Não se despedira de ninguém. Era Natal. Não se despedira. Ficaram esperando que pelo menos essa máscara ele usasse, mas, ele se negava. Uma máscara que tinha sinceridade implícita. O desejo de que ele e família tivessem um bom Natal. Todos afinal gostavam de Mauro. Porém para ele era uma sinceridade que poderia entrar em desequilíbrio se ele passasse a agir de uma forma que eles não gostassem. Ou mesmo se ele entrasse em depressão e deixasse de ser um elo importante na oficina. Trabalhava naquela oficina sempre na dele. Não era de riso fácil. Não era de choro fácil. Não era de beijo, abraço, toque de mindinho, de pés, nem de escrever docilidades. Nascera apenas para existir. Somente a dona da oficina tirava dele algum canto risonho de olho. Não se despediu de ninguém. Todos sabem que voltaria depois das festas. Voltaria sempre na dele. Não era de muitos rapapés. Mas trabalhava, trabalhava, trabalhava. Parecia saber que muito do amor na oficina vinha com o interesse. O interesse do sistema. Então, dava ali o mínimo de sua capacidade de afeto. Mas talvez não fosse isso. Um pai frio, que......Uma certeza absoluta: tinha o amor materno. Desde que apresentara, em pequeno, sinais de autismo ou comportamento aparentado ao dos possuidores de transtorno desintegrativo de infância, os desvelos de sua mãe não deixaram de acompanhá-lo. Tinha baixa estatura, não, não era alta, velho, porém era jovem, branco, vermelho, amarelo, aprendera o sabor do silêncio que há no tempo. Foi aos poucos que começara a desprezar as máscaras. Desde infante, nas festas de família, se tornara coletor das máscaras que caiam ao chão. Coletava-as e queimava-as. Foi deixando por dentro um eu cada vez mais ecarcerado. Queria corresponder ao afeto com afeto mais que mínimo. Mas o eu preso possuía várias lacerações. As paredes eram indestrutíveis. Parecia. Não se despedia de ninguém. Tinha receio dos signos da comunicação. Não ligava para as datas. Não sabia afivelar as máscaras como os demais. Tinha demasiada consciência e orgulho e vaidade de seu pensar. Não percebia a própria arrogância. Mas era bom. Tanto que quando alcançou a avenida, após sair da oficina, sem desejar bom Natal aos colegas, contemplou a mendiga que circulava sempre em determinado ponto na frente da Igreja. Pensou consigo: eu me importo com você. Foi um pensamento importante. Nunca dirigira reflexões para aquele ser. Que era parte do mundo. Como ele. E pela primeira vez sentiu vontade de afivelar a máscara. Uma máscara de bondade inútil ao observado, que era objeto neutro do sentimento distanciado de Mauro, um mecânico insensível a eventual desejo de alterar a engrenagem gasta e desigual.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
MAURO O MECÂNICO de natanael gomes de alencar
Não se despedira de ninguém. Era Natal. Não se despedira. Ficaram esperando que pelo menos essa máscara ele usasse, mas, ele se negava. Uma máscara que tinha sinceridade implícita. O desejo de que ele e família tivessem um bom Natal. Todos afinal gostavam de Mauro. Porém para ele era uma sinceridade que poderia entrar em desequilíbrio se ele passasse a agir de uma forma que eles não gostassem. Ou mesmo se ele entrasse em depressão e deixasse de ser um elo importante na oficina. Trabalhava naquela oficina sempre na dele. Não era de riso fácil. Não era de choro fácil. Não era de beijo, abraço, toque de mindinho, de pés, nem de escrever docilidades. Nascera apenas para existir. Somente a dona da oficina tirava dele algum canto risonho de olho. Não se despediu de ninguém. Todos sabem que voltaria depois das festas. Voltaria sempre na dele. Não era de muitos rapapés. Mas trabalhava, trabalhava, trabalhava. Parecia saber que muito do amor na oficina vinha com o interesse. O interesse do sistema. Então, dava ali o mínimo de sua capacidade de afeto. Mas talvez não fosse isso. Um pai frio, que......Uma certeza absoluta: tinha o amor materno. Desde que apresentara, em pequeno, sinais de autismo ou comportamento aparentado ao dos possuidores de transtorno desintegrativo de infância, os desvelos de sua mãe não deixaram de acompanhá-lo. Tinha baixa estatura, não, não era alta, velho, porém era jovem, branco, vermelho, amarelo, aprendera o sabor do silêncio que há no tempo. Foi aos poucos que começara a desprezar as máscaras. Desde infante, nas festas de família, se tornara coletor das máscaras que caiam ao chão. Coletava-as e queimava-as. Foi deixando por dentro um eu cada vez mais ecarcerado. Queria corresponder ao afeto com afeto mais que mínimo. Mas o eu preso possuía várias lacerações. As paredes eram indestrutíveis. Parecia. Não se despedia de ninguém. Tinha receio dos signos da comunicação. Não ligava para as datas. Não sabia afivelar as máscaras como os demais. Tinha demasiada consciência e orgulho e vaidade de seu pensar. Não percebia a própria arrogância. Mas era bom. Tanto que quando alcançou a avenida, após sair da oficina, sem desejar bom Natal aos colegas, contemplou a mendiga que circulava sempre em determinado ponto na frente da Igreja. Pensou consigo: eu me importo com você. Foi um pensamento importante. Nunca dirigira reflexões para aquele ser. Que era parte do mundo. Como ele. E pela primeira vez sentiu vontade de afivelar a máscara. Uma máscara de bondade inútil ao observado, que era objeto neutro do sentimento distanciado de Mauro, um mecânico insensível a eventual desejo de alterar a engrenagem gasta e desigual.
Natanael Gomes de Alencar
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Artigo 5º:
(...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
(...)
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Além de estar legalmente amparada, a Liberdade de culto deve ser entendida como um direito universal e uma forma de respeito à individualidade e à liberdade de escolha.
Por princípio, o Alcorão, a Cabala, a Bíblia, os fundamentos da Umbanda, a doutrina Espírita, o Xamanismo, a Maçonaria, o Budismo, a Rosa Cruz e tantas outras vertentes esotéricas, são partes do conhecimento Uno e têm a mesma intenção: conectar o Homem à energia criadora com a finalidade de despertar sua consciência.
Lei n.º 5.250, e 09/02/1967, ou Lei de Imprensa.
Art. 71 (LEI DE IMPRENSA):
Nenhum jornalista ou radialista, ou, em geral, as pessoas referidas no art. 25, poderão ser compelidos ou coagidos a indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas informações, não podendo seu silêncio, a respeito, sofrer qualquer sanção, direta ou indireta, nem qualquer espécie de penalidade.
Art. 5º, XIV (Constituição Federal/1988)
É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
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A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
Art. 220 parágrafo 1º (Constituição Federal):
Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto nos art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
Código Penal Brasileiro, Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.