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Nahual: O Homem-Lobo Pré-hispânico

Nahuales são feiticeiros ou curandeiros, que possuem a capacidade de se transformar em animais à vontade. Enquanto a maioria são conhecidos por transformarem-se em grandes cães pretos, burros, corujas ou perus; alguns deles podem até se transformarem em touros, cavalos, onças-pintadas e onças-pardas.

A palavra supostamente vem da palavra asteca "nahualli", que significa "pano" ou "pele", e faz referência à capacidade de um homem se transformar em um animal ou um híbrido humano-animal, enquanto que em certos grupos étnicos também se refere à necromancia ou magia negra.

Para algumas culturas pré-colombianas, o nahual também é conhecido como "tlatlacatecolo", que significa "homem coruja"; um indicativo de que essas criaturas aparecem apenas à noite.

Além das culturas maias e astecas, os yakis, Tarahumaras e Seris (a maioria deles morava no norte do México e sul dos Estados Unidos) também tinham nahuales; mas suas lendas dizem que, se um homem conhece o seu espírito primordial ou nahual, ele poderia usá-lo para curar as pessoas e tornar-se um mago.

Na mitologia asteca, nahuales eram protegidos por Tezcatlipoca; o deus da guerra e do sacrifício, e diz a lenda que um nahual poderia arrancar sua própria pele e se transformar em uma besta.

Há histórias populares no México, que datam de tempos tão antigos quanto a conquista espanhola, falando de caçadores que matavam um animal à noite, apenas para descobrir que ao amanhecer este tinha transformado-se em um homem.

Mesmo hoje em dia, mexicanos consideram nahuales como algo que existe; e há centenas de histórias que falam sobre encontros com todos os tipos de bestas negras sobrenaturais com os olhos vermelhos (um traço comum em Nahuales).

CRIATURAS MALIGNAS?
"O Nahual somente pode transformar-se durante a noite e ataca nossos filhos com feitiços infernais", dizem as pessoas desde a época da Colonização (1500-1800 d.C.) até os dias atuais. A Santa Inquisição perseguiu os nahuales durante muito tempo. Porém as pessoas acreditavam em seu poder e, às vezes, os protegiam, especialmente nas comunidades indígenas.

Na região dos Tuxtlas a crença nos nahuales está muito arraigada. Se assegura que há pessoas que podem transformarem-se em aves e que têm o poder de voar. Saem em noites de lua cheia e se metamorfoseiam em tecolotes, tapacaminos e guajolotes (nomes que se aplicam às diversas aves locais). Se alguém observa que uma ave pousa em sua casa por vários dias consecutivos, pode inferir que não se trata de uma ave comum, e sim de um nahual que busca algum mal para um dos habitantes dessa casa.

A lenda dos Nahuales tem partes obscuras, perdidas no passado, na mágica cosmologia mexicana, e difere muitíssimo dependendo das fontes pois se baseia em lendas locais que se adequam à região onde são contadas.

No que diz respeito à sua relação com o sobrenatural, há que se destacar que os animais eram seres muito próximos dos deuses. Numerosas eram as deidades que se vinculavam de alguma forma com os animais, seja porque o deus era um animal (como Xólotl, o deus cão), por seu nome (como Quetzalcóatl - Serpente Emplumada - ou Huitzilopochtli - Beija-flor Canhoto), por suas características zoomorfas ou porque se acreditava que a divindade tinha a capacidade de manifestar-se como um animal. Além de serem muito próximos das deidades do panteão mesoamericano, muitos animais têm um papel preponderante nos mitos, tanto nos de criação do mundo, como os que explicam a chegada de algum elemento à vida humana, como o fogo.

PARA QUE SERVE A MANDRÁGORA

Segundo lendas medievais, as raízes da Mandrágora deveriam ser colhidas em noite de lua cheia, puxadas para fora da terra por uma corda presa a um cão preto; se outro animal ou pessoa fizesse esta tarefa, a raiz "gritaria" tão alto que o mataria. Seus frutos, semelhantes a uma pequena maçã, exalam um odor forte e fétido. Outra lenda diz que a Mandrágora tinha como semente o sêmen de um
homem enforcado.

Em quantidades suficientes, as raízes de Mandrágora induzem a um estado de torpor e obliteração, propriedades essas que eram usadas em antigas cirurgias e, junto com a Beladona, era usada em poções das bruxas para induzir experiências extra-corpóreas. O uso da Mandrágora Officinarum se tornou uma prática oficial comum na preparação de homeopáticos em 1877 e hoje raramente é usada para qualquer outro propósito. Sua utilização, por quem não a conheça bem, pode ser perigosa, posto que a planta contém substâncias que podem facilmente levar à morte por parada respiratória: hyoscyamine e escopolamina — que, tal como a atropina, também se encontra na Beladona.

A Mandrágora Officinarum — pequena planta perene que cresce, a partir de uma raiz bífida muito densa, até 30 cm de altura, dá bagos amarelos e que é conhecida por se assemelhar, geralmente, a formas humanas — não deve ser confundida com a Podophyllum Peltatum (Mandrágora Americana), uma erva medicinal usual, frequentemente também chamada simplesmente de Mandrágora. As partes usadas são as raízes. Uma erva sedativa, analgésica, que tem efeitos purgativos e eméticos. A erva era usada antigamente, internamente, para aliviar a dor, como afrodisíaco, e para o tratamento de desordens nervosas e, externamente, para úlceras. Somente por médicos qualificados.

LENDAS SOBRE MANDRÁGORAS

Os feiticeiros da Idade Média acreditavam que as mandrágoras eram um tipo de meia-criatura entre o ser humano e o vegetal. Suas folhas reluziam à noite (por isso também eram conhecidas como velas do demônio) com um brilho estranho. Seus frutos e folhas exalavam um odor narcótico e sem igual. Sua raiz possuía a forma de uma pequena figura humana, com uma vida própria e esquisita, pronta para tornar-se o auxiliar de um mortal que tivesse coragem suficiente de tomar posse dela. Porém tomar posse de uma mandrágora era uma ousadia repleta de perigos, porque ao ser arrancada da terra, ela soltava um grito tão assustador que aquele que o ouvia ficava insano ou caia morto no mesmo lugar.

Assim, o feiticeiro que desejava possuir uma mandrágora tinha que seguir um ritual no mínimo curioso:
Ao encontrar a planta, que geralmente crescia aos pés de um local sobre o qual estavam os restos mortais de um criminoso condenado à forca (debaixo de uma árvore ou cadafalso por ex.), o feiticeiro teria que ir buscá-la ao pôr-do-sol.

Sob os raios da luz do sol se pondo, ele tinha que desenhar três círculos ao redor da planta, tampava seus ouvidos com cera e se colocava contra o vento, para não sentir o odor narcótico da mandrágora.

Ele levava consigo um cachorro faminto e algum tipo de alimento, com o qual o cachorro poderia ser seduzido. Com uma barra de marfim ele soltava a terra ao redor da planta e cuidadosamente amarrava o cachorro a mesma, se afastava e mostrava o alimento para o cachorro, que em seguida corria ao encontro da refeição e assim puxava a planta da terra.

Ao passo em que a planta era arrancada do solo o feiticeiro soprava uma trombeta o mais alto possível, para abafar o grito da mandrágora. O Cachorro, acreditavam, morria ali mesmo.

Tendo conseguido arrancar a planta sinistra da terra, o feiticeiro envolvia-a em um pedaço de linho branco e poderia assim apressar-se pela escuridão que se formava tendo em mãos seu merecido prêmio.

Depois de colhida, separavam-se a raiz das folhas e de acordo com o propósito, eram manipuladas e ou consagradas em diferentes rituais para que determinado espírito possuísse a raiz assumindo assim o papel de auxiliar magístico de seu dono.

Os cuidados com as mandrágoras variavam de acordo com o propósito ao qual elas serviriam, as mais cabulosas necessitavam de alimentar-se com leite, mel e sangue (do seu próprio dono), algumas eram vestidas com pequenas túnicas vermelhas com símbolos mágicos desenhados e, basicamente todas deveriam ser guardadas numa caixa envolta em seda e banhada quatro vezes ao ano com vinho. O liquido que sobrava após o banho possuía virtudes mágicas e poderia ser utilizados em feitiços.

Tantos mistérios rondam esta planta que mesmo nos dias atuais muitos a temem, muitos a desejam e poucos atrevem-se a arrancá-la do solo. São tantas lendas que a envolvem que as pessoas até duvidam de sua real existência. Mas não tenham dúvidas, esta planta de fato existe.

A verdadeira mandrágora, Atropa Mandrágora Officinarum, pertence a ordem de plantas Solanaceae, uma ordem muito conhecida entre as bruxas, feiticeiros, magos, xamãs, alquimistas e velhos hippies malucos. Nesta mesma ordem também estão o Meimendro, a Dulcamara, o Estramônio e a Trombeteira, todas com uma fama sinistra.

Por mais fantásticas que algumas histórias possam parecer, algumas destas antigas crenças sobre as mandrágoras são baseadas em fatos. A planta possui realmente uma raiz grande e gorda, que traz uma grosseira semelhança com a forma humana. Ela sem dúvida possui um perfume estranho, que alguns apreciam e outros detestam, e certamente ela possui propriedades narcóticas, alucinógenas, afrodisíacas e analgésicas. Na verdade a mandrágora é provavelmente o anestésico mais antigo utilizado pelo homem.

Nos tempos mais remotos, a raiz era utilizada para colocar os pacientes prestes a passar por uma cirurgia em estado de sono profundo, durante o qual as operações poderiam ser realizadas. A raiz era infundida ou fervida e um pouco era dado para o paciente beber, entretanto, tomava-se certos cuidados quanto à dose, porque quando usada em excesso poderia causar um sono do qual não se acordava mais. Outras vezes era usada apenas umedecendo um tecido para ser ministrada externamente.

A crença de que a mandrágora brilha a noite tem uma base de fato. Por alguma razão suas folhas atraem os vaga-lumes, e são essas pequenas criaturas, cuja luminescência esverdeada é muito impressionante, que fazem a planta brilhar na escuridão. Qualquer desavisado certamente poderia sentir-se assustado com a aparência da planta no escuro e achar que as antigas lendas sobre seus poderes diabólicos eram verdadeiras.

Até mesmo o grito temeroso pode ter ao menos um pouco de verdade de onde a lenda foi ganhando mais força. Essas plantas com raízes grandes e encorpadas geralmente crescem em lugares úmidos e quando são arrancadas da terra, soltam um ruído gritante (Claro que não tão alto quanto diziam). As lendas de pessoas que endoideciam têm mais a ver com o odor narcótico exalado pelas folhas na hora de arrancá-las do que com o ruído em si. Imaginem o sujeito já doidão com o cheiro da planta arrancando uma raiz que lembra um ser humano e que ainda grita. Quem consegue imaginar a cena também pode imaginar o que este mesmo sujeito poderia sair falando dessa situação. E claro, todos sabemos que "quem conta um conto aumenta um ponto".

Naturalmente todos os detalhes horrendos da lenda da mandrágora foram mantidos vivos por aqueles que vendiam as mandrágoras. As pessoas pagavam quantias exorbitantes por uma mandrágora em bom estado e com forma humana, e as guardavam como importantes talismãs. Muitos picaretas esculpiam em raízes formas humanas e vendiam como mandrágoras originais. Um antigo livro intitulado Thousand Notable, descreve passo a passo como fazer sua mandrágora falsa.

Mas nem todos preparavam as raízes apenas para vender e obter lucros, algumas tradições antigas de magos, alquimistas, bruxas e xamãs preparavam suas mandrágoras cuidadosamente e acreditavam de fato que elas poderiam abrigar um determinado espírito ou ter algum poder magístico, que os auxiliariam em suas práticas e rituais. Eram colhidas geralmente em noites de lua cheia sob a realização de alguma cerimônia ou ritual. Algumas tradições secavam lentamente a raiz em forma de homem em fogueiras ou em areia quente, o Balneum Arenae dos alquimistas. (Dai uma
das origens da lenda do Homúnculo.) As mandrágoras secas e já consagradas (ou supostamente possuídas por algum espírito) eram passadas como relíquias ou amuletos aos membros de diferentes gerações de um determinado grupo ou família, sempre de forma secreta, principalmente na idade média, pois, adivinhem só o que acontecia quando os inquisidores achavam um bonequinho bizarro desses em sua casa?

A planta é citada na Bíblia em Gênesis na história de Lea 30:14 e também em Cantares de Salomão 7:13, só histórias estranhas. Também citada por Shakespeare em Romeu e Julieta. Acredita-se que o remédio que Julieta usou para fingir estar morta tenha sido extraído de uma mandrágora. Muitos escritores flertaram com as lendas e as propriedades secretas das mandrágoras. É o caso, por exemplo, de Platão em A República, Madame Blavatsky em A Doutrina Secreta,
Maquiavel em A Mandrágora e Hans Heinz Ewers em Alraune (que significa mandrágora em alemão).

Hoje em dia ela ainda é usada como amuletos de sorte, prosperidade e proteção, é usada com fins magísticos e afrodisíacos, usadas também em doses seguras na fabricação de remédios homeopáticos e também usadas por algumas pessoas como droga recreativa. Podemos ver a caricatura desses homenzinhos estranhos em diversos filmes, livros, jogos
e desenhos. Como no filme de Guillermo Del Toro, O Labirinto de Fauno, no jogo de MMORPG Ragnarok e até mesmo nas histórias infantis de Harry Potter.

Existem coisas que o tempo não consegue apagar da memória das civilizações. São as lendas, os mitos, os símbolos, as tradições e tantas outras coisas significativas que compõe nosso Inconsciente Coletivo. E acreditem, isso tem um bom motivo.


RETIRADO DE: HERESIAS COMPARTILHADAS

LENDAS AMAZÔNICAS - OS ENCANTADOS


A lenda do rei Sebastião, refere-se a um personagem cujas origens remontam à Portugal. Trata-se do mesmo rei D. Sebastião que morreu durante a batalha de Alcácer-Quibir, na segunda metade do século XVI, na luta contra os mouros do norte da África e cuja morte precoce foi uma das razões que levaram Portugal a cair sob o domínio da Espanha, em 1580.

Esse domínio estendeu-se por sessenta anos, até 1640, gerando, em Portugal, uma lenda segundo a qual D. Sebastião não morrera, mas se encantara, devendo em breve retornar à Europa com seus exércitos para libertar seu povo do domínio estrangeiro. Essa lenda gerou concepções de caráter messiânico em Portugal (o chamado sebastianismo), que duraram muitos anos, como é bem sabido, resultando em influências na literatura portuguesa do período. Mesmo depois de terem perdido sua importância em Portugal, essas ideias continuaram bem vivas no Brasil, estando presentes, por exemplo, em movimentos de caráter messiânico, como o episódio de Canudos, no Nordeste (cf. Cunha, 1995).


Na região do Salgado se fala em três "moradas" do rei Sebastião. A primeira delas, certamente a mais falada, é a ilha de Maiandeua, no município de Maracanã, onde se situam a praia e o lago da princesa, que é a filha do rei. Trata-se de uma belíssima ilha, de acesso não muito fácil, mas com várias praias, sendo frequentada por turistas. A segunda, menos famosa, é a ilha de Fortaleza, no município de São João de Pirabas, de acesso ainda mais difícil, onde existe a "pedra do rei Sabá" e o "coração da princesa". Em visita a esta ilha, em 1986, nela só existia uma casa, de um comerciante da sede do município que ali passava períodos de lazer. A pedra, no entanto, era muito visitada. Trata-se de uma pedra comum, que tem mais ou menos um metro de altura, mas que, de longe, no ponto da praia onde chegam as embarcações, parece a figura de um homem moreno sentado. Próximo a essa pedra, fica uma outra, de cor branca, deitada sobre a areia da praia, em forma de coração. A pedra do rei Sabá é objeto de culto dos adeptos do catolicismo, da pajelança e dos cultos de origem africana. Ela está sempre cheia de velas, fitas do tipo das que se colocam em santos, e oferendas de toda sorte, sobretudo bebidas alcoólicas e tabaco. Muitas pessoas confundem o rei Sabá com o santo católico São Sebastião e fazem promessas a ele, que são pagas com as oferendas, que também são ali colocadas por adeptos da umbanda, por exemplo. Mas a ilha de Fortaleza é também uma "ilha encantada", como a de Maiandeua. O mesmo acontece com a ilha dos Lençóis, no litoral do Maranhão, que é menos referida ainda na região do Salgado: esta é a terceira morada do rei Sebastião. Para seus moradores, entretanto, a ilha dos Lençóis é a mais importante morada do rei (cf. Braga dos Santos, 1983 e Posey e Braga dos Santos, 1985).

A ideia messiânica de um possível desencantamento do rei Sebastião está sempre presente na região do Salgado, entre as populações rurais. A lenda que expressa melhor essa ideia, contada em várias versões, refere-se à aparição de filha do rei a um pescador, na ilha de Maiandeua, pedindo que ele a desencante. Se isso acontecer, ele terá como recompensa casar com a princesa. Além disso, caso isso aconteça, as cidades dos encantados aflorarão à superfície, enquanto todas as nossas cidades irão para o fundo, estabelecendo-se, a partir daí, o governo do rei Sebastião sobre o mundo. Para desencantá-la, ele terá, como no caso do desencantamento da Cobra Norato, de cortar o couro da cobra em que a princesa se transforma, com uma faca virgem, até provocar sangue. Ocorre que, em todas as versões que ouvi, o pescador sempre falha, sentindo-se apavorado com a presença daquela enorme cobra. Ao fugir, ainda ouve um lamento: "Ah, ingrato, redobraste meus encantes!".

Na região do Salgado o rei Sebastião é visto como o rei de todos os encantados. Há uma outra lenda, também narrada em várias versões, que trata de uma disputa entre os dois grandes encantados, o rei Sebastião e Cobra Norato, em que este foi derrotado e, em algumas versões, morto pelo rei. A partir desse episódio é que o rei Sebastião passou a ser o mais importante de todos os encantados da região.

Segundo os relatos, em muitas sessões de pajelança o rei Sebastião se incorpora nos pajés mais notáveis, vindo com o objetivo de curar as doenças de seus pacientes.

Fora do caso desses encantados mais famosos, como se dá o processo de encantamento? Como disse antes, os encantados são pessoas que, ao contrário dos santos, não morreram, mas se encantaram. Neste processo não interfere nenhum mérito moral, como no caso dos santos, que são frequentemente pensados como pessoas que praticaram o bem enquanto eram vivas. As pessoas se encantam porque são atraídas por outros encantados para o "encante", seu local de morada. O encante se encontra "no fundo", normalmente no dos rios e lagos, em cidades subterrâneas ou sub-aquáticas. Para que alguém seja levado para o fundo, por um encantado, é preciso que este "se agrade" da pessoa, por alguma razão. É comum a ideia de que, se alguém for levado por algum encantado para visitar o encante, deve evitar comer as coisas que lhe são oferecidas, caso contrário se encantará, não podendo mais viver no mundo da superfície, como os demais seres humanos. Há também a ideia de que os grandes pajés são levados pelos encantados para o fundo, onde aprendem sua arte; mas, neste caso, eles retornam à superfície, como xamãs, para poder praticar a pajelança.

É muito forte, na região do Salgado, a idéia dessas entidades como encantados ou bichos do fundo. Mas não está ausente a referência constante aos "encantados da mata", que são apenas dois: a Anhanga e a Curupira. Trata-se, neste caso, de seres perigosos, que podem provocar mau-olhado nas pessoas, ou "mundiá-las", isto é, fazê-las perder-se na mata. Isto acontece com os caçadores que cometem "abusos", sobretudo os que têm o costume de caçar persistentemente um só tipo de caça. Mas a mata é muito pouco importante na área, assim como a caça.

O importante são os rios, a grande baía do Marajó e o oceano Atlântico, isto é, o mundo das águas. Por isso, os encantados do fundo são os mais relevantes.

Os encantados são normalmente "invisíveis" aos olhos dos simples mortais; mas podem manifestar-se de formas diversas. A partir dessas formas distintas de manifestação, eles são pensados em três contextos, recebendo, por isso, denominações diferentes. São chamados de bichos do fundo quando se manifestam nos rios e igarapés, sob a forma de cobras, peixes, botos e jacarés. Nessa condição, eles são pensados como perigosos, pois podem provocar mau olhado ou flechada de bicho nas pessoas comuns. Caso se manifestem sob a forma humana, nos manguezais ou nas praias, são chamados de "oiaras"; neste caso, eles frequentemente aparecem como se fossem pessoas conhecidas, amigos ou parentes, e desejam levar as pessoas para o fundo. A terceira forma de manifestação é aquela em que eles, permanecendo invisíveis, incorporam-se nas pessoas, quer sejam aquelas que têm o dom "de nascença" para serem xamãs, quer sejam as de quem "se agradam", quer sejam os próprios xamãs (pajés) já formados: neste caso, são chamados de caruanas, guias ou cavalheiros.

Ao manifestar-se nos pajés, durante as sessões xamanísticas, os caruanas vêm para praticar o bem, sobretudo para curar doenças.

Fica bastante clara a profunda ambiguidade dessas entidades. Sabemos bem dessa característica das entidades sobrenaturais, do que nos dá conta, entre outros, o grande antropólogo inglês Edmund Leach (1983a e 1983b). Dessa ambiguidade não estão livres os santos católicos, sendo exatamente por isso que podem realizar a mediação entre os seres humanos normais e o mundo sobrenatural, que é o domínio do divino. Não obstante, comparados com os encantados, os santos são mais unívocos ou menos ambíguos, se isso é possível. Essa ambiguidade dos encantados surge a partir do fato de que se trata de entidades que não são pensadas como espíritos, mas como seres humanos de carne e osso, com poderes excepcionais, pois são "invisíveis", podem se manifestar sob forma humana ou animal e ainda se incorporam em pessoas comuns – apesar de manterem, durante a incorporação, sua condição de seres humanos. Não é a alma ou o espírito do caruana que se incorpora nos pajés, mas é o encantado por completo ("espírito" e "matéria"). Como isso se dá, nenhum informante sabe explicar, não adianta perguntar, como também, segundo Leach, seria um contra-senso perguntar aos Kachin se os nats (espíritos) têm pernas, se comem carne ou se vivem no céu (Leach, 1996, p. 77).

Por outro lado, como foi visto, os encantados são perigosos, pois podem provocar doenças nas pessoas comuns, bem como levá-las para o fundo – onde poderão se tornar outros encantados –, além do fato de que o boto encantado é capaz de transformar-se num belo rapaz, que seduz as mulheres, mantendo relações sexuais com elas. Na região do Salgado não há, como é relatado para outras regiões da Amazônia, a idéia de que tais mulheres podem engravidar e ter "filhos do boto": ao contrário, nessa região, o boto age como uma espécie de vampiro, sugando o sangue da mulher durante as relações sexuais, o que pode levá-la à morte, caso o boto não seja morto antes pelos parentes ou amigos da vítima, ou a mulher não seja de alguma forma afastada dessa influência maléfica. Por isso, os botos são especialmente temidos pelas mulheres, principalmente quando estão menstruadas, já que o sangue exerce grande atração sobre eles.


Ao lado disso, pode-se dizer que existe uma homologia e uma complementaridade entre santos e encantados, nas crenças e representações do caboclo amazônico. Essas entidades situam-se em pólos opostos no mapa cognitivo dessas populações: os santos no alto e os encantados no fundo (em baixo).

Mas ambos podem também existir na superfície e conviver com seres humanos comuns. Ambos podem castigar as pessoas (São Benedito é um dos melhores exemplos entre os santos) que agem de maneira desrespeitosa ou inconveniente (especialmente no caso de ofensas ao meio ambiente – e, neste caso, quem age são os encantados da mata ou do fundo), mas também podem curar doenças, resolver problemas amorosos e financeiros, encontrar objetos perdidos etc. Na região do Salgado, entretanto, existem áreas de atuação mais específica dos encantados: enquanto os santos podem agir em qualquer espaço, o âmbito de atuação dos encantados restringe-se mais à floresta, aos rios e igarapés, à terra firme, à várzea, ao manguezal e às praias. No mar (expressão que pode incluir o oceano, mas também as baías e outros locais de pesca), só as mulheres podem temer a presença do boto encantado, mas elas não participam normalmente das pescarias – os homens, pescadores, diante das dificuldades e dos perigos do mar, não invocam os encantados, mas os santos, especialmente São Benedito e Nossa Senhora de Nazaré (esta, como uma espécie de rainha das águas, a grande padroeira dos pescadores, e de todos os paraenses, sobretudo no que concerne ao município de Vigia).

Uma outra crença muito forte na região do Salgado, que parece ser bastante disseminada, pelo menos em parte, em outras regiões da Amazônia, é a que diz respeito aos chamados "fadistas", isto é, pessoas que têm o fado (destino ou sina) de se transformar em animais. Esses fadistas são a matintaperera e o "labisônio" (lobisomem), conforme sejam mulheres ou homens. A matintaperera pode transformar-se, à noite, em vários tipos de animais, como porcos, morcegos e aves, sendo capaz de voar: é vista como a mais perigosa feiticeira que existe. O labisônio só se transforma em porco (não existem lobos na região) e é menos poderoso ou temido. Também é relativamente pouco referida a existência deste personagem, que parece não ter tanta importância nas crenças e representações locais. Ao contrário, as "matintas" são muito lembradas, chegando-se mesmo a identificá-las e nomeá-las com uma certa facilidade.

Na época de dezembro de 1975 a abril de 1976, em Itapuá, falava-se abertamente na existência de três matintas no lugar: uma delas era uma pajé, cujos poderes como curadora não eram muito considerados, e cujo marido não trabalhava, por ser considerado "doente"; outra era uma mulher apontada como alguém que traía o marido; e uma terceira, de cor morena, quase negra, mas com alguns traços que lembravam uma índia, como o cabelo bastante liso, que não era pajé nem era apontada como infiel ao marido (neste caso, é possível que a hostilidade contra ela se originasse do fato de ser considerada "preta", haver casado com um "branco" e morar na "povoação" de Itapuá, longe do lugar dos "pretinhos").

Os fadistas são vistos como pessoas que fizeram um pacto com Satanás em troca de algum tipo de vantagem, dinheiro ou poderes excepcionais e, por isso, além de terem entregado sua alma, ainda são punidos com o fado, isto é, o destino de terem de transformar-se em animais durante a noite. Não obstante, essa concepção não é inteiramente clara no que diz respeito à matintaperera. Alguns informantes relatam que essa condição de "bruxa" é transmitida pela avó a uma neta especialmente escolhida – batendo com a mão nas costas da menina, a mulher pergunta: "Queres um presente, minha neta?". Se a resposta for positiva, a feiticeira já deixa ali o "parauá", isto é, um papagaio, que se aloja entre as omoplatas da menina e, quando cresce e cria asas, dá-lhe o poder de voar e a transforma em uma nova bruxa.



A todas essas crenças correspondem práticas, que se traduzem em formas de culto, festas e rituais. Só os santos são objeto de culto e esse culto se expressa, frequentemente, por meio das festas. Aos encantados, além de não se prestar culto, não se fazem festas – mas a eles estão associados importantes rituais xamanísticos, dos quais os mais notáveis são as sessões de cura.

Aos santos se presta culto particular, nas residências, onde sempre existe ao menos uma estampa de santo.

Em algumas casas, inclusive as dos pajés, existem oratórios com várias imagens de santos. Diante dessas imagens, as pessoas fazem suas orações. Alguns informantes dizem que é mais importante orar diante das imagens de seus santos particulares do que ir às igrejas assistir a missas e outras cerimônias públicas patrocinadas pelos sacerdotes ou pelas diretorias de festividades. Nesse sentido, todos os chefes de família são, de alguma forma, "donos de santo". Mas essa categoria assume uma importância especial quando se trata de uma imagem considerada especialmente "milagrosa". É o caso, em Itapuá, do São Benedito do seu Zizi. Este senhor, um carpinteiro e pescador aposentado, é o dono da imagem mais milagrosa de São Benedito na povoação, como já foi dito acima. Daí seu prestígio na povoação, como dono de santo – o que, evidentemente, se explica por razões sociais, entre as quais, certamente, inclui-se o fato de que seu Zizi é um profissional competente, que ainda realiza pequenos trabalhos por encomenda, um bom trabalhador, um homem de bons costumes, que não é dado a bebidas ou farras. A figura do "dono de santo" não é exclusiva de Itapuá ou da região do Salgado. O exemplo mais notável na Amazônia é o do caboclo Plácido que, segundo a tradição, "achou", no final do século XVII, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que ainda hoje é cultuada em Belém, e em cuja homenagem se faz o Círio e a Festa de Nazaré.

Além do culto particular aos santos, que se faz nas residências, existe o culto público, que muitas vezes começa – como no caso de Nossa Senhora de Nazaré, já referido – a partir do culto a santos "de dono", que aos poucos vão ganhando dimensão pública, a ponto de se tornarem padroeiros de uma determinada localidade, vila ou cidade ou até de regiões inteiras. As festas de santos, padroeiros ou não, representam a forma mais conspícua de culto a essas entidades. Na região do Salgado, a festa de santo mais importante é o Círio e a Festa de Nossa Senhora de Nazaré, que se realiza a partir do segundo domingo de setembro, a cada ano, na cidade de Vigia, onde se originou a devoção a essa santa na Amazônia (desde pelo menos a segunda metade do século XVII). Dela participam intensamente as populações do interior – os caboclos –, que também participam das festas de santo de suas próprias localidades, bem como da festa maior dos paraenses católicos, o Círio e a Festa de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, a partir do segundo domingo de outubro.

Para tratar, agora, dos rituais dos encantados, é necessário falar, inicialmente, sobre os pajés ou curadores do que podemos chamar de pajelança rural ou cabocla. Em primeiro lugar, deve ser dito que, na região do Salgado, o termo pajé tem um certo sentido pejorativo e, por isso, não é assumido pelos próprios xamãs, que chamam a si próprios de "curadores". Não obstante, esse termo é o mais popular, sendo usado por todos os informantes, inclusive pelos próprios pajés, desde que não estejam se referindo a si mesmos. O termo "pajelança" não era usado pelos caboclos (pessoas do interior ou de origem rural), mas apenas por habitantes das cidades, que se identificam menos com essa prática. Não existe, por outro lado, uma identidade "pajeística", ou qualquer coisa semelhante, como existem as identidades "espírita" ou "umbandista", por exemplo.

Os praticantes da pajelança, inclusive os pajés, identificam-se como católicos.

Para tornar-se pajé ou curador (usa-se também, mais raramente, a expressão "surjão da terra") a pessoa precisa ter um dom, que pode ser "de nascença" ou "de agrado". É possível reconhecer um dom de nascença quando a criança "chora no ventre da mãe", o que não deve ser revelado publicamente antes do tempo, sob pena de a pessoa perder seus poderes. O pajé, quer seja de nascença ou de agrado, tem uma carreira muito semelhante ao que é classicamente descrito em relação a todos os xamãs: um período de crise de vida, em que sofre incorporações descontroladas de espíritos e caruanas, devendo submeter-se a tratamento com um pajé experiente, que irá afastar os espíritos e os maus caruanas, treinando o noviço para que ele possa controlar as incorporações, de modo que elas ocorram somente em ocasiões e lugares determinados. Ao mesmo tempo, ensina-lhe os mitos, as técnicas, o conhecimento dos remédios, as orações etc., de sua arte. Ao final do período de treinamento, o novo pajé é "encruzado" numa cerimônia imponente, em que deve morrer simbolicamente para renascer como xamã. A partir daí, estará pronto para tratar seus próprios doentes e até formar seus próprios discípulos.

Mas nunca se cura inteiramente da "doença" (chamada de "corrente do fundo") que o acometeu: ele terá que manter permanentemente certos tabus alimentares, sexuais e de outros tipos, bem como "chamar" regularmente suas entidades, dedicando-se, sempre, à prática da "caridade", isto é, à cura das doenças, sem procurar fugir de suas "obrigações", sob pena de ser castigado por seus próprios caruanas.

Por isso, da mesma forma como ocorre o culto particular dos santos, também os pajés realizam rituais particulares de pajelança, chamando seus caruanas ou cavalheiros em suas próprias casas, mesmo que não tenham doentes para curar. Os rituais mais importantes, todavia, são aqueles feitos sob encomenda de um ou mais doentes, os quais constituem sessões públicas de cura. Mesmo que o ritual se realize para um doente particular, outros doentes participam do mesmo, aproveitando para fazer "consultas" ao pajé (que responde e age incorporado pelos seus caruanas). Uma típica sessão de cura é realizada à noite, começando por volta das oito horas e prolongando-se às vezes até a madrugada do dia seguinte. O pajé inicia a sessão fazendo orações católicas diante de imagens de santos e "entregando" seu espírito a Deus. A partir daí ele começa a receber seus caruanas e passa a cantar e a dançar, agitando o maracá e as penas que traz numa das mãos. É ajudado por um servente, que lhe acende os cigarros comuns ("de carteira") e o "cigarro tauari" (um cigarro especial usado apenas nessas sessões), serve-lhe água, chá ou outras bebidas (a bebida alcoólica não é vista com bons olhos pelos pajés entrevistados – eles não a usam –, mas há sempre a referência a pajés de outros lugares que bebem cachaça ou cerveja). O servente também ajuda no tratamento dos doentes e em outras ações.

Os primeiros caruanas que chegam não tratam dos doentes: limitam-se a dançar e a cantar suas "doutrinas" (canções). Depois de algum tempo chega um caruana mais importante, que pede para lhe trazerem os doentes. Às vezes é um só caruana que cura, outras vezes são vários. Há muitas variações. As técnicas também são variadas: as mais notáveis incluem dançar com o doente nas costas, chupar a doença – aplicando diretamente a boca sobre a pele do enfermo –, defumar com o cigarro tauari a parte afetada pela doença, ou passar cachaça, por exemplo, sobre o corpo do paciente. Alguns pajés, tomados pelos seus caruanas, realizam proezas espetaculares: equilibram-se em pé, dançando sobre redes de dormir atadas em suas escápulas; ou dançam, com os pés descalços, sobre cacos de vidro ou carvões em brasa sem se ferirem. Os doentes saem da sessão normalmente levando prescrições receitadas pelos caruanas, que incluem remédios "de farmácia" (industrializados) ou "da terra" (populares).

Às vezes essas "receitas" são anotadas pelo servente e passadas aos interessados; outras vezes, o pajé diz que as pessoas devem voltar no dia seguinte para receber as prescrições. A sessão de cura prossegue, após o momento dedicado ao tratamento dos doentes, com a vinda de outros caruanas que não se dedicam à cura. Assim, por exemplo, pode "baixar" uma "linha de princesas", caruanas do sexo feminino que contam, em suas "doutrinas" (cantigas ou cânticos), os locais onde ficam seus castelos ou cidades encantadas, que estão sempre em lugares dos rios e das praias onde existem muitas pedras. Assim, por exemplo, Itapuá é uma ilha encantada, onde vive uma princesa que habita o "fundão de Itapuá". Há muitas outras ilhas e lugares encantados por todo o território da Amazônia.

As concepções ligadas à pajelança cabocla podem certamente ser comparadas a diversas formas de xamanismo que têm sido descritas em várias partes do mundo. Não se trata do xamanismo clássico siberiano, em que o xamã realiza a típica viagem ao mundo dos espíritos para combater aqueles que estão provocando a doença em seus pacientes. Essa forma de xamanismo, onde o fenômeno da incorporação de entidades no xamã tem menor importância no processo terapêutico, está presente também em vários grupos indígenas brasileiros. Na pajelança cabocla, que claramente possui também origem indígena (Tupi), o que acontece é diferente, pois nela a incorporação, isto é, a tomada do corpo do xamã pelas entidades que vêm para curar os doentes, tem uma importância fundamental: não é o xamã que cura, mas sim os encantados ou caruanas que agem, tendo seu corpo como instrumento. Mas a pajelança cabocla é também influenciada pelo cristianismo e pelas crenças e práticas de origem africana, assim como por concepções e lendas de origem européia (não necessariamente ligadas ao cristianismo). Os pajés, entretanto, de modo geral, consideram suas crenças e práticas como parte integrante do catolicismo que praticam, não se considerando como sacerdotes de um novo culto, ou um culto concorrente do catolicismo.

FONTE: Estudos Avançados - Um aspecto da diversidade cultural do caboclo amazônico: a religião

LENDAS MARANHENSES

Carruagem de Ana Jansen


Poderosa e discutida matrona maranhense de marcante presença na vida econômica, social e política de São Luís no século XIX, Ana Jansen ficou conhecida na cidade pela desumanidade e maus tratos que, segundo rumores, aplicava a seus escravos. Conta a lenda que os noctívagos da cidade, ao pressentirem a aproximação de uma horrenda carruagem penada, fugiam aterrorizados, à procura de um abrigo seguro.

Se assim não fizessem, estariam sujeitos a receber a alma penada de Ana Jansen, uma vela acesa que amanheceria transformada em osso de defunto.

Dizem ainda que o coche era puxado por cavalos decapitados, conduzidos por um escravo também decapitado e com o corpo sangrando. Por onde passava, horripilantes sons eram ouvidos, que pareciam resultantes da combinação de atrito de velhas e gastas ferragens com o coro de lamentações dos escravos.

Lenda da Serpente de São Luís


Conta-se que uma serpente encantada, que cresce sem parar, um dia destruirá a ilha, quando a cauda encontrar a cabeça. O animal gigantesco habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luís e, embora seu corpo descomunal esteja em vários pontos da cidade (a barriga na Igreja do Carmo, a cauda na Igreja de São Pantaleão), o endereço mais certo do bicho é a secular Fonte do Ribeirão. Há quem garanta ser possível observar, através das grades que isolam as entradas do monumento, os terríveis olhos do animal.

Lenda do Palácio das Lágrimas


Na rua 13 de maio, em frente a Igreja São João e no canto com a rua da Paz havia um casarão de três pavimentos. Sobre o imóvel foram inventadas várias lendas, das quais se destaca a seguinte: Dois irmãos portugueses vieram ao Maranhão para buscar riqueza. Um deles conseguiu enquanto o outro jamais saiu da pobreza. Cheio de inveja, o irmão pobre resolveu assassinar o outro a fim de herdar a grande fortuna, já que o irmão rico vivia amasiado com uma escrava e não tinha filhos legítimos, já que seus filhos eram fruto de uma união ilegal. Após o assassinato e de posse dos bens herdados, passou a tratar os escravos, inclusive a ex-mulher do irmão e seus filhos, com extrema crueldade. Certo dia, quando um de seus sobrinhos descobriu que fora ele o assassino de seu próprio irmão, matou-o, após arremessá-lo de uma das janelas do sobrado. Descoberto o crime, e por ser escravo, seu autor foi condenado a morte na forca levantada em frente ao sobrado. No momento do enforcamento, o condenado amaldiçoou o sobrado com essas palavras "Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como palácio das lágrimas". E assim o sobrado passou a ser chamado.

Lenda da Manguda


No final do século XIX, um fantasma assombrava a região onde hoje fica a Praça Gonçalves Dias. Era a Manguda, cujos relatos mais remotos dão conta de tratar-se de uma figura alva como um lençol e com uma estranha luz na cabeça. Embora tenha feito muita gente correr, descobriu-se mais tarde que o famoso fantasma não passava de fraude. A brincadeira de mau gosto foi na verdade invenção de contrabandistas, com o objetivo de expulsar curiosos das ruas enquanto cometiam seus crimes.

Milagre de Guaxenduba


Conta-se que no principal combate travado entre portugueses e franceses, no dia 19 de novembro de 1614, no forte de Santa Maria de Guaxenduba, quando os portugueses estavam para ser derrotados por sua inferioridade de homens, armas e munições, surgiu entre eles uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos em projéteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente e derrotassem os franceses.

Em memória deste feito, foi a virgem considerada a padroeira da cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória.

Lenda da praia do Olho d' Água


Conta-se que inicialmente houve ali uma aldeia indígena cujo chefe era Itaporama. Sua filha apaixonou-se por um jovem da tribo, mas este, por ser muito bonito, provocou paixão na mãe d'água que, através de seus poderes, conquistou-o e levou-o para seu palácio encantado nas profundezas do mar.

Perdendo para sempre seu grande amor, a filha de Itaporama caiu em grande desolação, deixando de se alimentar e indo para a beira do mar chorando até morrer. De suas lágrimas surgiram duas nascentes que até hoje correm para o mar e que deram origem à denominação da praia.

Lenda do rio Cajari


Certo dia, um índio estava à espreita de uma caça, quando surgiu em sua frente, uma gigantesca ave de nome Ararapapá. Sem perder tempo, o índio flechou a enorme ave e colocou-a no ombro, rumando para a sua aldeia. No caminho, o bico da ave, que era muito pesado, veio arrastando pela terra abrindo um sulco profundo por onde as águas do lago Viana escorreram, dando origem ao rio Cajari.

O Milagre de São João Batista


Contam-se da invasão holandesa do Maranhão, em 1641, histórias de desrespeitos à população e de profanações, a primeira das quais, praticada logo no desembarque pelo Desterro, cuja ermida, então de frente para o mar; os flamengos teriam invadido e depredado. Quando, após mais de dois anos de dominação, os portugueses, com o bravo concurso de índios e outros homens da terra, organizaram a revolta que terminaria expulsando definitivamente do Maranhão os enviados de Nassau, travaram-se diversos e rudes combates no interior e em São Luís.

Aqui, sob o comando de Antônio Muniz Barreiros, que, morrendo, teve em Antônio Teixeira de Melo o competente e indispensável sucessor; as tropas portuguesas fizeram da Igreja do Carmo seu quartel-general. Lá, concentraram a ofensiva contra os hereges flamengos, como ao tempo se dizia. Os holandeses, sediados no Forte de São Filipe (onde hoje está o Palácio dos Leões), contavam, como principais instrumentos de combate, com dois canhões assestados para a Igreja do Carmo. Notando que a artilharia portuguesa concentrava seu fogo na direção dessas armas, os holandeses colocaram junto a elas, em lugar bem visível, uma grande imagem de São João Batista. Pretendiam impedir que os portugueses atirassem, ou obrigá-los a, fazendo-o, cometer um sacrilégio que os atingiria moralmente. Diz Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão, na Poranduba maranhense, que "não só a imagem ficou ilesa dos nossos tiros, mas também no primeiro que disparou um dos referi dos canhões, rebentou com tantos estragos daqueles iconoclastas, que, ficando confusos com semelhante sucesso, retiraram logo a santa imagem com menos indecência".

Lenda do Touro Negro


É um grande touro negro, com uma estrela brilhante na testa, que aparece em noites de sexta-feira, na ilha dos Lençóis. Com uma área não maior que 9 km² e cerca de 400 habitantes, a 155 km a oeste de São Luís, essa ilha faz parte do arquipélago de Maiaú, município de Cururupu, Maranhão. É também conhecida na imprensa como "Ilha dos Filhos da Lua", devido à alta incidência de albinismo na população (cerca de 3%), devido à frequência dos casamentos consanguíneos. Dizem alguns que Dom Sebastião costuma aparecer principalmente em junho, durante as festas do bumba-meu-boi, e em agosto, época do aniversário da batalha de Alcácer-Quibir. Dizem também que atualmente o Rei Sebastião já não está mais aparecendo porque “a praia dos Lençóis está sendo muito visitada e já possui muito morador”.

FONTE: http://www.turismo-ma.com.br/lendas.php