O DEDO por natanael gomes de alencar

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Chegara em casa, irado. O celular na mão.

- Traíra!

- Olha os modos!

- Me lixo.

- Os vizinhos.

- Se mudaram.

Chuta a mesa. Pratas voam, falsas.

- Eu te segui.

- E aí?

- Eu vi tudo.

- E aí?

- A coisinha também viu.

- E aí? Não conheço coisinha nenhuma.

- A da esquina.

Vê cigarros. Aproveita o clima.

- E esses cigarros?

- São seus, debilóide.

- Não me chama assim. – Torce o braço do outro.

- Puto.

- Sou.

- Viado.

- Sou.

Puxa o revólver.

- Atiro?

- Atira.

- Eu atiro em você. Depois em mim.

- Atira.

Quando a polícia chegou, encontrou o chão já riscado com duas silhuetas humanas em torno delas. 

Elas só se encaixaram. Como? Não sei, só sei que nas carteiras estavam os velhos fantasmas e dois toquinhos de giz.

Na época de mulheres, chamavam-se Maria da Cruz e Creusa da Ressurreição.

Todos lavaram as mãos e no outro dia as paredes terminaram de cair, sobras de um cangaço doméstico.

Um papel ao largo com o seguinte poema confidenciava a alguém chamada...

No celular ligado, uma voz de atriz: 

... “Bela Floralva, se Amor
me fizera abelha um dia,
todo esse dia estaria
picado em vossa flor:
e quando o vosso rigor
quisestes dar-me de mão
por guardar a flor, então
tão abelhudo eu andara,
que em vós logo me vingara
com vos meter o ferrão....”


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