domingo, 16 de setembro de 2012

A Egrégora

A Egrégora
Por
Michèle Séguret

Já aconteceu com você de sentir-se particularmente feliz num lugar qualquer, particularmente à
vontade, sem razão aparente?

Na floresta povoada de claros-escuros cintilantes, sentiu como o Conde de Gabalis, o roçar sutil dos
gnomos, dos silfos e das salamandras, hóspedes espirituais desses locais?

Após uma reconfortante reunião, você saiu satisfeito, sentindo-se em união perfeita com todos?

Quanto a mim, lembro-me de um concerto de danças caucasianas, onde a sala inteira encontrava-se
unida como um só ser. Lembro-me de um extraordinário solo de Heifetz no silêncio religioso de
quinhentas respirações suspensas ao som cristalino do violino, silêncio que permaneceu por alguns
segundos após a última nota do virtuose, antes da explosão das aclamações.

Por outro lado, aconteceu com você de sentir-me oprimido ao pisar nos restos dos campos de
concentração, nos campos de batalha de Oradour-sur-Glane?

Diz-se que o sangue dos mártires de todas as ideologias clama ao céu sua dor e que a imagem dos
acidentes impregna os cruzamentos onde se produziram. No metrô parisiense, que transporta tantos
espíritos heteróclitos e libera uma infinita tristeza, quantos têm o coração apertado pela atmosfera
que lá impera e pela morosidade dos viajantes que nos cercam; privados também da "bolha de ar"
necessária ao bem-estar de nossa aura, sufocamos.

Esses estados de espírito podem vir de nossa percepção da egrégora do lugar.

Que é uma egrégora?

Ao se reunirem, os seres formam, pela união de suas vontades, um ser coletivo novo chamado
Egrégora. La Voix Solaire (A Voz Solar) em seu número de março de 1961 dava-nos a seguinte
definição: "Egrégora: reunião de entidades terrestres e supra-terrestres constituindo uma unidade
hierarquizada, movidas por uma idéia-força".

Esta palavra poderia originar-se no grego "egregoren", que significa "velar". No Livro de Enoch está
escrito que os anjos que tinham jurado velar sobre o Monte Hermon teriam se apaixonado pelas
filhas dos homens, ligando-se "por mútuas execrações".

Papus, em seu Tratado elementar de Ciência Oculta introduz uma nova noção: as egrégoras são
"imagens astrais geradas por uma coletividade" (pág. 561).

Em A Via iniciática, Serge Marcotoune constata que a energia nervosa se manifesta por raios no
plano astral: "O astral está cheio de miríades de centelhas, flechas de cores das idéias-força.
Sabemos que cada pensamento, cada intenção a que se mistura um elemento passional de desejo, se
transmite em idéia-movimento dinâmica, completamente separada do ser que a forma e a envia, mas
seguindo sempre a direção dada. As idéias-forças são os elementos mais elementares do plano
astral; elas seguem a curva traçada pelo desejo do remetente". (pág. 195) É por isso que precisamos
controlar nossos desejos a fim de que eles não pesem sobre nós, acorrentando-nos, imprimindo à
nossa aura cores diferentes. A meditação e a prece do iniciado regeneram-no, permitindo-lhe emitir
idéias sadias e tranqüilizantes. No astral, os "spiritus directores", os espíritos-guias, canalizam as
idéias-força para zonas determinadas.

Em A Chave da Magia Negra, Stanislas de Guaita analisa a história da Convenção, desmascarando
as entidades homicidas coletivas e os atos sanguinolentos delas decorrentes (pág. 324). De fato, no
mundo astral as coisas semelhantes aglutinam-se para criar um coletivo, graças às suas idênticas
vibrações. A egrégora, ser astral, possui seu centro e seu eixo nesse plano e busca um ponto de
apoio terrestre para assegurar-se das formas estáveis.

O iniciado aproxima-se assim dos seres superiores e elevados. No astral nascem os germes das
grandes associações, das grandes amizades, das proteções. Em constante modificação, em evolução,
as formas das egrégoras são, na maior parte do tempo, efêmeras. As egrégoras não possuem ponto
de apoio. Elas podem obstruir nosso caminho ou ser utilizadas por um operador.

Marcotoune escreve: "As egrégoras que podemos considerar como prontas formam uma classe à
parte. São as egrégoras da cadeia iniciática ou das grandes religiões. Elas servem à obra sacrifical de
expiação do Filho de Deus para salvar a humanidade. São dirigidas diretamente pelos seres
reintegrados e pela Vontade Divina. Situadas no cume do plano astral, perdem-se na fusão com os
planos espiritual e divino". (pág. 206) Elas realizam o destino cósmico de todo o universo.

Os antigos...

Basta que o mundo invisível seja um poderoso auxiliar para os seres humanos, para convencê-los de
ler os textos antigos. Se os homens criaram mitos, foi porque se viram confrontados com forças
imensas, incompreensíveis, dissimuladas nas profundezas ocultas da Natureza.

Sabiam que cotidianamente eram travados combates na terra e no céu. Zeus luta contra os Titãs;
Rama combate os demônios gigantescos do Ramayana; Krishna ajuda o guerreiro Arjuna em seus
embates com a Vida, os exércitos vindos do invisível são confrontados com os do manifesto.

No Regulamento da Guerra dos Essênios, vê-se o mundo angélico inteiro empenhado na batalha
terrestre. Na China, o Culto dos Ancestrais estabelecia um equilíbrio ente a Terra e o Céu por meio
da Egrégora familiar astral. Papus cita Ovídio no Tratado Elementar de Ciência Oculta: "Quatro
coisas devem ser consideradas no homem: os manes, a carne, o espírito e a sombra. Estas quatro
coisas são colocadas cada uma em seu lugar: a terra cobre a carne; a sombra flutua em redor da
tumba, os manes estão no inferno e o espírito voa para o céu" (pág. 404). Os egípcios pensavam que
não só o ser humano possui um duplo (Kha), mas também todos os animais e todas as coisas em que
a vida se faz sentir: as cidades, as províncias, as nações. Henri Duville o observa na sua Ciência
Secreta:

E nós...

Estamos convencidos, como Beaudelaire que:
"A Natureza é um templo onde viventes pilares
Deixam às vezes escapar confusas palavras,
O homem nela passa através de florestas de símbolos
Que o observam com olhares familiares..."


Somos convidados com insistência a decifrar o que está oculto (ocultismo), a descobrir o que está
fora das coisas (esoterismo), a aprofundar o que nos espanta porque, diz Aristóteles, "do espanto
vem a Sabedoria".

A noção de Egrégora nos libera dos grilhões religiosos. Na verdade somente o Amor ao Bem e à
Verdade, somente nossa ação e nosso Coração nos conduzirão à família espiritual que nos
corresponde, segundo a densidade de nosso espírito.

Como Swedenborg, viajaremos em grupos unidos, sendo ensinados pelos diversos grupos de anjos
que formam sociedades à parte, elas próprias reagrupadas em um grande corpo porque, diz ele, "o
céu é um grande homem". Paulo, na Epístola aos Romanos (12) e em 1 Coríntios 12, escreve:

"Formamos um único corpo com o Messias"... "Sim, o corpo é um, mas há vários membros e todos
os membros do corpo, que são numerosos, formam um único corpo". Tal é a comunhão dos Santos.
Jesus dissera: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei entre eles".

No Apocalipse, João faz os Anjos responsáveis pelas Nações intervirem, porque somos
responsáveis pelos erros coletivos cometidos. Ninguém pode lavar as mãos, como fez Pilatos:
guerras, fomes, massacres diminuem nossa liberdade, porque participamos da egrégora da terra; da
mesma forma que os genes de nossa hereditariedade marcam a história de nosso corpo. Segundo a
Bíblia, cidades inteiras foram punidas por causa de sua egrégora envenenada.

Phaneg escreveu: "Todo coletivo constitui na verdade uma família no espiritual e tem seu chefe. É a
este chefe que o Espírito fala..."

Compreende-se, nessa ordem de idéias, que jamais se deve responder ao ódio como ódio, porque
então as duas egrégoras selariam uma aliança estreita para nossa maior danação. Devemos estar
convencidos que nenhuma de nossas aspirações para o Bem se perde e que nossa vida deve produzir
Idéias-força poderosas. É o segredo da prece dos "fracos". Se utilizamos ritos é porque eles
constituem um apelo às forças elevadas. Se realizamos uma Cadeia de União, é para ligar o visível
ao invisível num campo magnético fechado onde as forças perpendiculares se projetarão. Ela é ao
mesmo tempo criadora e receptora; escudo protetor e receptor de influências astrais e espirituais. As
egrégoras são dinamização das auras num objetivo preciso.

Todo o esforço da vida iniciática tem por meta utilizar, da melhor maneira possível, nossa vida,
nossos ímpetos, nosso amor, para equilibrá-los e fazer deles uma base sólida num esforço de
continuidade e de ascensão.

"Metamorfoseemo-nos pela mutação de nosso pensamento"— é o convite de Paulo na Epístola aos
Romanos.

Metamorfoseemo-nos pela mutação de nosso coração; é a via cardíaca martinista.

Esta matéria foi publicada originalmente na Revista L’Initiation no nº 4 de 1983.


Sobre o Autor:
LORD KRONUS
RAITOM ROSENKREUZ

Um eterno aprendiz só sabe que nada sabe, quando sabe que nada sabe, sabe mais que quem acha que sabe de alguma coisa, pois quem conhece a si mesmo, conhece os outros, a essência divina e sua divina finalidade.
sergio.domal@gmail.com
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