domingo, 27 de novembro de 2011

O aconchego das Marias


Aberto no entorno do Dragão do Mar, o Teatro das Marias, liderado pela diretora Valéria Pinheiro é muito mais do que sede da Cia. Vatá. A integração de diversas artes forja a identidade da casa underground.

O teatro fica ali entre aquelas ruazinhas do Dragão do Mar, que os órgãos públicos já não consideram Praia de Iracema, mas Centro. Estão na fronteira. Porém, logo à entrada, ainda que você duvide da existência de um teatro, o que lhe fará acreditar no contrário, além do nome na fachada, são as pessoas. Gente entrando e saindo, ou rapazes encostados no muro, jogando conversa fora em torno de uma fogueira. Fogueira?
Não se assuste. Os meninos fazem oficina de tambor de crioula no teatro e, antes do ensaio, é preciso afinar os tambores, esquentando o couro na beira do fogo.

"Isso já é um rito. Produção cultural desde a entrada!", orgulha-se a matriarca da casa, Valéria Pinheiro.

O teatro é pequeno, mas aconchegante. Um escritório, uma cozinha, uma salinha, o palco, as malhas de circo e os trapézios pendurados na verga de metal e, a exemplo destes, em cada centímetro quadrado que se acha, coloca-se alguma coisa. E na bagunça arrumada do Teatro das Marias, não lhes falta nada. Até um quartinho arrumaram, caso o artista precise dormir por lá. O espaço é a casa da Companhia Vatá, de Valéria, e muito mais do que isso: a realização de um sonho que custa caro.

A matriarca

A diretora é cearense, mas já morou no Amazonas e no Rio de Janeiro. Pouca gente sabe, mas entre a descoberta de uma Valéria Pinheiro artista e a criação da Companhia Catsapá em terras cariocas, Valéria formou-se mestre e doutora nas Ciências Exatas.
Graduada em Engenharia Civil, a coreógrafa chegou a estudar análise de sistemas em plena década de 80, ascensão dos computadores. "Não me arrependo de nada, pelo contrário. Tudo o que aprendi me deu suporte para muitas das experimentações que faço hoje. Minha arte é muito exata", argumenta.

Após 20 anos no Rio, Valéria decidiu voltar para o Ceará, entre outros motivos, por um modo de ficar mais perto de seu pai, o grande apoiador e financiador, muitas vezes, de sua arte. "Quando vim pra cá e montei a Cia. Vatá, tinha muita vontade de ter um espaço nosso. Vendi, então, um apartamento que tinha no Rio e aluguei esse espaço. Meu pai me ajudou muito nesse início", revela.

Coexistência

Atualmente, o movimento que acontece no Teatro das Marias se divide em núcleos, que englobam dança, teatro, música, circo e tudo com o tempero das tradições populares. "Tem o tambor de crioula que você está vendo; tem o coco de zambê; tem pessoal do circo; tem os espetáculos de teatro e dança, para os quais mexemos na estrutura... São vários núcleos coexistindo", explica.

Valéria hoje é, portanto, a coordenadora desses núcleos. Como sempre trabalhou com artes integradas, a chegada e a "aglutinação" desses outros grupos, por assim dizer, aconteceu quase que naturalmente. Todos, no entanto, só podem existir através de um mínimo estatuto de convivência, entre si e entre a sociedade.

"Temos uma filosofia importante para a manutenção desse espaço que é o fato de tudo ser pago, nem que seja com permuta", comenta Valéria. Assim, o grupo de circo usa o espaço e em troca lava um banheiro, a companhia de teatro paga o palco de ensaios com duas faxinas e está feito. E aqui vale encaixar a máxima de Cacilda Becker: "Não me peça de graça a única coisa que tenho para vender".

Também a segurança do espaço é um exemplo de estratégia relacionada ao convívio. Segundo Valéria, em 2005, quando inauguraram, em seis meses sofreram sete saques. "Não foi assalto por que não estávamos aqui, mas arrombaram e entraram. Aqui nas imediações tinha uma espécie de cracolândia", relembra. A iniciativa foi uma só: agregar. "Chamamos para dentro. Começamos a dar aula para eles, convidar pras oficinas, deixá-los fazer parte. Hoje o espaço é da comunidade, é respeitado por ela", explica.
No orçamento consta, sim, um valor reservado à segurança, mas a coreógrafa garante que a relação de respeito e confiança resguardam muito mais o espaço.
"Eles sabem que eu tenho aqui computador, sistema de som... Mas, desde 2006, até agora, não tivemos mais nenhum saque", reforça.


Manutenção:

Para além do desejo, a ideia fixa de manter uma sede se justificava também por uma questão financeira.
"Queríamos um lugar nosso principalmente porque as pautas eram muito caras. Não é tão simples e barato se apresentar nos equipamentos públicos, como Theatro José de Alencar e Dragão do Mar", argumenta.

Mas, de onde sai a verba para a manutenção? Em boa parte, do bolso de Valéria, que pouco ou nada lucra.
Pequenos valores vêm dos pagamentos por uso do espaço e o montante maior do salário da coreógrafa, contratada como arte-educadora.
"Somos Ponto de Cultura, mas não podemos debitar desse recurso os custos que temos com estrutura.
Precisamos é de editais de manutenção dos espaços, por que se tem meses que quase não temos o valor do aluguel, imagine para fazer alguma reforma"
,
desabafa.
O pedido perde o possível caráter assistencialista quando se pensa na movimentação cultural proporcionada pelo espaço, longe de servir ao uso particular da companhia.
Atualmente, o espaço, selecionado inclusive como Ponto de Cultura, movimenta em torno de 250 pessoas por semana e consegue gerar uma produção que seria inviável se contassem apenas com os equipamentos públicos disponíveis.
Nesse sentido é que a matriarca mergulha na arte, mas se mantém atenta as contas e contando sempre com os amigos. Na hora do aperto, já recebeu sinal verde: "Ganhamos muitos presentes. Quadros de artistas plásticos, trabalhos lindos de Descartes Gadelha e Silvio Rabelo, por exemplo. Eles já me disseram: 'Se você precisar de grana, venda! Venda, mas não deixe o Teatro das Marias fechar!'".

FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1075494

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