PASARGADIANO por natanael gomes de alencar

Print Friendly and PDF



Resultado de imagem para surrealismo

Vinte horas. Ignotaldo despediu-se dos amigos e inimigos. Pegou o caminho da roça. Sua bicicleta estava de asas pensas. A câmara esvaziando. O velho corvo que vivia pousado no guidão tornou-se uma pintura. À volta, as vidas todas emolduradas por perfis falsos, que nunca envelheciam. Deixara de ser convidado para festas na quarta lua de Pasárgada. Os afetos tinham agora a pele seca. Avançou com sua escangalhada bicicleta. Desceu escadas. Passou por estátuas, igrejas, bancos. Mas...quando chegou na Estação Antiga, estacou. Estacou e ninguém conseguia tirá-lo de lá. Chamaram os bombeiros, a polícia, porém, pouco adiantava. O homem mais forte da cidade foi chamado. Inútil. Ficara pesado como ferro, ou como aço ou como tronco de árvore centenária. Tiveram de acostumar-se com ele ali. A bicicleta enferrujara. A cidade ia mudando. E ele permanecia ali. Suas roupas, enfim, seu todo adquiriu a postura de uma estátua. O tom de sua pele foi tendendo pro bronze. Desviaram a avenida por causa dele. Foi mais difícil que desviar o rio. Fizeram uma praça em volta. A mais bela praça de todos os tempos. Praça que se tornou parque, visitado por gente de todo país. Muitos fins falsos de mundo se passaram. Até que o planeta fragmentou, todavia Ignotaldo flutuou, flutuou no espaço, até os confins de um universo perto deste sonho.

0 Comentários: