LÚCIO E SEU PRECIPÍCIO

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Lúcio viera de uma família simples: sua mãe era servente na Prefeitura Municipal de Precipício, e seu pai era vigilante da mesma, em vias de se aposentar.

Desde pequeno, Lúcio era paparicado em demasia pelos colegas de bar de Valdemar, seu pai.

Como o pai era muito benquisto, pois, sempre pagava todas, o filho herdou os salamaleques que prestavam ao seu progenitor.

Quando fez oito anos, os amigos do pai lhe arranjaram uma mulher. 


O nome dela era Cremilda, prostituta experiente, puta consumada, mercadora de corpo das antigas.

Foram aos fundos do bar, ela arrastando ele pelas mãos. Ele quase chorando. Choraria sem medo não temesse os espancamentos do pai.
O pai fora preso várias vezes por gostar de mexer com as mulheres da vizinhança. 

Ficava na janela, altas horas da noite, mostrando sua genitália e fazendo psiu.
Um dia, Dona Gostácia, desgostosa com essa pouca vergonha, deu parte na Delegacia da Mulher.
Valdemar apanhou tanto, mas tanto, que, a partir daí, passou a desviar de Dona Gostácia sempre que a via na rua.
Ele passara a frequentar ritos sombrios onde enfiava alfinetes em um bonequinho que representava Dona Desgostácia, como ele passara a chamá-la. 

O estranho era Dona Gostácia, em vez de sentir pinicadas em seu corpo, desenvolver suas partes a olhos vistos. 

Suas protuberâncias ficaram mais relevantes, particularmente, seios e nádegas. 

Até com Valdemar passara a ser mais tolerante e convidativa.
Valdemar ficou atarantado. Não tinha jeito com agulhas. Afinal não era perobo, dizia.
Bem, voltemos ao filho. Quando Cremilda o deitou, ele não soube o que fazer. Ela pegou-o no colo então e começou a cantar uma canção de ninar. E não é que Lúcio dormiu.

Até pouco tempo, lhe chateavam com essa história, os amigos e inimigos dando boas risadas e acrescentando cada qual um ponto.

Seus pais se converteram à Igreja da Revelação Irrevelável há seis meses. Desde então, era um freqüentador assíduo desse templo. Virou um cheirador da palavra.

Com dois meses de culto, já conhecia todos. E, sendo muito ambicioso e tendo pouco amor ao trabalho, casou-se com Ester, a filha mais velha do pastor Jozebebel, o que lhe garantiu status e satisfez o pastor que já não sabia o que fazer pra tirar sua filha da solidão de caritó.

Naquele dia, Lúcio ia pregar. Colocou-se de modo empertigado no púlpito e, de maneira séria, compenetrada, começou a desfiar suas lições:

- A maneira recomendada divinamente de se relacionar sexualmente, segundo a cartilha, é a seguinte: o homem e a mulher devem lavar suas partes com um litro de água corrente misturado com uma colher de vinagre e outra de sal grosso. 


Após isso, a mulher deve abrir as pernas e esperar o membro enrijecido do seu parceiro para iniciar a penetração. Depois do ato sexual os dois devem orar, pedindo perdão pelo prazer proibido do orgasmo. Como penitência o açoite com vara de bambu é aceito em forma de purificação.

Ao finalzinho da palestra, adentra a sala Pureza Aparecida de Súbito. De vinte e poucos anos. Filha de Sônia Bocão com pai ignorado.

Ao que se comentava, sua mãe não queria saber dela. Até tentara prostituí-la com um amásio, dono da maioria dos puteiros daquela região. 


Esse só não aceitou por achá-la sem sal. Ele teria que ensinar muita coisa da arte sem-vergonhice. Ia dar muito trabalho.

Pureza fugira de sua mãe e fora morar com uma tia solteirona que, aliás, não cuidava muito bem da filha de criação. Não orientava, nem vigiava. E dentro desse ambiente largado Pureza foi crescendo a olhos vistos

Tornou-se uma moça de beleza extrema. Era um sol ofuscante para os olhos masculinos de homens, lésbicas e bi. Só tinha um leve defeito: era estrábica. Mas isso era um mero detalhe que não estragava a escultura do seu todo corpóreo.

Em sua vida atribulada, Pureza experimentara de tudo um pouco, dando especial realce a alguns pecados capitais. Particularmente, à Luxúria (com uma grande parte de vaidade) e à Preguiça (com uma alta dose de ambição).

Morava perto de uma dessas igrejas de esquina, a Igreja, aquela lá ó, esqueci o nome.

Ela observava de sua janela, que tinha uma localização privilegiada, os carros luxuosos que estacionavam perto, principalmente, quando havia cultos grandiosos.

Chamara sua atenção o carro de Lúcio, um dos últimos lançamentos da indústria automobilística, que a seus olhos desconhecedores provocava contrações de vibrações "metaleróticas".

Pureza, esperta como ela só, tratou de se aproximar da Igreja logo que se mudara.

Com muita habilidade e lentidão, seduzira Lúcio. Começaram a se encontrar às escondidas. Depois, continuaram o mistério, para dar maior sabor e não ofender a dignidade de Lúcio, defensor que era na igreja da moral e bons costumes.

Quando Pureza chegou à palestra, naquele dia, Lúcio até gaguejou em seu discurso, mas, rapidamente, se recompôs:
- Segundo a cartilha do Nosso Santíssimo Padre Belasartes, de Nossa Venerável e Santa Igreja da Revelação Irrevelável, os três modos condenáveis de se fazer sexo são:

1-Posição de Quatro:
É uma das posições mais humilhantes para a mulher, então o homem que faz o cachorrinho com sua parceira fica com sua alma amaldiçoada e fétida.

2-Sexo Oral:
O prazer de levar um órgão sexual à boca é condenado pelas leis divinas. E o homem sentirá dores musculares na língua ao sugar a vagina de sua parceira.

3-Sexo Anal:
O ânus é sujo, fétido e possui em suas paredes milhões de bactérias. É o esgoto propriamente dito. No esgoto só existem ratos, baratas e Mendigos.

Os olhos dos homens presentes torceram na direção de Pureza, tendo em seus pensamentos a imagem da moça de quatro atiçando-os oral e analmente. Os olhos viraram a um só tempo, numa mesma sincronia, mal ela entrou.
Incontinenti, as mulheres que os acompanhavam acionaram beliscões de intensidade máxima, acionando o controle remoto de seus ciúmes explícitos e implícitos por seus companheiros.

Depois de dar a palestra, com o rosto imperturbável de honestidade e pureza de princípios, Lúcio faz um sinal para Pureza. 

Ela estava com um vestido comprido, mas, como não derrapar a dignidade ante sua fartura "bundipígia" e eloqüência de quadris, ressaltadas ainda mais pelo vestido colado embora longo.

Lúcio já a imaginava sem calcinhas no Motel Cantagalo, com água e sal grosso, cachoeirando nas curvas do corpanzil de purezinha, cujas curvas acentuavam a tentação do luar e o brilho da noite nas mesas dos bares.

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