Métodos de Tiragem de Tarô: Cruz Celta

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      Apresentada ao mundo em 1910 por Arthur Edward Waite em seu livro The pictorial key to the tarot, que a definiu como um método de leitura muito mais antigo praticado pelos celtas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, a Cruz Celta ganhou imensa popularidade, tornado-se o método mais usado por tarólogos do mundo todo. Esse sucesso tem muitas explicações e a mais comumente exaltada é a sua grande flexibilidade simbólica, permitindo que cada leitor adapte parte de seus significados originais tornando-a acessível ao psiquísmo de cada um. Muitos leitores a usam como jogo para perguntas e respostas, outros como um sistema de leitura inicial e abrangente para colher informações gerais sobre quem se consulta.

      Existe um forte conjunto simbólico inserido na forma original da Cruz Celta, também chamada de Cruz Céltica. O número dez que totaliza as cartas deitadas na mesa é muito poderoso, pois reúne em si o número fálico da face masculina de Deus, o 1, com o número que representa a vagina arquetípica da Deusa, o 0. Ele contém em si a chave que reúne o masculino e o feminino interiores num mesmo momento de interação absoluta, unindo o consciente e o inconsciente, o racional e o intuitivo, céu e terra, corpo e espírito, e assim por diante. O dez é considerado há muito um emblema da perfeição divina e a sua união com o homem. Na geometria sagrada seu símbolo é o círculo com um ponto no meio. Esse também é o símbolo astrológico do sol que representa a consciência mais elevada que viemos desenvolver na presente encarnação. O ponto também alude à humanidade e o círculo ao espaço que esta ocupa no planeta. Numa perspectiva microcósmica essa é a verdade para o homem comum que também cria um universo particular que o rodeia. A Cruz Celta revela os contextos envolvidos nesse mundo particular com absoluta inteireza.

      É interessante observar que o desenho da Cruz Celta, da perspectiva de quem lê as cartas, parece um dez invertido, com o zero na frente e o um atrás. Se dermos asas a nossa imaginação intuitiva veremos algo revelador, o leitor entra no mundo interior, intuitivo e receptivo da grande Deusa (o zero) para obter as respostas requeridas pelo cliente dentro do mundo prático e objetivo do grande Deus (o um). Já do ponto de vista de quem se consulta, o dez está na posição normal, com o um na frente seguido do zero. O consulente vem com suas questões práticas para a sessão (o mundo do grande Deus) e leva, além das suas respostas, muitos indícios de seu próprio mundo interior arquetípico (o mundo da grande Deusa), que viabilizam uma profunda transformação a partir da conscientização.

      Apresento agora a minha versão desse tradicional sistema de leitura, adaptado a uma abordagem mais interior e voltada para a autotransformação, que chamei de “Jogo do Espelho”. Aqui o jogo é apresentado como uma abertura inicial que visa revelar o mundo interior e exterior de quem se consulta e a interação deste com ambos. O significado de cada posição foi propositalmente deixado bem amplo para que o arcano e a orientação intuitiva de cada leitor definam qual aspecto de cada carta se aplica ao jogo em questão.

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     Proceda do seu modo usual. Eu embaralho o conjunto das setenta e oito cartas, com arcanos maiores e menores misturados e quando julgar pronto ofereço o maço para o cliente dividi-lo em dois ou três montes conforme desejar. Abro em leque e oriento para que sejam retiradas dez cartas que mantenho com as faces voltadas para baixo. Uma a uma vou arranjado-as conforme o esquema ao lado:

      O passo seguinte é ir virando cada uma das cartas e procedendo a interpretação:

      Posição 1: O mundo interior no momento, o tema mais importante que se está vivendo.

      Posição 2: A ação. Ações que se está tomando a partir desse momento e que podem estar de algum modo contribuindo ou obstruindo a sua fluência.

      Posição 3: Apelo do mundo interior, essa posição se refere ao inconsciente espiritual e revela a orientação interna à partir do momento que se está vivendo. Trata-se daquela voz silenciosa que fala no fundo da nossa alma e que podemos estar ignorando ou não, conforme os arcanos em torno.

      Posição 4: Desafios, obstáculos e bloqueios. Essa posição revela os aspectos desafiantes do consulente e os condicionamentos do inconsciente psicológico que se fazem notar com isso e que podem ter sua origem tanto na infância com em vidas passadas.

      Posição 5: O mundo consciente e material, essa posição revela qual a relação que se está tendo com o mundo dos negócios, carreira e finanças, bem como o modo como tudo isso é avaliado racionalmente.

      Posição 6: Os objetivos futuros e vida social. Aqui as intenções para o futuro imediato são mostradas assim como as relações sociais que se entabula com o objetivo de viabilizá-las. Relações com a família e as amizades também são representadas aqui.

      Posição 7: A personalidade. Que face está emergindo de dentro da psique de quem se consulta? Essa questão é respondida nesse ponto, e revela posturas conscientes.

      Posição 8: Relacionamentos íntimos e a expressão do afeto. A situação e a qualidade da vida amorosa e sexual.

      Posição 9: O aprendizado. Qual é a lição mais importante que o momento oferece? O que se pode apreender dessa vivência? A posição nove responde isso.

      Posição 10: Síntese. Essa posição revela o pano de fundo da situação, é o clima e o “para quê ” da situação toda, sua finalidade dentro de um sentido maior, existencial.

      Um detalhe importante é o de comparar as posições 3 e 7, pois nossas posturas conscientes podem interferir naquilo que nossa alma solicita. Faça o mesmo com as posições 6 e 8 já que as relações sociais e familiares e nossos planos futuros influenciam nossas relações mais íntimas. Por fim, compare as posições 5 e 9 por não ser incomum que nosso aprendizados mais profundos na vida se choquem muitas vezes com nosso interesses materiais e ambições pessoais. Não deixe de notar também que as posições 3 e 4 são a parte mais profunda (o inconsciente) e as posições 5 e 6 são a porção mais exposta (o consciente). As duas primeiras são o domínio da alma e as últimas são o terreno do ego.

Fonte: Clube do Tarô

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