A UNIDADE TRANSCENDENTE DAS RELIGIÕES

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Ramakrishna, consciente de ser o filho do Verbo, com o corpo torturado pela disenteria, permitiu que a mente voltasse pouco a pouco ao plano físico. Curado, num estado de equilíbrio e de serenidade perfeita, podia agora receber e guiar os que frequentavam o templo. Após permanecer seis meses em estado de beatitude e de comunhão com o absoluto, sob o cuidado dos outros monges, sem o que teria morrido, o mestre ressuscitava para a vida afim de fazer o bem no mundo. Identificava-se com todos os sofrimentos e misérias, e desejava ardentemente curar ou comunicar uma pequena parcela de luz a todos os olhos cegos.

Desejava quebrar as máscaras tenazes da cobiça e do ódio, das diversas paixões, para que todos alcançassem a paz de espírito. Reunir o que se dispersava. Indicar o caminho a cada um. O templo de Dakshineswar era um abrigo para todos os peregrinos de passagem, quaisquer que fossem suas religiões ou suas crenças. Mulçumanos confraternizavam com indianos.

No fim de dezembro de 1886, Ramakrishna parou certo dia diante de um muçulmano que fazia suas orações voltado para Meca. Graças ao dom de clarividência que possuía, o mestre compreendeu que aquele homem, “realizava” Deus segundo o caminho traçado por Maomé. Pediu-lhe a iniciação, obteve-a e seguiu todos os ritos e costumes do islamismo, a fim de se integrar perfeitamente nesta tradição. Estava disposto, inclusive, a comer alimentos proibidos, o animal sagrado dos hindus: a vaca. Isto para grande escândalo dos discípulos, que haviam encarregado um brâmane de preparar suas refeições sob a direção de um mulçumano, para preserva-lo de qualquer impureza, embora Ramakrishna soubesse perfeitamente que aquilo não tinha a menor importância. Após ter realizado Alá, deus do profeta Maomé, “o Brama com atributos”, ele realiza de novo “o Brama sem atributos”, o absoluto indiferenciado.

O rio do islamismo levou-o ao oceano, da mesma maneira que o rio do hinduísmo. Pouco importava a maneira, o aspecto, o nome com que era adorado, o crente alcançava sempre o Deus único, se afastasse de si a intolerância, a obstinação fanática das pessoas estúpidas. “O homem ignorante, convencido que sua religião é a melhor, proclama-a inutilmente de maneira ruidosa. Mas quando sua mente for finalmente esclarecida pela sabedoria verdadeira, todas as discussões de seitas cessarão.”

Em novembro 1874, um hindu leu a Bíblia para Ramakrishna. Ficou fascinado com a vida e a doutrina de Jesus. Graças a uma experiência paralela, identificou-se com o Deus cristão. Jesus que fora crucificado pela redenção da humanidade, Jesus o “Mestre ioga na eterna união com Deus”, permaneceu para ele o símbolo do amor encarnado. Costumava dizer aos que o ouviam: “Na oficina do oleiro há muitos utensílios diferentes: potes, jarros, pratos, pires... Mas tudo isto foi feito com mesmo barro. Assim também, Deus é um, embora seja adorado em diversos países e épocas sob nomes e aspectos variados.”

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