A Saturnália era
um festival romano em honra ao deus Saturno que ocorria no mês de dezembro, no
solstício de inverno (era celebrada no dia 17 de dezembro, mas ao longo dos
tempos foi alargada à semana completa, terminando a 23 de dezembro). As
Saturnálias tinham início com grandes banquetes e sacrifícios; os participantes
tinham o hábito de saudar-se com io Saturnalia, acompanhado por doações
simbólicas. Durante estes festejamentos subvertia-se a ordem social: os escravos
se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à sorte, um
"princeps" - uma espécie de caricatura da classe nobre - a quem se
entregava todo o poder. Na verdade a conotação religiosa da festa prevalecia
sobre aquela social e de "classe". O "princeps" vinha geralmente vestido
com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as quais prevalecia o
vermelho (a cor dos deuses).
Segundo Pierre Grimal,
Saturno é um deus itálico e seu culto foi importado da Grécia para Roma, como
ocorreu com diversos outros deuses. Ele teria sido expulso do monte Olimpo por Zeus e se instalado no Capitólio, onde
fundou um povo chamado Saturnia. Acredita-se também que foi acolhido por Jano, igualmente oriundo da Grécia. Seu reinado
na região do Lácio ficou conhecido
como a "Idade do Ouro", pela paz e prosperidade alcançadas. Segundo os relatos
lendários, nesse período Saturno teria continuado a obra civilizadora de Jano e
ensinou à população a prática da agricultura.
Dias de
Saturnália
Sua comemoração se
iniciava no dia 17 de dezembro e durava sete dias, no tempo de Cícero. Augusto teria limitado sua duração a três dias, para
que a justiça e política não ficassem paradas por muito tempo. Já Calígula determinou uma
comemoração de cinco dias. Mas Macróbio escreveu que, mesmo assim, as
festividades permaneceram acontecendo no período de uma semana. Este mesmo autor
afirma que antes a celebração ocorria apenas no dia 19 de dezembro, mas com a
reforma do calendário juliano (durante o governo
de Júlio César),
que acrescentou dois dias ao calendário, passou a para o dia 17. Isso levou ao
aumento de dias de comemoração, já que a data exata não ficou conhecida por toda
a população.
Significados e caracterização da festividade
Essa comemoração é
considerada um festival civil e social, de acordo com a divisão que segue o
caráter dos ritos proposta por Jean Bayet . Durante sua comemoração
faziam-se sacrifícios a Saturno e a estátua do seu templo tinha, simbolicamente,
fios de lã retirados dos seus pés para representar sua libertação. Depois dos
sacrifícios, tinha início o banquete público, que parece ter se iniciado em 217
a. C, segundo Tito Lívio.
Banquetes em que a imagem do deus Saturno era colocada junto à mesa –
lectisternium – também podem ter ocorrido . Dava-se início, então, às festas e
divertimentos.
Segundo Macróbio, em sua
obra As Saturnálais , os assuntos mais sérios
deveriam ser tratados na parte da manhã e à noite, durante o banquete, enquanto
bebiam, deveriam falar dos assuntos mais leves e levianos. Esses dias deveriam
ser de alegria. Faziam-se piadas e jogos de azar eram realizados pelas ruas, os
quais eram proibidos no restante do ano.
Um costume comum na
Saturnália era visitar os amigos e trocar de presentes. Os presentes eram as
sigillaria, pequenas figuras de terracota ou prata ou ainda velas de cera, representando a luz na
escuridão. Quem também escreveu sobre essa prática foio satirista Marcial, que escreveu dois livros, Xenia e Apophoreta,
com dedicatórias para acompanhar presentes. Segundo Amalia Lejavitzer Lapoujade,
Marcial reclama o caráter das Saturnalias para seus epigramas.
O que muitos autores
destacam é a inversão da ordem durante a comemoração em honra a Saturno. Todos
os homens, escravos ou cidadãos, ficavam em igualdade. As barreiras jurídicas
eram ficticiamente abolidas. Os escravos, portanto, não precisavam trabalhar,
podiam se vestir como seus senhores, participar das refeições e jogar dados. Os
tribunais eram fechados e com a consequente ausência de leis, não estariam
transgredindo a ordem de fato . Essa inversão de valores
teria ocorrido apenas na República, segundo Airan dos Santos Borges, que
completa ainda escrevendo que “os soldados travestidos escolhiam o rei das
saturnais dentre os condenados através de dados. Este rei usaria as insígnias de
sua dignidade como o rei dos gracejos e deboches. Após o festival o rei é morto
e tudo volta à ordem.” .
“Que ninguém tenha atividades públicas nem privadas durante as festas, salvo
no que se refere aos jogos, as diversões e ao prazer. Apenas os cozinheiros e
pasteleiros podem trabalhar. Que todos tenham igualdade de direitos, os escravos
e os livres, os pobres e os ricos. Não se permite a ninguém enfadar-se, estar de
mal humor ou fazer ameaças. Não se permitem as auditorias de contas. A ninguém
se permite inspecionar ou registrar la roupa durante os dias de festas, nem
depor, nem preparar discursos, nem fazer leituras públicas, exceto se são
jocosos e graciosos, que produzem zombarias e entretenimentos” .
Fim do Festival e sua incorporação à outras
comemorações
Leni Ribeiro Leite
afirma que a Saturnália foi comemorada até a Era Cristã, mas com o nome de
Brumália (ocorria no início do inverno e era uma das festas em honra a
Baco). Em meados do século IV d.C., teria sido absorvida pela comemoração do
Natal, havendo uma continuidade na prática da troca presentes oriundas do
festival Alguns autores também
defendem a hipótese sobre haver uma relação entre a Saturnália e as comemorações
do carnaval, devido ao caráter de inversão da ordem social ocorrido nos dias de
festividades.
Sobre o Autor:
LORD
KRONUS
Admirador do Oculto e cinéfilo.
azerate666@hotmail.com
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