Reintroduzindo o Chaos

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Abrindo passagem entre as ervas malditas do Submundo, me introduzo aqui e reintroduzo um tema de meu particular interesse - o Chaos. Não a título de esclarecimento - apropriadamente -, mas releitura da interpretação que fazem do mesmo. Desejo compartilhar um pouca da minha vivência no meio mágico e, com isso, esclarecer alguns pontos sobre o inexplicável.

Depois de transitar entre diferentes grupos espiritualistas; participar de fóruns de discussões acaloradas, ser convidado para participar de diversas ordens, participar de um circuito de palestras de uma pseudo-ordem-gnóstica, trabalhar em centros espíritas como médium e aplicando passes magnéticos; vi e fiz de tudo um bocado, mas não encontrei certezas em qualquer parte.

Já me considerei um desses Magos Brancos, recheados de luz e paz e sabedoria inquestionáveis. Contudo, algo sobre o modos operandi daqueles que trabalhavam ao meu lado me aborrecia e incomodava. Aparentemente, mesmo os magos brancos podem ser tão cruéis, vis e sanguinários quanto eles afirmam ser os que estão do outro lado.

Todos tem a sua própria receita pronta sobre a evolução. Uns falam sobre esvaziar a mente, outros sobre atos repetidos de caridade e mais outros sobre controle da energia sexual. Com o passar dos anos eu descobri o que tanto me incomodava nessas e outras fórmulas. Nenhuma delas poderia ser comprovada como a ideal ou superior a qualquer outra. Não existe recurso lógico capaz de comprovar que determinada atitude é considerada boa ou melhor em detrimento de outra. Na maior parte do tempo, esses e outros Seres de Luz, não têm argumentos para comprovar que a missão ou perspectiva deles é mais justa do que qualquer outra.

Esse impasse vem da não separação entre o que significa um juízo de valor, e um juízo objetivo sobre a realidade. Os que atestam a propriedade sobre a Verdade, geralmente, estam adotando algum referencial cultural específico e, a partir desse, projetando seus dogmas e metodologias. Aqueles que cresceram (e cito aqui, um exemplo nada pretensioso) sob a dominação da cultura e moralidade Cristã, involuntariamente, vão constituir valores de certo e errado muito próximos da matriz do seu principal referencial cultural - o cristianismo. Quem busca conhecer culturas da raiz afrodescendente, conhecerá outro parâmetro cultural, portanto, outra moral, outro juízo de valor, outros conjuntos de ideais e virtudes a serem seguidas. O mesmo vale para os que se conectam com a cultura nórdica (vide, Asatru), entre diversas outras.

Todas as religiões, dogmas, seitas, ordens, doutrinas, filosofias, sistemas mágicos... Todos tem uma boa desculpa para justificar por que você deveria seguir a ele em detrimento de todos os outros sistemas de crença. Todos abordam alguma premissa como verdadeira (os famosos postulados ou axiomas, na linguagem científica), elaborando em torno deles uma redoma de argumentos auto-reflexivos e herméticos. Tendo isso em mente, tudo não passa de uma questão de linguagem.

É tudo uma questão de rearranjo:

Imaginem peças de Lego largadas ao chão. Elas tem diferentes tamanhos, formatos e cores. Uma pessoa vem e, arranjando as peças de uma determinada forma, ela constrói uma casa de Lego, com o problema de ter deixado algumas peças sobrando. Outra pessoa vem, desmonta a casa, e constrói outra maior, com formato diferente, disposição de cores diferentes, com a diferença de não ter deixado nenhuma peça de fora. A realidade sobre as duas casas construídas é:

1. São constituídas por meras peças de Lego.
2. Parte da constituição de uma é exatamente a mesma matéria prima que construiu a outra.
3. Não existe parâmetro justo para avaliar qual casa é melhor do que qual. Pois aos olhos do criador em questão, cada qual lhe serve para os fins que almeja.

E essa foi a minha Analogia no que diz respeito a sistemas de crença ou, ainda, sistemas mágicos. A realidade, tal como ela é, foi representada pelas peças de Lego que, dispostas aleatoriamente ou não, não são mais do que peças de Lego. Os diferentes sistemas apenas rearranjam as mesmas peças de modo a dar uma roupagem ou figura diferente para os mesmos conceitos base, as mesmas peças primordiais (o Lego), apenas arrumados com uma linguagem (arranjo) diferente.

Alguns sistemas utilizam menos peças do que realmente existem disponíveis para serem usadas. São sistemas incompletos ou limitantes, não abrangem a realidade de forma total. Outros sistemas costumam ainda alegar a composição de peças que não compõem parte da realidade, deixando lacunas em sua formação.

Qual é a forma mais apropriada para se enxergar a realidade? Muito provavelmente, nenhuma e todas simultaneamente. É aqui que se introduz a Magia do Chaos. Ela assume que a Magia funciona, sem necessariamente estabelecer qualquer explicação rigorosa sobre por que ela funciona. 

Nenhum parâmetro moral. Nenhuma concepção de certo ou errado. Nenhuma outro objetivo, senão a satisfação de sua própria Vontade. Essa é a Magia de todas as Magias. Nenhum Deus pode ser maior do que si próprio! Assuma o controle, abandone os livros de regras e comece a caminhar!

Como alcançar esse estado límpido e perfeitamente harmônico? Como desconstruir seus conceitos morais a ponto de se tornar Amoral (e não Imoral, simplesmente)? Sobre a prática da Alquimia Negra, que vou tratar em outros textos. Por enquanto, eu os saúdo de um canto remoto da escuridão. Boa Noite!

Ass: Gunter Brian

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