AMOR NO ASSOALHO

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O homem queda no assoalho, a mão direita no coração, atingido pelo amor desavisado.

A mulher, como se nada fizesse de anormal.

Coloca as roupas no varal, o bumbum brincalhão, roçando uma banda na outra, marcando o compasso erótico (pra ele) do jogo de passa anel.

Queda no assoalho, mudo, e olhando as curvas dela.

Ela dera-lhe durante duas décadas além do trivial.

Dera-lhe o sessenta e nove em parafuso.

Dera-lhe chaves polacas ao modo de queixadas.

Seu último diálogo:

- Não consigo esquecer tu..

- Eu quero mais e você.....

- Não sei dar o suficiente, né?

- Corta esse papo.

- O quê?

- Alguma coisa....

- Faltou? O quê?

- Não sei. Talvez...

- Talvez...

Ela não teve ânimo de completar. Ele já sabia. Mas negava-se a entender.

Ele cai no assoalho. Ela não quer ver mais uma cena. Vai colocar as roupas no varal.

Ele a imagina nua, como um violão sempre cheio de melodias potenciais, tesão despertando em todas as curvas.

Enquanto ele a imagina, caído no assoalho, o 
coração pulsa como nunca pulsou e irrompe num furor de quem se toca do amor.

Lembra da primeira vez, os uivos, os orifícios do 
mar dela a expulsarem as espumas do rio dele.

Lembra das pernas dela, abertas, com o fruto pleno, vulcão incandescente, vermelhinho, ora raspadinho, ora cabeludo, dependendo da estação do amor.

Todo ele é amor vivente e morrente. Assim, também, o piso, o teto, as paredes, as baratas ousadas a lhe lamberem os lábios, tudo amor sótão-porão.

Enquanto o rabo dela vibra de vida aos olhos da vizinhança, Eros goza na boca de Thanatos.

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