O horror, o terror e seus fiéis discípulos espectadores

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Um road movie pode ter toques de comédia. Quase seguindo uma regra, um filme de época inclui elementos do drama. Certos gêneros, no entanto, ao apresentarem características mais peculiares, constituem universos bem específicos no âmbito da produção cinematográfica.

No 23º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, isso se traduziu em algumas mostras especiais, distribuídas por diferentes salas da cidade.

Uma das mostras veteranas é a Dark Side, dedicada aos curtas de horror e terror. Criada há 10 anos dentro do festival, já ficou sob a responsabilidade de realizadores como Dennison Ramalho e Paulo Sacramento, dois nomes de destaque na produção nacional do gênero. Ambos trabalharam, por exemplo, com José Mojica Marins (mais conhecido por Zé do Caixão), no filme "Encarnação do Demônio" (2009).

Neste ano, a diretora do festival, Zita Carvalhosa, convidou o cineasta Marco Dutra para fazer a curadoria da Dark Side. Ao contrário do que o público não tão fã de terror ou horror possa imaginar, a produção nacional de curtas do gênero é profícua.

"Tem que fuçar, porque, muitas vezes, os festivais de cinema colocam poucos filmes desse tipo na programação. Para montar a Dark, por exemplo, precisei assistir a mais de 100 filmes, de vários países", recorda Dutra, cujo currículo inclui curtas-metragens como "Notívagos", "O lençol branco", "Um ramo" e "As sombras".

Apesar do caráter internacional, a seleção da mostra privilegiou curtas brasileiros. "Entre essa centena de filmes aos quais assisti, uns 30 ou 40 eram nacionais. Tem muita coisa interessante", assegura Dutra.

"Recebemos, por exemplo, um curta chamado 'Zumbiahy', sobre zumbis, realizado em Jundiaí, por isso o nome. É muito engraçado e razoavelmente bem realizado para uma produção sem recursos. Foi feito por um grupo de amigos que não são estudantes de cinema, apenas apaixonados pelo assunto", elogia o curador. "Infelizmente, ficou de fora da mostra por causa do tempo de duração, 30 minutos, que é acima do estabelecido pelo festival", explica. Ao todo, a Dark Side apresentou seis filmes ao público. Destaque para o espanhol "El escondite" (Esconde-esconde), de Andrés Curbelo Bacino e Pablo Fdez-Clemente Gómez, que deixa o espectador tenso do começo ao fim sem uma gota de sangue na tela. Do mesmo país havia "Leyenda" (Lenda), de Pau Teixidor. "Espanha e Coreia são os países com produção mais forte no gênero. Coincidentemente, a safra coreana para a seleção deste ano não estava boa", lamenta Dutra. Quanto aos filmes brasileiros, para o curador eles não ficam devendo em nada aos estrangeiros. "Pode-se até fazer críticas, claro, mas não nesse sentido, de estarem abaixo da média", avalia.

Para Dutra, é preciso acabar com a ideia de que o cinema nacional não pode produzir terror. "É um discurso bobo esse de 'não termos tradição'. Percebi que o público também recusa essa ideia", critica, ao recordar a sala quase lotada durante a primeira sessão da Dark Side, no Cinesesc.

Três dos títulos selecionados eram do País - o inusitado "As heranças", o sangrento "Você já cortou seu cabelo com maquininha?" e "Desalmados" - todos com temáticas e estilos distintos. "Pelo fato de serem tão diferentes, esses curtas mostram quão rico pode ser o gênero de terror e horror", explica Dutra.

O filme "As heranças", por exemplo, é protagonizado pelo personagem Pedro, garoto cujo corpo vai sendo tomado por feridas que apodrecem partes do seu corpo. A partir desse mote, inspirado na temática dos zumbis, o diretor Giovani Barros sugere uma reflexão sobre família, identidade e pertença(?).

"Você já cortou seu cabelo com maquininha?", por sua vez, segue a vertente clássica do horror, com muito sangue e cenas de morte grotescas. Destaque para o visual meio canastrão do ator Antonio Aurrera, que interpreta o barbeiro assassino. A direção é de Marilia Hanashiro e Gabriel Buéssio.

Por fim, "Desalmados", de Raphael Borghi, é um exemplar não muito empolgante de filme sobre zumbis, com atuações medianas e uma proposta de humor não completamente assumida, o que prejudica o resultado final. Mais promissor parece ser o projeto de longa-metragem derivado do curta, cujo trailer foi exibido no final da sessão. O elenco contará com nomes inusitados como Canisso, baixista da banda Raimundos.


FONTE: Diário do Nordeste

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