NORMAN E NORMA FACE A FACE

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Seu nome era Norman. Ele conseguira enganar a todos. Como um bom contabilista que era. Ainda tinha o robe de ser prestidigitador.

Notável. 

Sua fama atravessava a região, avançando além do estado graças à internet.

Amealhara uma boa condição patrimonial.

Era presença constante em todas as instituições financeiras da cidade.

Seu nome estava em todas as colunas sociais, sendo o sonho das socialaites e suas filhas, desejosas de aumentar o patrimônio às custas de um bom partido.

Suas festas eram muito badaladas, tendo a participação de jogadores, atores, atrizes, eméritos políticos, justos e corruptos, e mais presenças faustosas.


Numa dessas festas, o jogador Fulano de Tal foi flagrado com Juliana, aos beijos e amassos mais. 

Juliana era uma transsexual das mais bonitas, que sempre era alvo dos fotógrafos das revistas chiques.

Em outra dessas festas, o empresário Sicrano de Tal, da mesma família do Fulano, fora encontrado no banheiro quase totalmente sufocado por um saco plástico como aconteceu com aquele autor de Kung Fu. 

Depois de recuperado, disse à Imprensa que estava testando a resistência dos sacos plásticos para sua empresa.

Ainda em outra, o filho do Seu Sicrano filmava nos quartos toda a sacanagem dos seus pássaros. 

Em cada quarto, havia uma gaiola. E seus pássaros falavam coisas do arco-da-velha. Pena que ele estragou o filme. 

Eu já entretive conversa com uma das moscas de sua casa. Mosca muito culta por sinal. Não espalhe, leitor, isso, por favor.

Norman tinha orgulho de ter uma família tão bonita; sua esposa, Josy, e sua filha Joelma eram a sua fortaleza. Por elas, era capaz de tudo.

- Pai, eu quero falar com Deus!
- Pai, eu quero que o senhor mate um anjo dos grandes!
- Pai, chama Helena de Tróia pra jantar!
- Pai, eu quero ver uma luta de Hércules e Sansão!
- Bem, eu quero um castelo cheio de atores e atrizes pornô cantando músicas religiosas e fazendo milagre penal (era assim que ela se referia a pênis de mais de quarenta centímetros).

Mal elas expressavam um desejo, ele já voava, se precisasse, ao outro lado do mundo e providenciava a sua satisfação. 

Tinha uma capa de super-herói do verdadeiro Clark Kent. Kent hoje mora numa cidade subterrânea com seu amor eterno, uma vampira que ele encontrou numa das noites em que andava à beira-mar. 

A vampira tascou-lhe uma dentada no pescoço e estragou todos os dentes, não sem fazer uma cenazinha particular.

- Você já viu uma boceta tão grande e apertadinha assim, meu bem?
- Nunca.
- Você já viu uma chupadora tão boa quanto eu?
- Nunca.
- Você é mesmo um mentiroso!

Então, que ela aproveitou pra tascar o que eu falei.

Ele se apaixonou tanto, que fez pra ela uma dentadura com os cristais kryptonianos de sua ilha.

A esposa de Norman aprendera com o tempo a não falar sobre quaisquer desejos de maneira súbita. Sabia dos excessos generosos do marido.


Quando mais nova, a filha abusava mais dessa fraqueza, tanto que ele ficava praticamente morto de noitinha.

Acordava bem na hora em que iam meter seu caixão no túmulo. Aconteceu isso umas cem vezes.

Norman iniciara a carreira como um jovem promissor. Sempre ostentara vestes elegantes e modernas. 

Estava sempre fortalecendo peitorais, bíceps, tríceps. Fora campeão de Judô cinco vezes dos vinte aos vinte e cinco anos de idade. Em razão, disso seus joelhos eram frágeis como vidro.

Com a instalação do seu escritório, abandonara o esporte. Passando o tempo, devido ao acúmulo de serviço, e agenda lotada, montou em um cômodo de sua casa uma bem aparelhada academia.

No início, deixava sua esposa se exercitar na mesma. Depois, achou melhor montar em outro cômodo uma academia somente para ela.

Passou a ter necessidade de mais espaço, mais independência.

Queria um lugar isolado, só pra ele.

Conseguiu achar então um apartamento no centro da cidade, no tamanho exato de suas necessidades. 

Era um apartamento onde conseguia aquietar suas neuras. Relaxava, ouvia música dos anos setenta e bebia quanto quisesse de absinto, o que era proibido em seu lar.

Certa vez, quando completara dois meses na aquisição daquele apê, passou por sua cabeça uma idéia obsessiva. Necessitava de um site só seu. Então, começou a frequentar cursos pra isso. Tornou-se um especialista.

Depois de ter o seu site, criou coragem e começou a freqüentar os classificados do jornal de maior circulação da região.

Clientes começaram a freqüentar seu apartamento com maior regularidade. Quase todos chefes de indústria. Ou bam-bam-bans da política.

Falou de suas intenções pra esposa. Dar a bunda pra equilibrar o pênis. Depois de uma conversa franca, ela passou a ajudá-lo na composição de seu personagem. Norma era o nome de seu lado feminino.

Afinal, quando casaram, já sabia dos pendores do marido. Esses pendores jamais atrapalharam a vida sexual do casal.

Como se conheceram? Queriam pessoas do sexo oposto que aceitassem suas fantasias.


Ela queria um homem que aceitasse sua fantasia de se vestir de homem.


E ele o contrário. Sem inversão sexual, porém. Pelo menos, com ela. Assim, numa agência matrimonial se conheceram.

O tempo passou, tiveram uma filha, e deram a ela o nome de Arco-Íris.


Quando a filha completou dezoito anos, trataram de alterar o nome para Íris.


Num dia em que Íris chegara mais cedo da Faculdade, o casal partilhou com ela seus íntimos segredos.

Claro que uma situação forçou a barra e tornou essa confissão inevitável.

Foi no dia anterior, no Shopping. A família passava frente a uma vitrine, quando o pai ficou possesso por uma bota de salto alto sofisticada.

- Ai,meu Deus, que tesão que essa sandália me dá!


Os excessos do pai, expressos na forma de pulinhos delicados, foram tão extremados que a única solução seria contar a verdade.


O Agenor, colega de escritório, que passava no momento , tirou uma foto com máquina semiprofissional, justamente na hora dos pulinhos. Passou pra internet.

A filha teve um choque. Havia sido gótica, punk, emo, roqueira, porém, não estava preparada, precisava digerir essa novidade.

Em verdade, quem gozava de maior tranqüilidade, agora, era ele.

Conseguira fortalecer o álibi para suas atividades de espionagem industrial.

Fazia parte de um esquadrão especial da Polícia Federal. Era um agente de médio escalão.

A sugestão de um Agente Superintendente para que fingisse dupla identidade, antes de conhecer a esposa, fora providencial.

Teve um tempo que quase matou seu lado masculino, tal a verdade que conseguiu infundir ao personagem "crossdresser".

Uma terapia ajudou-o a reencontrar seu lado Norman dentro de Norma, para o bem de todos, particularmente, do esquadrão, que estava ficando mal falado.

O esquadrão se reuniu naquele prédio rosa, na rua rosa. Todos de vestido rosa. E decidiram que pagariam uma terapia. Pelo menos pra ele. O resto estava bem. Seus apartamentos bombavam.


O apartamento continuou lá. Sua esposa passou a utilizá-lo para os prazeres de Josino, personagem sempre presente em seu espelho.

http://prosamolhada.blogspot.com.br/2013/12/agente-conta-outra.html

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