Verlei desce aquela rua, não lembra nunca o nome, uma vez por semana. Terceira vez na semana que passa por ali. Gostava de ver as sombras que se formavam naquelas horas da noite. Tinha um prazer sádico em chutar as oferendas dali. Havia muitas em cada esquina. Naquelas horas, ninguém ligava pro seu desrespeito. Como se todos sem exceção, houvessem dormido, até os animais domésticos, até os insetos. Distraído, escorrega nas fezes de um cão. Afeta-lhe o quadril. Um xingamento lança aos céus. Procura um papel para limpar a calça. Acha um caderno de orações rasgado. Tira a sujeira por cima. Depois limpará melhor. Folheia o caderno. Vem-lhe à mente seu tempo. Um tempo, que apesar de alegrias aqui e ali, ele considerava menos imaculado.
Não gostava de lembrar muito, mas de súbito um poema-oração lhe pousou no bestunto, como uma rasga-mortalha no busto de alguma praça. Sentia um mau-agouro naquele baile da memória. Joga pra longe o resto do caderno. O poema-oração aumenta de volume.
Sempre quando vou na igreja
O Senhor vem, me recebe,
Beija-me e me faz sentar
Para que eu lhe confesse
Suas bênçãos sobre mim
São como pão, como vinho,
São gozos na tempestade,
Uivos de puro carinho
Meus pecados são lavados
Como pudicas escadas
Por anjinhos querubins
Negritinhos na calada
Que estes anjos bonitinhos
Guardem-me de Satanás,
Peladinhos no altar
Encham meu gozo de paz
Verlei fez
este poema-oração aos nove anos. Não. Aos oito. Não. Aos dez. Por volta então.
Embora
nascido em família muito religiosa, fora atraído pelos olhos da serpente,
segundo seu pai, desde cedo. Criança-gênio, lia Baudelaire e Byron no original.
Precoce também na área sexual, tinha uma fixação doente pelos filhinhos da sua
mãe preta. A maioria, segundo ele, era bastardinho de seu pai. Sentia por eles
uma excitação santificada quase. Na puberdade, possuía cadernos onde
extravasava essa e outras taras. Às vezes, distraído, esquecia um destes
cadernos por aí. E se era o pai que achava, ai ai ai !!!, tratava-o como um verme.
Humilhava-o. Dava-lhe surras de vara de
marmelo, tinha a cabeça pisada, batida na parede, além de ser alvo de outros
castigos desumanos e inomináveis. O pior, o mais execrável castigo era ser
acorrentado no porão. Correra perigo de vida por isso. Pelas marcas em S nas costas, teve o
apelido de filho de Satã. Por dá-cá-aquela-palha, era espancado. Toda coisa
errada era sua culpa. Foi quando começou a fingir, a mentir, a torturar animais
domésticos, seus e dos outros. Era uma
época em que se masturbava muito. Seu pai, para contê-lo, encomendou uma
espécie de gaiola com pregos para prender o pênis do filho e evitar que ele tocasse
no mesmo. A gaiola permitia que o garoto urinasse tão - somente. E nessas horas
de esvaziamento, recitava, mentalmente, versos do livro Flores do Mal – Em meu ser todo inferno
afinal vai entrar:/Ódio, frêmito, horror, labor duro e forçado,/ E, semelhante
ao sol pelo inferno polar,/ Meu coração é um só bloco rubro e gelado.
Aos quinze
anos, aumentou em Verlei a obsessão pelo prazer do sexo sádico. E por volta dos
vinte anos, manifestou-se de modo mais acentuado sua atração oculta. Sempre
gostou de pederastas, ou melhor, de uranistas, como os chamava o Dr. Gouveia
que, aos que perguntavam a origem do nome, dizia que veio do alemão URANISMUS,
que teria sido criado a partir do nome da deusa grega AFRODITE URANIA, filha de
Urano, nascida dos testículos do pai, cortados pelo seu irmão Kronos. Conta-se que o Dr. Gouveia tinha um sobrinho
assim, assim. Um sobrinho de mais ou menos treze anos que ele assediava. O
sobrinho se negava, reagia, dizia que não era certo, afinal eram parentes.
Gouveia rebatia: - Não sou irmão de
sangue de sua mãe, e sim adotivo. Então, sem problema. Vamo fo...fa...fi....! –
Antes que completasse, o sobrinho fugia. Perdia seu tempo e seu latim. E por
ser uranista sem disfarces, e sem armário, não sendo aceito pela família, o
sobrinho foi expulso de casa. Dr. Gouveia não moveu uma palha para ajudar o
menino.
Algum tempo
depois, o Dr. circulava pela cidade, por volta das nove da noite, aproveitando
que as lojas fechavam as vinte e duas, quando deu de cara sabe com quem?....com
o sobrinho. O ano não tenho certeza, mas,
se não me falha a memória, o lugar....foi em frente ao Cine-Theatro Íris, entre
o Largo da Carioca e a Praça Tiradentes, um dos pontos da vida noturna carioca
onde ficavam os meninos de ares uranistas desde as oito da noite. O sobrinho dele
usava uma saiinha vermelha, bem curtinha. E estava maquiado como uma rameira, exalando
perfume barato. Gouveia ficou excitado. Trocaram piscadelas e foram a um lugar
mais discreto. Dizem que Gouveia teve de gastar todo o dinheiro que tinha.
Ficou sem um níquel, sendo tratado pelo sobrinho como um cliente normal, sem
privilégios.
Mas voltando a Verlei. Aos vinte e cinco, se casou. Teve
dois filhos nos dois primeiros anos de casamento. Conseguiu controlar seus
impulsos à custa de muitas orações e penitências.
Como cursava também a Faculdade de Direito, os estudos também ajudaram a concentrar
o foco em outras coisas. No entanto, três anos depois de formado, quando eleito
para a presidência de uma associação de advogados, afrouxou a moral, descontrolou,
soltou as rédeas de seus impulsos novamente.
O tempo passou, e ele foi levando essa
vida dupla, mentindo sobre a mesma com uma falsa agenda jurídica, para
justificar suas escapadas. Foi perdendo a vitalidade no decorrer dos anos, diminuindo
assim o ritmo boêmio.
Quando fez
sessenta, apareceu uma grave doença venérea. Ficou arrasado. Foi quando, em
desespero, começou a voltar às missas católicas de fim de semana, num delírio
obsessivamente antianal.
Sexo anal é pecaminoso, /O que sai do fundo vai pro esgoto,
Há espíritos bestiais soprando atrás,/ Satanás tem ali seu
trono,
Sua coroa é de Flor de Uranus/ No esgoto vivem ratos, vermes,
Como o inferno onde diabos vivem,/ É o intestino, o túnel
final,
Onde deixa restos a humanidade, / E reina Satã, o rei do anal
Sexo anal é suja dor, / pecado atroz mortal,
Avivar o ânus com amor / É ofender o plano divinal,
Desfolhar então a Flor, / Acabar com seu cheiro mau
Mas não demorou pra que esquecesse a igreja, e que retornasse
à vida dupla, logo que suavizaram os sintomas da doença. Pensou nos momentos
passados. Os amantes jovens, aventuras
de antes, se mandaram, amadureceram. E partiram pra caminhos diversos. Muitos
se fizeram pais de família de reputação ilibada ou, quiçá, um pouco manchada,
como a de Verlei. Constante mesmo só o sobrinho do Gouveia, que atendia agora
por “Xica da Silva”, sendo ainda frequentador do Cine Íris.
Quatro de setembro de 1896. Agora, Verlei tem sessenta e
dois anos. Trajado ao modo clássico, Verlei flana, como sempre,
nestas horas mais escuras, pelos pontos marginais da cidade. Tem o hábito de
passar a língua nos lábios quando algo ou alguém lhe interessa. Vai devagarzinho, com medo de cair de novo. Na metade da rua, para de repente. Lembra de um compromisso. Apressa o
passo. Penetra mais fundo no subúrbio. Segue andando por aquela rua da qual esqueceu o
nome. Parece rua com esclerose. Mal alinhada e cheia de poças. As calçadas
idem. Um fedor insuportável. Atrás de si, ouve vozes de gatunos e ciganos
discutindo. Uma série de edifícios velhos. De um desses pardieiros jogam uma
bacia de xixi. Quase leva um banho. –
Filhos da....Passa por larápios de andar gingado, uns estapeando, outros
vigiando suas rameiras, muitas destas com ramo de arruda no cabelo. A noite com
olho sonado de lua minguante não vê a hora de dormir pra cobrir suas vergonhas
à mostra.
Avista um sobrado em ruínas, pendente para um lado. É um
sobrado com dois pavimentos. Na entrada, vê duas crianças raquíticas a serem
pressionadas por uns larápios. Espera que se afastem. Entra com cuidado. Sobe
os degraus do primeiro pavimento, caminha por um corredor, o soalho range e
quase fala, e pára em frente a um quarto, hesita. Bate. Chama um nome. Não há
resposta. Não encontra o fulano seu devedor, que, há uns dois anos, exerce a
miserável profissão de caçador.
Há uns quatro
anos, Verlei empresta a juros para alguns profissionais que vivem de atividades
exóticas, situadas na margem da sociedade.
Sai do
sobrado e recomeça a caminhada. No trajeto, vai encontrando cães revirando
lixo, gente humilde se abrigando, olhares trapaceiros, e outros tipos da
espécie que se diz humana. Verlei sente
asco dos que estão à margem. Acha-os culpados pelas enfermidades, pelo
banditismo, e por tudo que há de fedorento na cidade.
O Rio como
toda cidade grande, neste final de século XIX, não tem pudor de jogar a miséria
na margem, nos monturos, nos lixões. Estes miseráveis são seres especialistas
na aritmética dos restos, nas dimensões das sarjetas, na tipologia dos ratos e
dos magros gatos dos telhados; são os que catam o inútil para sobreviver. Para
a polícia não compensa levá-los à prisão, pois são nada de nada mais nada vezes
nada dividido por um.
Verlei não se sente mal por emprestar a juros aos que
labutam na margem. Observa-os há muito tempo. Constatou que muitos deles são
negros. Negros aos quais o sistema libertou para mais prender noutro tipo de
pelourinho, na beira podre de si, e logo os expulsará para longe das vistas.
Verlei percebeu que pode aproveitar essa miséria a favor de seu vício durante
um bom tempo ainda, estejam longe ou perto do centro.
Dos profissionais da margem, os trapeiros, os molambeiros,
os ratoeiros e os sabidos são geralmente mais velhos, com grandes famílias para
sustentar. Os trapeiros catam trapos nos
monturos, para vendê-los a casas de móveis, para uso dos lustradores, e para
fábricas, que os transformam em papel. Os molambeiros catam roupas velhas nos
monturos para venderem-nas aos brechós, que apuram um lucro de mais ou menos
quatrocentos por cento. Os ratoeiros são os matadores de ratos, sempre de
latinha de veneno e cornetinha, arremedo pífio do instrumento do flautista de
Hamelin. Os sabidos vendem as botas e sapatos que acham nos monturos aos
remendões, geralmente italianos, que os consertam e vendem com um lucro de mais
ou menos oitocentos por cento.
Verlei, antes
de fazer o empréstimo, estuda bem as possíveis consequências. Observa as famílias. Anota o número de
crianças e menores que estão na puberdade. Coloca os juros nas alturas quando
percebe que o devedor tem muitas crianças na família. No dia da cobrança, chega
com dois capatazes. Escolhe os mais fortes entre os gatunos afamados. Quando o
devedor, desesperado, quase se ajoelha, ele coloca suas condições. - Tudo bem. Esqueço os juros, mas....só se
suas crianças me compensarem de uma forma especial....
Com
caçadores, selistas e tatuadores, a relação de cobrança de juros é diferente.
São categorias marginais onde se encontram muitos jovens. A maioria tendo entre
treze e quinze anos. Grande parte deles trabalha
como ajudante, com muita agilidade, sem tremores nas mãos, e visão aguçada,
habilidades joviais necessárias ao exercício das atividades.
Os caçadores pegam gatos, matam-nos, tiram a pelagem, e os vendem
a restaurantes chiques para se tornarem carnes de coelhos, iguaria fina e
saborosa; os selistas passam o dia perto das charutarias, investigando as
sarjetas e calçadas à busca de rótulos e selos com anéis daqueles que envolvem
os charutos. Os anéis dos charutos servem para venderem uma marca por outra nas
charutarias.
Os
tatuadores, menores de idade e maiores, vão pelas ruas com três agulhas e uma
lata de graxa, vendendo sua arte, desenhando, nas carnes dos trabalhadores
ociosos, grandes e pequenas coroas, nomes de namoradas, de filhos, de mãe, corações,
outras coisas. Nessas ocasiões, enquanto os tatuadores trabalham, ciganos ou
outros se aproximam, aproveitando o estado de sensibilidade à dor para oferecer
suas bugigangas.
Com essa
categoria mais jovial, Verlei usa uma estratégia diferente. Vai fazer a
cobrança com três capangas, um bem forte, e dois bem ágeis. Os menores
geralmente não têm parentes. Acabam muitas vezes pagando os juros que os
maiores, dos quais são ajudantes, deveriam pagar. São levados a um local
específico, um enorme parque, de preferência.
Geralmente,
nesse local, Verlei faz que fiquem de costas. Apalpa suas nádegas algum tempo.
Pede aos capangas que façam o mesmo. Pergunta o que acham. Dependendo do que
falam, prossegue ou não. Se não prossegue, aumenta os juros da dívida. O
devedor tem de buscar meninos que o satisfaçam. Caso não o satisfaçam, o
devedor é colocado na roda para o usufruto dos capangas. Dizem que os
seviciados e abusados ficam com tanta vergonha que mudam pra outra cidade.
Se o Rio de
Janeiro nobre, luxuoso e confortável, não conhece essa gente humilde das
pequenas profissões, Verlei a conhece tão bem que sabe o ponto exato delas no
qual pode exercer o seu sadismo.
Pensando neles, ele lembra que, numa
difícil fase de sua vida, cogitara em revirar calçadas à busca de anéis de
charuto...mas não precisou. Verlei prossegue, a flanar pela rua, até que
resolve entrar na taverna do Tonho da Doida, que é próxima a outras, viscosas
de imundícies e vícios. Senta a uma mesinha da entrada. Busca ao redor por quem
possa atendê-lo, acenando de longe para uranistas conhecidos.
Os habitués costumam lotar todas as
cadeiras, a maior parte deles são jovens inconformados com as grades das
convenções. Há fanáticos adoradores de
lundus, tocadores de chorinhos, cantores de modinhas, de árias, canções;
também, gente de teatro, escritores, adoradores de Chopin, Beethoven, homens
que amam mulheres, outros que amam homens, mulheres que curtem mulheres, seres
que curtem ambos, e muita fumaça das mais diversas origens.
Todos são muito bem recebidos ali,
todos se entendem, todos se abraçam, choram nos ombros uns dos outros, riem,
gargalham, discutem e vão esquecendo as agulhadas do dia. Naquele espaço, são
combinados os principais movimentos, ações, reações, e encontros, motivados
pelas expectativas da jovem república, que tem a pretensão de resolver os
problemas deixados pela monarquia.
Verlei olha o relógio. Observa o céu. Noite de lua cheia. Uma
enorme lua. Fecha os olhos e aspira
profundamente. O dia fora tumultuado. No escritório, quase perdera a
paciência com um colega defendendo tratamento mais humano aos profissionais do
monturo. Não fosse sua esposa chegar no momento exato ele teria feito uma
loucura.
Mais uranistas
começam a chegar aos seus pontos na cidade. A partir das vinte horas, costumam tomar conta
das portas e porões dos
teatros, nos dias de espetáculos; dos cafés,
restaurantes, bilhares, botequins, portarias de conventos, escadarias de
igrejas, casas de banho, além de parques
e praças, apesar da estranheza e aversão
das classes médica, jurídica e religiosa. Teve um médico, há alguns anos, o Dr. Pires
da Silv...não, de Almeida, isso, que relatou haver uma enorme quantidade de uranistas
espalhada pela cidade do Rio, principalmente no baixo comércio. Segundo este médico, tal população crescia
assustadoramente, tanto que se buscou sua redução por meio da importação de
prostitutas européias – as “ilhoas”, geralmente vindas da Madeira e Açores.
Nesses grupos
mal compreendidos, circula, nas horas mais escuras, o advogado Verlei. Entre
eles se sente um Byron, poeta de sua predileção. Gosta especialmente de declamar
aquele: Uma taça feita de crânio humano.
(....................................................................)
Vivi! amei!
bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da
terra os ossos meus.
Toma meu
crânio! Entorna!... que a larva
Tem lábios
mais sombrios do que os teus.
(..................................................................)
Declama toda hora esse poema. Por encher
tanto o saco, ninguém mais aplaude. Sem graça, resolve partir dali. Bebe um cálice
de vinho e sai dali sem olhar para trás. Quer agora o Beco da Coruja. Tá com
desejo de chafurdar na sua carnalidade de ébano.
O advogado,
há uns seis meses, é assíduo habitué da Taverna do Beco da Coruja, especialmente
em noites como esta, de lua cheia, quando segue estranho e erótico ritual. O lugar
é administrado por uma pessoa conhecida como Maluca. Nesta taverna, o advogado lambe
os beiços. Ali, a especialidade é a relação sexual com menininhos negros. Estes
se vestem e se maquiam como mulher. Possuem de onze a 14 anos. Meninos em sua
maioria escravos da cachaça e do absinto, usados para esquecer ou para
construir paraísos artificiais, compensadores daquele lixo de vida.
Verlei não vê
a hora de chegar. Depois de uma meia hora, andando e parando pra ajeitar as
calças, ou pular as poças, finalmente chega. Ao entrar na taverna, percebe que
há gente nova. Gesticula. Pede
o de sempre. Maluca, uranista antiga, o serve. Têm a mesma idade. Ela toca nas
coxas dele, velhas conhecidas suas.
Na porta da taverna, chegam um pai com
seu filho de sete anos. Encaram o advogado. O pai pergunta ao filho se aquele
velho é o homem que abusou dele. O filho tenta sair daquela situação, mas,
acaba confirmando. O pai puxa um revólver, preme duas vezes o gatilho, e eis
que percebe, tarde porém, que, na ansiedade de pegar o abusador, esqueceu de
colocar as balas. Para sorte de Verlei, acertam mortalmente o homem na cabeça,
arrastam-no e o roubam, sequestrando depois a criança para venderem-na à
prostituição.
Passados cinco minutos, Maluca anuncia: - Senhoras e
Senhores! Aplausos para Salomé, a princesa muda!!!! Entra no recinto um
rapazinho negro, do tipo que ele gosta, mignon e magrinho, um que ele nunca
vira por aquelas bandas. O rapazinho deve ter uns catorze anos, se não menos. Seu
nome verdadeiro Sebastião. Vai apresentando um pequeno show de balé entre as
mesas, usando como leque uma vassoura de piaçava sem o cabo, show criado por um
tio seu. Parente que um dia encontrou graças à Maluca, quando esta visitava o
sobradinho dos escritores Coelho Neto e Aluizio Azevedo, um lugar onde a
diversidade tem guarida. Dizem que até o presidente Prudente de Moraes passa
vez em quando por lá para cumprimentar os escribas.
O tio servia
a mesa dos escritores, vestido de mulher e dançando. Maluca viu no tio uma
semelhança facial muito grande com o sobrinho.
Então se aproximou, soube de sua história e contou a Sebastião, que foi
conhecê-lo. Como Sebastião era mudo, Maluca foi traduzindo os gestos. O
sobrinho resolveu adotar o nome de guerra do tio, Salomé, e passou a fazer a
mesma performance, só que entre as mesas da taverna. Com a permissão do tio, é
claro.
Salomé se
aproxima mais, qual uma jovem ovelhinha, procurando adivinhar as intenções
daquele velho lobo.
Meu nome é Verlei. Estou sempre aqui nas noites de lua cheia. Quero lhe
chamegar, lamber seu cuzinho todo. Preparou já? Tá lavadinho? Tá cheiroso? Passou
creme? Levada. Quero rasgar tua calcinha. Maluca deve ter te ensinado umas
coisas. Ela sabe meus gostos. Meu
linguado ta seco pra nadar no teu piscoso. A saliva da serpente escorre. Meu
grilo armado para a flor da escuridão.
Ela levou-me BONA GRATIA
a um quartinho nos fundos. Abaixou minhas calças até o chão. Como meus pelos
estavam crescidos, foi difícil pra Salomé. Os pelos dançavam em sua língua.
Tinha de retomar o fôlego de tempos em tempos.
Parecia, sim, a filha da
Rainha de Sabá. Também uma linda deusa de ébano. Abaixou-me as calças BONA FIDE
até o chão, sujo de melosas histórias.
Dei-lhe uma virada. Pulei
sobre seu macio e carnudinho traseiro BONA RES. Rasguei com os dentes sua
calcinha que tinha um cheirinho de cio.
Como era lua cheia e já
estava transformado em lobisomem, aproveitei. Cuspi nas minhas garras e,
deliciosamente, me aproximei e tomei posse de seu buraco. BONA FIDE POSSESSOR.
Girei a toda rotação, para alargar o caminho.
As veias do meu membro
incharam vistosamente. Então, reparei que se rasgou a camisinha. Um lobisomem
moderno, sem camisinha, é um acinte.
Todavia, todas estouravam
na excitação. Tinha cada vez mais dificuldade em encontrá-las com o meu número.
IN LIMINE, num instante, devorei sua flor de uranus.
Pedi a ela que me
ajudasse, esticando as nádegas, a que eu enxergasse o objetivo IN LOCO. Ela não
só fez isso, como me mostrou um jardim dentro da flor.
Aquilo me deixou doido.
Quando estava pegando fogo, o orifício dela qual um lança-chamas; transformei o
meu palhaço em engolidor de fogo. STRICTO SENSU.
Quando encostou na minha
barriga, engrossei dentro, estourei o anel da negrinha de Sabá e quase que
mergulho dentro dela. De quatro, ela masturbava, enquanto eu socava sem medo de
me afogar em suas profundidades máximas. A dor que eu observava me fazia
possuidor de um prazer sádico. Então, parei dentro dela durante bastante tempo.
Me
fodi, pois, ficamos colados. E ela pulava, pulava tanto, que aumentava o gozo
nosso. Maluca, que nos filmava, jogou-nos água quente. E descolou? Descolou.
Mas doeu até umas horas. Maluca do caralho! Aquilo me brochou. Mas Salomé não
perdeu a classe. Sugeriu que a gente recomeçasse.
Então,
consegui convencê-la a que fôssemos ao Parque Municipal, onde ocorreram muitos
dos meus encontros.
Chegados ao Parque,
trançaram logo as veias. BREVI TEMPORE ele mete a língua na orelha de Salomé. Chupa-lhe
a ponta do nariz ANIMUS NECANDI. De um bote, lambe-lhe toda a face. Com seus
cotovelos, força o pescoço de Salomé, a carne imersa em volúpia. Na memória de Verlei,
passam nomes de carnudinhas bundinhas de ébano pelas quais passara.
Minha rola reta. Asas com veias grossas. Para o ninho do seu
esconso. Foder pelo bem de uranus teu planeta Olho Cego. Tua piscada floral. Quarto
olho a fechar e a abrir. Danço em ti minha língua. Dançar, de cima para baixo,
de baixo para cima, de trás pra frente e de frente para trás, porém muito mais
de trás para trás, aliás, do que de trás pra frente. Minha tara egípcia. Bundinha
gostosa. Ai, doeu? Deixo só a cabecinha então. Soldado Uranus ou flor uranus em
revista? Tristinha? Tá bem, é flor de uranus. O corpo humano é um soldado que
dança. Sim, ele deve dançar. Balança, vai. Num suor de desejo, percorro-te o
vale uranus, em Eros radioativo.
Mergulho-te meu grosso calibre. Vira...devagar...empina. Quero
inflamar-te. Foder-te as órbitas. Escancarar-te as mandíbulas. Teus peitinhos
mordo e mastigo. Teu umbigo escavo...teu falo inflamo...Afundo-me em teu ânus
piscoso. Pesco no mar do gozo. Tua cabeça receba este sêmen. Toda fruta deixa
seu cheiro e gosto na porra. Ingeri uma manga. Chupa essa manga e delira!
Cavo-te até achar-te
os rios de libido. Tuas órbitas banho. Teu nariz alargo. Tua boca deixo com
orgasmos. Ávido meu pênis envolve-te o pescoço. Meu pau cavalga tua pele de
ébano. Chupo-te a cava das
costas. Separo-te os braços. Crucificas meu desejo para sacrifício dos pecados. Tua bundinha separo
com as mãos. Os ossos estalo do seu vale de uranus. Tuas coxas inflamo
numa só pasta de prazer. O preto combina com o vermelho.
Mais um cadáver. Um ser que deixara
de sofrer. Verlei está sujo de sangue,
como sempre. Dessa vez não trouxera roupas a mais. E ele costumava ser cuidadoso em excesso. Até
a vez passada. Bobeara e um menino fugira. Ele não sabia, mas o pai do menino quase o matara. Sempre trazia uma muda de roupas igual a que trajava. Colocava fogo na
roupa ensanguentada e vestia a outra. Dessa vez, um fato inusitado. À sua volta, entidades espirituais que nunca vira. Talvez orixás ou servos dos mesmos. Entidades gigantescas. Vestidas como reis e rainhas africanos. E os meninos à frente dos espíritos? Todas as suas vítimas, lhe parecia. Por impulso inexplicável, vai tirando toda a roupa. E, totalmente nu, começou a andar sem destino. Algo aconteceu. Dentro. Fora? Contaminou-o. Fora e dentro. E o caminho à sua frente parecia...não, em verdade era infinito.....O mar se lhe aproximava ao longe. Furioso oceano. Deserto. Inflado. Com fome. Mandíbulas enormes e abismazuis....
Li alguns de seus textos, admito que não entendi alguns mas eles tem algo que fazem querer terminar, é diferente e legal de certa forma.
ResponderExcluir