Ben Affleck e seu chilique politicamente correto

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O ator Ben Affleck protagonizou na última sexta-feira, no programa de televisão Real Time com Bill Maher da HBO, uma discussão emblemática do tabu em torno da crítica à religião. O bate-boca incluiu, além de Affleck e Maher, o filósofo e neurocientista Sam Harris, ateu notório. O jornal O Globo até deu algum destaque para o acontecimento, mas não soube elaborar o que de fato estava em questão. Sua manchete apenas dizia: “Ben Affleck condena preconceito contra o Islã em programa de TV”. O buraco, no entanto, é mais embaixo.
 
O argumento de Maher é o seguinte: Pessoas que se consideram “progressistas” (ou “liberais”, no conceito americano do termo) devem lutar por seus valores independente do contexto cultural ou religioso. Ou seja, devem defender os direitos das mulheres, dos homossexuais, de liberdade de expressão etc., mesmo que isso implique criticar a religião ou cultura alheia. Maher e Harris reclamaram que a esquerda americana, no seu zelo politicamente correto, não tem peito para admitir abertamente que existe um nítido problema de violência relacionado com o islã. Maher disse ainda que o islã é hoje, assim como o cristianismo foi na Idade Média (vide Inquisição, Missões etc.) o “maior celeiro de más idéias”. De fato, boa parte dos países mulçumanos estão entre os piores do mundo quando o assunto é a violação dos direitos humanos (ver lista aqui).
 
Foi então que o galãzinho pseudo-intelectual, numa típica reação precipitada e simplista, perdeu as estribeiras e acusou ambos de racismo e intolerância. Disse também que apenas uma pequena minoria (“a few bad apples”) dos 1,5 bilhões de mulçumanos no mundo apoiam atos violentos contra infiéis e dissidentes, opressão de mulheres e homossexuais, e outras práticas retrógradas e bárbaras. Sugeriu que o islã é uma religião pacífica e que a grande maioria dos praticantes buscam uma vida equilibrada, tolerante e de convívio harmônico com os demais.
 
Affleck no entanto está ignorando um pequeno detalhe: os fatos. Por exemplo, o respeitadíssimo centro de pesquisa Pew Research conduziu uma vasta pesquisa de opinião sobre diferentes tópicos em diversos países mulçumanos. Entre outras, as seguintes perguntas foram feitas (em alguns países, como Síria e Iêmen, Pew nem sequer conseguiu realizar as pesquisas devido a proibições ou hostilidades em geral):
  • Você é a favor do apedrejamento de adúlteros?
  • Você é a favor do chicoteamento ou mutilação das mãos de pessoas que roubam ou furtam?
  • Você é a favor da pena de morte para pessoas que deixam a religião mulçumana?
  • Atentados suicidas à bomba contra a população civil podem ser justificados?
Segue resumo das respostas (tabelas em inglês abaixo). A maioria esmagadora das pessoas é a favor do apedrejamento de adúlteros nos seguintes países: Egito (82%), Paquistão (82%), Jordânia (70%), Nigéria (56%). Em outros, os números são ainda assustadores: Indonésia (42%), Líbano (23%), Turquia (16%). Proporção parecida apoia as terríveis punições acima para furtos e roubos: Paquistão (82%), Egito (77%), Nigéria (65%), Jordânia (58%). Por sua vez, a seguinte parcela da população acha que uma pessoa merece a pena de morte por deixar a religião: Jordânia (86%), Egito (84%), Paquistão (76%), Nigéria (51%). Finalmente, atentados à bomba contra civis são justificáveis “com frequência” ou “às vezes” de acordo com a população do Líbano (39%), Nigéria (34%), Jordânia e Indonésia (20%).
 
Em qualquer país minimamente democrático e com respeito a direitos civis, 1% de resposta afirmativa a qualquer das perguntas acima já seria alarmante.
 
 
 
 
 
 
Outras pesquisas mostram também que parte significativa da população de diversos países mulçumanos apoia a mutilação genital feminina, punição física (ou mesmo morte) aos homossexuais, submissão de meninas a casamentos forçados, proibição de mulheres ao voto e outros direitos básicos como trabalhar e mesmo dirigir, ação de grupos terroristas como Al Qaeda, etc. Veja lista aqui.
 
Ou seja, dizer que apenas uma pequena minoria dos mulçumanos apoia esses e outros absurdos trata-se de uma inverdade. É importante falarmos de maneira franca sobre essa realidade. Por sinal, outro mito que deve ser derrubado é o de que o real motivo para essas condutas seja socioeconômico. Diversos países que são tão ou mais pobres que os citados nem de perto apoiam atos como os descritos acima; basta olharmos para Haiti, Bolívia, Índia, entre outros. Inclusive, não é necessário buscar respostas em grupos de controle, afinal, os próprios que apoiam os atos acima dizem abertamente que estão agindo em nome da religião, baseados nos escritos do Alcorão. Só não entende quem não quer ou quem não leu.

 
O que Affleck e outros não entendem é que Maher, Harris e demais seculares progressistas não têm nada contra os mulçumanos. Têm sim contra a religião e no que ela pode transformar pessoas que, em situação normal, teriam tudo para ser mais tolerantes e moderadas. Se nem os progressistas podem discutir essas questões de forma racional e civilizada, onde vamos parar?
 
André A. é autor do livro O Meio e o Si. Leia também Religião, ética e moral. Imagem: AP/HBO.
 

 

 
Sobre o Autor:
LORD KRONUS
LORD KRONUS
Admirador do Oculto e cinéfilo. azerate666@hotmail.com Confira mais textos deste autor clicando aqui

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