...Meia-noite?
Tava zonzo aquela noite, sem noção.
Folheava um pornô raro, cheio de poeira fininha.
Meu olhar arruinado debulhava sobre a mesa.
Folheava um pornô raro, cheio de poeira fininha.
Meu olhar arruinado debulhava sobre a mesa.
“Ouço o
som do interfone!” Estiquei-me. Dor na espinha.
“Quem
toca meu interfone, causando esta dor na espinha?
...Deve ser vento. Ou gentinha.”
...Deve ser vento. Ou gentinha.”
Foi no final
de setembro. Meu aniversário, eu lembro.
Não paguei a luz. Velavam sombras no chão da cozinha.
Ansiava logo o dia. Esta noite me soprava
Direto – desmiolava – o nome de Amelinha,
Que eu chamava em orgias na memória. - Amelinha !!!
Nas mãos orgasmos retinha.
Não paguei a luz. Velavam sombras no chão da cozinha.
Ansiava logo o dia. Esta noite me soprava
Direto – desmiolava – o nome de Amelinha,
Que eu chamava em orgias na memória. - Amelinha !!!
Nas mãos orgasmos retinha.
A cortina
na vidraça balançava, piorando
Minha
insana arritmia, que surdez dava em galinha.
Ouço de novo o interfone como fosse o fim do mundo.
“É uma cliente atrasada??? De dar ou recatadinha ???
Que gosta de poema à noite ??? Pode ser uma vizinha
Solteira, boa e sozinha...”
Ouço de novo o interfone como fosse o fim do mundo.
“É uma cliente atrasada??? De dar ou recatadinha ???
Que gosta de poema à noite ??? Pode ser uma vizinha
Solteira, boa e sozinha...”
Ponho a
chave, tagarela, na fechadura que a entorta.
“ 'Sinhó'...quer dizer, Menina, não repare a demorinha.
Estava morto de sono, e o interfone está tão fraco.
Extenuado, tonto, tenso, a lerdeza me acarinha”.
Eis que escancaro a porta: toda a rua em breu, todinha !
A noite em pelo, nuazinha !
“ 'Sinhó'...quer dizer, Menina, não repare a demorinha.
Estava morto de sono, e o interfone está tão fraco.
Extenuado, tonto, tenso, a lerdeza me acarinha”.
Eis que escancaro a porta: toda a rua em breu, todinha !
A noite em pelo, nuazinha !
E
tremeu-me o coração em descompasso inflamado:
“ Mas que breu tão pavoroso, que mais ao nada sublinha.
De espantar, causando artrose até em perninhas lindas. ”
Grito, choroso, bem alto, o nome de Amelinha.
Adormecido, o eco ao longe adere: - Amelinha !
O desespero me aninha.
“ Mas que breu tão pavoroso, que mais ao nada sublinha.
De espantar, causando artrose até em perninhas lindas. ”
Grito, choroso, bem alto, o nome de Amelinha.
Adormecido, o eco ao longe adere: - Amelinha !
O desespero me aninha.
Volto e
entro no meu quarto, e ainda em prantos, da vidraça
Ouço um som mais forte e caio, em cagaço, nas glicínias.
“Terei de ver de pertinho se há vidro em solto encaixe.
Passar tempo nisto é saco, é foda e das malfeitinhas.
Pode ser o vento a causa destas estremecidinhas.
Ouço um som mais forte e caio, em cagaço, nas glicínias.
“Terei de ver de pertinho se há vidro em solto encaixe.
Passar tempo nisto é saco, é foda e das malfeitinhas.
Pode ser o vento a causa destas estremecidinhas.
E é sinal
que vem chuvinha.”
Abro a
vidraça e bem presto um fedor entra, esvoaça.
Faço rastilho na cueca. Voam diversas peninhas.
Inhaca de milhões de anos... “- Caralho, é a Rasga-Mortalha !”
Pousa bem por sobre a porta, num busto do poetinha.
Tapa a testa do poeta, numa pose de putinha.
Teeeemor causou-me? Brrrrr...naadiiinha...
Faço rastilho na cueca. Voam diversas peninhas.
Inhaca de milhões de anos... “- Caralho, é a Rasga-Mortalha !”
Pousa bem por sobre a porta, num busto do poetinha.
Tapa a testa do poeta, numa pose de putinha.
Teeeemor causou-me? Brrrrr...naadiiinha...
Falei à
Rasga-Mortalha com simulado carinho:
“Embora você precise ser mais suave, corujinha,
E ter mais educação ao entrar no oco dos lares,
Me atrevo a interrogar-lhe, ó ave de ignomínia:
Que nome tem no Inferno? (Por aqui é Suindarinha).”
“- Nunca Mais!” – disse a tolinha.
“Embora você precise ser mais suave, corujinha,
E ter mais educação ao entrar no oco dos lares,
Me atrevo a interrogar-lhe, ó ave de ignomínia:
Que nome tem no Inferno? (Por aqui é Suindarinha).”
“- Nunca Mais!” – disse a tolinha.
Quedei-me,
boquiaberto, de ouvi-la falar de perto.
Se seu nome é Nunca Mais eu me chamo Zé Nunquinha...
Escolheu a minha porta, torta de cupim inflado...
“Vejo marcas no seu bico da maldição de Lavínia,
Moça sem mãos e sem língua, à qual Ovídio se avinha..
Nunca...ic mais bebo...ic...nadinha.”
Se seu nome é Nunca Mais eu me chamo Zé Nunquinha...
Escolheu a minha porta, torta de cupim inflado...
“Vejo marcas no seu bico da maldição de Lavínia,
Moça sem mãos e sem língua, à qual Ovídio se avinha..
Nunca...ic mais bebo...ic...nadinha.”
Encarei a
ex-Suindara, fiz cara de dó e nada.
Deu
àquele Nunca Mais toda a força que a mantinha.
Depois
ficou lá, calada, piscando seu cu na cauda.
Disse a
ela, em meu pensar: “sei que dessa porta minha
Sairá,
qual meus amigos, sem maconha e sem farinha.”
“ - Nunca
Mais!” – disse a saidinha."
“Onde
qu’aprendeu tal frase? Foi pelo pai amestrada?
Deve
tê-la ensinado muito agouro em dobradinha.
Não só de rasgar mortalha seu agouro se sustenta?
Concedesse o pai a ela a atração de uma Zínia !
Sua frase de sepulcro não é arte comezinha...
“ - Nunca Mais!” – diz. E definham.
Não só de rasgar mortalha seu agouro se sustenta?
Concedesse o pai a ela a atração de uma Zínia !
Sua frase de sepulcro não é arte comezinha...
“ - Nunca Mais!” – diz. E definham.
Encostei
- me na poltrona de corino quebradiço,
E pensei sobre a razão do agouro dessa mesquinha,
Que fazia uivar caveiras de tempos escurecidos.
Não me rasgou a mortalha, quando entrou na janelinha,
Mas me cortou com a frase sem sequer dar talhadinha.
“Nunca mais!” - disse. E nadinha.
E pensei sobre a razão do agouro dessa mesquinha,
Que fazia uivar caveiras de tempos escurecidos.
Não me rasgou a mortalha, quando entrou na janelinha,
Mas me cortou com a frase sem sequer dar talhadinha.
“Nunca mais!” - disse. E nadinha.
Revi o
drama de Suindara quando era uma de nós:
Amava o filho de um Conde, mas não amava sozinha.
Insana e sonsa, a Dessinha, segunda esposa do Conde
Mandou matar Suindara, de Eliel bela criancinha.
Eliel, famoso bruxo que adorava sua Darinha...
Como amava sua filhinha!
Amava o filho de um Conde, mas não amava sozinha.
Insana e sonsa, a Dessinha, segunda esposa do Conde
Mandou matar Suindara, de Eliel bela criancinha.
Eliel, famoso bruxo que adorava sua Darinha...
Como amava sua filhinha!
Com
estátua de coruja enfeitaram a sua cripta
Pois além de carpideira do povo era “fessorinha”.
Eliel fez um feitiço, descobrindo a assassina.
E à filha tornou coruja, com fúria qual das Eríneas,
Deu a vida da Condessa à furiosa corujinha...
E foi-se ao nada a Dessinha.
Pois além de carpideira do povo era “fessorinha”.
Eliel fez um feitiço, descobrindo a assassina.
E à filha tornou coruja, com fúria qual das Eríneas,
Deu a vida da Condessa à furiosa corujinha...
E foi-se ao nada a Dessinha.
Depois
disso, quanta morte anunciou neste mundão.
"Terá cansado de voar por toda a parte a carpinha?
Por qual razão veio aqui com seu ar amortalhado?
Será só para lembrar o que fiz com Amelinha?
Voltarei a ver sua pele em pureza molhadinha?
“ - Nunca mais!” – disse a talzinha.
"Terá cansado de voar por toda a parte a carpinha?
Por qual razão veio aqui com seu ar amortalhado?
Será só para lembrar o que fiz com Amelinha?
Voltarei a ver sua pele em pureza molhadinha?
“ - Nunca mais!” – disse a talzinha.
Senti em
dantesca treva o premir de ossudo abraço.
A casa foi s’encolhendo, sem terror de mentirinha,
A casa foi s’encolhendo, sem terror de mentirinha,
Então,
bradei: “Rasgadinha, me lança logo no inferno !!!
Bendita a hora em que fui à cidade de Amelinha;
Esquecerei o meu corpo dentro de sua joinha ?”
“-Nunca mais!” – disse a fuinha.
Bendita a hora em que fui à cidade de Amelinha;
Esquecerei o meu corpo dentro de sua joinha ?”
“-Nunca mais!” – disse a fuinha.
“Ó infame
e vã penosa, haverá um lenitivo
Que possa me ajudar? Responda a mim, podrezinha!
Rompi a luz de Amélia, zoião doido de chacrinha !
Seu pai romperá a minha! Terei paz nesta casinha,
Onde matei na poltrona sua virgindadezinha?”
“– Nunca Mais!” – disse a louquinha.
Que possa me ajudar? Responda a mim, podrezinha!
Rompi a luz de Amélia, zoião doido de chacrinha !
Seu pai romperá a minha! Terei paz nesta casinha,
Onde matei na poltrona sua virgindadezinha?”
“– Nunca Mais!” – disse a louquinha.
“Poderei
desenterrar nossa brancura de antes,
Devolver aos nossos corpos a ternura que detinham,
Pôr no Instagram, Twitter, Face, que simulam ser vidinhas,
E depois impulsionar a candura em risadinhas
Pela Praça onde brincamos de amassar grama verdinha??? ”
“- Nunca mais!” – disse a cuzinha.
Devolver aos nossos corpos a ternura que detinham,
Pôr no Instagram, Twitter, Face, que simulam ser vidinhas,
E depois impulsionar a candura em risadinhas
Pela Praça onde brincamos de amassar grama verdinha??? ”
“- Nunca mais!” – disse a cuzinha.
“Parta,
agora, peste, diaba, deixe-me quieto no quarto;
Tava bem feliz jogado neste, sem suas garrinhas
Que afundaram na minhalma, fio de arremedo que encorpo.
Tire as garras desta vida, que logo o pai de Amelinha
Vindo lá do interior cortará sem ter dozinha !”
"- Nunca Mais!”- disse a tranquinha.
Tava bem feliz jogado neste, sem suas garrinhas
Que afundaram na minhalma, fio de arremedo que encorpo.
Tire as garras desta vida, que logo o pai de Amelinha
Vindo lá do interior cortará sem ter dozinha !”
"- Nunca Mais!”- disse a tranquinha.
A ave não
fez mais gesto. Nos seus olhos mais malícia.
Meus temores eram nada na sua vida sanguínea.
Outra vez o interfone: é o pai dela a tocar?
Meus temores eram nada na sua vida sanguínea.
Outra vez o interfone: é o pai dela a tocar?
"Pode voltar o cabaço à carne que o
detinha?”
“Nem à sua, nem à minha” – puxa meu pau Amelinha
“Nem à sua, nem à minha” – puxa meu pau Amelinha
Pra baixo
da cobertinha.
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