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O KARMA - Implicações e Comentários

Muito bem, começando aqui, faz tempo que não escrevo nesse blog, então surge a inspiração através de uma conversa no facebook. Vamos lá então, o que é o Karma?

Primeiramente devemos estar atentos a etimologia da palavra, que quer dizer pura e simplesmente "trabalho". Mas que trabalho é esse, vamos prosseguir então. No contexto magicko, ocultista, sobe a questão.

Se você faz um trabalho magicko suficientemente forte e eficiente para que ele desenvolva um resultado, é lógico que isso vai ter um efeito, mais cedo ou mais tarde, dependendo do seu poder e habilidade.

A questão fundamental, é que trabalho você quer fazer e qual o efeito que quer ter. Também é importante salientar qual a egrégora (entidades e pessoas) na qual você vai atuar.

Causa e Efeito, eis a lei inexorável em nossa existência. Tudo que foi feito um dia terá efeito, em maior ou menor grau. Aqui também devemos lembrar a Teoria do Caos, na qual os resultado não são explicitamente determinados.

Quanto maiores e mais intensos os fatores envolvidos em cada questão, mais complexos serão as possibilidades de resultados.

Então se nesse momento em sua vida você esta pesquisando sobre esse assunto faça uma recapitulação de sua vida e reveja tudo que você fez, o que te trouxe até aqui. Medite e compreenda o que te fez o que você é hoje.

Assim, através de sua jornada que você possa encontrar uma direção, um caminho que seja o melhor para o seu futuro.

Bem deixo vocês com um simbolo que ajudou a tantos outros no passado a orientar: "Vegvisir (veja o caminho) é a “bússola” viking. Uma runa de proteção, derivada de Ægishjálmr – o elmo de Awe – o símbolo de proteção mais popular da era viking.

Vegvisir tem o poder de proteger as pessoas que viajam por águas desconhecidas, e deve ser desenhado com seu próprio sangue em um pedaço de couro. Antes de sair para as jornadas, deve ser pressionado na testa, entre os olhos, para que o viajante não se perca no seu caminho.
Folclore e superstições à parte, me identifico muito com esse símbolo. Primeiro porque sou  um viajante de águas desconhecidas, segundo porque sou um admirador da cultura viking."

Medite nesse simbolo e vibre seu nome:

 

SATANISMO - Satanistas São Realmente Livres?


Todos que façam pesquisas, por mais superficiais que sejam, a respeito de um satanismo que não seja puramente a perversão dos dogmas e rituais cristãos, se depararão com esta máxima que, ao menos desde a fundação da Church of Satan nos idos 1960, tem marcado a filosofia satânica: Satã é o arquétipo da liberdade. Baseado nisso, é comum vermos muitos dizerem que satanistas são seres livres, em contraposição a um rebanho dominado pela alienação religiosa, cultural e política. Dizendo que satanistas são livres, afirmam também, cheios de orgulho, que são seres livres e que regozijam-se de tal liberdade estando em comunhão com o Opositor. Pensando, contudo, a condição humana, nossa existência, e a constituição de nossa consciência, sinto-me obrigado a questionar: até que ponto realmente é possível ao ser humano ser livre? Inspirado nisso, venho a escrever esta pequena reflexão. Não tenho interesse em provar nada a ninguém ou mostrar qualquer “caminho certo”, mas acredito que este artigo possa nortear as problematizações de alguns adeptos, e por isso o desenvolvo.

Vários foram os teóricos que, ao longo da história, tentaram pensar o ser humano, sua essência e a condição dos mesmos enquanto seres humanos, inseridos em uma sociedade, desenvolvendo pontos de vistas diferentes sobre o mesmo. Pensadores como Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, pioneiros na “teoria geral do Estado”, traçam importantes reflexões em suas respectivas obras “Leviatã” e “Do Contrato Social”. Ambos defendem, a grosso modo, que o homem é provido de uma natureza eminentemente voltada à destruição, uma natureza em essência “má”, egoísta, individualista, contraposta à vida em sociedade. O Estado, neste sentido, erguer-se-ia como uma instituição antinatural e “sobrehumana”, que deteria o monopólio da violência impedindo que os seres humanos “predassem” uns aos outros, ainda que pelo uso de leis coercitivas visando o “bem geral”.

Posteriormente, Karl Marx, tecendo uma forte crítica aos pensadores contratualistas, positivistas e iluministas clássicos, negaria a existência de uma “natureza humana” que condicionasse suas noções de moral e ética. Adam Schaff, em sua obra “História e Verdade”, aborda vários pontos do pensamento marxista sobre o indivíduo e a formação de sua consciência. Expondo a chamada “teoria modificada do reflexo”, o mesmo parte do princípio que o ser humano é eminentemente social, e sua consciência, não sendo inata ou fruto de qualquer “natureza”, é constituída de acordo com o meio social em que o sujeito vive. Sua forma de enxergar a realidade à sua volta, neste sentido, seria fruto de uma série de condicionamentos sociais provenientes da educação que recebera, suas noções de ética, moral, cultura, espiritualidade, ciência, entre outros aspectos. Por isso é comum muitos marxistas dizerem que “o homem é fruto de seu tempo”, pois as várias formações que o mesmo recebera é que constituíram, em uma síntese dialética, sua individualidade. 

Nietzsche, contemporâneo de Marx, contrapõe-se também, em seu pensamento sobre o sujeito, a toda uma gama de teorias provenientes da tradição iluminista, sendo ao mesmo tempo crítico dos contratualistas, positivistas, marxistas, entre outros. Este, constantemente assombrado pelo impasse gerado pelo niilismo schopenhaueriano, busca na “Vontade de Potência”, na vontade de poder, a única forma de elevar o ser humano para além do vazio decadente de seu tempo. Segundo o mesmo, a potência era o que caracterizava a condição humana, tendo “até mesmo um servo o desejo de tornar-se senhor”. A potência era, deste modo, algo eminentemente ligado à condição humana, diferentemente à “Vontade”, que era algo inato e espiritual. A sede de poder humana, tomando uma conotação diferente dentro de cada realidade analisada, pode ser vista em guerras entre países, na defesa de interesses inerentes a grupos, classes e estamentos sociais (sejam constituídos por dominantes ou subalternos), bem como na defesa de interesses individuais também. 

De um modo geral, podemos dizer que todas estas teorias, com suas limitações, possuem coerência e nos possibilitam pensar a condição humana e a questão da liberdade. Embora eu, em particular, não concorde com a ideia de que o ser humano seja constituído de traços “morais” inatos (egoísmo e individualismo, por exemplo), como pensavam Hobbes e Rousseau, defendo a ideia que, realmente, o Estado é aquele que assegura o monopólio da violência, ainda que seja apropriado por uma dada classe hegemônica e que, em situações extremas, esteja pronto a lhe defender. De igual forma, também é inteligente afirmar que a consciência humana é constituída por traços sociais advindos de uma dada formação social, como dizia Marx, e que a potência é algo inerente à condição humana, como dizia Nietzsche. Se formos ver, grosso modo, a própria “força”, que muitos defendem com unhas e dentes, não existe senão em dinamismo (a própria física é categórica em afirmar que, em inércia, não há força). Deste modo, o poder é algo que só se materializa no dinamismo das relações humanas, em um processo de interação social.

Embora muitos satanistas defendam a individualidade (e o individualismo, que é bem diferente) à qualquer preço e enquanto lei máxima, temos que reconhecer que a vida social é necessária para a reprodução e conservação da espécie humana. Desde os primórdios era necessária ao ser humano a vida em agrupamentos simples, como clãs e tribos, ainda que nômades. Naquele momento, não tendo o homem praticamente nenhum domínio sobre a natureza, este se encontrava vulnerável como qualquer outra espécie animal. Isolamento, neste caso, era morte certa, pois a não ser em grupo, não se poderia vencer a hostilidade que o meio natural silvestre abrigava. Posteriormente, com a formação das primeiras sociedades sedentarizadas, é que o ser humano, desenvolvendo um maior domínio sobre a natureza a partir da tecnologia em desenvolvimento, pode constituir de forma mais concreta sua individualidade. Com a formação dessas comunidades, e vencidos alguns percalços outrora existentes no meio natural, a sociedade se complexificou, formando classes, categorias, estamentos, hierarquizando-se em funções e constituindo lideranças estáveis. Ou seja, até mesmo a individualidade é algo que só se torna possível na vida social!

Qualquer homem em vida social sabe que não é completamente livre e, muito embora tente lutar contra isso, não pode viver isolado do convívio social. Mesmo porque, olhando à nossa volta, vemos o quanto o meio social é importante para a formação da nossa personalidade, do nosso ego. Mesmo sabendo que o ego é apenas uma máscara, sabemos que o mesmo não é possível de ser vencido em vida, devendo deste modo, ser sua “potência” canalizada em prol do atingir de nossa “vontade”. E também, mesmo que não gostemos de nosso meio social, e digamos que as pessoas à nossa volta são fúteis e medíocres, os argumentos, teorias e expressões artísticas que nos utilizamos para combater esta cultura social são conhecidos a partir de nossa experiência social. Por isso temos, até mesmo para lutar contra dogmas religiosos e sociais incrustrados, limitações, tendo em vista que só podemos lutar com base na cultura que tomamos conhecimento e que já foi produzida. Ainda, mesmo que produzamos algo novo, este novo será baseado naquilo que já foi produzido. Um bom exemplo disto é a própria Church of Satan. Anton Lavey, quando escreveu sua Satanic Bible, baseou-se em todo um legado deixado por importantes pensadores, como Nietzsche, Maquiavel, Jung, Freud, entre outros. Ou seja, ele só pode criticar o cristianismo tomando como base um pensamento conhecido em seu tempo. Tivesse escrito o livro em outro momento histórico, com certeza o teor de sua crítica e a formação do que chamava de satanismo seria muito diferente. Baseando-se nisto é que Marx, em seu “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, afirmará que “os homens fazem sua história, mas não a fazem como querem, mas sim sob condições determinadas”.

Deste modo, podemos chegar à conclusão de que o ser humano não é, em última instância, um ser completamente “livre”. Ser humano é estar condicionado por limitações culturais e por regras estabelecidas em seu meio social, mas que são necessárias à preservação do ser humano enquanto espécie. Ainda que cheguemos à um estágio mais evoluído, ainda que despertemos nosso potencial divino, ainda estaremos, enquanto seres humanos vivos e encarnados, sujeitos à limitações, ainda que contra a nossa vontade. Limitações provenientes tanto de nossa formação, de nossas necessidades sociais e até mesmo das restrições de nosso corpo físico. Podemos ser “deuses”, mas qualquer medida política ou restrição econômica influenciará nossas vidas, seja positiva ou negativamente. Sendo deuses, temos a consciência de que nosso ego será transbordado por nossas novas capacidades, mas ainda assim sabemos que a única forma de libertação completa está na transcendência da matéria (e creio que nem para todos será a libertação). Sendo assim, fecho esta reflexão com uma brilhante citação de Eduardo Pinheiro em seu “Livro dos Fnords”:

“5. Abandonar quaisquer sistemas de crenças, embora desejável, é impossível. Existem programas compulsórios tanto biológicos quanto ambientais. O livre arbítrio é paradoxal. Quem abandona quaisquer referências "externas" se torna um psicótico, e está condenado a não interagir. O poder verdadeiro vem da liberdade relativa que o indivíduo obtém dentro de seu ambiente (semântico, social, etc.).”

Hail Satan! 

SATANISMO: O Desvelar da Gnosis pelo Caminho do Abismo

 Uma boa forma de iniciar qualquer divagação a respeito dos traços constituintes da filosofia religiosa satânica é questionar: em que o satanismo se diferencia de outros caminhos espirituais? Para responder a isto, será necessário primeiramente pensarmos “quem” ou “o que” é Satã. Este termo foi criado pelos hebreus, significando “opositor” ou “adversário”, para designar aquele que, após o contato deste povo com o zoroastrismo, viria a ser o opositor de IHVH, o deus dos judeus. Contudo, estima-se que tal termo seja uma corruptela de nomes bem mais antigos, alguns dizem que de “Shaitan”, o anjo-pavão adorado pelos yezides, outros dizem que de “Seth”, o deus da noite, do Caos e dos desertos que teria  assassinado Osiris, deus egípcio da fertilidade. Com isso, podemos partir do princípio que, seja lá “o que” ou “quem” for Satã, o mesmo tem sua existência independente do maniqueísmo dos judeus e anterior ao advento do cristianismo.

A medida que a religião cristã foi fundada e, dado ao processo histórico, passada de perseguida a dominante no mundo europeu, a figura de Satã tomou novos contornos e outros deuses e figuras míticas foram “satanizadas” de acordo com os interesses defendidos pela igreja. Pan, Shiva, Chronus, Saturno, Loki, Cernunnos, entre outros deuses, emprestaram suas características físicas, presentes em suas imagens forjadas pelo imaginário popular, para o temido e grandioso Satã, aquele que, através do medo das chamas, do escuro e da dor, manteria as pessoas atreladas ao dogmatismo senil do catolicismo. O que, contudo, tais deuses tinham em comum, para caírem do “posto” de deuses para o de demônios? Eram todos deuses que personificavam tudo o que era rechaçado pela “religiosidade da luz”! Eram arquétipos das trevas, da liberdade (e da libertinagem), do ardor sexual, do caos, da dor, do sarcasmo e da morte. Eram tudo aquilo que, tal como os judeus já haviam preconizado, “opunha-se” à ordem vigente, ao dogmatismo, à pureza, luz e estabilidade do sistema. Eram entes antinomianos, caóticos, obscuros e libertos, uma verdadeira antítese que deveria manter-se isolada a qualquer custo!

Com a ascensão da Idade Moderna e, posteriormente, da Contemporânea, os elementos que tipificavam Satã foram ganhando cada vez mais força entre os homens e mulheres, embora a religião cristã permanecesse dominante. O apego aos prazeres da carne, a ânsia por liberdade, o deslumbre pela noite, pela obscuridade e pelo proibido passaram a manifestar-se na vida de muitos, tendo sido eternizados em tendências literárias e artísticas de um modo geral, bem como em períodos conturbados de guerras e revoluções que marcaram a história deste período. Satã, outrora temido e rechaçado, passa a inspirar os sentimentos e aspirações de diversos intelectuais, como Byron, Baudelaire, Mark Twain, Bakunin, Carducci, Goethe, entre outros. Se outrora este era representado como uma besta horrenda, agora era visto pelos mesmos como um cavalheiro distinto, educado, portador dos conhecimentos herméticos, iniciador dos homens nos mistérios ocultos, sem contudo perder suas características ardilosas, libidinosas e irônicas que, queira ou não, são suas marcas registradas.

 No decorrer do século XX, as sementes de Satã, que tempos atrás haviam sido espalhadas, começaram a florescer e gerar árvores e frutos, ocorrendo a formação de diversas irmandades e templos satânicos em vários países. Alguns poderiam dizer que desde a idade média já haviam cultos designados como “satânicos”. Contudo, os mesmos eram uma forma extremamente grosseira e primitiva de satanismo, sendo estes muito mais um “cristianismo às avessas”, voltado à adoração a um Satã bestial, horrendo e viciado tal como concebia o cristianismo. De igual forma, eram desprovidos de independência em relação aos princípios duais e morais do monoteísmo abraâmico, sendo estes ainda amarrados às ideias de “pecado”, “reverência”, “submissão”, etc. No século XX, longe de se “adorar” a um Satã cristianizado e deformado, buscou-se o “retorno às origens”, dando-se assim enfoque aos deuses obscuros dos antigos panteões, que serviriam de arquétipos à esta nova forma de espiritualidade que estava a ser instaurada. Agora sim, podemos questionar: em que a espiritualidade satânica se diferencia daquela praticada pelas convencionalmente chamadas “religiões de luz”?
Inicialmente, podemos dizer que o caminho satânico é o caminho da oposição, da contestação e da rebeldia. Um satanista é alguém que está constantemente questionando o mundo a seu redor, e buscando alternativas e caminhos próprios ao invés de seguir aqueles convencionados ou predeterminados. O que é chamado “renascer” ou “despertar satânico” se dá quando o indivíduo deixa de aceitar diretrizes sociais, culturais e morais estabelecidas por outrem e passa a opor-se a isso, não como um garoto rebelde e imaturo, mas sim enquanto um adulto procurando um caminho independente. 

De igual forma, o satanismo é caracterizado pela liberdade de fruição dos prazeres, de individualidade e criatividade. Buscam em seus corpos e na atividade sexual livre o usufruto daquilo que lhes fora negado pelas religiões monoteístas. Do mesmo modo, uma vez que recusaram a tradição apregoada por seus pais e os dogmas de suas sociedades, tendem a buscar a construção de seus caminhos de modo independente daquilo que já fora estipulado. Mesmo que façam parte de irmandades, templos ou grupos específicos, e que sorvam de suas produções, sistemas mágicko-filosóficos e da experiência de outros iguais, estes buscam manter sua individualidade acima de tudo. Isso me leva a crer que, enquanto religiosos da mão direita, do caminho reto, buscam em seus livros, templos e irmandades um “tipo ideal” de conduta, um “ponto de chegada” infalível, satanistas enxergam nos mesmos apenas “pontos de partida”. Não existe qualquer diretriz rígida, acabada, pronta, nenhum caminho infalível para um satanista atingir a divindade, tendo em vista que o caminho satânico está em constante construção, sempre sendo construído e derrubado, enaltecido e questionado.
"Enquanto adeptos da mão direita e do caminho luminoso são seguidores, satanistas são desbravadores."
Ainda, cabe ressaltar que o satanismo calca-se na abolição completa da dualidade outrora apregoada. As constantes oposições matéria x espírito, luz x trevas e bem x mal são transcendidas e o ser humano é compreendido em toda a sua amplitude, em seus aspectos mundanos e divinos, em sua face luminosa e obscura. Neste sentido, alguns poderiam questionar: por que então o satanismo é tido como o “caminho das sombras”? Tal como Lord Ahriman, em sua magna obra “Satanomicon” nos lega, o nosso lado luminoso foi o mais trabalhado até então, tendo sido o cobrado pela nossa organização social. Enquanto isso, o nosso lado obscuro permeia nas profundezas de nosso abismo interno, de nosso inconsciente, lá onde está nossa essência, nosso “verdadeiro eu”, longe de regras sociais castradoras, queimando como o fogo infernal!

Aquilo que, para o caminho reto, é tido como vicioso, defeituoso e perturbador, para nós é tido como um importante aliado em nosso processo de autoconhecimento. Ser satanista é não apenas caminhar nas sombras, como vulgarmente é pensado, mas sim canalizar o potencial destrutivo e criativo das mesmas no processo de transformação da carne e do espírito. É visualizar a luz estando submerso no oceano escuro das emoções, dúvidas e conflitos internos. É usar o poder destrutivo e regenerador do caos e do fogo despertando nossa Besta Interna, reconhecendo quem realmente somos para, assim, nos atarmos ao todo cósmico, aquele que é comumente chamado de “Deus” (personificado na figura de Baphomet, o Tao). Tal divindade, contudo, não é atingida pela obediência a regras específicas ou pela adoção de condutas morais, mas sim pelo reconhecimento de nosso potencial transformador e criador, nosso poder de fazer valer nossa vontade, nossa lei. 

A partir de tais premissas, podemos deduzir que ser satânico é atingir os conhecimentos cósmicos/gnósticos a partir do abismo, da via sinistra. Por isso o satanismo não é tido como algo pronto e acabado, pois estar no abismo é estar em meio ao “nada”, em meio ao vazio, ao vácuo. Não é a toa que, entre os yezides, Melek Taus (o vulgo Shaitan) era um ente que habitava o vazio interdimensional entre o inferno (o mundo em que vivemos) e o paraíso. Sendo assim, ele podia transitar livremente entre os dois mundos, trazendo os conhecimentos divinos aos humanos, e levando os humanos a ascenderem à divindade, traçando a união entre o profano e o divino personificada no hexagrama. Também, entre os sufis, haviam entes que habitavam o vazio entre o céu e a terra. Criaturas forjadas em fogo, gênios detentores de fundamentos preciosos, que em muito se aproximavam dos “daemons” tão abordados entre os thelemitas. Tratavam-se, naturalmente, dos “djins”, que, como era de se esperar, vieram a ser tomados como demônios pelo islamismo que veio a consolidar-se como religião dominante no oriente médio. Entre os yorubá, Esú Elegbará tipificava algo muito semelhante, sendo o senhor do caos e das trapaças (tal como o Loki nórdico), das encruzilhadas, do fogo e mensageiro dos deuses. Tal como Melek Taus, era aquele que caminhava entre o céu e o inferno, servindo assim de mensageiro dos deuses aos homens (próximo também ao que era o Hermes grego, que assim como Esú, carregava um cetro em sua mão, personificando o falo masculino). Não é nem preciso falar que, durante o processo de colonização da África, o mesmo foi tomado como “diabo” pelos conquistadores europeus.


 Sendo assim, podemos concluir que Satã, embora seja um opositor da ordem vigente, da estabilidade e da decrepitude, não é um ente antidivino, permeado por vícios e pecados tal como querem fazer crer aqueles que corroboram o status quo. Satã (o pentagrama), é aquele que une o microcosmos ao macrocosmos (o hexagrama), personificado na figura de Baphomet, a totalidade cósmica, que une o individual ao universal. Sendo a personificação do acausal, do obscuro e do antinomiano, Satã é o nosso grande iniciador nos mistérios cósmicos, é aquele que, portando caracteres divinos e profanos, é o único capaz de nos conduzir à luz negra, sendo ao mesmo tempo o guardião desta (tanto que entre alguns sufis, Iblis, ou Shaitan, também era chamado “mordomo de Deus”). Neste caminho de dúvidas, conflitos e temores, será aquele que nos testará, nos enganará, nos confundirá para que possamos encontrar a verdade por nós mesmos. Estará, no nono círculo de nosso Inferno Interior, guardando a preciosa Luz Negra e, tal como Chorozon (a besta do abismo), nos obrigará a enfrentar nossos próprios demônios internos, ou nos destroçará em pedaços. Assim são as trevas: refrigeram e fortalecem os preparados, engolem e destroçam os incautos.



"Que possamos assim, constantemente, estar exercendo nosso potencial divino e transformador, sem deixarmos de ser opositores, contestadores, orgulhosos, satânicos por excelência, profanos e divinos em um só corpo!"


Hail Satan! Ave Nigra Luminis!


Thanatos Daemon (pseudonimo do autor)