‘Mulheres de Argel’ (1832) de Delacroix foram agrupadas e retrabalhadas sob uma forma nova. Picasso circunscreveu o exotismo cru do Oriente com cores vivas e de ricos contrastes, combinando sutilmente os meios de representação ilusionistas e abstratos. Durante os anos seguintes, produziu mais de cento e cinquenta esboços e desenhos sobre ‘As Meninas’ de Velázques e vinte e sete quadros inspirados em ‘Almoço na Relva’ de Manet (entre 1959 e 1962). A série de releituras, terminou com vários grandes quadros que variaram e reformaram ‘O Rapto de Sabina’.

‘Mulheres da Argélia’ – Eugene Delacoix, 1834. Museu do Louvre, Paris.

‘As Mulheres da Argélia’ – Pablo Picasso, 1955. Coleção particular.

’As Mulheres da Argélia’ – Pablo Picasso, 1955. Coleção particular.

‘Almoço na Relva’ – Edouard Manet, 1863. Museu d’Orsay, Paris.

‘Almoço na Relva’. Pablo Picasso, 1961. Coleção particular.

‘Almoço na Relva’. Pablo Picasso, 1960. Museu Picasso, Paris.

‘O Rapto das Sabinas’. Nicolas Poussin, 1637-1638. Museu do Louvre, Paris.

‘O Rapto de Sabina’. Pablo Picasso, 1962. Museu Nacional de Arte Moderna, Centre Georges Pompidou, Paris.

A série de cinquenta e oito pinturas a óleo e de formatos muitos diversos, todas elas fazendo referência ao célebre quadro ‘As Meninas’ (1656-1657) de autoria do pintor da corte espanhola Diego Velázquez, cujo título se refere às duas damas de honra que fazem parte do grupo de personagens, apresenta o motivo central da obra de Picasso: “o pintor e o seu modelo”.
Poucas obras existem em que as condições históricas e sociais da atividade criadora tenham sido representadas de maneira tão magistral. O quadro de Velázquez nos mostra uma grande sala sombria apenas iluminada por algumas janelas laterais. Trata-se do estúdio do artista. Dez personagens, agrupadas na metade inferior do quadro, parecem perdidas na imensidão da tela. São: uma princesa espanhola, duas damas de companhia, dois anões e um cão tranquilamente deitado, o próprio pintor, dois cortesãos e um camareiro. Apesar das diferenças de pose e de posição das personagens, observa-se que o olhar delas está fixo num único e mesmo ponto. Estão concentrados num ‘cara-a-cara’. O objeto da atenção delas nos é mostrado no espelho pendurado no fundo da sala e que reflete, os rostos do casal real. A realidade da vida do pintor da corte que foi Velázquez é, pois, formulada com uma grande clareza, mas também com muita sutileza. A vida da corte era regida por uma etiqueta rigorosa que exprimia a hierarquia, o que a composição exprime pelos seus meios próprios: nesta cena, o artista é uma figura magistral.

"As Meninas’. Velázquez, 1656. Museu do Prado, Madri.

‘As Meninas’. Pablo Picasso, 1957. Museu Picasso, Barcelona.

‘Les Ménines d’après Velázquez’. Pablo Picasso, 1957.
Museu Picasso Barcelona.
Como o próprio Picasso declarou, Velázquez surge como o “verdadeiro pintor da realidade”. Desde sempre, tratava-se de dar a esta realidade uma nova forma. Ao contrário da série de releituras sobre as ‘Mulheres de Argel’ de Delacroix, a grande composição de conjunto abre a série. Enquanto exposição do tema, ela apresenta-se como um programa: o artista mudou o formato, re-valorizou fundamentalmente a personagem e a posição do pintor no quadro. Na versão que Picasso dá ao quadro ‘As Meninas’, tudo é mais evidente. As figuras são unicamente apresentadas de frente ou de perfil. É o triunfo de uma vontade única: a de Picasso. O artista é mestre do seu mundo, ele está habilitado a operar nele como entender. A instância concorrente, até mesmo pesada, do poderio real, deixou de ter lugar.
EXTRAÍDO DE: http://arquitetandoblog.wordpress.com/2010/01/20/pablo-picasso-releituras/