Que as mãos das musas gregas
Me guiem por esta história,
Dando clareza e auxílio
Para ao fim ter a vitória
Sobre um mito já escrito
Em coletiva memória.
Vou contar este enredo
De encanto e maravilha,
Envolvendo moça bela,
Jóia rara de família,
Rosabela - o nome dela,
Exemplo de boa filha.
Dando clareza e auxílio
Para ao fim ter a vitória
Sobre um mito já escrito
Em coletiva memória.
Vou contar este enredo
De encanto e maravilha,
Envolvendo moça bela,
Jóia rara de família,
Rosabela - o nome dela,
Exemplo de boa filha.
Eram seus
pais gente simples,
Viviam da
plantação
Farta que no
solo dava
Ou da parca
criação
De bode e
galinhas largas:
Sempre havia
refeição.
Residia ali
com eles
Tonha, avó
de Rosabela,
Mãe de sua
mãe querida;
Ninguém era
como ela,
Naquela
sabedoria
Que o além
nos revela.
Desde os
tempos do namoro,
Seu pai não
rendia afeto
À sábia avó
de Belinha,
Por ela ter
dado o veto
Ao seu namoro
e contato
Bem debaixo
de seu teto.
Moravam num
velho sítio
Em acomodado
lar,
Herdado de
antepassados
Chegados de
outro lugar,
Que tinha se
ressecado,
Indo o diabo
lá morar.
Era essa
arcaica terra
Mais verde
há tempo atrás,
Até os anjos
desciam
Com seus
trajes divinais,
Enquanto nas
verdes moitas
Faunos davam
puns mortais.
Como um
pedaço do Éden,
Lá caatinga
não tinha,
Mas caju,
cajá, mangaba,
Jaca, manga,
era farinha,
Té macaxeira
melada
Do pé nascia
prontinha.
Reunia
aquela herdade
Da Bahia ao
Maranhão
Plantas em
diversidade,
De frutos
grande porção,
Animais de
toda idade,
Tipo, grupo
e condição.
Dava muito
araçá:
Tinha o
vermelho, o do-mato,
De-cora,
pêra,da-praia,
Piranga,
campo, e era fato
Que com cada
tucumã
Brotava de
coalho um prato.
De manhã o
Jerimum
Com cuscuz e
com buchada
Fazia Deus
disfarçado
Comer um
pouco de cada,
Terminando o
desjejum
Com moqueca
temperada.
A Iara, ali,
pelada,
Dançava com
curupiras,
E as lendas
de terrores
Ali não eram
mentiras,
Eram os
trajes das musas
De entrecascas
de embira.
Foi essa
terra aprazível
Que aos
olhos apresilha
O palco de
uma estória
Onde a
tragédia fervilha,
Envolvendo
uma flor bela,
Noiva eterna
de quadrilha.
Rosabela
sempre foi
Por todos
admirada,
Quanto mais
ela crescia,
Mais bela
era e educada,
Tão bela
quanto Helena,
A rainha
raptada.
Os rapazes
da cidade
Não se
pejavam de ir
À casa de
Rosabela,
Para sua mão
pedir,
Mas o
coração da bela
Insistia em
resistir.
O motivo já
sabia
O seu pai,
bem ressentido
Com a teima
de sua filha
Em negar os
bons partidos;
Sabia bem
que era Quincas
Que ela
ansiava pra marido.
Rosabela
amava Quincas
Desde sua
adolescência,
Mas o pai de
Rosabela
Achava
aquilo indecência
Por Quincas
ter sangue índio
E morena
aparência.
Como
“Quincas, o Leão”
O povo lhe
batizava,
Devido ter
um domínio
Por sobre as
feras mais bravas,
Nem a vida o
punha em xeque,
Nem a morte
o assombrava.
Em certa
noite perdida,
Do céu um’ ave desceu,
Chamada de Carimbamba
Feiticeiro cananeu,
Castigado pelos Magos,
Citados por São Mateus.
Do céu um’ ave desceu,
Chamada de Carimbamba
Feiticeiro cananeu,
Castigado pelos Magos,
Citados por São Mateus.
O tempo foi
decorrendo
E a ave a se
acostumar,
Espiando às
famílias
Que chegavam
ao lugar,
Em
particular, as moças
Florescendo
para amar.
Durante os trezentos anos
Durante os trezentos anos
Reinados
naquele espaço,
Um milhão de
moças tinham
Sumido sem
deixar traço;
Carimbamba
se fazia
A assombração
do pedaço.
Desde que se
fixou,
Fez sua fama
vingar,
Cada moça
que atraía
Ele fazia
afogar
Em lagoa que
tecia
No tear
virgem de um mar.
Quando mirou
Rosabela,
Estremeceu-lhe a lagoa
Desejou ter-lhe a beleza
E sua graça de pessoa,
Inflando o leque das asas
Como pavão por pavoa.
Estremeceu-lhe a lagoa
Desejou ter-lhe a beleza
E sua graça de pessoa,
Inflando o leque das asas
Como pavão por pavoa.
Triste,
então, ele gritou,
Pois ficou
réu do desejo,
Sem querer,
se apaixonou,
Ficou a
sonhar com beijos
Da bela flor
que adorou
Ao vê-la
naquele ensejo.
Era sempre meia-noite
Quando a ave aparecia,
Vinha junto da lagoa
Que na sombra ela tecia
Para apanhar Rosabela
Com idéia nada pia.
“Eu vou amanhã, eu vou..”
Carimbamba assim cantava,
Era assim que atraía
As moças que se jogavam
Na lagoa que afogou
Mais de mil moças escravas.
Certa noite, a lua cheia
Às feras deixava em cio,
Rosabela levitava
Do luar aos amavios,
Seus pais, muito preocupados,
Oravam, sem dar um pio.
Avançando bem a noite,
A agourenta cantou;
Rosabela, incontida,
Ao feitiço se entregou,
Mas foi só quando dormiu
Que tudo descontrolou.
Era sempre meia-noite
Quando a ave aparecia,
Vinha junto da lagoa
Que na sombra ela tecia
Para apanhar Rosabela
Com idéia nada pia.
“Eu vou amanhã, eu vou..”
Carimbamba assim cantava,
Era assim que atraía
As moças que se jogavam
Na lagoa que afogou
Mais de mil moças escravas.
Certa noite, a lua cheia
Às feras deixava em cio,
Rosabela levitava
Do luar aos amavios,
Seus pais, muito preocupados,
Oravam, sem dar um pio.
Avançando bem a noite,
A agourenta cantou;
Rosabela, incontida,
Ao feitiço se entregou,
Mas foi só quando dormiu
Que tudo descontrolou.
Sua vovó
pressentiu
O feitiço da
ave ruim
Que atraiu
muitas mulheres
De sua
família assim,
Por isso,
seus pesadelos
Eram
tormentos sem fim.
Ardente sonambulismo
Rosabela acometeu,
Dormindo, seguiu o canto,
Abriu a porta, se deu
À Carimbamba, essa peste
Que em gaiola lhe prendeu.
Ardente sonambulismo
Rosabela acometeu,
Dormindo, seguiu o canto,
Abriu a porta, se deu
À Carimbamba, essa peste
Que em gaiola lhe prendeu.
Sorte que
Quincas passeava
Por não
conseguir dormir,
Viu o feio
Carimbamba
E sua cara
de tapir,
Tinha pé de
pato e asas,
Que gostava
de exibir.
O rapaz há
pouco tempo
Lutara com
Boitatá,
Derrotara a
um Papa-Figo
Com o cabo
de uma pá,
E de um calango
grande
Fez pirão
com mungunzá.
De lendas
não tinha medo
Se causavam
dor e morte,
Seu avô era
um pajé
Que fizera
reza forte
A que ao Mal
não fraquejasse
E Tupã lhe
desse norte.
Mas à lenda
e sua lagoa
Não era
fácil vencer,
Seu avô já
lhe dissera
Que era do
anoitecer
A força de
Carimbamba,
E a razão
dele viver.
Traçou um
esperto plano,
Depois de
muito pensar:
Se lhe dava
força a noite,
Para com ele
lutar
Só sob uma
noite falsa
De um
eclipse solar.
Esperou com
paciência
E foi à casa
dos pais
Da amada e
consolou-os,
Sendo o
ombro para os ais
Daquela boa
família
Que perdera
sua paz.
O pai dela,
constrangido,
Pediu a
Quincas perdão
Por tudo que
fez com ele,
De ofensa e
rejeição,
Ele aceitou
com clemência
Por ser bom
seu coração.
Prometeu ao
pai da moça,
À avó e à
mãe dela,
Lutar com
toda destreza
Para soltar
Rosabela
Das garras
do Carimbamba,
Assombração
requenguela.
Quando
chegasse o eclipse,
Esperado com
paciência,
Preparado o
arco e flecha,
Usaria toda
a ciência
Da tradição
de seus pais
Com certeira
consciência.
Foi pra casa
descansar,
Seria dentro
de um mês
O eclipse
solar,
Ansiava pela
vez
De fazer o
mau chorar
Pelas vidas
que desfez.
O tempo
passou depressa,
Planejou a
sua ação
E
escondeu-se na mata
Aguçando a
atenção,
Quando a lua
intrometesse,
Flecharia o
centro então.
O fenômeno
se fez:
Entre a
Terra e o Sol quente
A lua ficou
de vez,
Quando a
flecha do valente
Fez uma
curva e prendeu
Aos três
astros excelentes.
Quincas
então provocou:
- Desça daí,
ave frouxa,
Quero dar em
tua cara,
Surrar-te
como a um trouxa,
Rasgar a teu
pé de pato
E comer a
tua coxa!
- Que
atrevimento tem!
Não devia
ter falado,
Agora
matar-lhe devo,
A isso sou
obrigado,
Vá mostrando
o seu pescoço,
Porque
serei seu machado!
Foi
Carimbamba pra cima
De Quincas
com manha insossa,
Mas pulou
este sem medo
Pois seu
amor era a moça
E à terra,
ao sol, à lua,
Parara com
flecha e força.
Carimbamba
estranhou
Estar
cheinho de dores,
Não estava
como antes
Quando não
tinha valores;
Com pena de
matar Quincas?
De onde
esses pudores?
Outro
mergulho pra Quincas
Não poder se
defender,
Mas o
valente guerreiro
Lutava para
valer,
Quando a ave
mergulhou
Deu-lhe um
soco de doer.
Carimbamba,
em ricochete
Numa rocha
explodiu,
Indo pra
cima de Quincas;
Sem querer,
a guarda abriu,
Deu-lhe um
chute o valente
Que o outro
caiu no rio.
Tinha de
vencer o mal
Em menos de
alguns segundos,
Pois a
flecha derretia
E logo
estaria o mundo
Trilhando o
normal caminho,
Os limpos
“versus” imundos.
Aproveitando
o momento
De
Carimbamba pular,
Deu-lhe um
caratê no ventre,
Causando dor
de lascar
Na ave de
mau agouro,
Que faleceu
sem piscar.
Desapareceu
a ave
Com sua
lagoa insana,
As
assombrações restantes
Tinham face
mais humana,
As lendas
que alimentavam
Eram doces
de banana.
Rosabela
ficou livre,
Marcaram o
casamento,
Quincas
gritou de feliz,
Pairou no ar
com intento:
Rezou pros
índios avós
E refez o
seu momento.
A família
recobrou
A alegria
gloriosa,
Durante um
mês festejou
Pela Rosa
dadivosa,
Flor que
deitava esperança
Àquela terra
formosa.
Por ora paro
o ofício
Desta história espalhar,
E o que disse a vocês
Desta história espalhar,
E o que disse a vocês
Para outros
vou falar,
Se cheguei até aqui
Se cheguei até aqui
Mais longe
quero chegar.
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