Niilismo

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Niilismo (do latim nihil, nada) é um termo e um conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo (literatura, arte, ciências humanas, teorias sociais, ética e moral). É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". "Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro".
O niilismo pode ser considerado como "um movimento positivo” – quando pela crítica e pelo desmascaramento nos revela a abissal ausência de cada fundamento, verdade, critério absoluto e universal e, portanto, convoca-nos diante da nossa própria liberdade e responsabilidade, agora não mais garantidas, nem sufocadas ou controladas por nada". Mas também pode ser considerado como "um movimento negativo” – quando nesta dinâmica prevalecem os traços destruidores e iconoclastas, como os do declínio, do ressentimento, da incapacidade de avançar, da paralisia, do “tudo-vale” e do perigoso silogismo ilustrado pela frase de Ivan Karamazov em Os Irmãos Karamazovi, personagem de Dostoiévski: "Se Deus está morto, então tudo é permitido" (na verdade trata-se de mera interpretação de um diálogo desenvolvido entre os irmãos Karamazov, com a "intervenção" do Diabo). Entende-se por Deus neste ponto como a verdade e o princípio.

Filosofia

As primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa quando foram definidos como “niilistas” os grupos “que não eram nem a favor nem contra a Revolução”. Por outro lado, indo além da pretensa paternidade do termo atribuída ao grande escritor russo Turgueniev no livro Pais e Filhos, o primeiro uso propriamente filosófico do conceito pode ser localizado no final do século XVIII, ao longo dos debates e das disputas que caracterizam a fundação do idealismo – mais especificamente na carta, escrita em 1799, de F. H. Jacobi a Johann Fichte na qual o idealismo é acusado de ser um niilismo. Filósofos como Friedrich Schlegel e Hegel intervêm na discussão servindo-se do termo. Na Rússia, uma vez saído do restricto âmbito filosófico e literário para o plano social e político, o niilismo passa a designar um movimento de rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e os seus valores. É com Nietzsche - assinala Professor Rossano Pecoraro - "que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcança o seu mais alto grau, com um pensamento radical que mostra as origens mais remotas do fenômeno, como o platonismo e o cristianismo. Assim, não só diagnostica a doença do nosso tempo, como tenta indicar um remédio" . O século XX é, como ele diz claramente, "o século do niilismo que impregna a atmosfera cultural de toda uma época e transforma-se numa “categoria” fundamental no laboratório filosófico contemporâneo". Dentre os autores e movimentos mais significativos que se defrontaram com o conceito, Pecoraro destaca: Martin Heidegger, Ernst Jünger, o renovado pela filosofia nietzschiana na França particularmente as reflexões de Gilles Deleuze, a filosofia "desesperada e negativa" de Emil Cioran, a visão de niilismo como essência do Ocidente de Emanuele Severino, a obra de Jacques Derrida, as reflexões de Jean-Luc Nancy, o “pensamento fraco” e a apologia do niilismo de Gianni Vattimo.

Concepção nietzscheana de niilismo

Niilismo passivo - Segundo Nietzsche, o niilismo passivo, ou niilismo incompleto, podia ser considerado uma evolução do indivíduo, mas jamais uma transvaloração ou mudança nos valores. Através do anarquismo ou socialismo compreende-se um avanço; porém, os valores demolidos darão lugar para novos valores. É a negação do desperdício da força vital na esperança vã de uma recompensa ou de um sentido para a vida; opondo-se frontalmente a autores socráticos e, obviamente, à moral cristã, nega que a vida deva ser regida por qualquer tipo de padrão moral tendo em vista um mundo superior, pois isso faz com que o homem minta a si próprio, falsifique-se, enquanto vive a vida fixado numa mentira. Assim no niilismo não se promove a criação de qualquer tipo de valores, já que ela é considerada uma atitude negativa.
Niilismo activo - ou niilismo-completo, é onde Nietzsche se coloca, considerando-se o primeiro niilista de facto, intitulando-se o niilista-clássico, prevendo o desenvolvimento e discussão de seu legado. Este segundo sentido segue o mesmo rumo, mas propõe uma atitude mais activa: renegando os valores metafísicos, redirecciona a sua força vital para a destruição da moral. No entanto, após essa destruição, tudo cai no vazio: a vida é desprovida de qualquer sentido, reina o absurdo e o niilista não pode ver alternativa senão esperar pela morte (ou provocá-la). No entanto, esse final não é, para Nietzsche, o fim último do niilismo: no momento em que o homem nega os valores de Deus, deve aprender a ver-se como criador de valores e no momento em que entende que não há nada de eterno após a vida, deve aprender a ver a vida como um eterno retorno, sem o qual o niilismo seria sempre um ciclo incompleto.

Niilismo pós-Nietzsche

Como Nietzsche previra, o assunto ganhou grande atenção, mas só após o advento da Primeira Guerra Mundial e dos avanços científicos. Nesta época, sobrelavaram autores como Spengler e Max Weber. Mas, pouco mais tarde, foram Heidegger e Jürgen Habermas que, discutindo o niilismo, legaram brilhantes reflexões.
Naturalmente, o termo encontrou novas significações e derivações, das quais podemos destacar o niilismo-existencialista, de Sartre, e o niilismo-gnóstico/niilismo-absurdista, de Albert Camus.

Sobre o Autor:
LORD KRONUS
LORD KRONUS

Admirador do Oculto e cinéfilo.
azerate666@hotmail.com
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