HUMAN DEATH, VILA SOCÓ, GUERNICA por Natanael Gomes Alencar

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O ar febril, o chão tremente...

Uma alma só não dá para a visão,

Carece de outra alma a mão firmando

(Na vila, o inferno de Guernica,

Derivado de petróleo, se aprontava.

Muitos haviam cheirado gasolina

E dormiam naquela madrugada)

Revejo a petrolífera invasão

Do cheiro sobre as gentes,

O perigo anunciado,

A venda da gasosa

Que vazava, sem cuidado

(A praça movimentada

Antes das 17 horas.

Mocinhas bascas, em Guernica,

Rendevoavam, sensualíssimas,

Moços as miravam com ardência,

Casais c'os filhos semeavam

Os planos para tranquilo futuro,

Ladrões nos cantos, cachorros doentes,

Homens tementes, abelhas operárias

Com lucros em mente, senhoras pias

A piarem e outras ímpias a erguerem

As saias infladas;

Na Socó, a madrugada ardia sonhos

De moças, moços, velhos, velhas,

Enamorados da vida, enfim,

Com sua luz e sombras,

E pecados, onde mesmo os de ferro

Tombam e se ferem)

Uma só alma não basta pra rever,

Carece de outra alma revelada...

Revejo a agudeza de sonhos-salamandras

A planejar assalto na vila, da vida à caça,

Amontoando leitos altas horas,

Onde o poder deitou, e se aplastrou,

Se ausentando, avaro,

No início da fogueira

Em gozo ignaro

(Quando os aviões nazistas,

Condoreiros com mortíferas rajadas,

Limparam a praça em Guernica,

Os nacionalistas acusaram

Os vermelhos, embora

Todos quase fossem brancos)

Minha alma, relembrando,

Perde o brilho,

Ouvindo tantos prantos

E o demônio os remexendo,

Moças, crianças, em roda enegrecendo,

Em cinza o céu doendo, em uivo eivado

(Entre acordes de ópera

Wagneriana, Hitler

Decidiu lamber a bundinha

De Franco, matando, matando, matando,

E aqui a omissão

Fez o crime tão nefando quanto)

Inábil sou demais para a lembrança

Do que tornou a vila em matadouro,

Intenso como em guerra mundial,

Em seu sofrer de carne

Incinerada,

Em lagos-labaredas

Mal-formados,

Só à visão do inferno

Equiparada

(O quadro de Picasso - Guernica arrasada.

Quem é nosso Picasso? O tempo recordado?)

Um cão formando um só

Bloco-carbono

Com seu último

Latido,

Uma grávida no Tempo-

Espaço Tatuada,

A alma dos barracos

Chamuscada é o joelho

Da cidade agonizando,

Coral de dor em dó

Sobre os desavisados,

Um homem a guardar as próprias filhas

Na geladeira (adrede desligada?),

Mulher a atirar ao rio oleoso

Seus filhos pra salvá-los todos

Do calor excessivo da fornada

Setecentos mil litros perdidos

De gasolina qualificada,

Noventa e três vidas ceifadas

Oficialmente, números com vício

De lucrack...

...O ar febril...o chão tremente....

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