Poesias do heterônimo Pedro Martins

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Quando Filipe Kartalian Ayrosa Galvão (Fiuk) participou do elenco de "As melhores coisas do mundo" ele viveu um personagem chamado Pedro Martins. Um jovem de 17 anos que vive normalmente até perceber que havia perdido o "amor da sua vida" por qualquer motivo normal de um término de uma relação. Porém, o jovem tem o seu eu interior transformado negativamente devido a isto e aos problemas enfrentados por sua família. Enfim, ele arrisca o suicídio.

Independente de qual foi o trágico fim do rapaz, posto aqui as poesias escritas em seu Blog Girassóis no Escuro". Magnífico, cheio de criatividade e dor.


Atuando

Disfarçado finjo ser outro.
Em um palco vazio, me escondo em frente à plateia. Hipócrita. Cruel.
Em cartaz, uma vida qualquer. Medíocre artimanha, do jeito que quiser mostrar.
As cortinas sobem, cansadas. De novo, o velho espetáculo.
E lá o público. Eufórica turba.
Regozijo diante da imitação falsa de suas próprias verdades.
Enceno o fim e enfim começo.

Vejo Luz

Em meio à atordoada escuridão, encontrei beleza neste mundo. Conheci sua forma, sua cor, seu cheiro. Sentir o som do seu nome repousando em meus ouvidos é melhor do que ouvir a mais inspirada canção do Chico. B E A T R I Z. Poesia pura. Uma luz no meio desse breu sufocante e sujo.

Cadeia Alimentar

Estamos numa era de mulheres fáceis, frágeis e descartáveis. E os garotos… um bando de predadores, mamíferos no cio que desconhecem a beleza de amar. E elas caem e esse ciclo podre se alimenta. Bando de tolos!
Desgraça desenfreada. Quanta vida ligada no piloto automático.

Infinito

A bala de hortelã desperta
A lembrança de teus olhos escondidos
Atrás de teus sonhos matutinos.
Meu sexo amanhecido de batom descansa longe do teu,
Que titubeante, pariu uma barata imensa.
Que agora tens esmagada entre as coxas.
Meu peito todo cortado,
Rasgos de teus seios afiados,
Sorri, rochedo estéreo.
Teu sono desperta o sino.
E num badalo etéreo
Sumo no vão fino, teu vão de perna.
Gênesi e apocalipse: prisão eterna.

Férias

Preparo uma viagem com a mulher que amo.
Iremos apenas nós três: eu, ela e o violão.
Enquanto os tolos fazem suas malas com destino a resorts de alegria fingidora, quero levá-la para curtir a paz e o sossego de uma praia deserta ou do pico de uma montanha ou do breu acolhedor de uma floresta fechada.
Para onde só a natureza nos fará companhia.

Viagem

Foi bom sentir a água e o sol, a areia quente e o céu azul.
Melhor ainda foi descansar na sombra dos beijos da Bia e sentir seu perfume carregado com o suspiro fresco do mar.
Foram 20 dias de adoração e descoberta de infinitos segredos – escondidos no vale sublime.

Tudo é dor

Promessas falsas. Palavras vagas.
Sonhos criados e perdidos na cama de um hotel.
Agora, só a arte me consome e me alimenta.
Sofro por amar demais.
Por não aguentar essa puta hipocrisia.
Uma decepção atrás da outra.
Estou morrendo aos poucos.
A cada segundo.
Como cada grão dentro de uma ampulheta.
Não há castigo mais terrível do que viver sem você.

Existência

Só existo de verdade quando estou escondido numa brecha do tempo no Hotel Danúbio, quando não há roupas nem medo, vergonha nem fingimento, quando somos só desejo e confiança. O resto do tempo me sinto uma cópia falsificada de mim mesmo.

Sem ar

Meu peito está todo cortado. São rasgos dos teus seios afiados. Das feridas escapa um grito mudo, abafado como o de um bebê abandonado dentro de um saco na correnteza do rio. Ninguém escuta a minha dor.

Chocalho de Ossos

Podem te arrancar um braço, uma perna, tudo bem, você continua vivendo.
Mas a alma?
Sem ela, você é apenas uma caixa de ossos chacoalhando por aí.

Nova casa

Ontem gastei todo o meu dinheiro e comprei um terreno em Marte. Eis a foto, cedida pela NASA, do meu pedaço de felicidade. Sem gente, sem bicho, sem planta, sem carro, sem computador. Eu e a imaginação vamos morar no vazio.
No infinito. Pretendo não manter mais contato com os tolos, nem com os que habitam minha mente em memórias de estúpidos convívios do passado. Adeus.

Isso é tudo

A decisão que estou tomando é consciente.
Decidi na plenitude de meu livre-arbítrio. Sei que isso é duro, porque sendo assim, ninguém tem direito à culpa e a culpa é o alívio dos fracos.
Lamento, mas concordo com Camus que o suicídio é a única questão filosófica verdadeira.
Meu desejo comanda meu destino e a morte é a única liberdade.


FONTE: 'música, amor & poesia'

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