PABLO PICASSO - RELEITURAS DE GRANDES OBRAS

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Baseando-se num único modelo de história da arte, Picasso realizou longas séries de releituras de quadros de outros pintores. Entre dezembro de 1954 e fevereiro de 1955, nasceram quinze pinturas a óleo, entre as quais as
‘Mulheres de Argel’ (1832) de Delacroix foram agrupadas e retrabalhadas sob uma forma nova. Picasso circunscreveu o exotismo cru do Oriente com cores vivas e de ricos contrastes, combinando sutilmente os meios de representação ilusionistas e abstratos. Durante os anos seguintes, produziu mais de cento e cinquenta esboços e desenhos sobre ‘As Meninas’ de Velázques e vinte e sete quadros inspirados em ‘Almoço na Relva’ de Manet (entre 1959 e 1962). A série de releituras, terminou com vários grandes quadros que variaram e reformaram ‘O Rapto de Sabina’.



‘Mulheres da Argélia’ – Eugene Delacoix, 1834. Museu do Louvre, Paris.


‘As Mulheres da Argélia’ – Pablo Picasso, 1955. Coleção particular.


’As Mulheres da Argélia’ – Pablo Picasso, 1955. Coleção particular.


‘Almoço na Relva’ – Edouard Manet, 1863. Museu d’Orsay, Paris.


‘Almoço na Relva’. Pablo Picasso, 1961. Coleção particular.


‘Almoço na Relva’. Pablo Picasso, 1960. Museu Picasso, Paris.


‘O Rapto das Sabinas’. Nicolas Poussin, 1637-1638. Museu do Louvre, Paris.


‘O Rapto de Sabina’. Pablo Picasso, 1962. Museu Nacional de Arte Moderna, Centre Georges Pompidou, Paris.

‘O Rapto de Sabina’. Pablo Picasso, 1963. Museum of Fines Arts, Boston.



A série de cinquenta e oito pinturas a óleo e de formatos muitos diversos, todas elas fazendo referência ao célebre quadro ‘As Meninas’ (1656-1657) de autoria do pintor da corte espanhola Diego Velázquez, cujo título se refere às duas damas de honra que fazem parte do grupo de personagens, apresenta o motivo central da obra de Picasso: “o pintor e o seu modelo”.
Poucas obras existem em que as condições históricas e sociais da atividade criadora tenham sido representadas de maneira tão magistral. O quadro de Velázquez nos mostra uma grande sala sombria apenas iluminada por algumas janelas laterais. Trata-se do estúdio do artista. Dez personagens, agrupadas na metade inferior do quadro, parecem perdidas na imensidão da tela. São: uma princesa espanhola, duas damas de companhia, dois anões e um cão tranquilamente deitado, o próprio pintor, dois cortesãos e um camareiro. Apesar das diferenças de pose e de posição das personagens, observa-se que o olhar delas está fixo num único e mesmo ponto. Estão concentrados num ‘cara-a-cara’. O objeto da atenção delas nos é mostrado no espelho pendurado no fundo da sala e que reflete, os rostos do casal real. A realidade da vida do pintor da corte que foi Velázquez é, pois, formulada com uma grande clareza, mas também com muita sutileza. A vida da corte era regida por uma etiqueta rigorosa que exprimia a hierarquia, o que a composição exprime pelos seus meios próprios: nesta cena, o artista é uma figura magistral.


"As Meninas’. Velázquez, 1656. Museu do Prado, Madri.


‘As Meninas’. Pablo Picasso, 1957. Museu Picasso, Barcelona.


‘Les Ménines d’après Velázquez’. Pablo Picasso, 1957.
Museu Picasso Barcelona.


Como o próprio Picasso declarou, Velázquez surge como o “verdadeiro pintor da realidade”. Desde sempre, tratava-se de dar a esta realidade uma nova forma. Ao contrário da série de releituras sobre as ‘Mulheres de Argel’ de Delacroix, a grande composição de conjunto abre a série. Enquanto exposição do tema, ela apresenta-se como um programa: o artista mudou o formato, re-valorizou fundamentalmente a personagem e a posição do pintor no quadro. Na versão que Picasso dá ao quadro ‘As Meninas’, tudo é mais evidente. As figuras são unicamente apresentadas de frente ou de perfil. É o triunfo de uma vontade única: a de Picasso. O artista é mestre do seu mundo, ele está habilitado a operar nele como entender. A instância concorrente, até mesmo pesada, do poderio real, deixou de ter lugar.

EXTRAÍDO DE: http://arquitetandoblog.wordpress.com/2010/01/20/pablo-picasso-releituras/

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