sexta-feira, 7 de setembro de 2012

"O Último Homem", de Mary Shelley, escritora inglesa que deu início à ficção científica, no século 19

Mary Shelley (1797-1851) é a conhecida autora de "Frankenstein" (1818), a obra inaugural da ficção científica moderna. Mary, mulher de Percy Bysshe Shelley, um dos grandes poetas do romantismo inglês, parte do que Rubens Scavone chamou de "séquito" de outro grande nome da poesia britânica, lorde Byron.

Narrado por Lionel Verney, o livro é ambientado no final do século 21. Verney e sua irmã, Perdita, são agregados de Adrian, herdeiro do trono inglês (mas de pendor republicano). Ainda existe um Império Britânico, o transporte rápido é feito por dirigíveis, máquinas cuidam das principais necessidades humanas. O desenvolvimento social mais saliente é a instauração da república na Inglaterra. Mas o interesse da autora não está na especulação social e científica, e sim na narrativa dentro dos cânones do romantismo: estilo rico, celebração da natureza, exaltação de sentimentos, viradas do destino, aparições espectrais, donzelas disfarçadas de soldados, intrigas amorosas.

É uma obra mais complexa do que "Frankenstein". Mais atenção é dada a questões políticas, e dados da biografia da autora são costurados à narrativa - Adrian é modelado em Percy; lorde Raymond corresponde a Byron; Perdita a Clair Clairmont, meia-irmã de Mary; e Clara, filha de Verney, tem o nome da primeira filha de Mary com Percy, morta na infância. A paisagem é aquela frequentada por Mary e o séquito de Byron, na Inglaterra ou na Europa continental.

De fato, "O Último Homem" é um "roman à clef", com fatos da vida real disfarçados como ficção. Especialmente a primeira metade, que narra como Raymond liderou a liberação da Grécia do jugo turco (Byron participou do conflito) depois de abdicar de sua posição política na Inglaterra. A guerra é descrita como choque entre o mundo cristão e o muçulmano.

Das ruínas de Istambul surge a praga devastadora. Ela domina a segunda parte do romance, narrada do ponto de vista - central para a Inglaterra, mas não global - das amizades de Verney. A autora explicita o efeito comparativo: "O mesmo sentimento que primeiro me levou a retratar cenas repletas de ternas lembranças agora me obriga a me apressar".

A humanidade vibrante desse círculo de amizades é confrontada com o seu rápido desaparecimento. Buscando o sublime e mantendo uma separação de estilos, Mary não desce aos detalhes mais grotescos da peste. Seu enfoque é devedor do romance de Daniel Defoe "A Journal of the Plague Years" [1722, Diário dos Anos da Peste] e da ficção científica francesa de 1806 "Le Dernier Homme" [O Último Homem], de Jean-Baptiste Cousin de Grainville, no qual o último homem se refugia no Brasil.

Nessas obras, a ideia do fim do mundo sai do terreno teológico, assume a descrição do impacto social imediato e vai para o terreno da especulação futurista - dentro de limites anteriores à microbiologia e ao darwinismo. A transição é expressa no livro, quando exilados ingleses liderados por Adrian encontram um velhaco profeta do apocalipse, na França.

A partir da publicação de "O Fim do Mundo" (1894), de Camille Flammarion, e do conto "A Estrela" (1894), de H.G. Wells, firmou-se até meados do século 20 a tomada panorâmica, distanciada, no emprego da ideia do fim do mundo-como-o-conhecemos (quer ele se concretize ou não). Isso ocorre em romances de desastre como "A Nuvem da Morte" (1913), de Arthur Conan Doyle, e "A Nuvem Negra" (1957), de Fred Hoyle. Uma exceção é "Só a Terra Permanece" (1949), de George R. Stewart, também sobre uma praga global. Esse romance inspirou Stephen King a narrar, sem medo nem do grotesco nem do sobrenatural, a progressão de uma supergripe planetária, em "A Dança da Morte" (1978).

A essa visada impessoal que viria a prevalecer, Mary oferece a perspectiva inversa - toda a tragédia do fim do mundo passa pela sensibilidade exaltada do narrador, que descreve não apenas a peste, o pânico e os distúrbios civis mas a perda de seus familiares e amigos íntimos, idealizados em sua caracterização de pessoas habilitadas ao "bem viver" da sensibilidade artística e humana.

O romance adquire uma perturbadora harmonia, da qual emerge o seu real sentido trágico, admitindo o excessivo estilo romântico e os dados da biografia da autora: o "leitmotiv" do "último homem na terra", também firmado nesse livro, parte talvez do sentimento da própria Mary, que em 1826 já havia perdido Percy (em 1822) e Byron (em 1824), ao antecipar a dissipação da "boa sociedade" de que participara.

FONTE: Folha de S.Paulo - O futuro não é longe daqui - 04/11/2007

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