Civilizações Perdidas no Continente Negro: o imaginário arqueológico sobre a África - por Johnni Langer - Doutor em História, Professor da UNICS, PR

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Resumo:
Analisa o imaginário arqueológico sobre a África a partir de fontes como a literatura e os relatórios de viagem, tendo como eixo norteador da discussão a idéia de civilizações perdidas no continente negro.

O continente africano sempre foi um dos locais favoritos do imaginário ocidental manifestar diversos simbolismos e fantasias. Um dos mais persistentes estereótipos vinculados ao território da África seria que suas terras sempre desenvolveram culturas nativas selvagens e perigosas – os famosos pigmeus, canibais e gigantescos negróides – ou etnias primitivas, quase semelhantes ao tipo de vida que nossos antepassados mais remotos levavam. Sem escrita, sem estado organizado e centralizado, e muito mais importante – sem cidades, templos e construções de pedra. Portanto, prescindindo de civilizações aos moldes ocidentais.
Apesar de não muito conhecidas, existem grandes estruturas arquitetônicas no continente (além das egípcias), como as de Axum (Etiópia), Napata e Meroé (Sudão), Tumbuctu e Jenne (Máli), Grande Zimbabwe, Cami e Naletale (Zimbabwe).
Aqui percebemos uma nítida oposição entre uma África onde situa-se uma das mais famosas (talvez até a mais popular) civilização de todos os tempos, o Egito, e as regiões restantes do continente, compreendendo os desertos (Saara e Kalahari), as latitudes equatoriais (Senegal a Angola), as das florestas (bacia do Zaire) e o sul.
Deste modo, o Egito identificado aos faraós e as civilizações mediterrâneo-orientais não teria nenhum vínculo com o “Continente Negro”, sendo eminentemente uma cultura branca para o imaginário ocidental (Morin, 1992).
Nosso principal propósito neste trabalho é tentar identificar alguns elementos formadores deste imaginário, a saber, de que a África negra não foi criadora de civilizações ou de culturas que deixaram vestígios materiais de grandes proporções, e que todos os resquícios arqueológicos de grandes dimensões encontrados especialmente na África sub-saariana teriam sido formados por povos vindos do Mediterrâneo, Oriente ou Europa.
Tendo como principais fontes crônicas de viajantes e literatura produzida de meados da segunda metade do anos Oitocentos até início do século XX. Nos interessa primordialmente entender a relação entre as narrativas de viagem em convergência com a ficção, originando o imaginário sobre a História e a Arqueologia da África, servindo como elementos de engajamento para público leitor do euroimperialismo.
Mas não apenas identificar o processo de origem, mas de disseminação e permanência deste imaginário até nossos dias.
Nossa principal metodologia são as teorizações de Bronislaw Baczko, que define o imaginário como as representações e imagens da vida social que denotam identidade, normas e valores para as comunidades. O imaginário social é um eficiente meio de propagação dos poderes políticos e instrumentos ideológicos, legitimando ações, instituições e autoridades (Baczko, 1984: 309-310). O grande recorte temporal de nosso tema de pesquisa explica-se pela adoção da concepção de imaginário como sendo uma estrutura de longa duração, que apesar de mutável quanto a forma aparente, possui uma base comum quase inalterável até nossos dias: (...) os imaginários nascem, vivem e morrem através de seus contatos e contrastes com outros do mesmo espaço cultural. Esse choque construtivo resulta de um processo muito mais amplo, que exige a exteriorização do material psicológico profundo (Franco Jr., 2003: 106).

Como complemento teórico, também adotamos as análises sobre literatura euroimperialista realizada pelos historiadores Mary Louise Pratt (Os olhos do império) e Edward Said (Cultura e imperialismo). É a partir da leitura deste autores que identificamos nossas principais problemáticas:
como o imaginário legitimou as aspirações de expansão econômica e política dos impérios europeus?
De que forma o olhar ocidental construiu um referencial de história africana, tendo como modelo sua própria civilização?

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