SURPRESA DERRADEIRA

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Esperava ansiosamente a visita dos seus amigos. Amigos que considerava mais até que a própria família.

A solidão ali era avassaladora, nuvens escuras nos cantos, corujas estranhas a passarem de aventais brancos.
Tanajuras passavam sempre no seu leito para auscultar-lhe a vida.
Mas a vida não era nada em comparação com a intensidade de alma que sentia em seus amigos.
Soubera que estavam chegando.
Por que não o visitaram antes quando havia ânimo maior em suas células?
A irmã passava óleo em suas pernas que secavam.
Deixavam suas pernas como pernas de perôbo, como diziam na sua Alagoas.
Quando se internara da outra vez, observara no estacionamento do hospital carros funerários com o símbolo da Suástica.
Foi daquela vez que ficara com raiva de sua prima Silmara. Pegou ela e o médico cirurgião a foderem no leito que pertencera a seu Joaquim, que morrera de câncer logo após essa transa. Terá sido uma coincidência?
E os seus amigos que não chegavam?
Estava sentindo seus órgãos a falirem.
Pelo jeito, teria de morrer sem ter falado com eles.
Sua alma estava com pressa de deixar o corpo que enfeiava e secava.
Mas chegando do outro lado, no país da Morte, quem ele encontrou?
- Nós chegamos e ficamos esperando você.
- O que aconteceu com vocês?
- Houve um acidente fatal. Um irresponsável bateu de frente com nosso carro.

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