SETE — O NÚMERO MÍSTICO DO MACROCOSMO (Por Frater Barrabbas)

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Na tradição da Golden Dawn, é ensinado que o número cinco representa o microcosmo e que o número seis representa o macrocosmo. É por isso que o pentagrama é usado na magia que manipula o microcosmo, e, correspondentemente, o hexagrama é usado na magia que manipula o macrocosmo. O pentagrama é usado para invocar um dos quatro elementos ou o espírito, já o hexagrama é usado para invocar um dos sete planetas. É tudo muito limpo e arrumado, e parece que não há espaço para o debate em que não se aceite essa lógica, e muitos rituais mágicos e cerimoniais, de fato, aceitam-na.

Eu sou, infelizmente, uma exceção, porque não aceito essa lógica há pelo menos três décadas! Para mim, o septagrama (também conhecido como heptagrama) é a representação perfeita não somente do macrocosmo, mas da esfera dos sete planetas, que são exaltadas acima da esfera mundana, e que no entanto não são o mais alto nível do ser. Isto é semelhante ao que muitos filósofos neoplatônicos da antiguidade acreditavam, portanto, não é tão improvável quanto parece. Eu acredito que os planetas não são realmente os emblemas da Divindade tal qual como são as esferas através da quais a unidade se envolve com o mundo material. Acima da esfera de arquétipos existe o Uno, através do qual buscamos a união e emulação perfeita em nós mesmos. Essa unicidade dentro de nós é a nossa divindade individual, o nosso Atman ou Deus/Deusa interior.

Os sete arquétipos, que são tipicamente associados com as sete inteligências planetárias, também estão associados com sete das dez Sephiroth da Árvore da Vida (e os Sete Raios dos teósofos), todas essas qualidades são os atributos do Uno (a Mônada), mas isso não é o mesmo que dizer que elas são equivalentes. Assim, para mim, existem camadas com este modelo, e a estratificação destas camadas pode ser, em grande parte e, geralmente, classificada como consistindo no macrocosmo e o microcosmo, mas existe também um mesocosmo entre eles. Em outras palavras, isto é precisamente muito complexo para ser conceituado por uma explicação dualística, por mais simples que seja.

Como eu cheguei na dedução de que o número do macrocosmo é sete, em vez de seis? Foi um acidente! Bem, talvez se deva mais à minha frustração com o hexagrama como uma ferramenta para desenhar os ângulos planetários nas invocações. Quando parte para o desenho da formulação de invocação do sol, o mago tem que invocar todos os seis ângulos planetários anteriores, e, em seguida, sua combinação (junto com o glifo solar) produz o ângulo de invocação adequado do sol. Eu pensei que isto era uma espécie de complicação, e por não ser atado à metodologia da Golden Dawn, em vez disso, optei por experimentar com o septagrama.

Claro, Aleister Crowley já havia trazido o hexagrama unicursal, que tinha um ângulo específico para o sol, mas quando encontrei esta nova forma, eu já estava usando o septagrama. Outro fator que me influenciou é que o uso do hexagrama para a magia planetária é bastante vago no material da Golden Dawn, e a versão estipulada por Aleister Crowley no Liber O não é muito melhor. Como não havia ninguém por perto para me ajudar a descobrir isso, optei por criar um novo sistema. Afinal, eu era um bruxo praticante, e toda a base do meu trabalho ritualístico (usando o círculo mágico como espaço sagrado) era muito diferente do que o praticado pela Golden Dawn.

A primeira vez em que tentei fazer um desenho preciso dessa forma de estrela, tive que descobrir onde ficavam os pontos e, em seguida, conectá-los. Isso soa bastante simples, certo? Bem, para fazer isso, tive que dividir um círculo contendo 360 graus por 7, para produzir um ângulo de 51,42857..., ou arredondado para 51,43 graus. Usando um transferidor e um compasso, precisei marcar os ângulos exatos nos pontos do transferidor em 51,43, 102,86, 154,29, 205,72, 257,15, 308,58 e 360 ​​ou 0 graus.

Esta tarefa, é claro, não foi tão fácil quanto desenhar uma estrela de seis pontas, mas a septagrama resultante era muito bonito e alinhado. (Devo admitir que foi amor à primeira vista quando eu terminei de desenhar o primeiro.) A única desvantagem para o septagrama é que é muito difícil de desenhar no ar com algum grau de precisão ou consistência. Por esse motivo, construí um grande talismã consistindo de um septagrama pintado em um pedaço retangular de madeira de fundo preto, um aparelho que eu chamo de trígono. O trígono é colocado no centro do círculo, depois uma estrutura circular interno é desenhada e aberta, e é usada para a invocação ou banimento de um ou de todos os ângulos planetários dos sete planetas. Adotar o septagrama parecia ser apenas um esforço prático da minha parte, mas uma vez que comecei a realmente analisar a estrela de sete pontas, percebi que tinha um monte de correspondências simbólicas potentes que faziam dela realmente uma ótima escolha.

A mais profunda e dramática das associações simbólicas com o septagrama e o número sete é que eles simbolizam a união do céu e da terra. O mistério da Trindade é muitas vezes denotado pelo número três, razão pela qual o triskelion (três espirais entrelaçadas) e a Trindade são importantes aspectos da Divindade. Estes símbolos são muito mais antigos e mais difundidos do que a tardia Trindade teológica cristã. Assim, como o número três, a Divindade representa as forças combinadas de criação, preservação e destruição que permeiam o universo material e imaterial. A Divindade, como o três, se junta ao Divino Tetrad ou Tetraktys (o número quatro), que simboliza o mundo como Cosmos, para produzir o septagrama. Portanto, o número sete é um amálgama dos números três e quatro, a Divindade imersa no interior do mundo manifesto — a junção de espírito e matéria na perpétua União. Assim, o número sete é um símbolo muito poderoso, caracterizando o impacto do macrocosmo no microcosmo, promovendo uma espécie de mesocosmo mágicko, que é o lugar da mediação e da união entre esses dois domínios. Levando tudo isso em consideração, que símbolo pode representar melhor a invocação e manipulação de inteligências espirituais comandadas pelo magista (como representante da Divindade) para impactar nos planos mental e material?

Eu comecei essa jornada de adoção do septagrama por frustração, curiosidade e criativa inspiração, só depois percebi o quão importante e significativo isso acabou por ser. Descobri que minha adoção dessa forma de estrela foi uma característica importante do tipo de magia com o qual trabalho, e ela me levou a um novo tipo de ritual mágicko. Tudo isso aconteceu porque eu não era inteligente ou talentoso o suficiente para descobrir como trabalhar com magia planetária usando o sistema da Golden Dawn. Dois dos meus amigos, Scott Stenwick e David Griffin, tiveram que estudar e examinar cuidadosamente os documentos da Golden Dawn que nos foram transmitidos a partir de Crowley e Regardie, e a partir destes foram capazes de descobrir como funciona esse tipo de magia. Suponho que eu não era suficientemente perspicaz ou tão dedicado à tradição da Golden Dawn para desenvolver com método análogo ao que eles usaram. Em vez disso, inventei algo completamente novo.

Isso deve vir a ser um ponto interessante de discussão, e, talvez, o ponto central deste artigo. Quando um aluno sai da tradição e inventa seu próprio método de realizar alguma operação mágica? Eu acho que a resposta seria: sempre que a técnica ou o método não é bem articulado no material legado, ou se parece desalinhado, ineficiente ou simplesmente desajeitado, então o aluno tem todo o direito de criar algo que seja melhor ou mais alinhado.

Essa lógica não dá a ninguém o direito de mudar tudo e tentar reinventar a roda, por assim dizer. No entanto, se isso é o que o estudante quer fazer, e se ele pode retirar ou modificar aquilo sem fazer uma confusão, então ele possui total direito de fazê-lo. Isso pode vir a incomodar outros ocultistas nessa tradição, tratando-se de uma reconstrução, ou então o estudante pode fazer algo sem precedente anterior. Independentemente disso, se funciona muito bem e pode ser facilmente ensinada para os outros, então, isto tem progredido até ao ponto em que se tornou uma nova técnica prática. A maioria dos magistas, que realmente é, ao menos um pouco, digna de tal alcunha, acabará por criar o seu próprio sistema independente de magia, ainda que em muitas partes representado por uma contínua e vivida tradição, eles vão colocar seu selo exclusivo sobre isto.

Assim, o septagrama tornou-se para mim o símbolo esotérico central da magia do macrocosmo, representando a alta magia das sete inteligências planetárias e a arte da teurgia e evocação. Eu ainda uso o hexagrama na minha magia, mas ele é usada para significar a união do arquétipo masculino e feminino, não o utilizo para invocar arquétipos planetários específicos. O hexagrama é apenas dois triângulos sobrepostos um sobre o outro, mostrando que a união das graças ascendente e descendente é a essência da Grande Obra. Portanto, eu realmente elevei o significado e o uso da estrela de seis pontas na minha magia. Uso o sinal do hexagrama para indicar que as forças geradas anteriormente ou aspectos espirituais invocadas estão agora em união gloriosa. Talvez, de alguma forma, eu tenha encontrado uma alternativa mais adequada para a magia planetária, e coloquei o hexagrama em uma posição superior de honra e respeito.

Criatividade e experimentação são partes críticas do repertório do ritual e cerimonial mágickos. Sem elas, o magista nunca vai aprender nada novo ou descobrir outra e melhor maneira de fazer algo. Crescimento pessoal, uma consciência desperta e uma compreensão evolutiva e prática de técnicas espirituais são a marca registrada das aspirações progressistas do iniciado e adepto. Fazer a mesma coisa para sempre ou a manutenção de uma indisposição dogmática para tentar algo novo ou diferente são os sinais de uma prática ocultista falha. Que todos nós possamos ter a mente aberta, receptiva e inovadora em nossa prática e valorização da magia.

Por Frater Barrabbas.

Fonte: http://fraterbarrabbas.blogspot.com/2011/04/seven-mystic-number-of-macrocosm.html

Traduzido por Lizza Bathory.

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