre.

Me deram um bolinho barato de chuva familiar.

Estava ali e trouxeram pra mim o gesto humano.

Eu traçava diagramas com as pulgas, desenhava gregas pilastras onde pousar poemas cansados dos morteiros.

Estava ali. No subterrâneo do bar. Ratos passeavam fora do papelão.

Jogaram um prato em minha cabeça. Quebrou um neurônio de sonho.

Desviei um gesto para comer amanhã. Angústia.

O real chegaria logo, tive fé.

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