ALQUIMIA ROSACRUZ E A ORDEM HERMÉTICA DA AURORA DOURADA - Por Jean-Pascal Ruggiu (atual Imperator do Templo Ahathöor No. 7, Paris, França)

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Muitas pessoas, quando pensam na Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn), imediatamente pensam em "Magia" ou "Magia(k)" (Magick). Outros se surpreenderiam ao inteirar-se que a Golden Dawn não é, nem tem sido jamais uma Ordem "mágica". É na troca com a Ordem Interna por detrás da Golden Dawn, que a Ordo Rosae Rubeae et Aureae Crucis (R.R. e A.C.) desde o principio tem sido uma depositaria da tradição espiritual rosacruz.
Ademais, aquilo que hoje tem sido popularizado como "Magia" ou "Magia(k)" é, na realidade, um desdobramento daquele aspecto da tradição Rosacruz conhecido como "Teurgia".
Antes da fundação da Ordem Interna por detrás da Golden Dawn, a Teurgia nunca antes havia sido o foco principal da tradição espiritual Rosacruz, sem a Alquimia. De resto, a tradição Rosacruz mesma cresceu desde a tradição Alquímica. O verdadeiro lugar da Teurgia dentro da tradição Rosacruz tem sido sempre como disciplina complementar a Alquimia.
A Alquimia era parte do curriculum estudado pelos membros da Ordem Hermética da Golden Dawn; porém, exceto algumas definições muito concisas dadas nas "Knowledge Lectures" sobre vários termos usados na Alquimia, muito pouco tem sido verdadeiramente ensinado sobre Alquimia na Ordem Externa. Na Segunda Ordem da R.R. e A.C. havia somente um curto estudo chamado "Alquimia" escrito em 1890 pelo Frater Sapere Aude (Dr. Wynn Westcott) e registrado como "Rol de Vuelo Nro. VII".
O único documento referente a alquimia prática era um documento Z.2 disponível para membros avançados da Ordem Interna. Este documento Z.2 sobre Alquimia é bastante valioso e sumamente interessante, assim trataremos de analisá-lo na segunda parte deste escrito.
Bem agora, no curriculum estudado pelos membros da antiga Golden Dawn, devemos também incluir todos os livros editados por Wynn Westcott em sua Coletânea Hermética porque era considerada como o verdadeiro curriculum de estudo para todos os membros dedicados da Ordem Externa. De resto, esta coleção de livros constituía uma muito valiosa fonte de informação sobre os rituais da Ordem Externa. Entre os tratados publicados na Coletânea Hermética, havia vários sobre Alquimia; eram os seguintes:
- Vol I. Arcanum Hermético por Jean d'Espagnet com notas de Sapere Aude.
- Vol III. Uma breve Investigação sobre a Arte Hermético por "Um Amante de Philaletes" com uma introdução à alquimia e notas por S.S.D.D. (Florence Farr).
- Vol IV. Aesch-Metzareph ou Fogo Purificador da Kabbalah de Rosenroth (traduzido por "Um Amante de Philaletes" - 1714 - com notas por S.A.)
- Vol VII. Euphrates ou as Águas do Este por Eugenius Philalethes (Thomas Vaughan) com um comentário de S.S.D.D. (Florence Farr).


As notas e comentários do Frater S.A. e da Sóror S.S.D.D. sobre estes tratados alquímicos refletem um profundo conhecimento do tema. Não devemos esquecer também que os membros da Golden Dawn podiam consultar a famosa "Biblioteca Hermética Westcott" fundada em 1891 para a conveniência de sua investigação esotérica. Esta Biblioteca Hermética continha vários livros muito pouco conhecidos sobre a Alquimia (em Latim, Alemão, Francês e Inglês) dos quais forneço a lista completa:
- Abraham Eleazar: Uma antiga Obra alquímica, traduzida para o Inglês por W.S. Hunter de um manuscrito alemão.
- Alquimia - 25 tratados alquímicos em Latim.
- Alquimia - Um relato de alguns experimentos sobre mercúrio, prata e ouro em 1782 por J. Price (Oxford, 1782).
- Alquimia - A Ciência do Espiritual e do Material, por Sapere Aude (W. Wynn Westcott) - Londres, 1893.
- Becher - Tripus Hermeticus Fatidicus (três tratados sobre Alquimia) - 1689.
- Borrichius - Hermetis Aegyptiourum et chemicorum sapientia (Hafniae, 1674).
- Bourguet - Lettres philosophiques sur la formation des sels et des cristaux (Amsterdam, 1729).
- Chambon - Traité des métaux et des minéraux (Paris, 1714).
- Combachius - Sal Lumen et Spiritus Mundi Philosophici ou o Amanhecer do Descobrimento (Londres, 1651).
- Flamel, Nicolas - As Figuras Hieroglíficas de 1624 (editado por Wynn Westcott).
- Geber - Seus tratados sobre Alquimia em Latim ilustrados (1682).
- Hitchcock - Comentários sobre a Alquimia e os Alquimistas (Nova York, 1865).
- Kendall - Um apêndice ao Alquimista ignorante.
- Kirwan - Elementos de mineralogia (Londres, 1784).
- Maier Michael - Arcana Arcanissima - Cantilene Intellectuales de Phoenice redivivo - Scrutinum Chymicum (1687) - Symbolica Aureae Mensae (1617).
- Museum Hermeticum (21 tratados alquímicos). - Paracelsus - Compendio (1567).
- Philalethes Eirénée - Kern der Alchemie (Leipzig, 1685).
- Philalethes Eugenius - Lumen de Lumine ou uma Nova Luz Mágica e o Segundo Lavado (Londres, 1651).
- Resenkreutz Christian - Chymische Hochzeit (Strasburg, 1616).
- Salmon Gillaume - Dictionaire Hermetique (Paris, 1695).
- Salmon - Poligráficos (contém artigos valiosos sobre Alquimia).
- Stuart de Chevalier - Discours philosophiques sur les 3 Principes Alchimiques (Paris, 1781).
- Valentine Basile - O Carro Triunfante do Antimônio


Como demonstra esta lista, o Dr. Westcott estava profundamente interessado em Alquimia; de resto, um exame de seu Mapa dos Céus mostra vários graus simbólicos egípcios conectados com a alquimia e a medicina. Os membros da Ordem podiam também ler proveitosamente todos os artigos escritos pelo erudito Arthur E. Waite (Frater Sacramentum Regis) sobre alquimia, por exemplo:
- "Que é a Alquimia?" (no Unknown World Review - 1894)
- "Thomas Vaughan e sua Lúmen de Lumine" (uma introdução a edição de Lúmen de Lumine ou Uma Nova Luz Mágica por Thomas Vaughan - 1910).
- "Um Apocalipse Hermético" (no Occult Review, Vol. 17, 1913).
- "Alquimia Cabalística" (no Journal of the Alchemical Society, Vol. 2, 1914).


Todos esses artigos foram editados novamente por R. A. Gilbert em seu livro "Escritos Herméticos de A. E. Waite, os escritos desconhecidos de um místico moderno" (Roots of the Golden Dawn Series, Aquarian Press 1987).
Mais que nada, Waite escreveu vários estudos interessantes sobre alquimia, tais como:
- Vidas de Filósofos Alquimistas (1888).
- A Tradição Secreta na Alquimia (1926).
- Raymond Lola (1922).


Waite editou e traduziu também vários tratados alquímicos clássicos:
- Os Escritos Mágicos de Thomas Vaughan (1888).
- Um Léxico de Alquimia ou Dicionário Alquímico por Martinus Rulandus.
- O Museu Hermético Restaurado e Aumentado (1893)
- Um Dourado e Bendito Cofre de Maravilhas da Natureza por Benedictus Figulus.
- O Carro Triunfal do Antimônio por Basilio Valentinus (1893)
- Collectanea Chemica (1893)
- Os Escritos Alquímicos de Edward Kelly (1893)
- Os Escritos Herméticos e Alquímicos de Paracelsus (1894)
- Turba Philosophorum, ou Assembléia dos Sábios (1896)
- As Obras de Thomas Vaughan (1919)


Entre os membros da Golden Dawn, Westcott e Waite não eram os únicos interessados na Alquimia: também estavam Mathers, Florence Farr, William Alexander Ayton, Frederick Leigh Gardner, Dr. Felkin, Dr. Bullock, Allan Bennett e Julian Baker. Entre eles, sabemos que Westcott, Ayton, Felkin, Bennett e Baker podiam praticar a alquimia porque possuíam o conhecimento necessário da química devido as suas profissões (eram químicos ou médicos).


A TRADIÇÃO ALQUÍMICA SECRETA DA GOLDEN DAWN

Houve realmente uma tradição alquímica secreta dentro da Golden Dawn e esta tradição sobrevive secreta na atualidade? Posso testificar que essa tradição alquímica Golden Dawn existiu e ainda está viva, porque tive o privilégio de recebê-la como Imperator do Templo Ahathöor. Explicarei logo como foi transmitida na França, de onde possuímos uma forte tradição alquímica, mas antes, é útil explicar as origens da Alquimia Golden Dawn.

AS RAÍZES DA TRADIÇÃO ALQUÍMICA DA GOLDEN DAWN

Qual é a origem da tradição alquímica da Golden Dawn? Curiosamente, a resposta a esta pergunta está relacionada com os mistérios das origens da Ordem. Ademais, a parte principal da tradição alquímica da Golden Dawn vem do assim chamado "Templo Hermanubis No. 2" fundado por Kenneth MacKenzie e Frederick Hockley. De acordo com a investigação de A. E. Waite, MacKenzie e Hockley foram os autores dos famosos Manuscritos Cifrados; esta tese parece ser confirmada por vários acadêmicos modernos e membros atuais da Golden Dawn, como R. A. Gilbert.
Minha própria investigação histórica deste tema valida suas conclusões; apesar dos reclamos de Westcott sobre a assim chamada transmissão de Woodford dos Manuscritos Cifrados, ele provavelmente recebeu os manuscritos da Sra. Alexandrina MacKenzie logo após a morte de seu marido (a Sra. MacKenzie estava entre os primeiros iniciados recebidos na Golden Dawn sob o significativo mote Cryptonyma).
Frederick Hockley parece haver sido a fonte principal de conhecimento alquímico transmitido aos primeiros membros da Golden Dawn. Entre os milhares de livros que possuía em sua biblioteca privada, havia muitos tratados alquímicos antigos; porém seu conhecimento prático sobre alquimia certamente veio de Segismundo Bacstrom. É sabido que Hockley possuía o diário alquímico e o certificado de admissão do Dr. Segismundo Bacstrom à Sociedade Rosae+Crucis pelo Conde Louis de Chazal na Ilha de Mauritius em 12 de Setembro de 1794. Hockley fez varias cópias deste documento sob o título Um Diário de um Filósofo Rosacruz, que publicou na editora da SRIA, O Rosacruz (Hockley pertencia a SRIA). O Dr. Percy Bullock (que foi um dos primeiros membros da Golden Dawn) comprou uma cópia deste documento depois da morte de Hockley e o mostrou a A. E. Waite.
É altamente significativo que Bullock estava mais interessado no processo alquímico da Pedra dos Filosofos descrito no diário de Bacstrom, que por seu Certificado Rosacruz; porém Waite estava mais interessado, como historiador, no certificado. Ademais, este certificado prova que uma genuína transmissão Rosacruz ainda existia ao final do século XVIII em um domínio francês (na ilha de Mauritius). Em uma carta escrita a Alexander Tilloch, em 16 de Março de 1804, Bacstrom explica que Louis de Chazal foi iniciado em uma Loja Rosacruz em Paris em 1740, possivelmente pelo famoso Conde de Saint-Germain em pessoa. De acordo com as regras tradicionais da Rosa+Cruz, o Conde de Chazal deu instruções completas sobre a Grande Obra a Segismundo Bacstrom porque era sua tarefa formar ao menos um aprendiz antes do fim de sua vida (teria 97 anos quando fez isso).
É interessante notar que o Dr. Bacstrom também teve vários alunos (por exemplo, um certo Dr. Ford) quando estava vivendo no distrito londrino de Mary-le-Bone desde 1805. Curiosamente, foi também em Mary-le-Bone que Francis Barrett estava vivendo nesse mesmo tempo.
Barrett escreveu um famoso livro sobre Magia intitulado O Mago ou A Inteligência Celeste e reclamou ser um Frater Rosae Crucis também.
Durante 1801, fundou uma Academia de Magia em Mary-le-Bone composta de não mais de 12 alunos.
Hockley conhecia Barrett através de seu amigo, John Denley que era um livreiro especializado em livros de ocultismo (Hockley trabalhou para Denley e estava implicado na cópia de vários manuscritos ocultistas para a venda); de acordo com Hockley, Denley forneceu muita informação a Barrett para seu livro, O Mago.
É interessante também ressaltar que foi na localidade de Denley que Lord Bulwer-Lytton reclamou haver conhecido o misterioso Irmão da Rosa+Cruz que lhe deu os manuscritos cifrados que usou para escrever sua famosa novela Zanoni. A novela rosacruz de Lytton é bastante autobiográfica; por exemplo, quando Glyndon pergunta a Zanoni (seu Mestre Rosacruz) porque queria ensinar-lhe os mistérios da Alquimia, Zanoni respondeu que ele sabia que um dos ancestrais de Glyndon pertenceu a Fraternidade e, por fim, de acordo com as regras da irmandade, era sua tarefa instruir-lhe. Ademais, esta historia é a de Bulwer-Lytton mesmo, porque um de seus ancestrais, John Bulwer, foi um alquimista no século XVI e supostamente pertenceu Irmandade da Rosa Cruz...
Agora, para retornar ao Dr. Bacstrom, somos informados em uma carta dirigida por Hockley a Irwin, que Bacstrom perseguiu a Grande Obra até o fim de sua vida, porém morreu muito pobre. Temos que, provavelmente, não teve exito em fazer a Pedra dos Filósofos de acordo com as instruções que recebeu do Conde Louis de Chazal e que transcreveu em seu Ensaio sobre Alquimia (reimpresso sob o título de a Antologia Alquímica de Bacstrom, pela Kessinger Publishing Company). Também deve notar-se que a via alquímica seguida por Chazal e Bacstrom foi uma Via de Antimônio. Uma informação bastante valiosa sobre o processo de Bacstrom é dada pelo famoso alquimista francês Fulcanelli em seu livro Les Demeures Philosophales.
Fulcanelli escreveu que este processo não era realmente Alquimia senão "Arquimia", isto é, um tipo de processo particular obtido da exaltação do ouro. Fulcanelli deu uma informação estranha sobre Bacstrom e Hockley: escreveu que "Entre os arquimistas que usaram ou exaltaram o ouro, com a ajuda de êxitosas fórmulas, citaremos (...) Yardley, um inventor inglês de um processo transmitido ao Sr. Garden, um portador Londrino, em 1716, logo comunicado pelo Sr. F. Hockley ao Dr. Sigismundo Bacstrom (que estava afiliado à sociedade hermética fundada pelo Adepto de Chazal, que estava vivendo na ilha Mauritania no oceano Indico, durante a Revolução Francesa).
Este processo foi o objeto de uma carta de Bacstrom ao Sr. L. Sand, em 1804".

Eis que, se a informação de Fulcanelli é correta, Hockley a transmitiu também em um processo alquímico a Bacstrom.
Então não é impossível que Hockley fosse também um alquimista praticante. De qualquer modo, se Bacstrom morreu muito pobre, este não foi o caso de Hockley. Quando morreu, deixou uma grande fortuna: mais de 3500 libras (era uma quantidade bastante substancial em 1885). Por suposição, Hockley era um contador e bastante rico, mas não é impossível que obtivesse uma parte de sua fortuna mediante seus trabalhos alquímicos. Se não obteve a verdadeira Pedra dos Filósofos (morreu muito enfermo). Ele pode ter tido êxito em fazer ouro por um processo Arquímico particular. Parece que Bacstrom recebeu somente a comunicação de um processo alquímico particular do Conde de Chazal, mas não a verdadeira Pedra dos Filósofos.
De acordo com uma carta que Bacstrom escreveu a Alexander Tilloch, sabemos que o Conde de Chazal "havia obtido a Lapis Philosophorum e a Pierre Animale (Pedra Animal). Pela primeira adquiriu o que possuía e pela segunda, havia preservado sua idade até a idade de 97".
Esta informação é muito valiosa e prova que o Conde de Chazal estava realmente iniciado na genuína irmandade da Rosa+Cruz porque havia somente poucas pessoas que sabiam o que é a Pedra Animal.
Ademais, a comunicação do segredo da Pedra Animal somente é dada aos membros pertencentes ao Colégio Interno (ou Ordem Interna) da genuína e antiga Fraternitas Aureae Rosae+Crucis e que constitui o principal segredo da "alquimia interior". De acordo com os documentos que estão em minha posse, esta fraternidade foi fundada em 1580 na Alemanha e foi reorganizada em 1666 e 1777 sob o nome de Ordem Maçônica da Gold und Rosenkreutz Orden. É interessante notar que o processo de haver a Pedra Animal descrita no corpus operativo alquímico da inglesa Societas Rosae+Crucis do Dr. Bacstrom é muito similar ao da alemã Fraternitas Aureae+Crucis. Ademais, o Dr. Bacstrom estava em contato com irmãos alemães das lojas Douradas Rosacruzes e traduzidos em inglês vários documentos secretos escritos por irmãos e irmãs alemães, tais como Mathadanus, Anton Kircheweger, Dorothea Wallachin, etc.
Na França, uma loja Rosacruz da Aureae Crucis Fraternitatis foi fundada em 1624. A Tradição Hermética sobreviveu principalmente mediante as Lojas Iluministas Maçônicas Francesas durante o século XVIII e durante a "Franco-Maçonaria Egípcia" durante o século XIX.
Ademais, a Franco Maçonaria Egípcia (fundada por Cagliostro) foi proeminente nos avanços da Alquimia no século XIX.
Por exemplo, sabemos que Fulcanelli esteve relacionado com a família De Lesseps implicada na construção do Canal de Suez no Egito. Ferdinand de Lesseps pertenceu aos altos graus da Franco Maçonaria Egípcia e também a uma mui secreta Sociedade Egípcia. Mais que nada, sabemos que Fulcanelli era amigo próximo de Dujols, um livreiro parisiense que estava profundamente envolvido com o estudo da Alquimia e Hermetismo. Dujols estava associado com Alberic Thomas que era um astrólogo e chefe de uma Loja Maçônica Egípcia de Paris denominada O Arco Íris. De acordo com Volguine (um astrólogo francês que escreveu durante vários anos um artigo extremadamente interessante sobre "Astrologia e Sociedades Secretas"), Alberic Thomas estava em contato com certos membros do Templo Ahathoör Nr. 7 (fundado por MacGregor Mathers em Paris em 1894); Alberic Thomas era efetivamente um amigo próximo do Frater Ely Star (Eugene Jacob), um famoso astrólogo francês e também Hierofante do Templo Ahathoör... É também importante sublinhar que certos rituais dos altos graus do Rito Maçônico Egípcio de Memphis são muito similares aos da Aurora Dourada (por exemplo, os nomes dos oficiantes são os mesmos).
Porém esses rituais são mais antigos que os da Aurora Dourada! Assim, eles podem ser a principal fonte dos rituais cifrados da Aurora Dourada. De qualquer modo, poderia explicar porque Hockley e MacKenzie estavam tão fascinados por Cagliostro, fundador da Maçonaria Egípcia, e porque o consideravam como seu chefe Espiritual na Irmandade de Fratres Lucis que fundaram juntos na Inglaterra. De acordo com os reclamos de MacKenzie e Hockley, eles foram iniciados pelos Fratres Lucis na Francia, em Paris, possivelmente por Eliphas Levi que se presume ter sido membro desta Irmandade.
Ademais, os Fratres Lucis originais, ou "Irmandade da Luz" foram fundados na Alemanha pelo barão Ecker Von Eckhoffen, um ex-membro da Rosa+Cruz Dourada e também fundador da Irmandade Asiática.
Todas essas fraternidades alemãs estavam profundamente introduzidas na prática da alquimia. Minhas investigações históricas destes temas provaram que vários membros pertencentes à Irmandade Asiática ou aos Fratres Lucis foram membros de uma loja maçônica alemã chamada L'Aurore Naissante ("A Aurora Nascente") fundada em Frankfurt-on-Main em 1807. Westcott escreveu que esta loja era uma "mui antiga Loja Rosacruz de Frankfurt-on-Main, onde Lord Bulwer Lytton foi aceito no Adeptado". É verdade que Bulwer Lytton foi a Alemanha por uma longa visita durante os anos 1841-1843 (sua novela "Zanoni" foi inicialmente publicada em 1842), assim que pôde ter sido iniciado na loja da Aurora Nascente, que já existia nesse momento.
Porém antes deste evento, Lytton também esteve na Itália, em Nápoles, durante os anos 1833-1834, onde recebeu algumas instruções de ocultismo provavelmente do príncipe San Severo, que era membro da Rosa+Cruz Dourada.
Tanto Bulwer Lytton como Kenneth MacKenzie conheciam bastante bem o mago francês Eliphas Lévi que era um alquimista prático.
Justo antes de sua segunda visita a Inglaterra em 1861, Eliphas Lévi realizou alguns experimentos alquímicos com um de seus discípulos, Dr. Fernand Rozier (1839-1922), que logo se tornou amigo do famoso Papus. Ademais, um dos amigos próximos de Eliphas Lévi era Louis Lucas, um alquimista importante e autor de uma novela intitulada Roman Alchimique.
Eliphas Lévi afirmava conhecer o segredo da transmutação. "Eu possuo", afirma em uma carta, "alguns manuscritos muito curiosos sobre a arte hermética, e tenho um conhecimento profundo dos mistérios dessa ciência.
Eu tenho visto a produção do fogo secreto, e visto como os espermas metálicos são formados, o branco que se assemelha ao mercúrio, e o roxo que é um azeite viscoso semelhante ao sulfúrico derretido. Eu sei o que pode fazer-se com o ouro, porém creiam-me quando digo que nunca o farei".


Entre os curiosos manuscritos sobre a arte hermética a que Lévi se referia, o mais importante parece haver sido o Aesch Mezareph publicado em 1861 como um apêndice a seu livro "A Chave dos Grandes Mistérios" ("The Key of Great Mysteries" que foi logo traduzido por A. E. Waite). O Dr. Westcott também publicou o Aesch Mezareph de acordo com uma antiga tradução inglesa (1714) da versão latina de Rosenroth.
Assim não é impossível que Eliphas Lévi conhecesse o Aesch Mezareph dos Adeptos Ingleses, porém escreveu que descobriu este texto oculto em uma igreja. Deve sublinhar-se também que Eliphas Lévi visitou Londres novamente em 1861, justo depois de sua iniciação na Franco Maçonaria, em companhia de seu pupilo e protetor, o Conde Alexander Braszynsky, um alquimista praticante que teria um castelo de Beauregard em Villeneuve-Saint-Georges, o lugar de Mme de Balzac. O Conde Braszynsky era, como Lévi, amigo de Lord Bulwer Lytton, e os dois homens foram a seu castelo, Knebworth, em Hertfordshire. Foi também o mesmo ano (1861) em que Kenneth MacKenzie visitou a Eliphas Lévi em Paris. Alexander Ayton, o alquimista da Golden Dawn, disse a W. B. Yeats que tinha um elixir da vida que mostrou a "um alquimista francês", provavelmente o mesmo Eliphas Lévi quando visitou a Inglaterra em 1861.
Agora, a relação entre todos esses homens se aclara sabendo que pertenciam ao Colégio Interno da Rosa+Cruz, que sempre esteve dedicado ao estudo e prática da alquimia, a ciência mais oculta. De fato, de acordo com a tradição da F.A.R+C (Frères Ainés de la Rose+Croix, ou Antiga Irmandade da Rosacruz), uma muito secreta Ordem ainda existente na França, Lord Bulwer Lytton foi eleito em 1849 como 51° Imperator de sua Ordem, até 1865; o 52° foi Alphonse Louis Constant (Eliphas Lévi) desde 1865 até 1874; o 53° Imperator foi William Wynn Westcott (1874-1892), o 54° Imperator foi Samuel Liddell MacGregor Mathers (1892-1898), a seguir Rudolf Steiner (1898-1900).
Um documento interno sobre a historia da Ordem, Legenda of F.A.R+C, poderia explicar a relação entre os Adeptos Ingleses e Franceses. De fato, a fraternidade foi criada em 1316 a partir da perseguição dos Cavaleiros Templários por Felipe, o Formoso, rei da França.
Vários cavaleiros Templários escaparam para a Inglaterra, depois para a Escócia. Um deles, o barão Guido de Montanor, que havia sido iniciado no Oriente Médio nos mistérios da Alquimia, instruiu a Gaston de la Pierre Phoebus nesta Arte.
Ambos decidiram fundar uma nova Ordem, a Irmandade Antiga da Rosacruz, e regressar a França com outros 25 cavaleiros Templários, sob a proteção secreta do Papa João XXII, que nesse momento estava residindo no sul da França, em Avignon.
Assim, se Westcott e Mathers foram realmente eleitos Imperatores de F.A.R+C, podemos compreender melhor porque MacGregor Mathers considerava que seus "Mestres Secretos" estavam vivendo em Paris; se deve ressaltar que o misterioso alquimista francês Fulcanelli estava vivendo ali durante esse tempo e teve vários conhecidos entre os ocultistas franceses próximos a Papus (Dr. Gerard Encausse) que também foi iniciado no Templo Ahathöor no sábado de 23 de Março de 1895. De qualquer maneira, Mathers não pôde esquecer que era de linhagem escocesa e que o clã MacGregor se originou no Condado Argylle, justo próximo da ilha de Mull de onde os Cavaleiros Templários Franceses se refugiaram. De acordo com as afirmações de Mathers, um de seus mestres era um Adepto Escocês vivendo em Paris, Frater Ex Lux Septentriones.

A SOBREVIVÊNCIA DA TRADIÇÃO ALQUÍMICA DA GOLDEN DAWN

Logo depois do cisma de 1903, parece que uma grande parte da tradição alquímica da Golden Dawn sobreviveu tanto na Stella Matutina como em Alpha Omega.

ALQUIMIA DA STELLA MATUTINA

Os contatos do Dr. Felkin com o ocultista alemão Rudolf Steiner, que estava conectado com um antigo ramo da Rosa+Cruz Alemã (os Illuminatis) e Imperator de F.A.R+C, foram muito frutíferos.
Parece que Steiner ensinou a Felkin várias práticas alquímicas espirituais (por exemplo, o desenvolvimento do Ritual do Pilar do Meio e a introdução ao Ritual da Rosa Cruz, que eram práticas da Stella Matutina). O famoso documento Z.2 sobre Alquimia foi, por certo, escrito por Felkin, e não por Mathers. De resto, deve remarcar-se que os Rituais da R.R. e A.C. não foram criados inteiramente por MacGregor Mathers, mas que foi inspirado pela Rosa+Cruz Alemã, o que estou bastante seguro que recebeu por transmissão regular. De fato, tenho a prova: os donos dos cetros da Golden Dawn foram inspirados pelo Cetro de Moisés descrito em um muito antigo e secreto documento alemão da Rosa Cruz Dourada (1514), uma cópia do qual está em meu poder e que o recebi do colégio Interno desta Ordem. É bastante interessante notar que este documento contém fortes influências cabalísticas judias polacas, e especialmente aqueles provenientes da escola de Shabbathai Zévi, que proclamou a si mesmo de o Messias esperado por todos os judeus em 1666. Este fato (1666) é muito interessante, porque está de acordo com o ciclo solar de 111 anos. De fato, a Rosa+Cruz Alemão estava relacionada com este ciclo de 111 anos; por exemplo, foi em 1777 que esta Ordem foi reformada com uma nova escala de graus, que também foi adotada afinal pela S.R.I.A. e a Golden Dawn sendo fundada 111 anos depois (em 1888). Agora, o documento da Rosa+Cruz Dourada a que me referi antes contém também vários rituais que encontramos novamente na Golden Dawn (por exemplo varias versões em latim e em hebreu do Ritual da Cruz Cabalística e o Ritual do Pilar do Meio). Assim, este documento constitui a prova de que os rituais mágicos da Golden Dawn são de fato os desdobramentos daqueles da Rosa Cruz Dourada Alemã; porém como esses rituais ainda são muito secretos, é também a prova de que a Golden Dawn recebeu uma transmissão Rosacruz alemã genuína.
Voltando agora à tradição alquímica da Stella Matutina, parece estar bem preservada na Nova Zelândia, onde Felkin foi viver. Pat Zalewski, chefe do Templo Thoth-Hermes em Wellington, me escreveu e me deu informações muito interessantes sobre seu trabalho alquímico; ressaltou em seu escrito que considerava necessária a prática da alquimia na R.R. e A.C.. Não obstante, escreveu que a real prática da alquimia era revelada somente a avançados membros da Ordem Interna. Também foi o caso na Ordem Rosacruz da Alpha Omega de onde a prática da alquimia era revelada somente aos Adepti Exempti.

ALQUIMIA DA ALPHA OMEGA

Na Inglaterra, a tradição alquímica da Golden Dawn estava bem preservada na Ordem Rosacruz de Alpha Omega, especialmente através da ação do Frater Animo Et Fide (Edward Langford Garstin), Cancellarius do Templo AO de Londres. Garstin recebeu de Moina Mathers vários tratados alquímicos valiosos que seu marido valorizava muito, especialmente o Mysterium Magnum de Jacob Boehme e a Aurea Catena Homeri (1722) de Kirchweger. MacGregor Mathers também valorizava muito o Splendor Solis de Salomon Trismosin porque este tratado incluía 22 placas coloridas que Mathers correlacionava com os 22 Caminhos da Árvore da Vida. Porém havia outro tratado alquímico deste tipo que Garstin conhecia muito bem: Le Livre des 22 Feuillets Hermétiques (O Livro das 22 Lâminas Herméticas) de Kerdanek de Pornic que descreve 22 arcanos herméticos, um número recordando os 22 arcanos maiores do Tarot. É possível que tenha sido MacGregor Mathers quem descobriu este bastante estranho livreto francês na França que Garstin recebeu de Moina.
Este pequeno livro, que está em minha posse, é muito valioso porque é uma muito clara descrição dos 22 passos da Grande Obra incluindo vários desenhos de laboratório. Estranhamente, a via alquímica descrita no Livro das 22 Lâminas Herméticas é uma Via Antimonial muito similar a de Bacstrom.
Langford Garstin escreveu dois ensaios não publicados sobre alquimia: Alquimia e Astrologia e Um Glossário de Termos Alquímicos. Também publicou outros dois livros: Teúrgia (1930) e Fogo Secreto (1932). Como inglês, Garstin estava naturalmente mais interessado nos trabalhos de alquimistas anteriores da Grã Bretanha, como Vaughan, Philalethes, Norton, Ripley, John Dee e Kelley. De fato, Garstin não estava realmente relacionado com a alquimia operativa, mas praticava "alquimia espiritual" (creio que grande parte desta alquimia espiritual foi dada ao B.O.T.A. mediante os templos americanos de Alpha Omega).
Edward Garstin foi também secretário da Quest Society, à qual também pertenceu Gerard Heym, um de seus melhores amigos. Gerard Heym era um alquimista francês que as vezes residia em Londres.
Era amigo próximo de S. L. MacGregor Mathers e Moïna Bergson-Mathers.
Contudo, nunca foi iniciado no Templo Ahathöor porque seu nome não aparece no antigo Livro de Minutas de nosso Templo, porém Gerard Heym foi um membro fundador da Sociedade para o Estudo da Alquimia e da Química Prematura e de sua famosa publicação, Ambix. Também foi membro da sociedade literária francesa denominada Les Amants de la Licorne (Os Amantes do Unicórnio) que estava profundamente trabalhando com o estudo do simbolismo alquímico.
Esta sociedade foi
fundada por Claude d'Ygé que publicou uma Anthologie de la Poésie Hermétique. Esta sociedade literária francesa ainda sobrevive, hoje em Paris, sob o nome de L'Orbe de la Licorne, da qual sou membro.
Em sua introdução à tradução francesa da novela de Gustav Meyrinck, Le Dominicain Blanc, Gerard Heym mostra seu conhecimento da teoria da Alquimia Taoísta. É possível que pertencesse à F.A.R+C., porque sua Irmandade Rosacruz francesa era a única na Europa relacionada com a sobrevivência da Alquimia Chinesa e da prática do Caminho do "Dragão Vermelho".

Tanto Gerard Heym como Langford Garstin eram amigos de Archibald Cockren, que foi o maior alquimista britânico deste século.
Cockren foi um genuíno adepto que viveu em Londres nos anos 30 e parece ter sido um membro da Alpha Omega. Escreveu Alquimia Redescoberta e Restaurada (1940). Ithell Colqhoun escreveu que quando Garstin visitou seu assombroso laboratório, Cockren lhe mostrou "o Ovo dos Filósofos, um frasco de vidro que continha camada sobre camada nas cores tradicionais de negro, cinza, branco e amarelo. Encima havia florescido um protetor de forma similar a uma flor, um protetor disposto como pétalas ao redor de um centro, todo de um laranja-escarlate. Mantendo sua matéria base durante um longo tempo sob um constante calor suave, Cockren havia logrado que crescesse; teria ramos como uma árvore."
É notável que a descrição de Garstin desta flor filosofal é bastante similar a da Flor Vermelha descrita no Livro das 22 Lâminas Herméticas; de fato, Cockren seguiu a via do "Chumbo dos Sábios".
Seguiu instruções que também encontrou nos escritos de Sir George Ripley - provavelmente no Bosom Book - que oferece um método de preparação da pedra dos filósofos. De acordo com Garstin, Cockren sempre usou um "Pentagrama aberto" durante seus experimentos alquímicos, o que é a prova de que seguiu as instruções dadas nos Rituais Alquímicos Z.2 da Golden Dawn.
Archibald Cockren preparou azeites extraídos de metais, e especialmente azeite de ouro, o mais poderoso para curar enfermidades. Curou a Sra. Maiya Tranchell-Hayes (Soror Ex Fide Fortis, Imperatrix de um Templo Alpha Omega) de uma desestabilização nervosa ministrando-lhe três gotas de azeite de prata. Cockren também salvou a vida de Gerard Heym no começo da Segunda Guerra Mundial, aplicando-lhe um bálsamo quando este foi ferido no Serviço de Incêndios. Durante o ano 1965, Gerard Heym disse a Sra. Colqhoun que um de seus amigos, de 95 anos de idade, havia bebido ouro potável dado por Cockren obtendo grande beneficio; seu efeito foi prolongar sua vida e sua juventude. De acordo com a Sra. Colqhoun, Archibald Cockren foi morto durante a Segunda Guerra Mundial quando uma bomba destruiu seu laboratório; porém de acordo com C. R. Cammell, Cockren sobreviveu ao 'impacto' da guerra em seu laboratório que estava protegido.
Cammell disse que "quando seu laboratório foi arruinado por uma explosão próxima de uma bomba, as retortas, contendo os elixires, em todos os estados de transmutação, não foram danificadas - o que parecia ser um milagre, e de fato o era". De acordo com Cammell, Cockren se mudou para Brighton "onde, no umbral de um triunfo final (descobrir a Pedra Filosofal), morreu fazem alguns anos - por volta de 1950".
Cammell afirma que "Cockren lhe deu em vários momentos dois pequenos frascos de um elixir de ouro, sendo a dose umas poucas gotas tomadas com vinho". Cammell disse: "O beneficio para mim foi incrível. No período mais terrivel do ataque aéreo alemão em 1940, quando estava constantemente ocupado no trabalho de Precaução de Ataque Aéreo, este elixir me exaltou tanto que, quando o tomava, experimentava pouca fatiga ou depressão nervosa, necessitava pouco sono ou comida, e sentia e me via saudável e vigoroso".
Esta descrição sobre os efeitos da tintura de ouro é bastante exata, como posso testificar por minha própria experiência após tomar umas gotas de ouro potável dadas a mim pelo irmão que me iniciou na F.A.R+C.
Porém a parte principal da tradição alquímica de Alpha Omega está preservada nos arquivos de nosso Templo Ahathöor que contém papéis muito valiosos e únicos, especialmente o famoso Antigua Obra Alquimica de Abraham Eleazar, cujo verdadeiro nome é Sepher Ha-Iorah (em hebraico), publicado em alemão em 1735 e traduzido para o inglês pelo Frater In Cornu Salutem Spero (William Sutherland Hunter) e em francês pela Soror Semper Ascendere (Mme Voronof), Praemonstratrix do Templo Ahathöor em 1925. O processo alquímico descrito no Sepher Ha-Iorah é similar ao descrito no Segundo Livro do Thesaurus Thesaurorum, um Testamento Fraternitate Rosae et Aureae Crucis, e também no Sigillum Secretorum ou Magnalia Dei Optimi Maximi traduzido do Latim para o inglês por Frater Deo Duce Comite Ferro (S. L. MacGregor Mathers), e que também está guardado em nossos arquivos.
Teve a boa sorte de descobrir outra muito estranha: a bela cópia francesa do Sepher Ha-Iorah copiada e ilustrada em cores pela mão mestra de Eliphas Levi mesmo. De acordo com uma nota de Eliphas Levi, sua cópia do livro foi feito do original (suposto original de Abraham, o Judeu que descobriu Nicolas Flamel!). Eliphas Levi escreveu que o livro original pertenceu no passado ao famoso alquimista francês Duchanteau (um membro da Rosa+Cruz Dourada). O original parece ter sido escrito em hebraico; de qualquer modo a cópia de Eliphas Levi está plena de palavras hebraicas... Eliphas Levi ofereceu e dedicou esta cópia a seu protetor, o Conde de Mniszech, que também era um alquimista e amigo de Lord Bulwer Lytton. Atualmente esta maravilhosa cópia de Eliphas Levi pertence a um colecionador privado que também é membro de uma muito secreta Sociedade Hermética de Paris.
Entre os outros papéis valiosos preservados nos arquivos do Templo Ahathöor, devo também citar:
- "A Idade Dourada Revivida de Mathadanus" (Conde Adrian Mynsicht - 1621) um manuscrito traduzido e escrito pela mão de Frater DDCF. Mathers adicionou ao final de sua tradução a seguinte nota significativa:
"Este trabalho tardio está reproduzido em parte do Livro manuscrito dado pelos Chefes Secretos do Círculo Interno dos Rosacruzes ao Magus Supremo da Ordem da Rosa e da Cruz Dourada Externa, e de novo em bom cuidado. Os Rosacruzes dos mais altos graus Externos sabem a que livro me refiro e é somente por seu beneficio que faço esta alusão".
- "Le Tresor des Tresors ou comment on peut ramener les corps a leur matiere premiere dans le but d'obtenir leur generation ou leur multiplication". Este manuscrito havia sido acreditado a Francois Borri, um alquimista italiano que foi o mestre da Rainha Cristina da Suécia. Este manuscrito foi traduzido e transcrito pela Soror Semper Ascendere em 20 de julho de 1926. De acordo com uma nota escrita pela Rainha Cristina no final do manuscrito, ela teve êxito na Grande Obra. A via praticada é similar a de Synesius.

UMA ANÁLISE DO MANUSCRITO Z.2 SOBRE ALQUIMIA

AGORA, tratarei de analisar este documento Z.2 bastante notável porque é um dos poucos escritos de Alquimia que explicam a partir de um ponto de vista prático a relação entre a Magia, Alquimia e Astrologia. O processo alquímico operativo explicado neste manuscrito Z.2 é bastante teórico.
De fato, na alquimia prática real a eleição da Matéria Prima frequentemente determina o tipo de via a ser seguida: seca ou úmida.
Por exemplo, os metais muito duros como o ferro não podem ser tratados do mesmo modo que os muito brandos, tais como o mercúrio: é só uma questão concernente ao ponto de fusão dos metais. Assim, as operações técnicas da via seca possuem alguma analogia com a metalurgia; aquelas da via úmida usam frascos de vidro como na química. Ademais, há vários processos diferentes na via seca e na via úmida, não só de acordo com o tipo de Matéria Prima eleita, mas também quando se usa uma matéria específica. Por exemplo, na "Via Antimonial" (que é uma via seca) existe um monte de processos variados. Inclusive a mais complicada é a "Via Magnésia", geralmente uma via úmida, porém com a qual é possível trabalhar também de acordo com o processo da via seca!
É interessante saber que o processo alquímico descrito no famoso documento Z.2 pertence essencialmente à via úmida. Esta via é mais larga que a seca, porém mais fácil e mais segura de praticar: a via seca é muito curta, porém bastante perigosa. A via úmida usa destilações e sublimações em uma cucúrbita de substâncias líquidas a baixas temperaturas; a via seca usa crisóis, substâncias secas e altas temperaturas.
Contudo, o documento Z.2 começa com a via úmida, e termina com a via seca.
É notável que o processo de Bacstrom é precisamente o oposto: começa com a via seca (com o crisol) e termina com uma cocção fechando com a via úmida (em um frasco de vidro).
De fato, há as vezes uma ponte entre as duas vias, que é uma das principais dificuldades para quem quer estudar alquimia.
O exame dos diferentes passos alquímicos descritos no Z.2 mostra certos erros, especialmente referentes ao "Regime dos Planetas", o que não é correto; de fato, a ordem descrita no manuscrito é a seguinte:
Saturno - Lua - Sol - Marte - Mercúrio - Júpiter - Vênus.
A sucessão planetária tradicional descrita em todos os tratados alquímicos é:
Mercúrio - Saturno - Júpiter - Lua - Vênus - Marte - Sol.
De fato, esta é a ordem da sucessão de cores durante a cocção, que é sempre o ponto final da Grande Obra. Os Antigos descreviam as cores cambiantes da Matéria de acordo com as antigas atribuições astrológicas de cores dos planetas. Assim, Mercúrio é simbolizado por várias cores; Saturno, negro; Júpiter, cinza; Lua, branco; Vênus, verde; Marte, vermelho; e o Sol, dourado. Porém não devemos esquecer que a escala planetária de cores da Golden Dawn, a "Escala do Arco Íris", é diferente; assim, se tomamos a ordem planetária descrita no documento Z.2, obteremos a seguinte sucessão de cores:
índigo - azul - laranja - vermelho - amarelo - violeta - verde.
Esta não é em absoluto a sucessão usual de cores da grande cocção.
Outra discrepância do documento Z.2 com outras obras alquímicas operativas secretas se refere a exposição da matéria com a luz do sol e da lua, as sequências não são corretas. Portanto, o mero fato de que este processo é dado prova que o autor do documento Z.2 estava realmente bem instruído nos mistérios da alquimia, porque esta indicação nunca foi revelada em textos publicados (ainda que estivesse frequentemente mostrada em vários gravuras). De fato, a ação da luz sobre a matéria, e sobretudo, como e quando deve ser aplicada, é um dos segredos principais que os Filósofos revelam somente a seus alunos depois da devida iniciação e sob juramento.
Fulcanelli deu uma muito boa definição da alquimia como "a arte da transmutação da matéria pelo poder da luz".
Finalmente, podemos observar que neste processo descrito no documento Z.2, o alquimista finalmente obtém um pó e um azeite; porém na Grande Obra, azeite e pó estão sempre unidos mediante um longo processo até que se obtenha um pó vermelho ou tintura ("o Leão Vermelho").
Assim, concluímos que o processo descrito no Z.2 não se refere a criação da Pedra dos Filósofos, senão que é mais um "processo particular", por exemplo tal como a extração do sal e do azeite (ou "enxofre") de um metal ou planta. Uma das características mais interessantes do Z.2 sobre alquimia é que os rituais mágicos estão relacionados com o processo alquímico. De fato, este tipo de informação está sempre faltante nos textos alquímicos clássicos. Portanto, uma das únicas instruções mágicas concernentes a alquimia que pude encontrar (exceto o manuscrito Z.2) está em um texto muito secreto comunicado a mim pelo Colégio Interno da Fraternidade da Rosa+Cruz, intitulado: "Testamenti Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis - Liber II: De Magia Divina et Naturali, cum Chymico- Magicae Secretorum".
O processo descrito neste documento é uma prática alquímica interna usando "Ouro Potável" relacionado com a evocação das sete Inteligências Planetárias e do Anjo Guardião do Artista. Deve ressaltar-se que todas essas práticas mágicas, ou melhor dito teúrgicas, foram sempre possíveis logo na conquista da Pedra dos Filósofos, que era usada como um tipo de "imã astral" para atrair entidades espirituais.
Os Adeptos que me deram essas instruções secretas enfatizaram o fato de que ninguém podia realmente praticar Magia segura sem haver obtido antes a Pedra dos Filósofos e haver sido regenerado por seus poderes. De fato, um Adepto Inglês me disse que de acordo com seus próprios experimentos, a Pedra dos Filósofos podia despertar em grande medida as faculdades de pré-cognição, as que podiam ser muito úteis para comunicar-se com seres espirituais durante uma evocação mágica.
Deve saber-se que a ingestão da Pedra dos Filósofos ou do Ouro Potável pode ser perigosa para pessoas não preparadas, porque essas substâncias despertam o que os antigos Adeptos Rosacruzes chamaram de "os fogos sutis do corpo" (a kundalini), e causam um grande aumento do poder sexual que é muito difícil de controlar. Se o aluno não está corretamente preparado, o elixir poderia causar todo tipo de moléstias em sua vida privada: poderia ser escravizado por suas paixões e incapaz de controlar e manejar esta nova energia. Se não sabe como sublimar o poder do "fogo secreto" de sua kundalini, esta energia será gasta em atividades ou pensamentos puramente sexuais. Em outros casos, este "fogo" poderia subir até o cérebro e causar varias alucinações. Se a mente do aluno não está suficientemente
purificada, poderia ver monstros como Glyndon em Zanoni, a famosa novela de Bulwer Lytton. Geralmente, o elixir causa uma grande eliminação "kármica",
especialmente referente a a vida amorosa do aluno.
Esta é a razão pela qual os Adeptos nunca dão o Elixir, ou Ouro Potável, a alunos não preparados e a pessoas jovens, mas somente a alunos experimentados, de ao menos 40 anos de idade e só depois de 7 anos de treinamento. Este treinamento se refere em certo modo a algumas práticas "tantricas" (distante da assim chamada "magia sexual" de Aleister Crowley!). De fato, o Colégio Interno da Rosa+Cruz Dourada conhecia este tipo de práticas, porém sempre foram mantidas em secreto e estrito porque os Adeptos temiam que pudessem ser mal usadas.
Outra parte deste
treinamento mágico é um tipo de "yoga" que implica meditação na luz do sol e da lua com espelhos mágicos. Por pressuposto, MacGregor Mathers sabia algo sobre estas práticas secretas (as que só são desveladas no grau de Exempti) porque recebeu o corpus operativo da Rosa +Cruz Dourada e especialmente os comentários secretos sobre as Clavículas Mágicas Salomônicas e Mosaicas.


Tradução: ST, um Servidor Incógnito.

2 Comentários:

Unknown disse... 27 de março de 2017 às 15:41

Explendido!!!

Unknown disse... 24 de março de 2019 às 22:45

Muito bom ensinamentos, grandiosa leitura, saudações