COMBUSTÃO

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Os olhos de Bela brilhavam tanto, mas tanto, que ninguém se aproximava muito quando ela tirava as lentes protetoras.
Todos à sua volta acabam se queimando num momento ou outro. Não fosse ela muito linda, mas, muito, muito mesmo, não ousariam seus amigos e pretendentes se arriscar.
Nascera com esse problema. Seus olhos tinham uma incandescência além do normal.
A primeira que se queimara fora sua mãe. Logo que Bela nascera, o útero de sua mãe pegou fogo.
Mas somente o útero. Quanto a seu pai, quando a teve ao colo pela primeira vez, quase ficou cego, não fosse seu bebê - vulcão dormir de súbito.
Como era um cientista, tratou de dar tratos à mente e, em uma semana, criou um par de lentes especial que facilitaria a socialização de sua filha.
Até que conhecera o Elias. O Elias tinha um carro que parecia uma carruagem de fogo. Por aí, pelo carro, começou o amor de Bela, apesar de terem-na criado para ser desinteressada.
Depois do carro, seu amor passou para Elias, bom caráter, bom filho, boa conta bancária.
Um dia, em que tirara, casualmente, as lentes, Elias chegou de surpresa e não foi atingido pela luz de seus olhos.
Ela achou estranho. E desde esse dia, quando estava com ele, não punha as lentes.
No último domingo, Elias combinou um almoço com Bela. Seria no terraço de um famoso restaurante. Elias reservara só para os dois.
Ela chegou primeiro. Sentou-se, olhou o relógio e foi ao banheiro retirar as lentes.
Quando voltou pra mesa, lá estava Elias. Foi quando ela estava a pouca distância que notou. Ele usava lentes azuis e estava retirando-as e colocando-as num lenço de papel na mesa.
De repente, ele olhou pra ela. Entrou em combustão.

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