Um pouco da história da banda The Who
Os The Who adquiriram fama pela música e também pela forma como subiam nos palcos e quebravam tudo.
A banda lançou em 1969 o álbum Tommy, aclamado como a primeira grande Ópera Rock. Ópera porque, no álbum, na sequência das músicas, há o desenrolar de uma história, e Rock pelo próprio gênero musical da banda.
Tommy (1969) foi todo composto por Pete Townshend, o gênio musical da banda.
O filme
Porém nada que altere fundamentalmente a história original.
A história
Tommy cresce e se torna o campeão de pinball se tornando um líder da juventude. Quando Tommy quebra o espelho recupera todos os seus sentidos perdidos e lidera uma legião de jovens que vêem Tommy como um novo messias. Essa mesma legião se revolta contra Tommy por ver que se tratava de um falso messias.
A montagem do filme
No álbum original havia uma abertura, porém não do mesmo tempo e com outros arranjos.
O filme é todo montado em sequências que se baseiam nas músicas do álbum original, e é aqui que pretendo desenvolver este trabalho. Não pretendo falar de todas as sequências, mas sim das mais interessantes, as que têm mais influências na história e também as que mencionam drogas e sexo, tanto no texto quanto na imagem.
A primeira sequência importante do filme é a que a mãe de Tommy, Ann Margareth, leva-o a um camping de férias onde conhece seu futuro marido interpretado por Oliver Reed. Esta parte é interessante porque embora tudo aconteça de forma feliz, mesmo porque a música que acompanha esta sequência é toda rápida e cantada com os atores de forma feliz, quem assiste, tem a sensação clara de que ele Oliver Reed, dono do camping, já esta de olho nela como sua futura aquisição. Sim o personagem de Oliver Reed é interpretado de forma "malandra". Aqui entra outro ponto interessante, a atuação. A atuação dos atores é dada de maneira muito explicita para que se dê aquela sensação teatral remetendo assim, o espectador, ao palco que é onde geralmente acontecem as Óperas. No meio desta sequência acontece um concurso de pernas apresentado pelo personagem de Oliver Reed. Uma das concorrentes é Ann Margareth que, ganha o concurso. Nesta parte o sexo está muito visível, tanto na letra da música que a acompanha "Se apalpassem esta coxa sedosa, saberiam porque foi eleita", tanto na imagem pois Frank, o personagem de Oliver Reed, enquanto canta o trecho acima fica raspando a cara nas pernas de Nora, personagem de Ann Margareth, que é bem complacente.
Neste momento Tommy, Nora e o novo integrante da família, o padastro de Tommy, Frank, voltam para casa.
Nora põe Tommy na cama e vai para o quarto com Frank. Enquanto Nora e Frank estão no quarto o verdadeiro pai de Tommy que havia ido a guerra (2ª Guerra Mundial) retorna para casa, o único problema é que ele havia sido dado como morto pelo exército inglês.
Ele acaba aparecendo para Tommy que o segue até o quarto da mãe. Lá Tommy vê seu verdadeiro pai sendo assassinado por Frank. Aqui acontece o drama da história. Após ver tudo aquilo Tommy fica cego, surdo e mudo porque a música diz: "E quanto ao garoto? Ele viu tudo", "Ele não ouviu nada, não viu nada e não dirá nada a ninguém nunca na vida", após esta música cheia de negações Tommy fica de fato cego, surdo e mudo.
A próxima sequência notável do filme é a parte em que aparece Eric Clapton como o padre da igreja. Neste ponto Tommy já esta crescido, tem lá seus 21 anos de idade e continua cego, surdo e mudo. Nesta igreja, Nora tenta achar a cura para o problema de seu filho.
Essa sequência é muito polêmica pois ela retrata Marilyn Monroe como Jesus, que é justamente um dos temas que Pete Townshend trabalha em sua obra original, a crítica ao messianismo. Esta crítica vai e volta no filme todo e é muito presente no final do filme. A Missa é ministrada por Eric Clapton e sua legião de músicos beatos, como eu gosto de dizer. Nesta missa ao invés de hóstia e vinho para os fieis, é dado Pílulas e Whisky. Em toda a letra da música há aferições de que, de fato, Marilyn Monroe é Jesus. No que Tommy se aproxima da estátua de Marilyn para encostar nela e talvez receber o milagre de sua cura, Tommy acaba por derrubá-la. Aqui de novo há uma critica ao falso messianismo. O geral desta sequência inclui drogas tanto no texto quanto também na imagem que é cheia de experimentalismos, digressões tanto imagéticas quanto musicais, cheia de cores e visuais psicodélicos; claro há que se considerar que o filme fora feito nos anos 70, o auge da psicodelia e experimentação, tanto que isso se faz presente em todo o filme deste momento em diante.
Logo em seguida vem a Música "The Acid Queen". Nesta sequência do filme é novamente inserida a temática Sexo e Drogas. A Acid Queen (Rainha do Ácido), é interpretada por Tina Turner.
A Rainha do Ácido é contratada por Frank para divertir Tommy e com isso ver se consegue achar a cura para ele, mas Frank não faz isso de pura boa vontade, pelo contrário, ele apenas faz isso porque o problema de Tommy incomoda muito Nora que por sua vez deixa Frank também incomodado. Como se Tommy fosse na verdade um incomodo para os dois. A letra desta música diz: "Se o seu garoto não é o que ele deveria ser agora, eu vou dar um jeito nele", mais adiante na música ela diz: "Ele não será mais um garoto, jovem mas não uma criança". Dito isso eles, Tommy e a Rainha do Ácido sobem até um quarto onde Tina Turner se transforma numa Dama de Metal (Iron Maiden), um antigo objeto usado para torturas, só que, ao invés de estacas metálicas vemos injeções com, talvez heroína. Aqui se dá clara a relação Sexo e Drogas. Há também neste trecho digressões musicais e imagéticas o que, posteriormente, viria a se chamar de video-clip, claro que no filme isso se dá de forma um pouco mais primitiva. A tentativa de Tina Turner trazer os sentidos de Tommy de volta falha.
Neste ponto do filme os pais de Tommy desistem de conseguir uma cura para o seu problema e portanto deixam-no com parentes.
Primeiramente deixam-no com o seu primo Kevin, o qual é retratado como um rapaz malvado que apenas maltrata Tommy de diversas formas. Em seguida Tommy é deixado com o Tio Ernie que também o maltrata. Essas duas sequências são permeadas pela música "Do you think it's all Right?" que traduzindo quer dizer "Você acha que dará certo?". Depois disso Tommy se depara com um espelho onde ele "enxerga" sua imagem que por sua vez faz com que ele a siga. Tommy segue sua imagem até um ferro velho onde encontra uma máquina de Pinball. Aqui entra outra sequência.
A música que inicia esta parte é a Pinball Wizard, um dos maiores sucessos da banda. O que se sucede nesta sequência é uma batalha entre o já campeão de Pinball, interpretado por Elton Jonh, que joga em uma máquina que tem um teclado ao invés de botões. Todo o design da cena é muito psicodélico, louco mesmo. Elton Jonh joga numa máquina estranha usando dois pares de sapatos enormes como pernas gigantes e com uma roupa muito colorida. A banda The Who aparece ao fundo tocando enquanto Tommy, ainda cego, surdo e mudo, marca milhões de pontos e vence o campeão. Vencendo o campeão Tommy é aclamado o Pinball Wizard.
Novamente aqui é embutida a crítica ao messianismo, pois Tommy agora é seguido e idolatrado por milhões de jovens; um novo messias. É claro que os pais de Tommy aproveitam-se desta situação para enriquecer.
Entra neste momento do filme um dos pontos altos da história, da música e das críticas, que é justamente a parte onde Nora está no conforto de sua nova casa, uma mansão, e vê pela tevê, seu filho Tommy sendo campeão do Pinball. Nesta sequência a crítica se volta para o consumismo de uma certa forma, pois na letra da música se fala de que não adianta nada tudo o que Nora compra, e também não adianta Tommy ser tal estrela e seguido por milhões se ele é cego, surdo e mudo.
De que nada vale se ele não pode apreciar seu reconhecimento, sua imagem adorada. Após isso sucede-se mais uma digressão musical em que Ann Margareth nada numa "piscina" de feijão, uma dura crítica ao consumismo. Sim porque ela havia visto o tal feijão na tevê e é exatamente da tevê é que sai o jato de feijão. E nesta sequência, devido ao belo corpo de Ann Margareth não há como não vincular a cena com sexo e prazer. Há uma pequena menção às drogas porque antes de tudo Nora dá um belo gole em uma champanhe e está meio bêbada.
Logo em seguida entra Frank no mesmo quarto só que em outro momento dizendo que encontrou um médico que pode curar o problema de Tommy e que finalmente os seus problemas, de Frank e Nora, também estariam resolvidos. O especialista, como diz a música, "Go To The Mirror", é interpretado por Jack Nicholson. O doutor faz todos os seus testes, mas conclui que o problema não é de ordem fisiológica e que portanto não haveria cirurgia que o resolvesse: "Não há chances para uma cirurgia, Toda esperança está com ele e não comigo". Nesta sequência Nora sente-se seduzida pelo doutor e até imagina ela com ele num momento romântico. O doutor corresponde a este desejo e na letra isso é explicitado, aliás isso se dá ao contrário, pois a letra surgiu muito antes do filme então conclui-se que está seja uma leitura que Ken Russell fez desta música e que foi autorizada por Pete Townshend. A letra diz: "Seus olhos podem ver, seus ouvidos ouvir e seus lábios falar, pois todo o tempo os ponteiros se mexem, mas não há máquinas que possam dar o tipo de simulação necessária para remover seu bloqueio interior", esta frase é dita com ela deitada e com Jack Nicholson em cima dela cantando a música de forma insinuante.
Deste ponto em diante quando Tommy recupera os seus sentidos, inesperadamente, o filme perde o ritmo, e o mais interessante é que neste momento em que o filme perde o ritmo, fica meio sem graça sem tantas apologias, é justamente o momento em que as músicas ganham muito mais qualidade, pois agora quem canta é o próprio Daltrey e as músicas são realmente mais animadas e mais na linha rock n'roll, porém, mesmo assim o filme falha em prender o espectador. Mas não que a história se perca, porque a história fica agora muito mais crítica com relação ao messianismo pois agora Tommy se sente como alguém que realmente tem um Dom, só que de novo, Oliver Reed, "malandramente", comercializa essa nova "religião do Pinball". Neste momento tem uma história meio paralela, mas contundente que é a história da Sally Simpson, filha de um padre. Sally, como a maioria dos jovens, idolatra Tommy e quer muito conhecê-lo e diz a seu pai que quer ir vê-lo. Seu pai a proíbe de ir vê-lo e mesmo assim Sally vai. Chegando no local onde Tommy estava Sally se vê impossibilitada de tocá-lo, ou seja, Tommy e retratado como um messias intocável, inalcançável. Sally embora tente tocá-lo é impedida pelo cordão de isolamento e ao cair sofre um ferimento na cara que deixará uma cicatriz em seu belo rosto como diz a música: "Seu rosto bateu em uma cadeira e o sangue escorreu se misturando com suas lágrimas". Na letra dessa música "Sally Simpson", é dito que ela consegue chegar ao palco onde Tommy está se apresentando, mas um homem uniformizado joga-a para fora do palco e no filme este homem é o Frank, padastro de Tommy. E no final dessa sequência o pai de Sally diz: "Não vá dizer que eu não avisei", e logo em seguida ela termina casando com um roqueiro vindo da Califórnia.
Daí em diante Tommy estabelece também um colônia de férias assim como seu padastro tinha. É aí que ocorre a revolta dos fiéis de Tommy por conta do venda daquele religião.
Na música "We're not gonna take it", há o arremate do filme e explicita uma visão conservadora quanto a questão das drogas, nesta música se diz: "Ei você se embebedando, eu saquei a sua/ Ei você fumando a mãe natureza, isso não presta/ Ei você aí Mr. Normal, não tente ganhar minha confiança".
Neste trecho fica claro a posição conservadora e condenatória passada pelo filme sobre drogas. E a última frase da música também crítica o messianismo com a frase: "Vocês não vão me seguir de nenhuma dessas formas, embora vocês achem que devam".
O filme termina com esta mesma música só que com outro refrão: "Te escutando, eu tenho a música/ Olhando para você, eu tenho o calor/ Te seguindo, eu subo montanhas/ Eu me animo a seus pés/ Atrás de você, eu vejo milhões/ Em você, eu vejo a glória/ De você, eu pego opiniões/ De você, eu pego a história".
FONTE: http://www.ufscar.br/~cinemais/arttommy.html