Do Silêncio e do Segredo, e dos nomes Bárbaros de Evocação

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Liber Aba
É verificado pela prática (confirmando a asserção de Zoroastro) que as mais potentes conjurações são aquelas em linguagens antigas e talvez esquecidas, ou as que estão em um jargão corrupto, até uma língua que possivelmente nunca teve significado. Destas, há diversos tipos principais. A “Invocação Preliminar” na Goétia é constituída principalmente com corruptelas de nomes Gregos e Egípcios. Por exemplo, “Osorronnophris” para “Asar Unnefer”. As conjurações dadas pelo Dr. Dee são uma linguagem chamada Angélica ou Enoquiana. Sua fonte original até agora ainda não foi identificada por pesquisa, mas é uma linguagem e não um jargão, pois tem estrutura própria, e há traços de gramática e sintaxe.

Seja o que for, ela é efetiva. Mesmo o principiante descobre que “coisas acontecem” quando ele a emprega: e isto é uma vantagem – ou desvantagem! – que nenhuma outra linguagem conhecida tem. Para tudo isso é necessário perícia. Isto necessita prudência!

As invocações Egípcias são muito mais puras, mas seu significado não tem sido suficientemente estudado por pessoas magicamente competentes. Nós possuímos um número de invocações em Grego de todo grau de excelência; em Latim apenas poucas, e estas de inferior qualidade. Será notado que em todos os casos as conjurações são muito sonoras, e há certa voz mágica que deveriam ser recitadas. Esta voz especial foi nativa com Mestre Therion; mas pode ser facilmente ensinada – para pessoas capazes de aprendê-la.

Várias considerações impeliram-no a tentar conjurações na língua Inglesa. Existia já um exemplo, o encanto das feiticeiras em Macbeth; se bem que talvez não tenha sido escrito a sério, seu efeito é indubitável.

Tetrâmetros iâmbicos enriquecidos com muitas rimas, tanto externas quanto internas, têm se mostrado muito úteis. The Wizard Way nos dá uma boa ideia deste tipo de construção na língua inglesa. Assim também na “Evocação de Bartzabel”. Existem muitas invocações entremeadas nas obras poéticas do Mestre Therion, em muitas variedades de metros, de muitos tipos de entes, e para muitos propósitos diversos.

Outros métodos de encantamentos estão relatados como eficazes. Por exemplo, Frater I.A., quando menino, ouviu dizer que poderia invocar o Demônio recitando o “Pai-Nosso” ao contrário. Ele foi para o jardim e experimentou. O Demônio apareceu e quase o fez morrer de medo.

Não é, pois, bem certo, no que concerne à eficácia das conjurações. A peculiar excitação mental requerida pode até ser provocada pela percepção da absurdidade do processo inteiro, e pela persistência nele a despeito desta percepção; como, em certa ocasião, Frater Perdurabo (após esgotar todos os seus recursos mágicos) recitou “From Greenland’s Icy Mountains” e obteve seu resultado.

Pode ser concedido, em qualquer caso, que as longas linhas de formidáveis palavras que rugem e gemem através de tantas conjurações têm um real efeito de exaltar a consciência do Magista ao nível requerido – que isso aconteça não é mais extraordinário que o fato da música ser capaz de uma influência análoga.

Magistas não se têm limitado ao uso da voz humana. A Flauta de Pã com suas sete notas, correspondendo aos sete Planetas, a matraca, o tom-tom, e mesmo o violino, têm sido usados, assim como muitos outros, dos quais o mais importante é o Sino, se bem que este não é usado tanto para conjurações quanto para marcar estágios na cerimônia. De todos estes instrumentos, verificar-se-á que o tom-tom é, mais geralmente, útil.

Já que estamos no assunto dos nomes bárbaros de evocação, não podemos omitir a pronúncia de certas palavras supremas que encerram (α) a completa fórmula do deus invocado, ou (β) a cerimônia inteira.

Exemplos do primeiro tipo são Tetragrammaton, I.A.O., e Abrahadabra.

Um exemplo do segundo tipo é a grande palavra StiBeTtChePhMeFShiSs, que é uma linha traçada na Árvore da Vida (atribuições Coptas) de uma certa maneira. [1]

Com todas tais palavras, é da máxima importância que nunca sejam pronunciadas até o momento supremo; e mesmo assim, elas deveriam irromper o Magista quase a despeito dele mesmo – tão grande deveria ser sua relutância em pronunciá-las. De fato elas deveriam ser a voz do Deus nele, no primeiro instante da possessão divina. Pronunciadas desta forma, elas não podem deixar de ter efeito, visto que elas se tornam o efeito.

Todo Magista precavido terá construído (de acordo com os princípios da Sagrada Cabala) muitas dessas palavras, ele deveria ter quintessencializado todas em Uma só Palavra, a qual última Palavra, uma vez ele tenha formulado, não deve jamais pronunciar conscientemente nem sequer em pensamentos, até, talvez, quando ele a pronuncia com seu derradeiro alento. Realmente, tal Palavra deveria ser tão potente que, o homem não possa ouvi-la e ainda permanecer vivo.

Uma Palavra assim era, realmente, o Tetragrammaton perdido. É alegado que na pronúncia deste nome o Universo desaba em dissolução. Que o Magista busque ardentemente esta Palavra Perdida, pois sua pronúncia é o sinônimo da consecução da Grande Obra.

Neste assunto da eficácia de palavras há novamente duas fórmulas de natureza extremamente oposta. Uma palavra pode se tornar potente e terrível em virtude de repetições constantes. No princípio a asserção “Tal e tal é Deus” não desperta interesse. Persista, e você encontrará escárnio e ceticismo, possivelmente, perseguição. Persista, e a controvérsia se torna tão familiar que ninguém mais se preocupa em contradizer sua asserção.

Nenhuma superstição é tão perigosa e tão viva quanto uma superstição explodida. Os jornais de hoje em dia (escritos e editados quase exclusivamente por homens sem nenhuma centelha de religião ou moralidade) não ousam sugerir que qualquer pessoa descreia no culto oficial prevalente; eles deploram o ateísmo – quase universal na prática e implícito na teoria de quase todas as pessoas com inteligência – como se fosse excentricidade de algumas poucas pessoas inconvenientes ou desagradáveis. Esta é a história ordinária da propaganda: o que é falso tem exatamente a mesma chance que o que é real. Persistência é a única qualidade requerida para o sucesso.

A fórmula oposta é a do segredo. Uma ideia é perpetuada porque não deve nunca ser mencionada. Um Maçom nunca esquece as palavras secretas que lhe são confiadas, se bem que estas palavras, na maioria dos casos, não significam absolutamente nada para ele; o único motivo porque ele se lembra delas é que lhe foi proibido de mencioná-las, se bem que elas têm sido repetidamente publicadas, e são tão acessíveis ao profano quanto ao iniciado.

Em uma obra prática de Magick, tal como a pregação de uma nova Lei, estes métodos podem ser vantajosamente combinados; de um lado infinita franqueza e presteza em comunicar todos os segredos; de outro lado a sublime e terrível certeza de que todos os segredos legítimos são incomunicáveis.

De acordo com a tradição, é de certa vantagem, em conjurações, empregar mais que uma linguagem. Provavelmente o motivo é que qualquer mudança estimula a atenção oscilante. Um homem ocupado em intenso labor mental frequentemente se interromperá e dará uma volta ao redor do aposento – podemos supor que por este motivo – mas é um sinal de fraqueza que isto seja necessário. Para o principiante em Magick, porém é permissível empregar quaisquer artifícios que assegurem o resultado.

Conjurações deveriam ser recitadas, não lidas; e a cerimônia deveria ser tão perfeitamente executada que as pessoas não deveriam se tornar conscientes de qualquer esforço da memória. A cerimônia deveria ser construída com tal fatalidade e lógica que um erro seria impossível. O ego consciente do Magista deve ser destruído, absorvido naquele do Deus que ele invoca; e o processo não deveria interferir com o autômato que está executando a cerimônia. Mas este ego de que aqui falamos é o verdadeiro e definitivo ego. O autômato deveria possuir vontade, energia, inteligência, razão e resolução. Este autômato deveria ser o homem perfeito, muito mais do que qualquer outro homem pode ser. É apenas o Ente divino dentro deste homem, um Ente tão acima da ideia de Vontade, ou de quaisquer outras qualidades, quanto o céu está acima da terra, que deveria se reabsorver naquela radiância ilimitável, da qual Ele é uma fagulha.

A grande dificuldade para o Magista que trabalha só é se aperfeiçoar de tal maneira que estes múltiplos deveres do Ritual sejam adequadamente executados.

A princípio ele verificará que a exaltação destrói a memória e paralisa os músculos. Isto é uma dificuldade primária do processo mágico, e pode apenas ser conquistada por prática e experiência.

Afim de auxiliar a concentração, e aumentar o suprimento de energia, tem sido habitual que o Magista empregue assistentes ou colegas. É duvidoso se as óbvias vantagens deste plano contrabalançam a dificuldade de acharmos pessoas competentes, e a possibilidade de um conflito de vontade ou até mesmo de desentendimento no próprio Círculo. Em certa ocasião Frater Perdurabo foi desobedecido por um assistente; se não fosse por Sua prontidão em usar a compulsão física da Espada, é provável que o Círculo tivesse sido quebrado. Tal como foi, felizmente, o incidente terminou sem um problema mais sério do que a destruição do culpado.

Porém não há dúvidas de que uma assembleia de pessoas que realmente estejam em harmonia pode produzir um efeito com muito mais facilidade que um Magista trabalhando sozinho. A psicologia de “assembleias de Revivalismo” é conhecida por quase todas as pessoas, e se bem que tais reuniões sejam dos mais sujos e mais degradados rituais de magia negra, as leis da Magick não são suspensas por isto.

As leis da Magick são as leis da Natureza.


[1] Ela representa a descida de certa Influência. Veja a “Invocação de Taphthartharath”, The Equinox I:3
(página 170, em TSK). As atribuições são dadas em 777. Esta palavra expressa a corrente Kether‒beth‒Binah‒cheth‒Geburah‒mem‒Hod‒shin‒Malkuth, a forma de descida de 1 a 10 através do Pilar da Severidade.


Traduzido por Marcelo Ramos Motta

INFORMAÇÕES:
Este conteúdo é um capítulo da obra Liber ABA (Magick) - O Livro Quatro.

FONTE: Hadnuit.com.br

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