A primeira edição da Mostra Maldita, que acontece no Theatro José de Alencar, leva ao palco a crueza de Plínio Marcos. Mas o que há de tão sedutor em seus textos?

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Mais uma vez, com o objetivo de subverter, perturbar e fazer pensar - não necessariamente nessa mesma ordem - o Grupo Imagens de Teatro, dirigido por Edson Cândido, apresenta sua Trilogia Plínio Marcos, levando ao palco do Theatro José de Alencar a dramaturgia voraz do paulista que escolheu as artes cênicas para tratar de questões políticas, ainda que domésticas.
Prostitutas, cafetões, travestis e dependentes de drogas habitam sua obra.

Dramaturgia:

Os números não mentem: no último Festival de Teatro de Curitiba (que apesar do grande número de espetáculos dificilmente reúne textos iguais) foram pelo menos quatro espetáculos com textos de Plínio Marcos, com duas encenações de "Navalha da Carne".
As obras foram, inclusive, divididas em uma mostra específica, chamada "Em Questão", com textos de Plínio, Nelson Rodrigues e Samuel Beckett. Mas por que se encenar Plínio Marcos? Por que espetáculos como "Navalha na Carne", "Abajur Lilás", "Barrela" e "Dois perdidos numa noite suja" ainda conquistam platéias em todo o País?
Segundo o professor do curso de Teatro da Universidade Federal do Ceará, André Magela, a pergunta, na verdade, talvez seja "porque ainda", já que, para muitos dramaturgos, sua obra é um tanto datada. Para Magela, pelo contrário, ainda se encena seus textos justamente pela atualidade.

"Plínio lida com tabus e talvez por isso ainda seja tão encenado. A forma cruel e impactante como retrata a sexualidade, a prostituição, a mesquinhez,... São coisas com as quais ainda não sabemos lidar", avalia.

Além disso, o diretor e professor ressalta a coragem com que Plínio tratou dessas questões. Para ele, o diretor que se propõe encenar sua obra precisa ter uma forte afinidade com os temas por ele trabalhados.

No caso de Magela, a relação com o trabalho do dramaturgo paulista vem, sobretudo, das aulas de teatro que chegou a ministrar em uma penitenciária.

"Quando levei ´Dois perdidos numa noite suja´ para uma leitura no presídio, a questão da criminalidade, do assassinato, não foi o que lhes chamou atenção, mas sim a miséria material, de não ter coisas básicas", retrata Magela. De fato, também o diretor Edson Cândido, do Grupo Imagens de Teatro, manteve uma relação estreita com a obra de Plínio ainda quando vivia em São Paulo, sua cidade natal. A companhia Imagens foi montada assim que Edson chegou em Fortaleza. Vinha já com o objetivo de encenar autores polêmicos. Iniciou então o estudo de textos e filmes que culminaria na trilogia.

Desafios:

Magela acredita que a possibilidade de fracasso em se fazer Plínio Marcos é considerável. Diretores e atores correm o risco de principalmente se equivocar, percebendo seus personagens com preconceito.

"O maior problema é olhar de um lugar conservador e convencional. Não é possível fazer Plínio Marcos a partir desse lugar", declara.

Pensando nisso, um dos cuidados de Edson foi levar o grupo a uma extensa pesquisa de campo, visitando bares, boates, praças, cabarés, saunas, e inclusive encenando os espetáculos nesses espaços alternativos.

Neste fim de semana, os cearenses poderão manter contato com a humanidade de Plínio vendo "Navalha na Carne", "Barrela" e "Abajur Lilás".

MAIS INFORMAÇÕES:
I Mostra Maldita. No Theatro José de Alencar (Praça José de Alencar, s/n).
Dia 11 "Navalha na Carne" (Porão do TJA).
Dia 12 "Abajur Lilás" (Sala de Teatro Nadir Papi Saboia).
Dia 13 "Barrela" (Sala de Teatro Nadir Papi Saboia).
Sempre às 19h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Censura : 18 anos. Contato: (85) 3101.2596

FONTE: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1068324

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