Gardner nasceu em 1884 perto de Liverpool. Teve diversas carreiras, e sempre se interessou pelo místico e pelo oculto. Conta-se que estudou desde as fábulas e as lendas antigas até os cultos secretos da Grécia, Roma e Egito. Gardner pertenceu à Hermetic Order of the Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada).
Em 1954 ele apoiou as teorias de Margaret Murray; que havia lançado um livro anteriormente defendendo a teoria sobre existência a cultos à Deusa que se perpetuavam desde a antiguidade; e que tiveram de ser disfarçados devido às caças às bruxas da idade média. Nesse mesmo ano ele lançou o livro "Witchcraft Today". Segundo ele, a bruxaria teria sido perpetuada pelos séculos de fogueira por uma tradição oral e familiar. Ele dizia que havia tido contato (em 1939) com a "Velha Dorothy" Clutterbuck, herdeira e alta sacerdotisa de um culto milenar sobrevivente. Segundo ele, ela o havia iniciado e lhe revelado a palavra Wicca.
Dizia também que lhe foi dado a missão de ser o porta-voz informal da prática da Wicca.
Gardner reuniu antigas lendas, rituais e fragmentos de textos antigos como base de sua doutrina. Somado a isso, ele teria inserido elementos da simbologia da magia tradicional e alguns rituais e citações de seu amigo Aleister Crowley. Com isso Gardner adotou como livro sagrado ou "Evangelho", chamado Aradia.
Este último era uma coleção de textos selecionados por Charles Leland em 1899; que contava várias lendas, entre as quais a principal era a de Diana, cujo encontro com o deus-sol Lúcifer originou Aradia, a primeira bruxa que revelou os segredos da feitiçaria aos humanos.
O culto de Gardner consistia em reuniões conduzidas por sacerdotes (apenas mais tarde foram consideradas as mulheres como as sacerdotisas principais peças do ritual). Nestes ritos eram adorados os deuses da fertilidade, a grande Deusa tríplice enquanto que dançavam nus e invocavam as forças da natureza. Os rituais eram semelhantes aos da magia tradicional, com círculos mágicos, exercícios de meditação, o uso de instrumentos como a adaga, a espada, o cálice e etc...
O ideal, segundo Gardner, era que os ritos fossem celebrados em plena nudez, pois dessa forma simbolizavam um regresso à era anterior à perda da inocência. Além disso, havia uma passagem em Aradia que dizia: "Como sinais de que sois verdadeiramente livres, deveis estar nuas em seus ritos; cantai, celebrai, fazendo música e amor, tudo em meu louvor".
Gardner ainda considerava o que chamava de " O Grande Rito", que era a prática sexual ritualística.
Entre os principais críticos, encontram-se Francis King e Aidan Kelly.
Francis King não tolerava Gardner pelo fato dele ter pago enormes quantias em dinheiro a A. Crowley para desenvolver os principais rituais de seu culto.
Já Kelly (fundador da Nova Ordem Ortodoxa Reformada da Aurora Dourada) acusou Gardner de criar uma religião inteiramente diferente do velho paganismo. Ainda não reconheceu Wicca como uma autêntica e "antiga tradição originada do paganismo europeu". Ele revela também, que o pretenso "Livro das Sombras" escrito por Gardner que dizia ter sido criado no séc. XVI , nada mais era que uma coletânea das várias tradições medievais.
A tradição Gardneriana era realmente muito diferente dos relatos de outras bruxas. A maioria delas revelavam que o culto se limitava à uma tradição mestre X discípulo, muitas vezes na família (mas nem sempre); que o ensinamento era oral, e que depois de anos e anos de muito treino e provas, o discípulo era apresentado ao Conven. Se fosse aceito no Conven, depois de um ano e um dia recebia a iniciação.
Segundo as bruxas, esse acesso era limitado a poucos escolhidos pois os rituais sagrados eram perigosos. Eles podiam provocar chuvas, ventanias, manifestar espíritos, elementais e etc...
Essa evidência, que supunha grande autenticidade, virou pretexto para aparecerem incalculáveis novas tradições subitamente; todas com pequenas variações do gardnerismo e supondo pertencerem à "antiquíssimas" tradições.
Com novas tradições aparecendo por todos os lados ligadas à Wicca, tornou-se moda, entre os anos 60-80 cada um inventar sua própria tradição. Cada livro publicado dava uma concepção diferente; começaram a aparecer os famosos "cursos de bruxaria por correspondência " e em pouco tempo o número de wiccanos autodidatas era maior que os que ainda se mantinham à tradições específicas.
Na minha opinião essa desagregação livre é que originou os diversos manuais de "auto-iniciação", que para mim não passa de uma fuga à responsabilidade de estudar profundamente ou de se submeter à uma disciplina compromissora.
Vemos hoje em dia uma corrupção da tradição. E a iniciação Wicca não é reconhecida pelas tradições de que mantém o método mestre X discipulo, pois qualquer um pode se conceder o título de iniciado sem critério algum.
Se alguém disser: "Estudo a tradição antiga da bruxaria, busco a comunhão com a Deusa e procuro me aprimorar espiritualmente"; isso será muito aceitável e incentivador. Porém se uma pessoa ler um livro (quando lê!) e realizar um simples ritual de auto-iniciação, e com isso se considerar no mesmo nível dos altos sacerdotes e iniciados, e disser: "Sou um iniciado, um bruxo, já posso fundar meu coven"; jamais vai ser levado a sério por um bruxo autêntico.
A bruxaria é aberta a todos, qualquer um pode adorar a Deusa e estudar profundamente sua literatura. Mas uma iniciação só é conseguida por esforço, compromisso e merecimento.
FONTE: A tradição Wicca de Gerald Brosse Gardner - Morte Súbita inc.