Fotografias expõem lado obscuro da guerra no Iraque

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Uma exposição comovente de fotografias organizada em Nova York revela o que a imprensa não mostrou: fotos chocantes de veteranos do Iraque gravemente feridos. As imagens e as citações dos soldados que acompanham as fotos contam mais sobre a guerra do que talvez gostaríamos de saber.

O casamento do sargento Ty Ziegel, 24 anos, que foi ferido no Iraque em 2004 (Foto: Reprodução/Nina Berman)


O homem-bomba apareceu do nada. Antes mesmo que o sargento Ty Ziegel soubesse o que estava acontecendo, uma forte explosão destruiu o caminhão onde ele estava. O fuzileiro ficou imediatamente envolvido em uma bola de fogo. "Eu fiquei rolando na caçamba do caminhão, gritando durante todo o tempo que estava consciente", relatou Ziegel para o “London Times”. "O rapaz que estava perto de mim tentava me deixar inconsciente, mas acho que eu continuava acordando". Isso foi em dezembro de 2004, na base de al-Qaim, na fronteira entre o Iraque e a Síria. O calor queimou e arrancou a pele da cabeça dele, ele perdeu um olho, um braço e três dedos da outra mão. Ficou em coma durante meses e depois de mais de 50 cirurgias, teve implantado um revestimento plástico na cabeça e o rosto foi reconstruído cirurgicamente com aberturas no lugar das orelhas e do nariz que haviam sido mutilados.

No entanto, quando ele finalmente acordou, sua noiva, Renée Kline, estava ao seu lado na cama. Em outubro de 2006, eles se casaram. Ziegel, quase totalmente irreconhecível, apresentou-se ao altar vestindo uniforme completo. A foto do casamento, tirada por Nina Berman para a “People”, posteriormente venceu um prêmio da World Press Photo.

A foto, intitulada "Casamento do Fuzileiro" integrou uma exposição de fotografias aberta para visitação na galeria Jen Bekman, no SoHo em Nova York. Nina Berman viajou por todos os EUA para produzir as imagens, retratos de veteranos feridos no Iraque. Os resultados revelam mais do que qualquer debate político seria capaz.

Deixados para trás


"Eu os procuro nas cidades deles, depois de terem recebido alta dos hospitais militares", conta Berman no site da galeria. "Eu os fotografo sozinhos, quase sempre no quarto deles, que para mim parecem pequenas gaiolas. Faço com que eles apareçam sem cores patrióticas e sem posturas heróicas. Eu os vejo alienados e desprovidos de tudo, deixados sem nada em meio aos sonhos de glória e libertação".

A exposição se chama "Purple Hearts" (corações roxos), em referência à medalha concedida aos mortos e feridos em combate, embora nem todos os veteranos retratados na mostra tenham sido condecorados com uma dessas medalhas. É o caso do perito Luis Calderon, 22, que ficou paralisado do pescoço para baixo depois de ser esmagado pelas ruínas de um muro destruído em Bagdá. "Eu acho que mereço uma", afirmou Calderonays, referindo-se à medalha. "Eu teria mais certeza de que realmente fiz alguma coisa importante".

O comentário de Calderon é inserido na legenda que acompanha o seu retrato, embora seja um dos poucos da mostra que demonstre algum tipo de amargura. A maioria não possui nenhum ressentimento político, afora o isolamento de comunicação e o sentimento de perda. Muitos dos veteranos sentem saudade do tempo em serviço, apesar dos terríveis ferimentos.

"A gente se divertia", conta o sargento Joseph Mosner, 35, que perdeu o couro cabeludo e o lado esquerdo do rosto em uma explosão. "Fizemos aquilo ser divertido. Depois de sermos atingidos, a gente se cumprimentava e ria do que havia acontecido". O soldado Randall Clunen, 19, conta uma história parecida. "Eu gostava. Era toda aquela excitação e adrenalina. Sem nunca saber o que iria acontecer".

Até o perito Sam Ross, 21, que foi gravemente ferido em uma explosão a bomba em Bagdá e agora mora sozinho em um trailer na Pensilvânia, não lamenta o destino que teve. "Perdi a perna logo abaixo do joelho. Perdi a visão. Tenho estilhaços em praticamente toda parte do corpo. Meu dedo foi mutilado e não movimenta bem. Minha perna direita foi atravessada. Sabe, nada de mais complicado. Tenho dores de cabeça.”

"E também não escuto mais do ouvido esquerdo. Não tenho ressentimentos. Foi a melhor experiência da minha vida".


Ressentimento


Nesse ponto, porém, o cabo Tyson Johnson III se ressente. Depois de um ataque de morteiro que resultou em extensos ferimentos internos, o rapaz de 22 anos agora está completamente incapacitado. Mesmo assim, ele tem de reembolsar um bônus de inscrição de US$ 2.999 que recebeu ao se alistar na Guarda Nacional. "Estou queimando por dentro", diz ele. "Estou queimando".

Berman, por sua vez, achou que a experiência de fotografar os veteranos foi profundamente comovente. "Conhecer tantos rapazes e moças jovens gravemente feridos me abalou muito", contou ela. "Eu me senti cúmplice porque eles lutaram por mim. E me senti privilegiada porque não tive que fazer um sacrifício semelhante".

FONTE: G1

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