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Necromancia e Magia, por Peter Carroll

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      A arte maldita de tentar comunicar-se com os espíritos dos mortos tem contaminado a grande obra da magia desde seu início.

      No final do século XIX e durante o XX, no Ocidente, a magia começou a separar-se da necromancia, em grande parte devido aos esforços de Macgregor Mathers e os adeptos da Golden Dawn. Aparentemente viram o espiritismo com certo e merecido descrédito e não lhes interessou incursionar na necromancia, ainda que a teoria PPM (platônica-pagão-monoteísta) subjacente em seu paradigma pudesse haver os motivado.

      Alguns dos magos cujo trabalho contribuiu para o corpus da Golden Dawn incursionaram na necromancia por um tempo, todavia com resultados não conclusivos. Dee tentou reanimar um cadáver e comunicar-se com ele em um cemitério, e Eliphas Levi tentou invocar o mago morto Apolônio de Tiana.

      A Necromancia tem persistido pelo menos desde a Idade da Pedra com a veneração dos mortos e através das práticas xamânicas de pôr-se em contato com os espíritos ancestrais, por meio de invocações mágico-pagãs com o objetivo de obter, de certas pessoas mortas, informação ou favores. A invocação católica de santos com fins similares às práticas espíritas que se desenvolveram na década de 1840 nos Estados Unidos chegou a ser frequente nas margens de muitas culturas cristãs protestantes.

      Os católicos, supostamente proíbem a necromancia, exceto quando se trata dos mitos e relíquias corporais dos Santos dos ofícios cristãos. Sabiamente quiçá, decidiram que qualquer outra forma de necromancia invoca somente "demônios" disfarçados de gente morta. Contudo o catolicismo tem o costume de rezar pelas almas dos mortos para facilitar sua passagem pelo purgatório que a dita fé lhes tem reservado; desta maneira, inclusive aparentemente os mortos não santificados não regressarão.

      A tradição medieval da Goetia (e outros grimórios) se desenvolveu dentro do catolicismo e advogou pela invocação dos mortos e demônios usando a mesma base, mais ou menos adaptável. Pelo que se crê, o necromante invoca ao melhor estilo neoplatônico a suprema unicidade ou divinidade, inclusive quando conjura demônios ou mortos para que lhe providenciem riqueza, favores, jovens mulheres, ou para vingar-se de seus inimigos. Macgregor Mathers fez, por suposto, uma tradução moderna de ambas Chaves de Salomão, porém ao que parece mais por interesse acadêmico do que para o uso da Golden Dawn. A Necromancia depende em grande parte de seu efeito sobre a gnosis do medo, a transgressão e a alta ansiedade que geram os trabalhos proibidos com demônios e cadáveres na escuridão dos cemitérios.

      À medida em que a visão cristã de vida após a morte, ainda que um tanto vaga e inespecífica, se convertia em um indesejável inferno de fogo e enxofre, também crescia o negócio sujo e explorador do espiritismo, oferecendo um intermediador que se comunicava e que, por uma tarifa, tranquilizava os vivos com a ideia de que seus mortos estavam felizes no céu. Ambas guerras mundiais geraram uma grande alta nos preços do negócio.

      A interação esotérica com os mortos parece haver tido (observando o passado) uma trajetória interessante na história humana. O corpo humano morto aparentemente evoca um certo temor e repugnância como resposta a questões evolutivas, já que esse medo da morte e da enfermidade dos cadáveres aumenta as perspectivas de sobrevivência. A dor ou culpa pela perda ou a sensação de haver ficado com alguns assuntos pendentes são um plus que fazem sua parte nessas atitudes pelos mortos. Por etapas, a humanidade tem aplacado, venerado, adorado ou tratado de controlar os mortos com infernos, céus ou purgatórios e inclusive, tentado chegar a eles para obter informações ou favores.

      No paradigma mágico Neo-Pagão não podem existir “espíritos” no sentido neoplatônico antigo. Os seres vivos e fenômenos naturais têm certas frequências de onda com as quais um mago pode chegar a interagir, porém como fenômenos “etéricos” ou manifestações “astrais” da realidade, que dependerão da existência das formas físicas; que não são anteriores no sentido platônico ou neoplatônico, e não sobrevivem à sua destruição. Todos os deuses e deusas, os fantasmas e demônios existem como amigos (e inimigos) imaginários dentro da mente humana, e entretanto, ainda assim podem causar efeitos psicológicos e parapsicológicos bastante surpreendentes.

      Assim, inadvertidamente, os católicos romanos têm se referido corretamente a "demônios" quando se evoca os mortos. Os mortos já não existem para responder, portanto, no melhor dos casos, somente se logrará uma reanimação subconsciente das recordações e expectativas dos mortos, criando uma forma de pensamento ou tulpa (como a chamam os magos tibetanos).

      Se os necromantes realmente pudessem obter informação objetiva dos mortos, então existiria uma enorme demanda dos mesmos em todas as partes do mundo para ajudar na investigação de assassinatos.

      Amigos imaginários, tulpas, deuses variados e servidores podem ser de grande utilidade e valor para o mago, desde que este não caia na armadilha de considerá-los como algo objetivamente real e aceitar sem questionar seus conselhos, porque então realmente podem converterem-se em demônios no pior sentido da palavra, amplificando os aspectos subconscientes do mago muito além de sua função original, criando obsessões.

      Portanto, agora temos todas as razões para concluir que os mortos persistem somente em nossa memória e imaginação. Parece que Eliphas Levi mais ou menos se deu conta disto e tratou de desenvolver uma teoria de magia que dependia de algum tipo de "Luz Astral" e os esforços pessoais do mago, no lugar de legiões celestiais, mortos, demônios e arcanjos. Os adeptos da Golden Dawn chegaram a conclusões similares, e inclusive Crowley desdenhava da necromancia.

      A crença na vida após a morte em muitas religiões antigas e modernas não é diferente. Realmente, ninguém que tentou descrever detalhadamente uma vida futura sem corpo logrou êxito; tentar demostrar o contrário somente busca contradizer o evidente, com fins reconfortantes (ou aterrorizantes). O atrativo da necromancia para magos modernos, que deveriam sabê-lo, se centra em todo seu carisma gótico e de obscuro glamour – o calafrio do medo. Isto pode resultar rentável para assustar os incautos, porém assustar a ti mesmo é coisa de adolescentes.

      Trabalhar com a necromancia e Goetia, persistentemente invocando a gnosis do medo, unicamente produz, a nivel pessoal, uma possível alteração do sistema nervoso autônomo, que gera o pálido, delgado e nervoso personagem característico, próprio dos altos níveis de cortisol por excesso de ansiedade. Não conduz, em troca, à auto-compreensão nem faz muito pela capacidade do mago de interagir com a realidade.

      Aqui, na Ilha do Mago [a Grã-Bretanha. N. do T.] temos liderado o mundo da magia e esoterismo durante o último século ou mais. A Teosofia, a Golden Dawn, Thelema, o moderno Hermetismo, a Wicca, o neo-paganismo, neo-druidismo e a Magia do Caos, todos se originaram aqui, de todo o que se tem feito para questionar a estupidez convencional das religiões estabelecidas e os supostos padrões do materialismo, portanto parece pouco provável que o Reino Unido também se converta no lar de um renascer da obscura arte da necromancia.

      O renascimento mágico que surgiu do romanticismo na década de 1880 e que fundou as bases para outro renascimento mágico, o da contracultura do final do século XX, atraiu inteligentes pensadores alternativos, precisamente por sua rejeição à necromancia que sempre havia aparecido na magia até então, e haveria feito com que o pensamento moderno fosse visto como um embuste.

      A necromancia, que aparece muito em papiros mágicos gregos, seria qualificada, em termos de Sir Terry Pratchett, como "Magia Draconiana” na magia Helênica (algo como a “Ciência Espacial” metafísica). Assim como a Magia Planetária se converteu na "Magia Draconiana” do Renascimento, a Magia Estelar, a tentativa de interagir com as fontes extra-terrestres da consciência e da inteligência, talvez possa converter-se na “Magia Draconiana” do futuro.

Nota da tradução espanhola por Astrid Griesser:
      Em todos momentos em que Carroll utiliza o termo necromancia, é necessário esclarecer que faz por extensão o mesmo com trabalhos com a Goetia, estariamos falando, concretamente de práticas necromânticas, posto que esta se ocupa do trato exclusivo com entidades demoníacas. Carroll, entretanto, utiliza o termo de maneira ampla, posto que para ele e dentro de seu próprio paradigma, ambos fenômenos não são outra coisa além de processos mentais. Ele esclarece este ponto quando menciona que tanto os espíritos, como os demônios, servidores mágicos ou tulpas, são processos mentais factíveis de expressão fenomenológica externa, em alguns casos.

Traduzido para o português por Lizza Bathory.

O ego por Peter Carroll

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      O ego é a personalidade. É tudo o que cremos que somos. Inversamente, é tudo o que cremos que não somos. Sentimos que é o que nos dá carácter, definição, importância, continuidade e solidez, e é o único no universo ao qual nos aferramos.

      É tudo o que parece que temos e somos. Atuamos sempre para defendê-lo e reforçá-lo. Tudo aquilo que observamos que fazemos tentamos adequar a essa imagem de nós mesmos. Sequer escolhemos essa imagem, e sim se foi acumulando-se gradualmente a partir das expectativas de nossa sociedade, de nossos mestres, parentes e amigos.

      O mais heróico dos egos é uma figura patética. Uma lamentável fachada de ilusão e autoengano coxeando uma pequena recompensa imaginária posteriormente. Omitindo e ocultando seus defeitos e seus desajeitados arranjos. As limitações reais do organismo não importam. O conflito é entre o que o ego afirma e o que nega. Em muitos aspectos o ego sofre por haver sido feito tão pequeno.

      O pior de tudo são os extensos períodos de angustioso vazio e a desesperada busca de algo ao qual possam agarrarem-se e que os preencham. Até o desfrute é uma insatisfação. O desfrutado se converte em um mero apêndice do ego. Somos escravos de nosso passado. Cada um de nossos atos está ditado pela imagem do que cremos que somos. Conforme os anos passam, se ouve este angustioso lamento: "Deuses, não há fim para este gosto amargo?"

      Alguém pode ressuscitar os mortos?

      O sábio não tem sentimentos humanos.
      O sábio não tem sentimentos inumanos.
      O sábio perdeu tudo.
Então o que lhe resta?

      Quando a falsificação do eu há sido demolida, a luz entra com a frescura da infância. Cada coisa volta a ser ela mesma, sem estar contaminada pelo eu. Livre das correntes do eu, a força vital salta novamente com uma alegre espontaneidade.

      Como se pode levar a cabo esta egotomia?

      Autoabnegação, humildade e caridade são estratagemas pouco recomendáveis. Em geral somente produzem novas presunções. Não há virtude na virtude.

      O sábio então apresenta-se como:

⇨ Indigno, porque não busca a aprovação dos outros.
⇨ Insensato, porque lhe agrada demostrar a si mesmo seus erros.
⇨ Inconstante, porque se mantém flexível e muda à vontade.
⇨ Negligente, porque não apresenta excusas para sí mesmo.
⇨ Veleidoso (pouco firme), porque muda suas crenças quando deseja.
⇨ Insubstancial, porque perdeu sua vaidade e sua importância.
⇨ Mórbido, porque sua morte lhe admoesta constantemente.
⇨ Errático, porque atua sem ânsia de resultados.
⇨ Insincero, porque somente joga a ser ele mesmo.
⇨ Insano, porque internamente ri de tudo.
⇨ Estúpido, porque lhe diverte fazer-se de tonto.

Kaos Magick Journal vol. 1, nº 2 (1998).

© Peter Carroll

Traduzido a partir de El Baile del Espíritu.

MONASTÉRIO DO CAOS, POR PETER CARROLL

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A qualquer momento, membros do Pacto podem optar por seguir as observâncias dos Monges e Monjas do Caos pelo tempo que lhes agrade. Estas observâncias vêm em três formas, a menor, a maior e a extrema. Sua finalidade é renovar e fortalecer a dedicação à Grande Obra da Magia. As observâncias de Monge ou Monja do Caos não devem ser realizadas por um período inferior a uma semana. Não há prazo máximo, mas quando as observâncias são realizadas por tempo indeterminado elas devem ser formalmente finalizadas em algum momento posterior, de forma definitiva, em vez de serem deixadas cair em desuso gradual. Monges e Monjas Caoístas podem ser totalmente itinerantes e, salvo indicação em contrário, o mosteiro é teoricamente definido como todo o planeta, embora algum tipo de retiro possa facilitar as observâncias mais rigorosas. As observâncias apresentadas devem ser consideradas como básicas, de modo a serem complementadas pela Vontade e criatividade de cada praticante. Para iniciar as observâncias de monge ou monja caoísta o candidato faz um juramento com um cajado dedicado à magia, o qual deve ser levado ao longo do período das observâncias. O cajado não deve ser menor que uma bengala e, embora possa ser deixado em um quarto ou outra construção em que o monge ou monja possa adentrar, deve sempre estar à mão e ser levado de lugar para lugar.

A forma geral do juramento e as observâncias são:

O juramento:
Eu, Soror / Frater _____ optei por realizar as Observâncias Menores / Maiores / Extremas de uma Monja / Monge do Caos, de agora em diante, por um período de ____ / por tanto tempo quanto me agrade, testifico que vou: (o conjunto escolhido de observâncias além de quaisquer adições pessoais é, então, enumerado).

Observâncias Menores:
  • 1. Carregar um cajado mágico por todo o tempo.

  • 2. Executar um ritual de banimento ao acordar e ao deitar.

  • 3. Manter um diário de meus sonhos.

  • 4. Realizar um ritual mágico cerimonial todo dia.

  • 5. Dedicar qualquer gnosis sexual à magia.


  • Observâncias Maiores:
  • 1. Cumprir as cinco Observâncias Menores.

  • 2. Realizar um segundo ritual mágico todos os dias.

  • 3. Visualizar um Sigilo do Caos, pelo menos, a cada hora em que estivar acordado.


  • Observâncias Extremas:
  • 1. Cumprir todas as Observâncias Menores e Maiores.

  • 2. Realizar um terceiro ritual mágico todos os dias.

  • 3. Visualizar um Sigilo do Caos, pelo menos, a cada hora.


  • Notas e Observações:
    Os rituais diários podem consistir em uma Missa do Caos ou Auto da Fé, ou qualquer ato de evocação, divinação, encantamento ou iluminação de peso similar.

    Ao dedicar qualquer gnosis sexual para a magia o monge ou monja afirma que qualquer ato sexual realizado durante o período de cumprimento das observações será usado para lançar feitiços de divinação, invocação ou qualquer propósito mágico similar. As horas usadas na visualização do Sigilo do Caos podem ser facilitadas pelo uso de um despertador no caso das visualizações noturnas das observâncias extremas. A considerável inconveniência de se carregar um cajado mágico serve para incrementar a vigilância sobre os demais aspectos e serve de lembrete contínuo para completar todas as observâncias. Também funciona como uma insígnia aos demais membros do pacto que devem estar atentos para ajudar o Monge ou Monja da maneira que lhes for possível. Também funciona como uma insígnia para os demais membros do pacto que devem estar atentos para ajudar o Monge ou Monja no que eles necessitem de assistência da maneira que lhes for possível. Se o trabalho revele-se medíocre e as observâncias não sejam seguidas o cajado deve ser destruído. Se o trabalho prossegue satisfatoriamente o cajado poderá ser mantido como troféu e objeto de poder do magista. É costume gravar sobre o cajado um registro das observâncias realizadas. Assim 127 significa que as Observâncias Menores foram seguidas por um período de vinte e sete dias, 333 que as Observâncias Extremas foram seguidas por trinta e três dias. O Pacto tenta assegurar que o Sigilo do Caos seja visualizado a cada hora em algum lugar da Terra.

    Fonte: Chaos Matrix

    Traduzido por Lizza Bathory.

    NOTAS SOBRE BAPHOMET - POR PETER CARROLL

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    The Book of Baphomet.

    Uma introdução apresentada no lançamento do livro, 4/8/12, em Glastonbury, por Peter Carroll.


    Gostaria de começar focando-me um pouco na vida e obra do homem que trouxe a ideia de Baphomet ao mundo moderno, Eliphas Levi, nascido como Alphonse Louis Constant (8 de fevereiro de 1810 - 31 de maio de 1875).

    Foi educado como sacerdote católico, porém renunciou ao apaixonar-se. Passou então a escrever sobre política / teologia revolucionária, motivo pelo qual foi encarcerado duas vezes durante as diversas crises políticas da França de meados do século XIX. Depois disto iniciou uma influente carreira nos terrenos do esoterismo e da magia, escreveu numerosos livros e visitou a Grã-Bretanha, onde suas ideias tiveram um grande impacto na Golden Dawn.

    Fez uma jornada de clérigo a radical, e de radical a mago.

    Os ocultistas inspirados nele têm feito com que Levi seja lembrado como um dos principais responsáveis pelo ressurgimento da magia no século XX. Ele contribuiu com quatro ideias que parecem importantes:

    1) A teoria da Luz Astral. Esta evolução das ideias neoplatônicas tem, quando menos, a virtude de fazer com que a gente pense de um modo mais profundo em como a magia pode funcionar.

    2) Os pentagramas para cima e invertidos como símbolos que têm diferentes significados.

    3) A correspondência entre as vinte e duas cartas do Tarot e as letras do alfabeto hebreu, com a qual abriu um enorme campo de especulação sincrética.

    4) Baphomet, uma imagem que vale mais que mil palavras.

    Ainda que pareça agora algo kitsch, depois de haver aparecido em tantas jaquetas de couro negro, as ideias que esta figura representa têm um enorme impacto. Levi indica basicamente que esta imagem constitui sua visão de Deus.

    Parece que Levi escreveu sobre ela de forma comedida, quase tímida, porém leve em conta que ele já havia sido enviado à prisão por escrever de maneira demasiadamente clara sobre política.

    A imagem que Levi apresenta parece mostrar sete qualidades:

    Dualista. Deus-Diabo.

    Andrógina. Inclui a Mulher.

    Luciferiana. Portador da luz, da tocha, do conhecimento proibido.

    Teriomórfica. Meio humano meio animal, como Pan, pagão, incorporando os "baixos" selfs.

    Sexualizada. Peitos e pênis simbólicos. Os bodes excitados / satânicos.

    Mágica. Caduceo, gestos mágicos, lua crescente e minguante.

    Xamânica. Cornudo, teriomórfico, salvagem.


    Justamente isto é tudo o que eu esperaria de uma deidade! Por isto o introduzi como um rito central de The Pact, na Missa do Caos.

    De onde Levi pegou esta ideia? Bem, suspeito que parcialmente do mito histórico e lendas e em partes de suas próprias sensações e imaginação.

    A Igreja Católica e o rei da França acusaram os templários de heresia, quase seguramente falsa, e seus inquisidores lançaram as acusações usuais nestes casos de sexo, feitiçaria, blasfêmia, e também de culto a Baphomet.

    Os ocultistas admiram os templários baseados no fato de que eles puderam ter possuído realmente certo gosto pelo sexo e pela blasfêmia, e quiçá pela magia. No entanto seu pecado real contra o cristianismo ocidental foi perder a Terra Santa, como consequência de sua desastrosa derrota em Hattin.

    A acusação de culto a Baphomet procede de uma má pronúncia: Muhammad = Mohamed = Mahomet = Baphomet. Os cruzados imaginavam que os muçulmanos adoravam a certo deus / diabo primitivo e selvagem, e que sua deidade havia derrotado a nossa.

    Os templários foram acusados realmente de tornarem-se nativos e simpatizarem com o inimigo islâmico. As acusações de blasfêmia sugiram porque parte de seu treinamento consistir em estarem preparados para aparentar que renunciavam à sua fé caso fossem capturados. O Vaticano aceitou isto recentemente.

    Todos os deuses, religiões e tradições mágicas são formados de fragmentos e peças de tradições anteriores. Tudo isto é sincretismo, os acadêmicos o confirmam e a Magia do Caos o adota como uma linha orientadora, sem desculpar-se por ele ou dissimulá-lo (sem apologia ou evasão).


    Assim, partindo do desenho de Levi, o que têm feito os esotéricos modernos com Baphomet?

    Dualista

    Andrógino

    Luciferiano

    Teriomórfico

    Sexualizado

    Mágico

    Xamânico

    + Gaiano

    Eles têm acrescentado Gaia, no sentido da sacralidade da biosfera e da ecologia, da vida na Terra. E isto forma um estupendo Oito!


    Este novo livro de Nikki Ward e Julian Vayne condensa a fascinante história do conceito de Baphomet, desde sua primera menção histórica, passando pelo desenvolvimento de Levi, até suas manifestações atuais.

    Sua valente e audaz exploração sobre a corrente baphomética moderna, usando uma completa eroto-gnose e uma extrema quimio-gnose, cria uma narração que está destinada a entrar na lenda esotérica.


    Recomendo este livro.


    © Peter Carroll, Introdução ao The Book of Baphomet, de Nikki Ward e Julian Vayne. Mandrake of Oxford, 2012.

    © da tradução para o português por Lizza Bathory.

    Para uma melhor feitiçaria - por Peter Carroll

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    Uma revisão de minhas notas dos últimos quinze anos, acompanhada de uma longa meditação sobre inumeráveis anédotas verbais e escritas, me leva a estabelecer que muitas falhas e desastres mágicos compartilham um fator comum: A confusão entre invocação e evocação. Há uma distinção pouco clara entre estas duas palavras no uso corrente, e muitos autores ocultistas separam inadequadamente em seus escritos as duas formas de conjuro, mais além de certa noção geral de que se invocam "deuses" e se evocam "demônios" ou seres inferiores. Ofereço as seguintes definições:
    Invocação significa a identificação consciente como uma entidade completa.

    Evocação significa o uso de entidades simples com as quais se evita a identificação/assimilação.

    Neste contexto não vale a pena debater sobre a existência ou não de espiritos no sentido tradicional do termo. Os fenômenos de invocação e evocação são explicáveis tanto pela hipótese dos espiritos como pela hipótese de que o subconsciente / inconsciente é a fonte dos efeitos parapsicológicos e inspirativos. Usaremos por conveniência a última hipótese durante o resto desta argumentação. Por tanto na invocação usamos uma identificação consciente com a entidade, para provocar a manifestação dos poderes que se adscrevem desde o subconsciente do mago (ou inconsciente, não encontro sentido em fazer uma distinção). Na evocação, o mago dirige sua mente consciente somente para o sigilo, imagem ou nome de uma entidade, para provocar a liberação dos poderes que lhe atribui seu subconsciente. A evocação difere do simples sortilégio (lançamento de feitiços) em que se espera que parte do subconsciente exerça certo grau de inteligência independente para levar a cabo o sortilégio ou adivinhação pelo qual o mago está trabalhando. A invocação pode igualmente ser usada para sortilégios ou adivinhação e provêm inspiração mediante as qualidades que são atribuídas à entidade. Ademais a invocação pode ser um prelúdio para a evocação, fazendo com que o "deus" mande o "demônio".

    Sem embargo o uso de formas evocadas para a inspiração representa uma confusão teórica e um sério erro prático. O mago deveria evitar aceitar a inspiração proveniente de entidades com as quais não se identifica conscientemente. Por exemplo, é útil criar dentro do inconsciente individual um "programa demoníaco" para executar feitiços de morte com certo grau de sutilieza e astúcia, porém é desastroso permitir que uma entidade assim comece a lhe dar conselhos ou escolha seus próprios alvos. Muitos dos reveses experimentados pelos ocultistas têm surgido por permitir esse tipo de entidades, de habilidades limitadas, com as quais deveriam se tratar mediante somente a evocação, iniciando a comportarem-se como se houvessem sido invocadas. Uma inspiração ou uma identificação consciente com, por exemplo, os demônios dos grimórios medievais ou os "deuses" do mito de Cthulhu supõe incitar uma séria redução da totalidade da própria identidade utilizável. Alguém assim pode acabar tendo muito menos daquilo com o que começa, porque os programas simples de tais entidades raramente toleram a existência de identidades mais sofisticadas ou "deuses" no nível consciente, e o poder tende a fluir mais livremente através dos circuitos mais simples.

    O resultado é inevitavelmente um estreitamento dos objetivos do modo de vida e de comportamento, o que chamamos de obsessão. O magista deveria invocar somente entidades suficientemente completas/complexas para ocupar toda a capacidade da mente consciente. Tais entidades são conhecidas tradicionalmente como "deuses" e teriam que ser suficientemente sofisticadas para não resistirem a serem desterradas com facilidade, para que outras identidades possam tomar o controle do organismo quando seja necessário. Depois de tudo nós não somos uma unidade, e sim uma rica coleção de múltiplas identidades que, em um organismo são, se reconhecem, se respeitam e cooperam entre si. Para continuar com os exemplos saturnais, minha própria identidade de morte, conhecida entre seus amigos como o deus Thanatos, é um depósito de todo tipo de dados relacionados com a Entropia, o Envelhecimento, a Ruina, a Morte, a Decomposição, o Terror, o Sacrifício e o Homicídio, às vezes, é algo assim como um filósofo com um irônico sentido de Mortalidade e Futilidade. Pode ser invocado para obter-se inspiração sobre muitos temas tanatológicos, como atalaia, desde levar a cabo adivinhações ou sortilégios de natureza congruente, e realizar evocações de demônios saturnais. Sem embargo é um erro contactar um deus tão complexo usando técnicas de evocação.

    Esta é a segunda maior forma de erro, e surge de uma confusão entre os dois tipos de conjuro. As entidades complexas aquelas das quais o mago espera respostas sofisticadas, somente podem ser manejadas com êxito mediante a identificação consciente, ou a possessão como tradicionalmente se conhece. O intento de evitar a identificação conduz, normalmente, a algum tipo de fracasso. O resultado pode ser decepcionante se a entidade não conseguir estabelecer-se no inconsciente. Alternativamente, se o consegue, a consciência do mago estará submetida a erráticas intrusões dessa fonte que suas outras identidades não reconhecem como uma das suas. Para parafrasear o velho refrão: Quando um homem fala por um deus isto é invocação, quando um homem fala como um deus isto é invocação exitosa, porém quando um deus fala por um homem isto é mania religiosa ou esquizofrenia.

    Em vários pontos da obra de Crowley se detectam casos de ambos os erros. A invocação de Choronzon no deserto norte-africano produziu estranhos e inúteis resultados, porque Choronzon, tal como Crowley o concebia, era um ser demasiado simples para justificar ser possuido por ele, embora pudesse ser convertido em um útil servidor.

    No sentido contrário, a aproximação de Crowley com Aiwass não se caracterizou inicialmente por uma possessão e identificação completas, e isto conduziu a uma abundância de dificuldades pessoais e resultados de valor mais que discutível.

    Portanto, resumindo, para obter os melhores resultados: invoca para a possessão, evoca para os servidores. E evita esses lamentáveis casos intermediários que levam a tão turvos resultados.

    © Peter Carroll.

    © da tradução Lizza Bathory.