Sob o pano de fundo picante e por vezes grotesco de extrema libertinagem, Sade alfinetava em suas páginas o antigo regime, os revolucionários, os bispos de Roma, e toda classe de aristocrata. Ateu convicto, não por menos chocava também pela sua insinuação contra a imagem do Criador.
"O meu maior desgosto é que Deus, na realidade, não exista, privando-me assim do prazer de insultá-lo diretamente."
Incompreendido e odiado. Não é a toa que escreveu grande parte de sua obra na prisão, encarcerado para que lhe detivessem a língua, porém que suas mãos nunca pararam de escrever clandestinamente, livros e livros eram publicados e o alvo entregue em páginas para excitação (nossa) do público.
Hastes de lança, falos enrijecidos, nádegas rosáceas, botões e cavidades implorando aos céus para serem explorados... este é o clima que figura ao redor do Marquês.
"Caro leitor..."
Não deixem de aproveitar a crítica contra a hipocrisia mesclada de malícia sexual.
A sociedade é uma puta. Permito-me aqui utilizar tal estereótipo nojento da “puta” para tentar resumir como enxergo o comportamento da massa social; para os que não compreendem tal comparação, explico: como algumas das chamadas putas, a sociedade se esforça em manter uma aparência de pureza e castidade, quando na verdade guarda em suas vontades e ações, imensas volúpias e depravações; mas as semelhanças não param por aí! Ainda, tal como é dito das mulheres de má reputação, a sociedade adora apanhar, ser ridicularizada, ter todos os seus segredos revelados, todas as hipocrisias expostas, enfim, ama ser humilhada, por mais que disfarce que não.
O Marquês de Sade, com esse conjunto de maravilhosos contos, bate na cara dessa sociedade puta e o faz com o devido gosto. O controverso autor traz para a luz do dia aquilo que os hipócritas insistem eternamente em negar, avacalhando com a religião e com seus "santos" representantes, fazendo da "sagrada" instituição do casamento um circo comandado por dois infelizes palhaços, mostrando o amor de maneira seca e realista - devidamente distante das idealizações românticas -, e pisando no pescoço de conceitos imbecis como homofobia e machismo de maneira categórica; e isso tudo em pleno século XVIII!
O depravado Marquês demonstra ainda um prazer quase sexual em cada linha que escreve, deixando transparecer uma excitação e uma ironia tão fortes e deliciosas, que inevitavelmente acabam contagiando o afortunado leitor - com quem o autor faz questão de se comunicar constantemente. Nessa obra, estão contidas palavras libertinas, amorais, escritas com desejo e vivacidade, quilômetros distantes das mentirosas e limitadoras convenções sociais. “Contos Libertinos” é uma ode à vida, aos sentimentos mais naturais do ser humano, e, por consequência, um levante contra todos os fatores que tentam transformar tais sentimentos em coisas doentias; afinal, não existe palavra que expresse melhor o que é o moralismo baixo que vigora e sempre vigorou em grande parte do mundo: doentio.
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CONTOS LIBERTINOS.pdf
Fonte: Skoob