AMOR MORTAL MORTE IMORTAL

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Maria estava tonta. O que acontecera? O que teria bebido, comido? Resolveu pensar em outra coisa, talvez mais importante. Precisava ver como ele estava. 
Ontem, ela fora muito má com ele. Pegou um táxi e foi até o apartamento dele, no centro de Cubatão.
Quando estava saindo do táxi, uma bicicleta esbarrou nela e atravessou seu braço.
- Seu fdp! Olha pra onde tá indo, viado!
Ela se recompôs. Passou a mão no joelho e conferiu se era ali mesmo onde devia ter descido. Seguiu até o apartamento de Márcio, no primeiro andar.
Ela chegou e foi entrando. Estranhou. A porta estava encostada. Ele foi se levantando detrás do sofá.
- Você está bem? - ela pergunta.
- Acho que...sim, tou...E então? Gostou dos bombons?
- Gostei.
- Caseiros. Fiz especialmente pra você.
- Não sabia que você era prendado assim?
- Estou começando um curso de cozinha aí.
- Parabéns!
- Quer um vinho?
- Aceito. É de marca, né?
- Não, é de garrafão. Claro que é de marca.
Traz uma taça e serve o vinho a ela.
- Essa bebida é divina.
- Divinamente dionisíaca.
- Ela não existe de verdade. Criei por força mental. Olha.
A taça de vinho se transformou numa flor.
- Você tá em algum curso de magia também.
- Aumentou a força do meu pensamento, como em Ghost.
- Dá pra transformar em vinho de novo?
- Dá, mas não vou fazer.
- Você não quer é ser desmascarado.
- Adivinhou.
- Tá chato por quê?
- Você sabe.
- Tou pensando muito em você. Como que cê vai ficar sem mim.
- Tá preocupada comigo. Que legal.
- Não brinca.  Você sempre foi a parte mais dependente desta relação.
- Quer dizer que só eu levei a sério, né?
- Como eu te falei ontem. Aconteceu. Conheci outra pessoa.
- Sei.
- Desde que te contei ontem, me sinto mal. Não quero te perder, apesar de.....
- Amar a outro.
- Estou a ponto de desabar. Eu não entendo por que não deu certo. Só sei que perdi...o sentimento....a gente foi seguindo e...
- E você encontrou esse cara. Ou essa cara.
- É homem. Nunca fui chegada a sapata.
- Mas e se acontecesse?
- Nunca.
- Você não tá notando nada?
- Não.
- Deixa eu te explicar. Quando te dei os bombons, você guardou-os na bolsa e depois me falou que...tudo aquilo...fiquei arrasado e corri até o rio....Na verdade, te acompanho desde ontem.
- Me seguindo? Isso é doentio. Acho que não posso nem ser sua amiga. Tudo tá muito recente. Deixa eu ir embora...
Ele se coloca na frente dela.
- Calma. Preciso terminar. Hoje eu vi tudo que você fez desde que acordou...
- Como, se eu não notei nada....
- Agora, eu sou um espírito. Quando corri até o rio e me atirei, o desenlace entre a alma e o corpo foi mais rápido que eu pensei. Aí foi que eu pensei nos bombons que eu te dei. Me arrependi, mas era tarde. 
- Como?
- Quando você me confessou ontem, eu já sabia. Ele, o seu novo amor, veio me falar um dia antes de você me confessar. 
- O que tem os bombons?
- Depois que ele se foi, já tinha feito um plano. Saí para comprar uns bombons e fui até um xamã que conheço em busca de um veneno, que ele já tinha me mostrado, bastante usado por sua tribo. Eu só tinha em mente morrer junto com você. Comeríamos os bombons e...
- Espera, não pode ser. 
- Pode sim. Você, quando você pegou o táxi e se sentou, tirou dois bombons da bolsa e praticamente os engoliu, tamanha a sua fome. Para entrar em convulsão e morrer, foi quase que imediato. Um veneno muito poderoso, desconhecido dos toxicólogos. 
- Por isso que a...bicicleta atravessou...
- Seu braço. 
- Você me matou! Você chama isso de amor?
- É. Quer dizer: foi. O que me chateia é que ainda não encontraram meu corpo no rio...Mas é uma questão de tempo. Deve estar bastante verde e inchado, não acha?

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