QUEM FOI LOBSANG RAMPA: UMA FARSA?

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Poucos autores foram tão controvertidos quanto Lobsang Rampa. E o motivo é bastante simples: se um cidadão inglês afirma que seu corpo foi tomado pelo espírito de um Lama tibetano, certamente deverá ser alvo de zombarias. Quando, além disso, ele narra fatos e acontecimentos extraordinários, com minuciosos detalhes, levando à suposição de que possui faculdades pessoais inteiramente fora das leis da Natureza, pode atrair a reação radical e até mesmo violenta dos críticos. Não poderia ter sido diferente com o Dr. Rampa.

O fato de o Dr. Rampa ter, hoje, milhares de leitores por todo o mundo constitui indicação segura de que nem todos os espíritos se acham fechados e contrários ao que não conhecem. Foi para esse grande número de leitores ávidos por descobertas que o Dr. Rampa escreveu estes livros, e sua inabalável convicção o levava a assegurar categoricamente: TUDO O QUE ESCREVI É ABSOLUTAMENTE VERDADEIRO!

LIVROS DE LOBSANG RAMPA

Lobsang adverte, em seu livro "O Sol Poente", página 16, segundo parágrafo, e em "A Décima Terceira Vela", página 200, que ao deixar esta vida haveria mentirosos que usariam seu nome para ganhar dinheiro às suas custas. Lobsang morreu em janeiro de 1981, em uma "idade entre 272 e 306 anos", e deixou claro que não voltaria para se comunicar com qualquer pessoa neste mundo. Quem afirma que está em contato com Dr. Rampa ou usa seu nome para qualquer ganho financeiro, nada mais é que um mentiroso, uma farsa.

Lobsang só escreveu 19 livros e eles são mostrados abaixo em uma lista, classificados corretamente pela ordem da sua publicação, com breves explicações sobre o que cada livro trata.

A Terceira Visão (?) (The Third Eye — 1956)
Este é o lugar onde tudo começou, uma autobiografia sobre a jornada de um jovem que se tornou um sacerdote-cirurgião (médico Lama) e como este foi submetido a uma cirurgia para abrir o terceiro olho ainda criança. Ele nos mostra um vislumbre do caminho da vida em um mosteiro tibetano e uma profunda compreensão do conhecimento espiritual. Até este ponto era desconhecida a vida no mosteiro de lamas, mesmo para aqueles poucos que tinham visitado o Tibete. Lobsang junta-se ao mosteiro Chakpori e aprende a mais secreta ciência esotérica dos tibetanos e muito mais.

Numa narrativa entremeada por detalhes sobre a vida no Tibete — os costumes e rituais populares que resistiram à ocupação chinesa —, ele descreve sua experiência mística e os dons paranormais despertados após sua iniciação religiosa, aos 7 anos de idade, até sua partida de Lhasa, em 1927.

O Médico de Lhasa (Doctor from Lhasa — 1959)
No livro, o autor afirmava ter nascido em Lhasa, capital do Tibete, onde recebeu o preparo para tornar-se sacerdote-cirurgião, sob as bênçãos do XIII Dalai Lama. Ainda jovem, sofreu uma operação especial para a abertura do seu "terceiro olho", que lhe deu poderes de clarividência.Lobsang diz estar totalmente consciente durante toda a operação e, por conseguinte, ser capaz de descrever a sensação de ter um pedaço de madeira introduzido entre os hemisférios de seu cérebro:
Por um momento houve uma sensação como se alguém estivesse a me picar com espinhos. Para mim, parecia que o tempo tinha parado. Não havia dor quando ele penetrou na pele e carne, mas houve um pequeno solavanco ao atingir o osso. Ele aplicou mais pressão, balançando o instrumento um pouco para que este se precipitasse através do osso frontal. A dor não era aguda em tudo, apenas uma pressão e uma dor surda ... o operador, com cautela infinita, deslizou a tira mais e mais ... houve um clarão ofuscante ... Por um momento a dor foi intensa, como uma chama branca ardente. Ela diminuiu, morreu, e foi substituída por espirais de cores, e glóbulos de incandescente fumaça.

A lasca de madeira foi deixado no local por duas semanas e, mesmo antes de sua remoção, Rampa já era capaz de ver a aura das pessoas, de forma mais clara que poderia o Dalai Lama.

Anos mais tarde, após uma série de livros publicados, estudiosos sobre o Tibete divulgaram a "descoberta" da verdadeira identidade de Rampa: Cyril Henry Hoskins, um pesquisador das ciências ocultas nascido em Devon, na Inglaterra. Questionado, Cyril declarou que seu corpo fora tomado pelo espírito de Rampa e que todas as informações contidas eram absolutamente verdadeiras. Polêmicas à parte, em "O Médico de Lhasa", continuação de sua autobiografia, Lobsang Rampa narra sua fantástica aprendizagem na arte de curar, suas experiências e descobertas na China ocidental e suas aventuras na Segunda Guerra Mundial, quando caiu nas mãos dos japoneses e conseguiu sobreviver às torturas afligidas por seus inimigos: a história continua com Lobsang deixando Lhasa e vivendo em Chungking, na China. Lá ele aprofundou seus estudos de medicina, aprendeu a pilotar um avião e, finalmente, foi capturado e torturado pelos japoneses. Lobsang passou muito tempo vivendo em campos de concentração como médico até o dia em que ele fugiu. Lobsang foi uma das poucas pessoas a sobreviver à primeira bomba atômica lançada sobre Hiroshima. Ele também explica como usar uma bola de cristal e exercícios de respiração para melhorar o seu bem-estar.

Entre os Monges do Tibete (The Rampa Story — 1960)
A viagem continua com Lobsang Rampa viajando da Coréia para a Rússia, depois Europa e América, terminando na Inglaterra. Lobsang é novamente capturado e sofre mais torturas até que ele, mais uma vez, foge dirigindo carros de luxo. Neste livro Lobsang habita (transmigra para) o corpo de um homem inglês (Cyril Henry Hoskins) ansioso para deixar este mundo, permitindo a Lobsang continuar sua tarefa especial.

A Caverna dos Antigos (Cave of the Ancients — 1963)
Um pequeno vislumbre da história passada da Terra e seus habitantes que esconderam equipamentos altamente tecnológicos que até hoje permanecem escondido. O jovem Lobsang narra sua visita acompanhado de seu guia, o Lama Mingyar Dondup, a uma caverna onde estão guardados diversos objetos que pertenceram a uma civilização antiga desaparecida. Lá ele conseguiu ver onde esta tecnologia estava escondida, esta à espera por aqueles que possam usá-la para o benefício da humanidade num futuro próximo.

Minha Vida com o Lama (Living with the Lama — 1964)
Um livro escrito por Lobsang, mas telepaticamente ditado por uma de seus muitos gatos, Fifi Greywhiskers. Os animais não são criaturas mudas como muitos seres humanos acham, todos os animais — exceto para a maioria dos seres humanos — podem se comunicar por telepatia simples. Fifi conta sobre sua vida antes de conhecer Lobsang.

O inédito é que toda a história é narrada na 1ª pessoa, ou seja, o “verdadeiro” autor do livro é Fifi, a gata, que nos vai contando a sua história de vida, todas as situações por que vai passando, desde o seu nascimento “aristocrático”, passando pelos maus tratos a que foi sujeita, abandono, dor, a experiência de ser tratada como um mero “objeto” do capricho dos seres humanos com quem vai cruzando. Fala-nos das suas alegrias e tristezas, sob o ponto de vista de um animal e, certamente, nos faz pensar sobre as nossas próprias atitudes, enquanto seres humanos, enquanto sociedade que deveria proteger os que não têm voz para emitir uma opinião ou expressar o que sentem.

Esta é uma história comovente, narrada com realismo, de grande valor humano e moral, que nos cativa da primeira à última página.

Você e a Eternidade (You Forever — 1965)
O primeiro de dois livros de auto-formação na metafísica. Este livro explica de forma clara termos simples como começar a aprender a metafísica, sendo um curso intensivo de Metafísica, que originalmente seria lançado em vários fascículos, mas por questões práticas, acabou sendo lançado como livro mesmo. Nele, Lobsang Rampa passa ensinamentos e exercícios para a realização de viagens astrais, bem como explana sobre a Aura e o Etérico, além de técnicas de respiração,
telepatia, psicometria, clarividência e iniciação à prática da Ioga.

A Sabedoria dos Lamas (Wisdom of the Ancients — 1965)
O segundo de dois
livros de auto-formação na metafísica. Dicionário utilíssimo sobre conceitos, palavras e ideias que revelam muito da sabedoria oriental e, principalmente, tibetana. Instrumento valioso para aqueles que querem compreender a obra de Lobsang Rampa e aprofundar-se nos conhecimentos ocultos. Além de mais exercícios respiratórios, dietas e o que você não deve fazer.

O Manto Amarelo (The Saffron Robe — 1966)
Esclarecimentos adicionais sobre a vida de Lobsang dentro dentro do Lamahood (veste de lama) com seu nobre guia, o Grande Lama Mingyar Dondup. As origens do budismo, com a verdadeira história sobre o príncipe Gautama, e como ele se tornou Buda e as quatro nobres verdades.

Capítulos da Vida (Chapters of Life — 1967)
Lobsang fala sobre dimensões, mundos paralelos e profecias, provando ao leitor uma compreensão mais profunda. Lobsang também responde perguntas sobre religião e cristianismo.

Além do Primeiro Décimo (Beyond The Tenth — 1969)
Em suas primeiras respostas nesse livro, lobsang fornece conselhos, ensinando a cuidar do corpo físico e espiritual, o propósito da vida, a morte, reencarnação e UFOs. Ele dá informações sobre algumas ervas que servem como remédio para doenças comuns e também fornece um ponto de partida para aqueles que desejam saber como tirar fotos reais da aura.

A Chama Sagrada (Feeding the Flame — 1971)
Os primeiro dez livros estavam tentando acender a chama, a chama da vida, mas agora temos de alimentá-la. Perguntas de leitores são respondidas. Ele dá a prova absoluta da reencarnação, citando um caso e explicando o evento em detalhes.

O Eremita (The Hermit — 1971)
Rampa escreve neste livro a história narrada por um ermitão cego, este diz ter conhecido os que primeiro colocaram a vida da Terra e que são conhecidos como os "Jardineiros da Terra", um grupo de extraterrestres que tem como missão espalhar a vida e cuidar das bases sociais pelo universo. Os Jardineiros mostram ao Eremita a formação da vida na Terra. Nós não somos o único planeta habitado no nosso, ou em qualquer outro, sistema ou galáxia. Este é um verdadeiro insight sobre Moisés e Jesus Cristo, que eram, mais dois dos muitos mensageiros.

A Décima Terceira Vela (The Thirteenth Candle — 1972)
Mais da jornada de Lobsang pela vida. Ele fala em detalhes sobre a homossexualidade, incluindo comentários de um homossexual. Técnicas de respiração e o Superior são explicados em maiores detalhes e o equívoco sobre Guias Espirituais é desfeito. Além de apresentar uma visão mais aprofundada sobre as viagens astrais.

Luz de Vela (Candlelight — 1973)
Neste livro Lobsang fala-nos sobre o zodíaco, astrologia e os pêndulos e como usá-los. Ele também transcreve sobre um encontro anterior com jornalistas, organizado pelo seu querido amigo Alain Stanke. Além de mais perguntas dos leitores e respostas para muitos dos mistérios da vida.

Sol Poente (Twilight — 1975)
Lobsang explica os níveis de viagem astral. Sua mudança para Calgary, dá mais respostas sobre os mistérios da vida e explana sobre a "terra oca" em mais detalhes. Dr. Rampa explica como usar corretamente pêndulos, o poder da oração, casamento e divórcio, bruxaria e possessão, e muito mais.

Foi Assim! (As It Was — 1976)
Este livro continua a história de vida de Lobsang Rampa, desde a época em que viveu no Tibete a suas viagens de aventura em todo o mundo. Também a história REAL — direto do outro lado — sobre a vida de Cyril Henry Hoskin antes de Lobsang transmigrar para seu corpo físico, explicando sobre comentários insultosos de que o Dr. Rampa era filho de um encanador e ele próprio um fabricante de artigos cirúrgicos e em algum momento fotógrafo.

A Fé Que Me Guia (I Believe — 1976)
Nesse livro o autor responde a uma das perguntas mais frequentes que lhe fazem e que, de fato, interessa a toda a humanidade: o que existe depois da morte? E decorrentes desta há outras indagações — haverá outros mundos além do nosso? O que acontece com os suicidas depois da morte? Expiam seu crime contra a Criação, voltando à Terra para levar uma vida mais digna e praticar o Bem? "Creio que toda a vida é constituída de vibrações, e uma vibração não passa de um ciclo", diz Rampa, que prossegue, "a vida no Universo é como um pêndulo, oscilando ora sob o reino do Bem, ora sob o reino do Mal, sujeitando, por isso, a humanidade a ciclos bons e maus."

Segundo o autor, estamos atualmente no fim de um ciclo do predomínio do Mal, agravado pela violência dos vândalos, pelo feminismo(!?) e pela ganância de dinheiro de todas as classes, que deveriam ser as mais altruístas e desinteressadas. Mas se a humanidade conseguir sobreviver até completar-se a oscilação, e o pêndulo subir novamente ao Bem, poderemos ter uma Idade de Ouro e "o Deus deste Universo poderá ouvir as nossas preces e, talvez, dar-nos alguma prova de que realmente se interessa pelos que vivem neste mundo".

Três Vidas (Three Lives — 1977)
Os leitores não param de escrever e o Dr. Rampa os orienta agora sobre o que acontece depois da morte, como é o inferno e como se vai para lá, sempre de maneira leve, mas com uma mensagem profunda e esclarecedora.

Existe mesmo vida depois da morte?

O céu é o que prometem as Sagradas Escrituras?

O inferno existe realmente?

Se você não acredita "nesse negócio de Deus", para onde você vai, depois que morre? Para debaixo da terra e nada mais?

E se você não é cristão, para onde é que vai?

Todas essas são perguntas que o homem, independentemente da sua fé (ou falta dela), da sua religião, do seu grau cultural, se surpreende fazendo, mesmo dizendo que "não pensa nisso" ou que "não tem medo de morrer".

Lobsang o faz, como o título indica, através de Três Vidas — ou melhor, de três vidas, três mortes e três "além-mortes" — que o autor afirma não serem fictícias, tendo as acompanhado, nos seus vários planos de existência, graças à sua experiência em "viagens astrais". Seguimos cada caminho e vemos onde estes os levam e como todos eles terminam no mesmo local. Em primeiro lugar um ateu, em segundo lugar um judeu e, por último, um cristão.

São Três Vidas (e um sonho) contadas num saboroso tom de quem conhece muito bem a atitude humana — reações, indagações, angústias — diante da grande incógnita dos pós-morte ou além-vida.

O Sábio do Tibete (Tibetan Sage — 1980)
Estranhas Máquinas Revelam o Passado, o Presente e o Futuro ao Atônito Noviço Lobsang Rampa. O Leitor de o Sábio do Tibete Comungará de sua Perplexidade, Numa Viagem Fascinante, mas Absolutamente Verdadeira.

Em seu último livro Rampa relembra experiências com seu guia no "templo interior" da caverna dos antepassados. Como o mundo começou e para onde ele vai, além dos males do petróleo. Essas são as palavras finais de Lobsang antes de deixar este mundo em janeiro de 1981.

LOBSANG RAMPA - O POLÊMICO MÉDICO DE LHASA

Apesar de ter sido alvo de críticas severas - tanto quanto de glorificação -Rampa foi um dos escritores esotéricos que mais vendeu nos anos 60, e pode ser considerado um precursor da literatura do gênero.

Naquele dia, logo depois do pôr-do-sol, o garoto de oito anos foi levado a um aposento iluminado apenas por lamparinas. Um lama segurou sua cabeça com força. Sem qualquer anestesia, o instrumento pontiagudo foi sendo lentamente introduzido na testa, abrindo um orifício. Ali foi inserida uma palheta, que permaneceu no osso frontal por dezessete dias. A cirurgia teria estimulado a glândula epífise, ou pineal, que aumentou seus poderes de clarividência.

Impressionado? Você
não está sozinho. Outras 132 mil pessoas, só no Brasil, não se esquecem desta passagem do sétimo capítulo do livro A Terceira Visão (The Third Eye), escrito por Lobsang Rampa em 1955.

Com todos os ingredientes de uma empolgante autobiografia, A Terceira Visão conta a vida de Lobsang Rampa e sua formação como monge budista, até se tornar um lama e abade especialista em medicina cirúrgica. Aos sete anos, filho de um membro dos altos postos do governo tibetano, o pequeno Lobsang tem seu destino decidido por uma comissão de sacerdotes-astrólogos, que solenemente profetizam seu futuro durante uma grande festa realizada em sua casa em Lhasa, no Tibete. O menino deveria ser encaminhado ao mosteiro de Chakpori e passar por um severo preparo ético, teórico, religioso e aguçado através de provas de resistência física e mental. Ele deveria estar apto não apenas para exercer seu papel de médico, mas também para enfrentar um destino marcado por dificuldades, privações e sofrimento no Ocidente. Tendo como mestre o lama Mingyar Dondup, por quem nutre respeito e carinho quase filiais, Lobsang passa por inúmeras provações e conta tudo com detalhismo impressionante. Sua convivência com o décimo terceiro Dalai-Lama, suas experiências de quase morte, viagens astrais, clarividência; as expedições ao Planalto de Chang Tang a fim de conhecer e colher ervas medicinais; sua visita à "cidade morta" de uma civilização perdida, suas elucubrações quanto às diferenças culturais, sua fiel descrição de um ambiente carregado de mistério, inatingível à maioria das pessoas comuns, tudo isso faz da obra o tipo de livro que não se consegue mais parar de ler. A narrativa também é permeada por mensagens contra o preconceito: "É uma pena que tenhamos essa tendência para julgar outros povos segundo nossos próprios padrões". E de consolo: "A morte não existe. É um nascimento. Simplesmente o ato de nascer num outro plano de existência".

A história do menino tibetano que se torna um lama marcou época é foi um dos precursores da literatura esotérica dirigida às grandes massas. A linguagem, quase poética, de compreensão fácil, detalhista e cheia de prosopopéia, conquistou um público ávido pela necessidade de sonhar com uma realidade distante, misteriosa e praticamente inacessível.

Cenário Turbulento

Quase nada se sabia a respeito do Tibete, e o cenário sócio-cultural no Ocidente era tão nebuloso quanto a atmosfera impregnada de incenso dos mosteiros budistas. Na Europa do pós-guerra, a apreensão quanto ao domínio comunista dos chineses no Himalaia chamava a atenção para aquela região desconhecida do Oriente. Nos Estados Unidos, o livro de Rampa fez sucesso particularmente nos anos 60, em pleno movimento da contracultura.

A sociedade foi tomada por fortes sentimentos antibeligerantes. Os hippies pregavam paz e amor, o uso de drogas era estimulado como forma de reação aos vícios da sociedade conservadora. No Brasil, a primeira edição foi lançada em 1968, pela Editora Record. Era o ano da rebelião estudantil contra o regime militar, uma época em que o espírito revolucionário criava campo fértil e receptivo a tudo o que significasse a ruptura do status quo. O interesse por tudo o que fosse oposto sublinhou as diferenças entre Ocidente e Oriente, e este último, com seu misticismo e religião, passou a representar o inatingível e o paradisíaco. Os livros de Lobsang Rampa encontraram ali um nicho perfeito, e o resultado foi a conquista de um público em sua maioria leigo, porém fiel, que reagiu e ainda reage ferozmente diante das dúvidas que cercam a figura do autor, morto em 1981 em Ontário, no Canadá.

Uma Farsa?
Afinal, quem era Lobsang Rampa?

Relatos do guru Agehananda Bharathi, autor de Light at the Center: Context and Pretext of Modern Mysticism (1976), dão conta de que quando a respeitada editora britânica Secker & Warburg recebeu o primeiro manuscrito de A Terceira Visão, então assinada por um certo dr. C. Kuon Suo — pseudônimo adotado por Lobsang Rampa — surgiram desconfianças acerca de sua procedência. Cautelosos, os editores enviaram cópias da obra para o próprio Agehananda, profundo conhecedor das tradições orientais. Seis meses depois, seu veredicto: tratava-se de uma falácia que não deveria ser publicada. "Quando li aquele livro, as primeiras duas páginas deram-me a certeza de que o autor não era tibetano, e as dez páginas seguintes, de que ele nunca havia estado no Tibete ou na índia e não sabia nada sobre o Budismo, nem sobre o tibetano, nem sobre qualquer outro", contestou.

Cópias da obra também foram enviadas a outros estudiosos do Tibete, entre eles Hugh Richardson, um dos últimos ingleses a residir em Lhasa antes da ocupação dos chineses, Marc Pallis, estudante britânico, e até mesmo Heinrich Harrer, autor do livro Sete Anos no Tibete, que serviu de base para o roteiro do filme homônimo lançado em 1997. O filme, aliás, é uma deliciosa e intrigante confirmação de todo o universo descrito no primeiro livro de Rampa. As rodas de orações, o Potala, o telescópio do Dalai Lama, os chortens, está tudo lá. Detalhe: Sete Anos no Tibete foi escrito em 1953, e A Terceira Visão, em 1955.

Consultados acerca do manuscrito da primeira obra de
Lobsang Rampa, tanto Harrer, quanto Pallis e Richardson foram da mesma opinião: o livro era uma fraude e seu autor, um impostor.

Suas admoestações pareceram não preocupar os editores que, independentemente das opiniões contrárias, e talvez antevendo o potencial de vendagem do livro, optaram por publicá-lo assim mesmo.

O que aconteceu é o que já se sabe: um sucesso de vendas, repercutindo no mercado editorial do mundo inteiro.

Para Harrer, Pallis e Richardson, um sujeito estranho de procedência duvidosa não tinha o direito de representar a cultura tibetana perante o mundo.

Excesso de zelo, ou Rampa seria mesmo detentor de conhecimentos cuja divulgação não interessaria a certos grupos? Seria de se esperar da superioridade ética de um lama revelações como "nos muros do Potala guardam-se blocos e blocos de ouro, sacos e sacos de pedras preciosas, e relíquias que datam de épocas remotíssimas"?

Pura indiscrição ou fantasia para atrair leitores incautos?

Seja qual tenha sido o motivo de preocupação, os três conhecedores dos mistérios tibetanos, decidiram contratar por conta e risco o detetive Clifford Burgess, que investigou a vida de Lobsang Rampa.

Relatório final de Burgesss: o homem que se auto-intitulava lama tibetano jamais tinha estado no Tibete, não tinha uma gota sequer de aristocracia tibetana no sangue e era, na verdade, Cyril Henry Hoskins, nascido em Devon, Inglaterra, filho de um encanador. Nas horas vagas, frequentava várias livrarias e bibliotecas, dedicando-se a leituras esotéricas, notadamente A Doutrina Secreta, de Blavatsky, e outros de seus discípulos, Charles Leadbeater, sobre teosofia, ambos pródigos pelas descrições da cultura e da religiosidade orientais.

Forçado pela mídia e pela opinião pública a se explicar, o autor foi perseguido e, por fim, declarou: seu corpo era o de um cidadão comum que, por uma espécie de mediunidade, fora tomado pelo espírito de um lama tibetano. Abriram-se então controversas possibilidades para a explicação de Rampa. De um lado, leitores de espírito mais aberto, absolutamente crédulos quanto à versão da mediunidade, ou canalização; de outro, os céticos, convencidos de que o autor havia forjado sua identidade e escrevera não mais do que um resumo fantasioso do que havia absorvido nas tardes passadas dentro das livrarias. Talvez o próprio livro de Heinrich Harrer tenha fornecido a ele embasamento para tão detalhistas descrições.

Estava lançada a polêmica. Mas parecia ser tarde demais. Rampa/Hoskins já havia conquistado milhares de fãs em todo o mundo, incluindo guias espirituais e até mesmo personalidades altamente credenciadas do meio acadêmico. Se era um farsante, não se pode negar seu talento literário. O livro foi um fenômeno de vendagem e, queiram ou não, entrou para o rol dos clássicos da literatura esotérica.

Polêmica Sem Solução

Qualquer pessoa com mais de 30 anos de idade e interessada em esoterismo ao menos já folheou um livro de Lobsang Rampa.

Para Otávio Leal, estudioso metafísico do Instituto Holístico Humaniversidade, de São Paulo, A Terceira Visão é um livro agradável, mas deve ser encarado como obra de ficção. "O autor pode até ter passado por algumas daquelas experiências, mas operação para abrir o chackra frontal? Isso não existe" — analisa.

Outra fonte, que preferiu não se identificar, declarou que a linguagem utilizada pelo autor é extremamente metafórica, passível de interpretações equivocadas, e que trazer a literatura de Rampa para os dias atuais representaria um retrocesso.

Não é o que pensam seus editores no Brasil. "Estamos reformulando aos poucos as edições antigas de livros que são bem-sucedidos comercialmente", afirma Sílvia Leitão, da Editora Nova Era. Ou seja, a obra de Lobsang Rampa ainda tem potencial de vendas.

Há, no entanto, uma grande possibilidade de que as experiências abordadas por Rampa em seu primeiro livro realmente não causem, hoje em dia, o tamanho estranhamento que causaram em 1955. Não há comparação entre o volume de literatura especializada no assunto disponível à época e o que se tem hoje.

Temas como viagens astrais, levitação, clarividência, se tornaram populares e, à medida que essas informações alcançaram o grande público, este aprendeu a filtrar com mais sensatez aquilo que é estapafúrdio do que é plausível e até mesmo objeto de estudos científicos. Qual é a possibilidade de algum leitor dos dias de hoje acreditar na existência do abominável homem das neves, mencionado por Lobsang Rampa em A Terceira Visão? Em alguns momentos, ele parece subestimar a inteligência de seus leitores, com frases que chegam a ser infantis, como "...ainda bem que a invisibilidade está além da capacidade de quase todos, e que só poucos, muito poucos, a conseguem atingir".

Em outro trecho, parece querer sair pela tangente, não se aprofundando em temas como as diversas formas de ioga, por exemplo. Ele é incansável, no entanto, ao longo de todos os capítulos, nas suas tentativas de nos convencer de que tudo o que conta é absolutamente real, por mais absurdo que possa parecer. "Imensas coisas que no passado foram objeto de escárnio, como a televisão e o rádio, a passagem dos anos acabou por demonstrar serem possíveis e verdadeiras ...assim é com relação ao que estou contando", frisa o autor em vários trechos da obra.

A mesma preocupação em parecer confiável se deu em O Médico de Lhasa, seu segundo livro, no qual ele continua a história a partir do momento em que deixa Chakpori e parte para Chunking, na China, a fim de complementar seus estudos de medicina e cirurgia. Ao narrar os primeiros contatos com os colegas da universidade e com seus professores, o inevitável choque cultural, o fantasmagórico encontro com a alma do mestre Mingyar Dondup, o autor mantém seu estilo detalhista. Nesse livro, Rampa também se aprofunda nos seus ensinamentos práticos, dedicando capítulos inteiros às várias técnicas de respiração e às viagens astrais, com uma preocupação quase "didática". Parece atender ao anseio dos leitores de A Terceira Visão, dos quais recebeu milhares de cartas do mundo inteiro, numa caixa postal de Fort Eire, no Canadá. Respondeu grande parte delas, prestando "consultas" gratuitas. Mas o fez a contragosto, como revela nessa nota publicada em um de seus livros: "As pessoas se esquecem de que pagam por um livro, e não por toda uma vida de serviço consultivo gratuito, pelo correio".

O Médico de Lhasa é pontuado por uma dose maior de realismo, como quando descreve o momento em que Rampa teria sido feito prisioneiro dos japoneses num campo de concentração. A crueza das torturas e execuções dá um tom sanguinolento à narrativa.

Se o objetivo era atrair mais leitores, não conseguiu. No Brasil, apenas 56 mil exemplares foram vendidos (ainda que este seja um número expressivo de vendas no Brasil). Aliás, nenhum outro de seus dezenove livros conseguiu o sucesso do primeiro. Sucesso que repercute até hoje. O próprio Dalai Lama (o décimo quarto), vez ou outra, ainda é questionado sobre as obras de Lobsang Rampa, ao que responde:
"O que costumo dizer é que grande parte de seus livros é fruto de sua imaginação."

Louco ou escroque, verdadeiro lama ou farsante habilidoso, criticado pela maioria e glorificado por alguns leitores, a verdade é que Rampa, de alguma forma, foi um marco para toda uma geração.

Impossível provar ou desmentir seus fantásticos relatos. A busca da verdade é um caminho individual. Ou, nas palavras de Galileu Galilei:
"Não se pode ensinar coisa alguma a alguém; pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo."

Se Rampa instigou milhares de pessoas a fazer suas próprias descobertas, como condená-lo?

A grande maioria dos críticos de Lobsang Rampa se rende ao fato de que ele trouxe o esoterismo para o palco das discussões populares. A descrição de suas experiências metafísicas e da cultura religiosa oriental vieram para a luz do interesse da opinião pública. Este parece ser seu maior e irrefutável mérito.

[Revista Sexto Sentido
Número 35
Páginas 24-28 (Artigo publicado no site do IPPB – Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas)]


RESUMO

Cyril Henry Hoskin (8 abril de 1910 - 25 de janeiro 1981), mais popularmente conhecido como Tuesday Lobsang Rampa era um escritor que alegava ter sido um Lama Tibetano, antes de transmigrar para o corpo de um homem inglês. Muitas polêmicas cercam o autor. Seus livros popularizaram assuntos relacionados ao Lamaísmo Tibetano, viagem astral e o poder da mente.


Talvez os mais jovens não o conheçam, mas os outros devem lembrar-se do êxito que este teve com seus livros, nomeadamente o best-seller internacional "O Terceiro Olho".

Quem era Rampa? Segundo ele afirmava, tinha sido iniciado no Tibete desde a mais tenra idade, onde o próprio Dalai Lama reparara nele. Este, para reforçar os seus dons de vidência, tinha-o submetido a uma operação no cérebro chamada "abertura do terceiro olho", que o fizera ascender a um plano de consciência superior.

Com o seu sucesso veio a pergunta: quem era este velho Sábio, que vivia como eremita, longe dos admiradores e da curiosidade vã deste mundo, afirmando-se doutor em medicina pela Universidade de Chungking e Lama do mosteiro de Potala em Lhasa?

O Daily Mail postou, em 1º de Fevereiro de 1958, que "o ilustre Lama Lobsang Rampa não passa de um inglês chamado Cyril Henry Hoskin, filho de um encanador, que nunca saiu da Inglaterra". O artigo continua com as revelações de um detetive particular. Tinha mulher e a vida normal de qualquer cidadão de Sua Majestade. Tudo nos seus livros era inventado.

O que faria você se fosse apanhado em tal mentira?
Penso que se esconderia numa gruta ou emigraria para algum país distante... Mas como qualquer bom profissional do embuste, Rampa não fez nada disso. Uma semana depois declarava aos jornalistas "ser realmente um lama reencarnado há nove anos no corpo de um inglês." Acusado de mentir, Rampa mudava de versão e chamava em seu socorro a reencarnação e a viagem astral.

Para uma pessoa normal, Rampa estaria "bem arranjado". Mas a verdade é que continuou a gozar dos direitos autorais de seus livros e a venda de suas "Pedras Tranquilizantes". Foi telepata, magnetizador, astrólogo, cartomante, tarólogo, medium, enfim, show men. Morreu em 1981, após uma crise cardiaca.

Nota: Não consegui precisar ao certo se o sobrenome do autor é Hoskin ou Hoskins.


Lobsang Rampa The Lama of Suburbia.pdf

2 Comentários:

Unknown disse... 14 de janeiro de 2019 às 20:49

Quando a díscipulo está pronto,o Mestre aparece!!!

Unknown disse... 14 de janeiro de 2019 às 20:49

Décio Fraga