TEONANÁCATL

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Teonanácatl, o nome dado a uma ou mais espécies de cogumelos psilocibina na linguagem Nahuatl do povo Asteca, significa “Carne de Deus”. Teonanácatl também pode ser corretamente traduzido como “cogumelo maravilhoso”, “cogumelo sagrado” ou “cogumelo impressionante”. Dentre as tribos indígenas mexicanas – os Mazatecas, Mixtecas e Zapotecas em especial - confirma-se a reverência e carinho que os cogumelos inspiram: “senhores sagrados”, “crianças” (Los niños), “pequeninos que florescem” (nti-xi-tho) ou “princepezinhos”. De fato, desde 1957 quando o etnomicologista Robert Gordon Wasson publicou o relato de seu encontro com a curandeira Mazateca Maria Sabina na revista Life, os cogumelos mágicos têm causado uma revolução nas mentes das gerações que viriam adiante. Esta atenção e revivalismo do “xamanismo” enteogênico pode ser visto como uma resposta à degradação dos ecossistemas e da nossa biosfera. Em cada um destes movimentos, os indivíduos estão expressando uma nova consciência, ou ainda, um revivalismo de uma consciência ancestral, de uma espiritualidade interconectada, orgânica, de toda a vida neste planeta. Mesmo que o termo “xamanismo” seja um termo derivado da cultura siberiana dos Iacutos, ele vem a se referir a qualquer grupo de práticas que envolva estados alterados de consciência com o propósito de cura ou adivinhação [1], o que inclui também os grupos que executam rituais híbridos neo-xamânicos. O Dr. Ralph Metzner, em seu excelente livro “Sacred Mushroom of Visions – Teonanácatl” [2], também comentando sobre o uso do enteógeno ayahuasca, definiu algumas abordagens básicas onde aponta como exemplo as igrejas brasileiras sincréticas, como a UDV, Santo Daime e Barquinha, bem como os rituais híbridos xamânicos-psicológicos da Europa e América do Norte, que respeitam algumas formas básicas de tradições xamânicas mas que adicionam elementos psicológicos de preparação e integração. Os rituais híbridos preservam elementos-chave do xamanismo tradicional, e o ritual é visto como meramente o arranjo consciente e intencional de estabelecimento e ambiente, de conjunto e configuração para uma experiência iluminadora. As percepções e aprendizados destas práticas são geralmente tecidos pelos participantes, e os inúmeros relatos coletados ao longo dos anos fazem menção à consciência espiritual, a amplificação da consciência e a sensibilização da percepção, particularmente a somática, emocional e instintiva. Esta é uma pequena apresentação da nossa próxima série que vai tocar nos cogumelos mágicos do tipo psilocybe, largamente encontrado aqui no Brasil como aquele que nasce livremente no estrume do gado nos pastos (não só no do “zebu” como alguns acreditam). É muito importante conhecer todos os aspectos que envolvem este enteógeno, que deve ser experimentado com muito cuidado e reverência. Minha idéia de desenvolver o “frame” por partes: quero falar de Maria Sabina, e de como e por que Wasson, Hofmann, Leary e McKenna entre outros desempenharam papéis importantes neste salto de percepção. Também devo abordar alguns aspectos mais técnicos deste tipo de enteógeno (afinal, é sempre bom ver o que isto faz ao cérebro). E lógico, ao final, gostaria de partilhar algumas experiências pessoais, da caça e do cultivo indoor deste fungo, bem como seus usos ritualísticos. [1] Michael Harner, Hallucinogens and Shamanism – Oxford University Press,1973 [2] Pgs 43,44 FONTE: Espelho de Circe

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