"Couro de Gato" (1960), de Joaquim Pedro de Andrade e "O Menino da Calça Branca" (1961), de Sérgio Ricardo (também um referencial na MPB e conhecido por quebrar o violão no Festival da Record de 1967), são os títulos escolhidos para a edição desta semana. As apresentações serão seguidas de debate com os espectadores e o coordenador do projeto, o cineasta cearense Francis Vale.
A entrada é franca.
Realizadas em preto e branco, as duas produções fazem reflexão e crítica sobre as condições sociais dos moradores dos morros do Rio de Janeiro. Para Vale, os curtas são oportunos para discutir as condições sociais dos moradores dessas comunidades e as desigualdades do País, especialmente no momento atual, com as recentes pacificações realizadas pela polícia na capital carioca (a última foi da Rocinha).
Eleito um dos cem melhores curtas-metragens dos últimos tempos pelo Festival de Curtas-Metragens de Clermont-Ferrand (França), "Couro de Gato", tem trilha sonora de Carlos Lira e Geraldo Vandré. Também conta com a participação de Domingos de Oliveira como ator e assistente de direção. O filme é o terceiro trabalho do cineasta, que antes realizou os documentários "Manuel Bandeira, o poeta do castelo" e "Gilberto Freyre, o mestre dos Apipucos".
O roteiro mistura ficção e documentário ao mostrar um grupo de garotos da favela, que, às vésperas do Carnaval, rouba gatos para fabricantes de tamborins.
O filme narra o afeto de um desses meninos por um dos bichanos, e seu dilema ao precisar vender o animal. "Couro de Gato" foi um dos episódios do longa-metragem "Cinco vezes favela" (1963), do Centro Popular de Cultura/UNE.
Já "O Menino da Calça Branca" marca a estreia de Sérgio Ricardo como cineasta, e a de seu irmão, Dib Lutfi, um dos maiores diretores de fotografia do cinema brasileiro. Este ano os irmãos completaram cinco décadas de carreira. O filme tem trilha sonora de Sérgio Ricardo e a participação de Ziraldo e Sérgio Ricardo como atores.
O roteiro gira em torno de um acontecimento aparentemente banal. Um menino da favela realiza seu sonho ao ganhar uma calça branca no Natal. Com cuidado para não sujá-la, evita as brincadeiras com os companheiros no morro e acaba buscando asfalto para exibir a peça e, ao mesmo tempo, mantê-la limpa.
Fica a imitar os adultos vestidos de branco, sentindo-se um igual naquele novo universo. Ao observar uma pelada de rua, porém, é atingido pela lama de uma poça onde cai a bola. Triste, o garoto volta ao morro, enquanto uma moradora recolhe a calça para ser lavada.
"São dois filmes do período inicial do Cinema Novo, premiados no Brasil e no exterior", ressalta Vale. "O Menino da Calça Branca", por exemplo, ficou em segundo lugar no Festival de São Francisco, Califórnia, em 1962. Já "Couro de Gato" foi vencedor do Vencedor dos prêmios do Festival Oberhausen, Alemanha, em 1961.
Ainda segundo Vale, os curtas dialogam entre si, ao abordar o mesmo universo a partir de histórias diferentes. "Ambos não têm diálogos, quase como um cinema mudo. Revelam a realidade dos morros do começo da década de 60, que era mais romântica, praticamente inocente diante do que temos hoje", avalia o coordenador.
Criado em março deste ano, o Cineclube Avenida mantém uma média quinzenal de exibições, que acontecem em um auditório no subsolo do shopping. A programação é inteiramente voltada a filmes brasileiros fora do circuito, "com muitos documentários, curtas e médias-metragens", detalha Vale.
Na próxima terça (29), por exemplo, em homenagem ao mês da Consciência Negra, o cineclube exibe o filme "Castro Alves", de Sílvio Tendler. O longa encerra as atividades deste ano do projeto.
Cineclube Avenida - exibição seguida de debate hoje, às 19 horas, no subsolo do shopping Avenida (Av. Dom Luiz, 300, Aldeota). Gratuito. Contato: (85) 3264.9444
FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1072738
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