sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Entranhas oníricas - A anatomia de figuras fantásticas é a base da exposição de Walmor Corrêa, que abre, hoje, no Dragão do Mar


A um olhar distraído, de relance, podem até parecer ossadas de animais comuns e gravuras naturalistas, daquelas que nos acostumamos a ver, sem muito interesse, nos livros de ciências. Mas não. Os estudos de anatomia do artista Walmor Corrêa investem sobre as entranhas de seres fantásticos do nosso imaginário, da mitologia brasileira e da cultura pop norte-americana. As representações são fruto de minuciosa pesquisa acerca de como funcionariam estes organismos se fossem reais.

O fantástico toma formas palpáveis em corpos taxidermizados e ossadas de animais híbridos. Também em telas detalhadas de anatomia, estudos sobre os corpos da sereia, do curupira e até mesmo de personagens dos quadrinhos, como o "amigão da vizinhança" Homem-aranha. Deste, as telas revelam a composição fisiológica que inclui glândulas de seda para fabricação das teias, presas, um coração alongado e até as partes baixas do herói.

O trabalho de Walmor chega a Fortaleza na montagem inédita "Assim é, se lhe parece", em cartaz a partir de hoje no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). A abertura acontece às 19 horas. Hoje, no mesmo horário e local, o artista participa de um bate-papo com o público como parte do projeto "Arte em Crivo".

A instalação traz pássaros com cabeças de roedores, ossadas de répteis com cabeça de pássaros e outras associações também pautadas em mitos brasileiros.

Walmor explica que as peças resgatam o imaginário dos viajantes europeus durante a colonização. "Há relatos de viajantes que contavam histórias de monstros marinhos, peixes que voavam, ursos que subiam em árvores. Isso existe ainda no nosso imaginário. Eu verso muito sobre essas teorias, sobre essas crenças", ilustra.

A exploração poética do improvável resultou em pinturas, esculturas e desenhos fruto de cerca de 15 anos trabalho. Catarinense radicado no Rio Grande do Sul, Walmor é formado em Publicidade e Propaganda e em Arquitetura e Urbanismo. A paixão por história, arte e biologia, no entanto, o levou a viagens pelo norte do País, onde embarcou nesse universo mitológico.

"Estava na Amazônia, em pesquisa sobre insetos, e tinha lido um livro onde o Padre Anchieta falava do Curupira. É um ser mítico que ainda hoje existe no nosso imaginário. Lá, todos me falavam sobre ele", lembra. Como resultado direto dessas excursões, ele muda o foco do estudo. E, se a ciência nunca se preocupou em estudar este seres, a arte encontrou um caminho.

"Voltei para o ateliê em Porto Alegre, li Câmara Cascudo a fundo. Em cima disso, escolhi cinco seres híbridos", conta. Além do pequeno índio de pés virados para trás que corre pela floresta, a sereia e os animais híbridos entram na pesquisa. De volta à Amazônia, ele passa a visitar povoados ribeirinhos e coletar histórias sobre os personagens.

"Um índio me mostrou local onde namorava uma sereia. Todo dia de manhã, eles namoravam enquanto ele pescava. Ao final da tarde, ela mergulhava e sumia. Como pode uma mulher peixe desaparecer dentro da água e não morrer de embolia. Como a ciência explicaria? Como explicaria um pequeno índio com os pés para trás ser caminhador?", recorda sobre as questões que motivaram as criações visuais.

Auxiliado por médicos e pela literatura especializada sobre o funcionamento dos corpos humanos e animais, o artista se fez cientista. Teorizou sobre o funcionamento dos aparelhos biológicos destes estranhos seres, frutos da imaginação e nascidos no universo da oralidade.

Em meados de 2000, Walmor Corrêa chegou expôr os primeiros resultados de sua pesquisa-invenção nos Estados Unidos. Em contato com a cultura norte-americana, ele encontrou um novo veio a ser explorado, por seu projeto de criptozoologia (o estudo de seres fabulosos) artística.

Dois personagens dos quadrinhos foram incluídos na fauna fabuloso da série apresentada em Fortaleza: os personagens das HQs Homem-Aranha e a Chita, a mulher guepardo. "Se dissecássemos o Homem-Aranha, quantas glândulas fiandeiras ele teria para tecer as teias que mostra nos filmes? Estudei vários tipos de aranhas que fariam aquela teia", detalha.

O foco da exposição, no entanto, é o imaginário brasileiro. A partir de doações de ossos e animais mortos, Walmor criou e detalhou uma fauna inteira de seres imaginários que habitam as mentes de brasileiros e estrangeiros. A precisão aliada a improbabilidade de suas criações conduzem o espectador de volta ao ponto de partida do artista: o estranhamento.

Mais informações:


"Assim é, se lhe parece", exposição de Walmor Corrêa.
Bate-papo com artista, hoje, às 19 horas, no MAC do Centro Dragão do Mar. Abertura da exposição, amanhã, no mesmo horário e local. Gratuito. Contato: (85) 3488.8600

FONTE: Entranhas oníricas - Caderno 3 - Diário do Nordeste

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