JARDIM DE URANUS de Natanael Gomes de Alencar

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Verlei desce aquela rua, não lembra nunca o nome, uma vez por semana. Terceira vez na semana que passa por ali. Gostava de ver as sombras que se formavam naquelas horas da noite. Tinha um prazer sádico em chutar as oferendas dali. Havia muitas em cada esquina. Naquelas horas, ninguém ligava pro seu desrespeito. Como se todos sem exceção, houvessem dormido, até os animais domésticos, até os insetos. Distraído, escorrega nas fezes de um cão. Afeta-lhe o quadril. Um xingamento lança aos céus. Procura um papel para limpar a calça. Acha um caderno de orações rasgado. Tira a sujeira por cima. Depois limpará melhor. Folheia o caderno. Vem-lhe à mente seu tempo. Um tempo, que apesar de alegrias aqui e ali, ele considerava menos imaculado. Não gostava de lembrar muito, mas de súbito um poema-oração lhe pousou no bestunto, como uma rasga-mortalha no busto de alguma praça. Sentia um mau-agouro naquele baile da memória. Joga pra longe o resto do caderno. O poema-oração aumenta de volume.

Sempre quando vou na igreja
O Senhor vem, me recebe,
Beija-me e me faz sentar
Para que eu lhe confesse

Suas bênçãos sobre mim
São como pão, como vinho,
São gozos na tempestade,
Uivos de puro carinho

Meus pecados são lavados
Como pudicas escadas
Por anjinhos querubins
Negritinhos na calada

Que estes anjos bonitinhos
Guardem-me de Satanás,
Peladinhos no altar
Encham meu gozo de paz

Verlei fez este poema-oração aos nove anos. Não. Aos oito. Não. Aos dez. Por volta então.
        
Embora nascido em família muito religiosa, fora atraído pelos olhos da serpente, segundo seu pai, desde cedo. Criança-gênio, lia Baudelaire e Byron no original. Precoce também na área sexual, tinha uma fixação doente pelos filhinhos da sua mãe preta. A maioria, segundo ele, era bastardinho de seu pai. Sentia por eles uma excitação santificada quase. Na puberdade, possuía cadernos onde extravasava essa e outras taras. Às vezes, distraído, esquecia um destes cadernos por aí. E se era o pai que achava, ai ai ai !!!, tratava-o como um verme. Humilhava-o. Dava-lhe  surras de vara de marmelo, tinha a cabeça pisada, batida na parede, além de ser alvo de outros castigos desumanos e inomináveis. O pior, o mais execrável castigo era ser acorrentado no porão. Correra perigo de vida por isso. Pelas marcas em S nas costas, teve o apelido de filho de Satã. Por dá-cá-aquela-palha, era espancado. Toda coisa errada era sua culpa. Foi quando começou a fingir, a mentir, a torturar animais domésticos, seus e dos outros.  Era uma época em que se masturbava muito. Seu pai, para contê-lo, encomendou uma espécie de gaiola com pregos para prender o pênis do filho e evitar que ele tocasse no mesmo. A gaiola permitia que o garoto urinasse tão - somente. E nessas horas de esvaziamento, recitava, mentalmente, versos do livro Flores do Mal Em meu ser todo inferno afinal vai entrar:/Ódio, frêmito, horror, labor duro e forçado,/ E, semelhante ao sol pelo inferno polar,/ Meu coração é um só bloco rubro e gelado.

Aos quinze anos, aumentou em Verlei a obsessão pelo prazer do sexo sádico. E por volta dos vinte anos, manifestou-se de modo mais acentuado sua atração oculta. Sempre gostou de pederastas, ou melhor, de uranistas, como os chamava o Dr. Gouveia que, aos que perguntavam a origem do nome, dizia que veio do alemão URANISMUS, que teria sido criado a partir do nome da deusa grega AFRODITE URANIA, filha de Urano, nascida dos testículos do pai, cortados pelo seu irmão Kronos.  Conta-se que o Dr. Gouveia tinha um sobrinho assim, assim. Um sobrinho de mais ou menos treze anos que ele assediava. O sobrinho se negava, reagia, dizia que não era certo, afinal eram parentes. Gouveia rebatia: - Não sou irmão de sangue de sua mãe, e sim adotivo. Então, sem problema. Vamo fo...fa...fi....! – Antes que completasse, o sobrinho fugia. Perdia seu tempo e seu latim. E por ser uranista sem disfarces, e sem armário, não sendo aceito pela família, o sobrinho foi expulso de casa. Dr. Gouveia não moveu uma palha para ajudar o menino.

Algum tempo depois, o Dr. circulava pela cidade, por volta das nove da noite, aproveitando que as lojas fechavam as vinte e duas, quando deu de cara sabe com quem?....com o sobrinho.  O ano não tenho certeza, mas, se não me falha a memória, o lugar....foi em frente ao Cine-Theatro Íris, entre o Largo da Carioca e a Praça Tiradentes, um dos pontos da vida noturna carioca onde ficavam os meninos de ares uranistas desde as oito da noite. O sobrinho dele usava uma saiinha vermelha, bem curtinha. E estava maquiado como uma rameira, exalando perfume barato. Gouveia ficou excitado. Trocaram piscadelas e foram a um lugar mais discreto. Dizem que Gouveia teve de gastar todo o dinheiro que tinha. Ficou sem um níquel, sendo tratado pelo sobrinho como um cliente normal, sem privilégios.

         Mas voltando a Verlei. Aos vinte e cinco, se casou. Teve dois filhos nos dois primeiros anos de casamento. Conseguiu controlar seus impulsos à custa de muitas orações e  penitências. Como cursava também a Faculdade de Direito, os estudos também ajudaram a concentrar o foco em outras coisas. No entanto, três anos depois de formado, quando eleito para a presidência de uma associação de advogados, afrouxou a moral, descontrolou, soltou as rédeas de seus impulsos novamente.

           O tempo passou, e ele foi levando essa vida dupla, mentindo sobre a mesma com uma falsa agenda jurídica, para justificar suas escapadas. Foi perdendo a vitalidade no decorrer dos anos, diminuindo assim o ritmo boêmio.

    Quando fez sessenta, apareceu uma grave doença venérea. Ficou arrasado. Foi quando, em desespero, começou a voltar às missas católicas de fim de semana, num delírio obsessivamente antianal.

Sexo anal é pecaminoso, /O que sai do fundo vai pro esgoto,
Há espíritos bestiais soprando atrás,/ Satanás tem ali seu trono,
Sua coroa é de Flor de Uranus/  No esgoto vivem ratos, vermes,
Como o inferno onde diabos vivem,/ É o intestino, o túnel final,
Onde deixa restos a humanidade, / E reina Satã, o rei do anal
Sexo anal é suja dor, /  pecado atroz mortal,
Avivar o ânus com amor / É ofender o plano divinal,
Desfolhar então a Flor, / Acabar com seu cheiro mau

          Mas não demorou pra que esquecesse a igreja, e que retornasse à vida dupla, logo que suavizaram os sintomas da doença. Pensou nos momentos passados.  Os amantes jovens, aventuras de antes, se mandaram, amadureceram. E partiram pra caminhos diversos. Muitos se fizeram pais de família de reputação ilibada ou, quiçá, um pouco manchada, como a de Verlei. Constante mesmo só o sobrinho do Gouveia, que atendia agora por “Xica da Silva”, sendo ainda frequentador do Cine Íris.

         Quatro de setembro de 1896. Agora, Verlei tem sessenta e dois anos. Trajado ao modo clássico, Verlei flana, como sempre, nestas horas mais escuras, pelos pontos marginais da cidade. Tem o hábito de passar a língua nos lábios quando algo ou alguém lhe interessa. Vai devagarzinho, com medo de cair de novo. Na metade da rua,  para de repente. Lembra de um compromisso. Apressa o passo. Penetra mais fundo no subúrbio. Segue andando por aquela rua da qual esqueceu o nome. Parece rua com esclerose. Mal alinhada e cheia de poças. As calçadas idem. Um fedor insuportável. Atrás de si, ouve vozes de gatunos e ciganos discutindo. Uma série de edifícios velhos. De um desses pardieiros jogam uma bacia de xixi. Quase leva um banho. – Filhos da....Passa por larápios de andar gingado, uns estapeando, outros vigiando suas rameiras, muitas destas com ramo de arruda no cabelo. A noite com olho sonado de lua minguante não vê a hora de dormir pra cobrir suas vergonhas à mostra.

         Avista um sobrado em ruínas, pendente para um lado. É um sobrado com dois pavimentos. Na entrada, vê duas crianças raquíticas a serem pressionadas por uns larápios. Espera que se afastem. Entra com cuidado. Sobe os degraus do primeiro pavimento, caminha por um corredor, o soalho range e quase fala, e pára em frente a um quarto, hesita. Bate. Chama um nome. Não há resposta. Não encontra o fulano seu devedor, que, há uns dois anos, exerce a miserável profissão de caçador.

Há uns quatro anos, Verlei empresta a juros para alguns profissionais que vivem de atividades exóticas, situadas na margem da sociedade.        

Sai do sobrado e recomeça a caminhada. No trajeto, vai encontrando cães revirando lixo, gente humilde se abrigando, olhares trapaceiros, e outros tipos da espécie que se diz humana.  Verlei sente asco dos que estão à margem. Acha-os culpados pelas enfermidades, pelo banditismo, e por tudo que há de fedorento na cidade.

O Rio como toda cidade grande, neste final de século XIX, não tem pudor de jogar a miséria na margem, nos monturos, nos lixões. Estes miseráveis são seres especialistas na aritmética dos restos, nas dimensões das sarjetas, na tipologia dos ratos e dos magros gatos dos telhados; são os que catam o inútil para sobreviver. Para a polícia não compensa levá-los à prisão, pois são nada de nada mais nada vezes nada dividido por um.

         Verlei não se sente mal por emprestar a juros aos que labutam na margem. Observa-os há muito tempo. Constatou que muitos deles são negros. Negros aos quais o sistema libertou para mais prender noutro tipo de pelourinho, na beira podre de si, e logo os expulsará para longe das vistas. Verlei percebeu que pode aproveitar essa miséria a favor de seu vício durante um bom tempo ainda, estejam longe ou perto do centro.

         Dos profissionais da margem, os trapeiros, os molambeiros, os ratoeiros e os sabidos são geralmente mais velhos, com grandes famílias para sustentar.  Os trapeiros catam trapos nos monturos, para vendê-los a casas de móveis, para uso dos lustradores, e para fábricas, que os transformam em papel. Os molambeiros catam roupas velhas nos monturos para venderem-nas aos brechós, que apuram um lucro de mais ou menos quatrocentos por cento. Os ratoeiros são os matadores de ratos, sempre de latinha de veneno e cornetinha, arremedo pífio do instrumento do flautista de Hamelin. Os sabidos vendem as botas e sapatos que acham nos monturos aos remendões, geralmente italianos, que os consertam e vendem com um lucro de mais ou menos oitocentos por cento.

Verlei, antes de fazer o empréstimo, estuda bem as possíveis consequências.  Observa as famílias. Anota o número de crianças e menores que estão na puberdade. Coloca os juros nas alturas quando percebe que o devedor tem muitas crianças na família. No dia da cobrança, chega com dois capatazes. Escolhe os mais fortes entre os gatunos afamados. Quando o devedor, desesperado, quase se ajoelha, ele coloca suas condições. - Tudo bem. Esqueço os juros, mas....só se suas crianças me compensarem de uma forma especial....

Com caçadores, selistas e tatuadores, a relação de cobrança de juros é diferente. São categorias marginais onde se encontram muitos jovens. A maioria tendo entre treze e quinze anos.  Grande parte deles trabalha como ajudante, com muita agilidade, sem tremores nas mãos, e visão aguçada, habilidades joviais necessárias ao exercício das atividades.

      Os caçadores pegam gatos, matam-nos, tiram a pelagem, e os vendem a restaurantes chiques para se tornarem carnes de coelhos, iguaria fina e saborosa; os selistas passam o dia perto das charutarias, investigando as sarjetas e calçadas à busca de rótulos e selos com anéis daqueles que envolvem os charutos. Os anéis dos charutos servem para venderem uma marca por outra nas charutarias.

 Os tatuadores, menores de idade e maiores, vão pelas ruas com três agulhas e uma lata de graxa, vendendo sua arte, desenhando, nas carnes dos trabalhadores ociosos, grandes e pequenas coroas, nomes de namoradas, de filhos, de mãe, corações, outras coisas. Nessas ocasiões, enquanto os tatuadores trabalham, ciganos ou outros se aproximam, aproveitando o estado de sensibilidade à dor para oferecer suas bugigangas.

 Com essa categoria mais jovial, Verlei usa uma estratégia diferente. Vai fazer a cobrança com três capangas, um bem forte, e dois bem ágeis. Os menores geralmente não têm parentes. Acabam muitas vezes pagando os juros que os maiores, dos quais são ajudantes, deveriam pagar. São levados a um local específico, um enorme parque, de preferência.

Geralmente, nesse local, Verlei faz que fiquem de costas. Apalpa suas nádegas algum tempo. Pede aos capangas que façam o mesmo. Pergunta o que acham. Dependendo do que falam, prossegue ou não. Se não prossegue, aumenta os juros da dívida. O devedor tem de buscar meninos que o satisfaçam. Caso não o satisfaçam, o devedor é colocado na roda para o usufruto dos capangas. Dizem que os seviciados e abusados ficam com tanta vergonha que mudam pra outra cidade.

Se o Rio de Janeiro nobre, luxuoso e confortável, não conhece essa gente humilde das pequenas profissões, Verlei a conhece tão bem que sabe o ponto exato delas no qual pode exercer o seu sadismo.

         Pensando neles, ele lembra que, numa difícil fase de sua vida, cogitara em revirar calçadas à busca de anéis de charuto...mas não precisou. Verlei prossegue, a flanar pela rua, até que resolve entrar na taverna do Tonho da Doida, que é próxima a outras, viscosas de imundícies e vícios. Senta a uma mesinha da entrada. Busca ao redor por quem possa atendê-lo, acenando de longe para uranistas conhecidos.

      Os habitués costumam lotar todas as cadeiras, a maior parte deles são jovens inconformados com as grades das convenções.  Há fanáticos adoradores de lundus, tocadores de chorinhos, cantores de modinhas, de árias, canções; também, gente de teatro, escritores, adoradores de Chopin, Beethoven, homens que amam mulheres, outros que amam homens, mulheres que curtem mulheres, seres que curtem ambos, e muita fumaça das mais diversas origens.

         Todos são muito bem recebidos ali, todos se entendem, todos se abraçam, choram nos ombros uns dos outros, riem, gargalham, discutem e vão esquecendo as agulhadas do dia. Naquele espaço, são combinados os principais movimentos, ações, reações, e encontros, motivados pelas expectativas da jovem república, que tem a pretensão de resolver os problemas deixados pela monarquia.

       Verlei olha o relógio. Observa o céu. Noite de lua cheia. Uma enorme lua. Fecha os olhos e aspira profundamente. O dia fora tumultuado. No escritório, quase perdera a paciência com um colega defendendo tratamento mais humano aos profissionais do monturo. Não fosse sua esposa chegar no momento exato ele teria feito uma loucura.

Mais uranistas começam a chegar aos seus pontos na cidade.  A partir das vinte horas, costumam tomar conta das portas e porões dos teatros,  nos dias de espetáculos; dos cafés, restaurantes, bilhares, botequins, portarias de conventos, escadarias de igrejas, casas de banho,  além de parques e praças,  apesar da estranheza e aversão das classes médica, jurídica e religiosa.   Teve um médico, há alguns anos, o Dr. Pires da Silv...não, de Almeida, isso, que relatou haver uma enorme quantidade de uranistas espalhada pela cidade do Rio, principalmente no baixo comércio.  Segundo este médico, tal população crescia assustadoramente, tanto que se buscou sua redução por meio da importação de prostitutas européias – as “ilhoas”, geralmente vindas da Madeira e Açores.
       
Nesses grupos mal compreendidos, circula, nas horas mais escuras, o advogado Verlei. Entre eles se sente um Byron, poeta de sua predileção. Gosta especialmente de declamar aquele: Uma taça feita de crânio humano.
(....................................................................)
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Toma meu crânio! Entorna!... que a larva
Tem lábios mais sombrios do que os teus. 
(..................................................................)
           Declama toda hora esse poema. Por encher tanto o saco, ninguém mais aplaude. Sem graça, resolve partir dali. Bebe um cálice de vinho e sai dali sem olhar para trás. Quer agora o Beco da Coruja. Tá com desejo de chafurdar na sua carnalidade de ébano.

O advogado, há uns seis meses, é assíduo habitué da Taverna do Beco da Coruja, especialmente em noites como esta, de lua cheia, quando segue estranho e erótico ritual. O lugar é administrado por uma pessoa conhecida como Maluca. Nesta taverna, o advogado lambe os beiços. Ali, a especialidade é a relação sexual com menininhos negros. Estes se vestem e se maquiam como mulher. Possuem de onze a 14 anos. Meninos em sua maioria escravos da cachaça e do absinto, usados para esquecer ou para construir paraísos artificiais, compensadores daquele lixo de vida.

Verlei não vê a hora de chegar. Depois de uma meia hora, andando e parando pra ajeitar as calças, ou pular as poças, finalmente chega. Ao entrar na taverna, percebe que há gente nova.           Gesticula. Pede o de sempre. Maluca, uranista antiga, o serve. Têm a mesma idade. Ela toca nas coxas dele, velhas conhecidas suas.

       Na porta da taverna, chegam um pai com seu filho de sete anos. Encaram o advogado. O pai pergunta ao filho se aquele velho é o homem que abusou dele. O filho tenta sair daquela situação, mas, acaba confirmando. O pai puxa um revólver, preme duas vezes o gatilho, e eis que percebe, tarde porém, que, na ansiedade de pegar o abusador, esqueceu de colocar as balas. Para sorte de Verlei, acertam mortalmente o homem na cabeça, arrastam-no e o roubam, sequestrando depois a criança para venderem-na à prostituição.

         Passados cinco minutos, Maluca anuncia: - Senhoras e Senhores! Aplausos para Salomé, a princesa muda!!!! Entra no recinto um rapazinho negro, do tipo que ele gosta, mignon e magrinho, um que ele nunca vira por aquelas bandas. O rapazinho deve ter uns catorze anos, se não menos. Seu nome verdadeiro Sebastião. Vai apresentando um pequeno show de balé entre as mesas, usando como leque uma vassoura de piaçava sem o cabo, show criado por um tio seu. Parente que um dia encontrou graças à Maluca, quando esta visitava o sobradinho dos escritores Coelho Neto e Aluizio Azevedo, um lugar onde a diversidade tem guarida. Dizem que até o presidente Prudente de Moraes passa vez em quando por lá para cumprimentar os escribas. 

O tio servia a mesa dos escritores, vestido de mulher e dançando. Maluca viu no tio uma semelhança facial muito grande com o sobrinho.   Então se aproximou, soube de sua história e contou a Sebastião, que foi conhecê-lo. Como Sebastião era mudo, Maluca foi traduzindo os gestos. O sobrinho resolveu adotar o nome de guerra do tio, Salomé, e passou a fazer a mesma performance, só que entre as mesas da taverna. Com a permissão do tio, é claro.

Salomé se aproxima mais, qual uma jovem ovelhinha, procurando adivinhar as intenções daquele velho lobo.
                                
      Meu nome é Verlei. Estou sempre aqui nas noites de lua cheia. Quero lhe chamegar, lamber seu cuzinho todo. Preparou já? Tá lavadinho? Tá cheiroso? Passou creme? Levada. Quero rasgar tua calcinha. Maluca deve ter te ensinado umas coisas. Ela sabe meus gostos.  Meu linguado ta seco pra nadar no teu piscoso. A saliva da serpente escorre. Meu grilo armado para a flor da escuridão.

                           
Ela levou-me BONA GRATIA a um quartinho nos fundos. Abaixou minhas calças até o chão. Como meus pelos estavam crescidos, foi difícil pra Salomé. Os pelos dançavam em sua língua. Tinha de retomar o fôlego de tempos em tempos.

Parecia, sim, a filha da Rainha de Sabá. Também uma linda deusa de ébano. Abaixou-me as calças BONA FIDE até o chão, sujo de melosas histórias.

Dei-lhe uma virada. Pulei sobre seu macio e carnudinho traseiro BONA RES. Rasguei com os dentes sua calcinha que tinha um cheirinho de cio.

Como era lua cheia e já estava transformado em lobisomem, aproveitei. Cuspi nas minhas garras e, deliciosamente, me aproximei e tomei posse de seu buraco. BONA FIDE POSSESSOR. Girei a toda rotação, para alargar o caminho.

As veias do meu membro incharam vistosamente. Então, reparei que se rasgou a camisinha. Um lobisomem moderno, sem camisinha, é um acinte.

Todavia, todas estouravam na excitação. Tinha cada vez mais dificuldade em encontrá-las com o meu número. IN LIMINE, num instante, devorei sua flor de uranus.

Pedi a ela que me ajudasse, esticando as nádegas, a que eu enxergasse o objetivo IN LOCO. Ela não só fez isso, como me mostrou um jardim dentro da flor.

Aquilo me deixou doido. Quando estava pegando fogo, o orifício dela qual um lança-chamas; transformei o meu palhaço em engolidor de fogo. STRICTO SENSU.

Quando encostou na minha barriga, engrossei dentro, estourei o anel da negrinha de Sabá e quase que mergulho dentro dela. De quatro, ela masturbava, enquanto eu socava sem medo de me afogar em suas profundidades máximas. A dor que eu observava me fazia possuidor de um prazer sádico. Então, parei dentro dela durante bastante tempo.

         Me fodi, pois, ficamos colados. E ela pulava, pulava tanto, que aumentava o gozo nosso. Maluca, que nos filmava, jogou-nos água quente. E descolou? Descolou. Mas doeu até umas horas. Maluca do caralho! Aquilo me brochou. Mas Salomé não perdeu a classe. Sugeriu que a gente recomeçasse.

       Então, consegui convencê-la a que fôssemos ao Parque Municipal, onde ocorreram muitos dos meus encontros.

Chegados ao Parque, trançaram logo as veias. BREVI TEMPORE ele mete a língua na orelha de Salomé. Chupa-lhe a ponta do nariz ANIMUS NECANDI. De um bote, lambe-lhe toda a face. Com seus cotovelos, força o pescoço de Salomé, a carne imersa em volúpia. Na memória de Verlei, passam nomes de carnudinhas bundinhas de ébano pelas quais passara.

Minha rola reta. Asas com veias grossas. Para o ninho do seu esconso. Foder pelo bem de uranus teu planeta Olho Cego. Tua piscada floral. Quarto olho a fechar e a abrir. Danço em ti minha língua. Dançar, de cima para baixo, de baixo para cima, de trás pra frente e de frente para trás, porém muito mais de trás para trás, aliás, do que de trás pra frente. Minha tara egípcia. Bundinha gostosa. Ai, doeu? Deixo só a cabecinha então. Soldado Uranus ou flor uranus em revista? Tristinha? Tá bem, é flor de uranus. O corpo humano é um soldado que dança. Sim, ele deve dançar. Balança, vai. Num suor de desejo, percorro-te o vale uranus, em Eros radioativo.

Mergulho-te meu grosso calibre. Vira...devagar...empina. Quero inflamar-te. Foder-te as órbitas. Escancarar-te as mandíbulas. Teus peitinhos mordo e mastigo. Teu umbigo escavo...teu falo inflamo...Afundo-me em teu ânus piscoso. Pesco no mar do gozo. Tua cabeça receba este sêmen. Toda fruta deixa seu cheiro e gosto na porra. Ingeri uma manga. Chupa essa manga e delira!

          Cavo-te até achar-te os rios de libido. Tuas órbitas banho. Teu nariz alargo.         Tua boca deixo com orgasmos. Ávido meu pênis envolve-te o pescoço. Meu pau cavalga tua pele de ébano.        Chupo-te a cava das costas. Separo-te os braços. Crucificas meu desejo para sacrifício dos pecados.            Tua bundinha separo com as mãos. Os ossos estalo do seu vale de uranus.            Tuas coxas inflamo numa só pasta de prazer. O preto combina com o vermelho.

                Mais um cadáver. Um ser que deixara de sofrer.  Verlei está sujo de sangue, como sempre. Dessa vez não trouxera roupas a mais. E ele costumava ser cuidadoso em excesso. Até a vez passada. Bobeara e um menino fugira. Ele não sabia, mas o pai do menino quase o matara. Sempre trazia uma muda de roupas igual a que trajava. Colocava fogo na roupa ensanguentada e vestia a outra. Dessa vez, um fato inusitado. À sua volta, entidades espirituais que nunca vira. Talvez orixás ou servos dos mesmos. Entidades gigantescas. Vestidas como reis e rainhas africanos. E os meninos à frente dos espíritos? Todas as suas vítimas, lhe parecia. Por impulso inexplicável, vai tirando toda a roupa. E, totalmente nu, começou a andar sem destino. Algo aconteceu. Dentro. Fora? Contaminou-o. Fora e dentro. E o caminho à sua frente parecia...não, em verdade era infinito.....O mar se lhe aproximava ao longe. Furioso oceano. Deserto. Inflado. Com fome. Mandíbulas enormes e abismazuis....

1 Comentários:

Anônimo disse... 4 de fevereiro de 2020 às 16:51

Li alguns de seus textos, admito que não entendi alguns mas eles tem algo que fazem querer terminar, é diferente e legal de certa forma.