sábado, 1 de setembro de 2012

MARÍLIA

Uma adolescente diferente das demais; com seus plenos quinze anos nem ao menos sabia o que era receber um beijo, senão fraterno.
Seu nome era Marília. Apesar de bela, não era cortejada, coisa comum em tal época, talvez porque em sua face havia um ar sério demais para sua tenra idade que amedrontava todos os possíveis pretendentes. Na escola, apesar de parecer desatenta na maior parte do tempo, sempre tirava excelentes notas, sem em seus livros, uma única vez ao menos, tocar durante todo período letivo. As poucas amizades que possuía, enquanto por perto, pareciam que eram sua única razão para viver, mas quando se encontravam por longe era como que as mesmas para Marília nunca houvessem existido.

Marília assim era: diferente. E por mais que insistissem para que ela mudasse, de nada ia adiantar.

Sua rotina era um cotidiano monótono e inexpressivo, mas que Marília nunca pensou mudar, sua monotonia lhe agradava, este era seu insólito prazer.

Ela passou sua vida como um fantasma e nada mais.

Não sabiam porque ela assim era, talvez um defeito em alguma parte do cérebro ligada às emoções, pois Marília aparentava nada sentir, nem ódio ou amor, nem medo nem coragem, nem alegria nem tristeza, nem dor ou qualquer outra coisa. Ela simplesmente nada expressava, mas será mesmo que nada sentia? Ou as sensações para Marília eram diferentes das dos demais?

Alguns tentavam saber o que se passava naquela pequenina cabeça que ornava seu também pequeno corpo. Marília frequentou os mais diversos consultórios. Psiquiatras, neurologistas e até mesmo curandeiros faziam parte da imensa lista que Marília houverá frequentado, mas nada aparentava resolver.

Suas roupas sempre frouxas numa tentativa ignóbil de esconder seu esbelto corpo, coberto por uma pele tão branca quanto possível, era para muitos estupidamente sem sensatez. Por que alguém tentaria esconder tal beleza, em um mundo no qual beleza é de total importância?! Os próximos se interpelavam sem resposta.

Seu andar era leve como o de uma borboleta; seu sorriso - nas raríssimas vezes em que era visto - era como um raio de sol a cobri-lhe o rosto, o único fator que aparentava um pouco de REAÇÃO de sua parte era a sua enorme juba cacheada com longos cabelos ruivos.

Sempre fora assim e talvez nunca mudaria. Por quê? Ninguém sabia.

Um dia na escola despediu-se com um "tchau" amistoso a todos, algo que os surpreendeu. Três dias mais tarde, quando sua família voltou de uma viagem - à qual Marília insistiu em não ir - ela foi encontrada morta.

Estava estirada sobre o piso do banheiro, em uma de suas mãos encontraram um vidro de calmantes - que sua mãe tomava costumeiramente, como forma de controlar sua insônia - não havia sobrado uma só cápsula; na outra mão um pequeno bilhete de "Adeus". Cometera suicídio e suas únicas palavras finais foram: "Não havia mais porque viver".

Ninguém nunca soube que "porquê" movia Marília, nem interessaram-se em saber.

Talvez - pensaram seus poucos amigos - ela passara sua vida como um fantasma, porque sabia que sua passagem em tal mundo seria curta e não havia porque serem derramadas lágrimas em seu enterro.

Assim deixou de existir a já não existente Marília.


Sobre a Autora:
LIZZA BATHORY

Lizza Bathory


Lady Godiva dos profanos, andarilha notívaga dos inquietos, perpetuadora da confusão na líbido dos incautos meninos.
elizabeth.bathory.ce@gmail.com
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(...)
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Além de estar legalmente amparada, a Liberdade de culto deve ser entendida como um direito universal e uma forma de respeito à individualidade e à liberdade de escolha.

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